quinta-feira, 28 de abril de 2022

Por que eu não posso votar nulo?

 




 

Um político divide os seres humanos em duas classes: instrumentos e inimigos.

Friedrich Nietzsche

 

Um amigo meu – virtual de longa data – sempre me diz que os anarquistas são narcisistas em não votar, pois, ele acha que devemos votar para tirar o atual governo. Além disso, ele acha que quem não vota, depois não vai ter o direito de cobrar. Tenho uma outra visão – como anarquista e como amante da liberdade – que por estamos bem no auto da montanha e observar mais de longe. A meu ver, acho que as pessoas ficaram muito adolescentes em achar que estar em engajamento político se deve escolher um lado, mas, não se deve escolher ideologias e sim, políticas que vão ajudar a sociedade. Um lado está o Bolsonaro com as políticas de sempre e que traz um monte de tiozão reacionário – que idealiza um passado subjetivo que só aconteceu para eles – que acha que a música “Forever Yang” é verdade. Do outro lado, estas pessoas revolucionarias de Iphone que acha que o Lula as deixou viajarem, comerem carne, comprarem gás e os esquemas de corrupção nunca existiram. Então, quem vamos votar?

A democracia pressupõe liberdade. A dúvida é: será que temos liberdade? só estou escrevendo esse texto porque alguém fornece energia elétrica, tenho um notebook, aprendi a escrever e tenho facilidade em escrever textos. Mas, não tenho total liberdade de sair da rua graças a minha condição – deficiência física – e porque as vias não são adaptadas, o transporte não é adaptado e porque não tenho o porquê sair. A minha liberdade depende de vários fatores que fazem ela acharem obstáculos para acontecer, mas, eu posso escolher sair mesmo assim e correr o risco de ficar na rua ou, alguém me ajudar. As escolhas dependem, também, de vários fatores socioculturais dentro de uma linguagem que pode ser verdadeira ou não, porém, ela vai determinar meu julgamento das escolhas que eu faço. Posso não poder estar com a minha noiva por vários motivos – que não vem ao caso – que foram construídas envolta de narrativas de controle (que se chama de cultura) que alimenta uma verdade que pode ou não existir. Então, a liberdade depende do modo que as pessoas constroem uma linguagem?

Daí caímos na frase de Nietzsche. O filósofo não errou em dizer isso, porque, como filólogo, sabia que tudo não passa de mera linguagem. Construções narrativas são importantes dentro da política, pois, precisa de uma grande maioria (apoio popular) ou para consolidar o poder, ou convencer seus eleitores para votarem nele (ai a instrumentação do povo). Mas, como em sã consciência, isso seria feito? Fazendo dos seus opositores inimigos a serem combatidos ou, fazendo de ideologias e pessoas, como destruidores da linguagem social construídas de valores artificiais que nada mais servem, como narrativas para dominarem os mais ignorantes ou pela própria educação. Então, Nietzsche sabia que toda a cultura grega – como uma cultura de instintos naturais – foi adestrada por outra cultura ressentida daqueles que não conseguiram ser superiores. A grandeza de ser você mesmo foi transformada em pecado do orgulho, ser rico e bem-sucedido trouxe uma aberração daqueles que não conseguiam ser. O certo era todo mundo ser ensinado a ser bem-sucedido, que, talvez, teria um outro problema (de produção).

A questão da linguagem é uma questão central da filosofia num modo geral, pois, desde quando foi fundada a filosofia analítica (que também é chamada de filosofia logica), passamos a observar o modo de linguagem de cada discursos e a maneira logica que esse discurso é construído. Isso pode facilitar entendimento de alguns discursos e alguns modos de obter esse discurso – mesmo aqueles que achamos ser verdadeiros – mas, não caímos no fanatismo de alguns pensamentos filosóficos. A lógica como base linguística não pode ser ampliada, pois existem fatores morais (dentro da construção de um discurso convincente dentro da cultura) e fatores de intenção (vontade e escolha). Ai chegamos na vontade, porque a cultura – principalmente a cristã depois da era medieval – começou a dizer que nem tudo que temos vontade é aquilo que devemos ter como mote (direção) para ter o objeto desejado. Muitas músicas do cancioneiro brasileiro – que chamamos de brega – são musicas dos bardos medievais, aqui os caboclos, que cantavam os amores que nunca vingavam porque eram proibidos. Ou, traições de reis e nobres, porque a maioria era casamentos arranjados.

Portanto, a liberdade pós-moderna que temos (ou pensamos ter) foi construída para ter outras traves para nós temos mecanismos que acharmos que as escolhas devem ser binarias, e aquilo que é certo é moralmente aceito e aquilo que é errado é moralmente errado. Não passa de lacunas linguísticas que o poder sempre quer impor dentro do seu discurso, que não passa de uma simples mentira. Daí vem a dúvida: temos mesmo liberdade?

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior 


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segunda-feira, 18 de abril de 2022

‘Todes’ com Anitta

 





Quando se fala de música, se fala de estética e quem começou com a análise da arte foi Aristóteles. Mas, indo mais afundo dentro da nossa cultura e da nossa própria arte – construída por elementos vindo da colonização e vindo das outras migrações – podemos dizer que temos uma arte eclética no sentido de caber elementos mundiais. Como o samba e afins terem vindo com os africanos, a viola e o sertanejo ter vindo com a cultura dos trovadores medievais portugueses. A América, num modo geral, tem elementos de outras culturas por causa de sua colonização – como tem uma cultura própria com os indígenas que aqui se encontravam, e muito, se mesclaram com nossa própria cultura – e assim, nasce as músicas, a literatura e outros modos de se expressar dentro de um povo. Mas o Brasil sempre foi uma cultura a parte, ou por ter um território quase continental, ora por ter vários povos dentro de uma nação só. Isso ajudou a ter elementos diversos e de caráter único dentro de uma cultura – como, também, aconteceu com o império romano na Europa ou nas invasões germânicas.

Mas, como disse, elementos começaram germinar uma outra coisa dentro da cultura brasileira. Anos 70 com a liberação sexual – que, parcialmente, chegou no Brasil de um jeito escondido – deu ao mundo muito mais liberdade dentro da arte e da música. Dentro do rock – uma mistura de folk e blues com pitadas de jazz – as batidas começam a ter mais agressividade e a questão das letras são muito mais de quebrar alguns tabus. Outras formas musicais vão surgindo como a discoteca, como o eletrônico e como o funk. Só que esse funk não é o funk que temos – como nos foi apresentado – o funk norte-americano, talvez, tenha sido uma outra vertente criada pelos negros americanos para reagirem ao rock ou é um derivado dele. Hoje – ironicamente – o rock tem cara de burguês e de tiozinho reaça da piada do pavê, segundo os jovens de hoje do “todes”.  Por outro lado, não é uma crítica dentro do espectro só dos jovens – sendo o João Gordo muito mais velho ou muito amigos meus roqueiros e metaleiros – também é uma crítica aos roqueiros que tem como base, a essência crítica e libertadora do rock dentro do cenário musical. Sobre isso temos que fazer uma análise.

O rock foi inventado dentro das comunidades pobres negras do subúrbio das grandes cidades dos Estados Unidos e eram músicas que questionavam o sistema, seja ele qual for. Portanto, não interessa o sistema que esteja vigorando, ele vai ser contra e questionador e se for de esquerda e não estiver como pauta ajudar e melhorar o povo, ele vai questionar. Essa coisa de “tiozinho reaça” ou “tiozinho revoluça” é besteira, porque na essência, o rock nasce antissistema na origem e é anarquista. Ponto. Mesmo que alguns não sejam em suas vidas pessoais, no palco é uma outra coisa acontece, uma catarse de expressar a revolta contra o sistema. Qual o sistema vigente? O politicamente correto. O falso moralismo. A falta de ética e moral.

Aí está a fronteira entre a crítica e a banalização. A crítica não tem como apelação o modo visual ou palavras de cunho pejorativo explicito, outra coisa, a crítica nunca vem do que o povo (a grande maioria) acredita. Ou seja, uma Pitty colocar “o homem é o lobo do homem” numa música é diferente da outra mocinha colocar “minha periquita”. Qual está criticando a questão hipócrita humana? Talvez, há e havia trovas e poesias que fossem de duplo sentido, ou que faziam duras críticas do poder, mas, hoje houve uma banalização e uma comercialização da crítica social. Músicas fáceis para dar um ar de felicidade, um ar de facilidade num mundo que não admite coisas difíceis ou coisas complexas, não faz mais. Dentro da filosofia chamamos isso de desconstrução – que são filósofos que desconstroem conceitos filosóficos e culturais para analisá-los – porque existem coisas que não fazem sentido dentro da própria cultura inserida ali. Desconstruir um conceito para construir outro. Ai que esta, conceitos são construídos a partir de outras coisas além das críticas e além das visões da realidade.

Qual relevância tem uma Anitta, por exemplo, dentro da nossa cultura? Muitos vão dizer que música é para divertir, até concordo em certo momento, mas, devemos nos divertir o tempo todo? Não tem um momento de reflexão onde você começa questionar certas posições dentro da conduta sua dentro da sociedade? Não é a toa que muitas músicas são criticadas não só por causa de posições morais reacionárias (como se o rock não amasse a liberdade sexual), mas que ali não há nenhuma crítica dentro da realidade da grande maioria. Muitos da esquerda marxistas e dele no geral, vai chamar esse elemento da arte de arte burguesa. Arte burguesa, segundo eles, é uma arte feita para alienar a grande classe trabalhadora e começar a ditar visões da realidade. Eu chamo de “bundalismo”. Mas, o que seria o bundalismo? A meu ver, bundalismo é uma banalização da verdadeira arte de persuadir e fazer a grande maioria pensar, debater e trazer o conhecimento de uma realidade muito além daquilo que a música se propõem. Transcendemos o sexo. Por outro lado, o sexo sempre foi um tabu a ser quebrado, e se tabus devem ser quebrados, a grande maioria tem sérios problemas de prazer. O funk pancadão mostra como o prazer desmedido pode trazer a banalidade da arte.

Sim, Freud explica.

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Amauri Nolasco Sanches Júnior 

domingo, 17 de abril de 2022

Por que professores são comunistas?

 






A muito tempo – não sei o porquê – meu pai sempre me pergunta: por que professores, na sua grande maioria, é da esquerda comunista? Talvez, essa pergunta é endereçada para mim, porque ele sabe que gosto de filosofia e sabe que eu gosto de ler (inclusive, nesse mesmo momento estou estudando Karl Marx por causa da matéria desse mês do meu bacharelado), e tento responder. Mesmo o porquê – segundo alguns biógrafos e os livros do próprio – quando se lê Marx, você não vê uma menção muito clara daquilo que todo mundo repete em exaustão. Marx não falou em comunismo. Aliás, os que falaram de socialismo/comunismo são o amigo de Marx, Engels, e os marxistas, o próprio nem desenvolveu uma doutrina definitiva do estado. Que dentro dos estudos marxianos, são um grande buraco em sua obra.

 Mas, como responder uma pergunta dessas com atos, totalmente, subjetivos? Eu estudei a fundo as obras de Marx e continuo não marxista – como o próprio Marx disse que não era para seu genro – mas, entendi muitas coisas que nem mesmo os marxistas não entenderam. Superar o capitalismo não seria o mesmo que aniquilar o capitalismo, pois, superar não é sinônimo de acabar. Superar seria uma transcendência daquilo que representa para uma grande maioria, porque, nem sempre o que a grande maioria acredita ser verdade, é com certeza um fato. Na essência, superar seria vencer alguma coisa ou uma dificuldade, alcançar a vitória sobre algo a ser superado. Portanto, superar o capitalismo é vencer o que o capitalismo impõe como condição daquilo que ele é em sua essência. Ou seja, o capitalismo tem que ser superado na sua individualidade – que herdou do cristianismo – e ser comunitário em ser social em uma responsabilidade dentro da sociedade. Como disse, Marx nunca explicou o que seria seu comunismo e nem a teoria do Estado, como seria instalar o comunismo. Mas, sabia muito bem, que o socialismo seria uma ditadura do proletariado. Porém, nunca soube, que o proletariado nesse caso, seria o exército.

No fundo – indo muito além do que fizerem os sovietes russos – o comunismo seria uma democracia direta com assembleias que decidiriam tudo pelo voto direto, sem representantes e sem intermediários. O modo de produção seria por necessidade e não por acúmulo – como acontece no capitalismo – e as pessoas seriam educadas para usarem aquilo que precisam e não aquilo que seria um mero desejo. Essa discussão – desde Rousseau – seria, na verdade, sobre liberdade. nada tem a ver com poder ou o estado, mas, tem a ver com o desejo humano de querer fazer aquilo que se tem vontade. Marx e os outros partiram da premissa, que a grande maioria é frágil e não pode escolher sendo levados a terem desejos, que na verdade, são desejos induzidos. Duvido dessa visão. Mesmo o porquê, já vi gente exposta a milhares de propagandas e não quiseram aquilo. Eu mesmo, mesmo exposto a “meque” da vida, sempre comi aquilo que eu quis e aquilo que eu gosto. O gosto – já foi comprovado cientificamente – é subjetivo.

Mas, onde saiu essa visão? Do homem bom de Rousseau. A discussão entre liberais e comunistas, são, na maioria, aqueles que dão razão para Rousseau ou não. O fato é que não existe bem ou mal, existem meios de tratar as outras pessoas com respeito do mesmo modo, que você mesmo queira ser tratado. Isso é um ensinamento logico de vários ângulos. De fato, a questão do desejo esta na escolha da pessoa ir ou não atras da maioria – isso tem a ver com a educação familiar e os valores passados – porque valores tem a ver com que você quer fazer com eles. Por outro lado, os valores podem ser mudados e você vê que eles não cabem mais naquela realidade – quando não causam sofrimento ou outro dano ao outro, como traição etc. – porque, nem sempre, podemos ser aquilo que os outros projetaram para nós. Isso se chama: sentimento de culpa. Culpa de não ser um pai que a sociedade espera, culpa de não ser uma pessoa que a sociedade espera, culpa de não trabalhar como a sociedade espera e por aí vai. E isso sempre foi muito explorado pelo poder (leia-se Estado) como um meio de convencer a grande maioria que o trabalho enobrece o homem. Daí fica a questão: quem gosta de trabalhar sem ganhar aquilo que é justo? Por que trabalhos enobrecem? A sobrevivência e viver eticamente – sem ser violento atacando as pessoas ou ferindo – e sem depender de opiniões ou o que as pessoas pensam ou dizem.

Então, para responder a essa pergunta, temos que responder se o professor acredita em uma idealização da igualdade – por conviver, diretamente, com a pobreza – ou se ele acredita que há algo a ser conservado. Acho que essas duas vertentes – comunismo e conservadorismo – cabem em países conservadores que tem algo a serem conservados ou mudados. Aqui no Brasil a coisa é bem complexa e delicada, porque, pior que pareça, nós temos uma cultura peculiar e que precisa de uma outra coisa para dar certo.

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior 





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terça-feira, 12 de abril de 2022

A direita esquerdou com Bolsonaro

 

Concordo com Deleuze – filósofo francês do século passado – dizia que não existe nenhum governo de esquerda, porque não há nenhum governo dentro da esquerda. A esquerda é uma oposição daquilo que está vigente – isso é histórico – e se for governo, ou vira uma ditadura quebrando o estado de direito democrático, ou começa a ser situação. O problema do conceito de direita e de esquerda, é colocar como uma coisa institucional numa solução da assembleia da revolução francesa. Lá teria que ser assim, mas, será que deveríamos adotar como padrão de governo? Será que deveríamos adotar filosofias como soluções? Mas, não é só isso que eu concordo com Deleuze, eu concordo na questão de conceitos e eu gosto dessa definição.

Para ele, conceito é um contorno daquilo que queiramos definir, seja na realidade imanente (objetiva) ou objetos transcendentes (fenômenos da consciência imaginativa), que defina uma explicação da realidade que percebemos e analisamos. Mas, o contorno não seria para dar um destaque a forma? Parece muito a questão platônica – de Platão – de transforma o termo “idea” – que queria dizer contorno – e transforma como uma percepção das formas dos seres. Ou seja, a questão conceitual sempre será uma questão de contornar um objeto para saber se a análise do problema que ele traz. Uma vaca sagrada é um ser chamado de vaca – fêmea do touro ou boi – que pode ser considerada sagrada (coisa santa) por algumas culturas. A demarcação do objeto sagrado é uma demarcação de conceito sagrado, daquilo que é considerado divino. Assim, podemos dizer, que sagrado seria um conceito porque contorna aquilo que se chama vaca é um ser sagrada em determinada cultura.

O conceito esquerda e direita só seria uma demarcação da questão de ser contra aquele sistema ou ser a favor daquele sistema, que no geral, não é uma demarcação definitiva. Então, tantos outros conceitos que se colocam em adversários políticos – que não são inimigos, pois, na democracia todos deveriam dialogar com todos em debate – que, somente, são contornos para dar forma aquilo que queremos dizer. Não há em nenhum momento, uma fronteira que possamos dar por definitivo, que algumas definições de Karl Marx sejam totalmente erradas ou totalmente certas. Mesmo o porquê, quem estuda filosofia sabe, que filosofias não são manuais de conduta que deveriam seguir a risca aquilo ou assado. São análises de uma realidade que pode acontecer (virtualização), e não pode acontecer. Ou, até mesmo, aquilo pode ser um desvaneio filosófico. O grande problema – talvez, o maior deles – foi dizer que tudo tem uma utilidade pratica, que na filosofia, não pode ser uma rotina. Seria ético modificar a genética de um cavalo só para produzir um unicórnio? Seria ético trazer de volta a eugenia e produzir o ser humano perfeito, como queria os nazistas?

A direita sempre me passou uma imagem de pessoas hipócritas que queriam ser éticas e morais, mas, por outro lado, tinham conceitos errados sobre as coisas e moralizavam aquilo que não seguiam (traições e putarias rolavam solto). Por outro lado, a esquerda trata os seres humanos de uma forma infantil que eles somente, podem livrar a grande maioria do grande mal capitalista. Porém, eles também consomem e fazem igual a direita faz no governo. Por isso mesmo, não existe um governo de esquerda e tão pouco, governos de direita. No Brasil, pelo menos, o sistema corrompe os dois porque não faz diferença nenhuma. Para o sistema, o importante é o governo alimentar ele e sempre seguir o algoritmo da pobreza, ignorância e corrupção, pois, um dos maiores males da nossa cultura foi engendrar a ideia da “vantagem” dentro da nossa cultura. Eu sei muito bem que o caro leitor não vai gostar – porque nosso povo não gosta da verdade – mas, não há como mudar se não rompermos muitas coisas que ora jogamos em um lado, ora jogamos em um outro lado.

Banalizaram tanto o termo comunista (sabem o que é?) quanto o termo fascista (sabem?). Fora que anarquistas – como João Gordo e afins – colocaram todo mundo no mesmo patamar dos nazistas, como se todo mundo que fosse militar (trabalha ou é soldado do exército) fosse nazista ou fascista, mas, não é verdade. Conheço um monte de pessoas que foram soldados – como o marido da minha prima – que não me parece que ele seja um nazista ou fascista. Ai entra o nosso aprendizado histórico mostrando que mesmo os professores de esquerda, não aprenderam muito sobre o materialismo histórico. Se generais erraram em achar que fazendo uma intervenção militar, isso não significa, que todos concordam. Isso se chama generalização de gente mimada e ressentida. Pessoas que estão bem e procuram informações sabem, que discussões de verdade e dentro do jogo democrático não se fazem com “apelidinhos” como adolescentes do ginásio na quinta seria (sim, eu sei que agora é o fundamental).

Como Deleuze disse, não há conceitos fáceis e não há um eu sem suas circunstâncias, como disse Gasset. Somos a circunstância que nos cercam, porque somos parte da realidade que nos cerca, sem amarras de outras coisas. Não somos as outras coisas, somos as circunstâncias que nos cercam. Circunstância é uma situação, condição ou estado de alguém ou algo em um dado momento, conjunto de fatos, elementos, qualidades que tem ou se pode ter efeito sobre uma ação ou o pensamento de alguém. Assim, somos os fatos que acontecem, porque eles acontecem a partir das nossas ações deliberadas. No fundo concordo ao mesmo tempo com Gasset e Camus, somos circunstâncias absurdas porque a realidade são eventos únicos que só nós somos capazes de perceber.

Por que temos que aceitar conceitos de outras pessoas? Por que temos que ter um lado dentro de tudo? Nem sempre o mundo é feito dos dois lados.

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior



 

@amaurinolascos.ju

sexta-feira, 8 de abril de 2022

Marcos Mion e a Síndrome da Mãe Especial

 




No último sábado (2/4), se comemorou o dia do espectro autista e houve várias postagens sobre. Num site de notícia, noticiou que o apresentador Marcos Mion, bloqueou uma autista porque não concordou com os dizeres dele sobre o autismo. E, segundo quem segue seu grupo sobre o tema e quem segue ele, não é o primeiro bloqueio que sofrem. Várias pessoas com autismo têm relatado que só discordar dele, começam ser bloqueados e isso me faz lembrar, que já levantei várias vezes o tema sobre a Síndrome da Mãe Especial. O que seria isso? Por vários anos – isso venho vendo desde quando eu era jovenzinho – muitas mães demonstraram quase uma coisa neurótica de proteção que beira a esquizofrenia. Talvez, proteger seja uma coisa, achar que seu filho é uma coisa sua e que você sabe o que é melhor – ninguém sabe, nem nós mesmos – para ele, mas, não sabe não. Muitas vezes, para ele não sofrer – como se o sofrimento fosse uma coisa fora da realidade – mas, o sofrimento faz parte do amadurecimento de cada um.

Inúmeras vezes eu escrevi e disse em vídeo – até mesmo, tenho um livro a respeito – que isso começa com o médico, com um ambiente de velório (bem do naipe de um poema do Edgar Allan Poe), que o filho vai depender deles o resto da vida. Deve ter a matéria “bola de cristal” no curso de medicina, mesmo o porquê, a ciência não funcionam assim. Não tem que prever nada, só dar o diagnóstico. Muito pior que a Síndrome da Mãe Especial é a Síndrome do Coitado, morreu virou “Santo”, nasceu com deficiência virou coitado, perdeu os movimentos virou coitado, e por aí vai. E muitos gostam, porque somos esquecidos em todo tempo, e a vaidade bate em nossa porta o tempo todo quando, por um momento, somos reconhecidos. Mion não é um deus do Olimpo, tem seus defeitos, tem suas inseguranças e tem que lhe dar com essas inseguranças a todo tempo. Mas, se esconde da realidade e da diversidade não só do autismo, mas de toda deficiência (na minha, paralisia cerebral, existe vários graus).

Por outro lado, Mion tem que ir além do grau de autismo do seu filho e entender que as opiniões não são unanimes e que na diversidade do mundo PCD, não há lugar para heroísmo e sim, para sermos tratados como pessoas. Por isso mesmo, colocaram PESSOAS com deficiência. Mais do que isso, somos seres humanos como qualquer ser humano – temos todos os atributos genéticos da espécie homo sapiens – então, a questão da deficiência não vai fazer que sejamos diferentes geneticamente, só com características diferentes. Mesmo com as síndromes como a síndrome de down (dois cromossomos 23) e outras síndromes, não faz deles outra espécie de hominídeo ou símio. A questão é: esse tipo de visão é uma visão biológica (como enxergar aquele ser como um diferente da espécie) ou é uma visão construída dentro da cultura humana? Um pré-conceito sempre é construído através de medos de coisas diferentes daquilo que estamos acostumados – como se encontrarmos ou mantermos contato com outros seres inteligentes, daí o medo de invasões – e se coloca como uma rejeição legitima. Como já acontece e isso a séculos.  

Estamos vivendo em círculos e não estamos evoluindo enquanto cultura, porque ficamos acomodados em uma era que pensamos ter liberdade. Chamarei de Era da Bunda ou o Bundalismo selvagem, onde se começa a glorificar o que é banal em nome da ostentação daquilo que não é e aquilo que não tem. Penamos para tirar o monopólio da informação das grandes mídias, mas, transformaram a internet numa grande televisão anos 80 ou 90. Uma grande banheira do Gugu ou um grande Programa do Ratinho, onde as pessoas fazem de tudo para terem likes e para adorar os mesmos ídolos que sempre alertamos que são só imagens daquilo que não são. Mion não é um ser espiritual ou um deus, como já disse, ele mostrou que ele é pai de uma pessoa com deficiência como todo pai, quer proteger ele, quer que ele não veja o que ele não vai poder fazer. Não quer que ele sofra, mas, inevitavelmente, ele vai sofrer. Como toda pessoa com deficiência sofre e ainda, sofre mais com a superproteção exagerada e quase psicopata da família das pessoas com deficiência.

Amauri Nolasco Sanches Júnior



 

quinta-feira, 7 de abril de 2022

Mendigo pop na terra dos tiktokers youtubers

  





A questão de ser influencer – segundo nossa imprensa – não há problema. O problema é o tipo de discurso que se opera e se quer compartilhar – no sentido de passar alguma coisa – que, em resumo, se limita em fofoca, desgraça alheia e bundas e peitos (além de ostentação de coisas que, talvez, nem seja deles). Acabo, nesse momento, de gravar uma barata morta no meu quarto – que de dia se transforma em meu escritório – e disse que aquilo não era uma barata e sim, um dinossauro. Será que viraliza? Claro que não. Se um youtuber do naipe do Felipe Neto fizesse, iria bombar e no outro dia a imprensa diria: “Felipe Neto reclama da barata em sua casa” ou, “barata invade casa de Felipe Neto, entenda!”. A questão não é o que falam, mas, quem está falando e como está falando. A minha barata não tem valor nenhum, por outro lado, a barata de alguém famoso tem.

Esse experimento – que adoro fazer – mostra que as pessoas gostam de ostentar até mesmo quem elas assistem. Temos uma cultura que adora ter uma turminha e pertencer de algum lado da história e isso, percebo desde quando me conheço como gente. Desde muito novinho as pessoas diziam que nós com deficiência deveríamos casar-nos com pessoas como nós – existem famílias que não aceitam nem isso – pois, cada aparência tem que combinar com aquilo que aparenta alguém. Amigos meus se casaram com pessoas sem deficiência, com deficiência e se divorciaram e nem por isso, deixaram de ser pessoas subjetivas e individuais. Aí eu tenho uma dúvida que não me sai da cabeça a muito tempo: o porquê se tem tanta necessidade de pertencer a uma turminha? O porquê a necessidade de pertencer a uma ideologia ou religião, ou, até mesmo, uma posição? Eu não sou de esquerda ou de direita porque entendo a política como uma contradição de interesses, devido ao fato das exigências sociais do momento. E religião – mesmo lendo e respeitando o espiritismo, budismo ou o yoga – não tenho nenhuma, pois, acho que há uma diferença enorme entre religião e espiritualidade (que a grande maioria não enxerga).

Na verdade, a questão do mendigo pop, sempre foi por causa da nossa cultura católica. Sempre ter “pena” daqueles mais pobres, mas, pobreza ou não, nunca foi medida de caráter. Como deficiência e tal, pois a questão do caráter sempre foi uma questão além das aparências e sim, está nas atitudes e nas intenções. As intenções – sendo kantiano ou não – são a medida perfeita para medir o caráter das pessoas, que, talvez, tenham intenções além daquilo que dizem. Mas, por outro lado, tem a ver com os valores que recebeu. Isso se chama educação e a educação – não a escolarização – vem da nossa cultura. Ou os políticos vieram de Marte? Ou a grande elite veio de outras culturas?

A grande bobagem que fizeram é fazerem aquela propaganda que o jogador enfatizava a vantagem, pois, crescemos com uma cultura que até mesmo pertencer em determinado grupo, se ostenta. No século dezenove a nossa elite que fazia isso, era chamada de rastaquera pelos franceses, porque ostentava o luxo, pensavam que eram europeus e nem sabiam falar (como até hoje). Por outro lado, o trágico-cômico dessa história que não estamos falando da elite e sim, pessoas que ostentam aquilo que não são ou não tem. Quem tem dinheiro para viajar toda hora? Quem tem dinheiro para se encher de bugigangas que nem vão usar? Não vi nenhum desses influencers lerem um livro ou dizendo coisas importantes para alertar de verdade ou jovens e sim, só a gana de ficarem famosos e não serem diferentes daqueles mesmos artistas que tanto criticam. Reinaldo Gianechini não errou em dizer que o pessoal não gosta de estudar, porque não gostam, não leem, não fazem nada para aumentarem seu conhecimento. Também culpa da nossa cultura, culpa da nossa educação que não incentiva a leitura. Incentiva ao povo serem medíocres e quererem coisas que não serve para nada, não pensar, não fazer uma reflexão de verdade no seu próprio mundo.

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior


 

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quarta-feira, 6 de abril de 2022

Marx e a mudança do mundo

 





Existem vários opositores ao socialismo comunista – porque, sim, a meu ver, houve socialismos de extrema direita – que colocam a culpa em Karl Marx para opinar aquilo que não são. Ora, não há como culpar um filósofo por aquilo que fizeram com seu livro, como se fosse um manual. Livros de filosofia são livros e não manuais de conduta ou, “balas de prata” (formas rápidas) de se mudar o mundo e a sociedade, como se houvesse uma maneira rápida e simples de entender uma época. Talvez, Marx não tenha podido analisar as mudanças que o capitalismo poderia mudar ao longo do futuro (dele e da sua época), como avanços tecnológicos e econômicos. Politicamente, a questão de revoluções é desastrosa no sentido de mudanças drásticas de coisas que você só muda por meios educacionais. O que seria educar? Será que, ao invés, de se podar as crianças de perguntar, não se deveria incentivar elas a isso?

Nas Teses sobre Feuerbach, Marx termina com a frase que << Até agora os filósofos se preocuparam em interpretar o mundo de várias formas. O que importa é transformá-lo.>>. Para analisar essa frase, primeiro temos que explicar o que é um conceito.  Conceito é uma definição, concepção ou caracterização. É uma formulação de uma ideia por meio das palavras ou de algum recurso visual. Na filosofia, podemos dizer que, conceito é uma representação mental e linguística de um objeto concreto ou abstrato, significando para a mente esse mesmo objeto no processo de identificação, classificação e descrição dele. Ora, quando esse conceito tem uma contemplação como essência, um conceito pode definir a natureza de uma entidade. Gosto da definição de Deleuze que, a meu ver, volta na questão platônica de “idea”. Deleuze considera conceito como um contorno, a configuração, a constelação de um acontecimento por vir. Isso é evidente ser um conhecimento, mas, é um conhecimento de si, e o que ele conhece, seria o puro acontecimento que não se confunde com o estado de coisas nas quais se encarna.

Assim, quando lemos a frase de Marx e refletimos, podemos ver que ele reflete sobre o papel do filósofo dentro da sociedade. Esse “interpretar o mundo” me faz ver que ele tinha uma visão do filósofo como se ele interpretasse de forma teórica temas que, na sua visão, seriam práticas. Ora, voltamos aos primeiros filósofos e podemos dizer que estamos falando de uma amizade do saber, e como amigo, se tem conversas e tem um conhecimento do outro como afinidade de amizades. Os gregos, ainda, consideravam amigo como um potencial amante, pois, o homossexualismo não era, moralmente, repreendido. No caso da filosofia (philiasophia), poderemos dizer, que essa amizade pode virar amante. Marx se esqueceu que um filósofo não interpreta nada, porque ele faz uma reflexão de fatos e não de não-fatos, ou seja, o “os filósofos se preocuparam em interpretar o mundo” é uma visão pratica da filosofia.

Filosofia não pode ser só teórica ou só prática – remontando o argumento aristotélico – se deve teorizar o problema em exercícios mentais (conceitos) e depois escrever essas ideias (dar forma) para passar o que você pensou e até mesmo, usar do discurso para demonstrar. Acontece, que não se preocupamos em interpretar nada, nós usamos os fatos e os conceitos, ora para deliberar um problema para solucionar ele (num modo amplo), ora para criar conceitos para modificar aquilo que não está certo dentro da moral vigente. Não estamos interpretando a realidade, estamos tentando entender – como ele próprio fez – a mesma realidade que todo mundo nem raciocina direito. Ora, a filosofia assim como o filósofo, não tem que mudar nada, mesmo o porquê, as mudanças só acontecem no modo de educação e mudança de paradigma de algum pré-conceito ou de algum conceito que ainda, fora de época, permeia o debate público. As mudanças não vêm com armas ou com convulsões sociais radicas, vem com a conscientização de uma determinada classe dentro do escopo social onde estamos inseridos.

Amauri Nolasco Sanches Júnior  

domingo, 3 de abril de 2022

Givaldo Alves o morador de rua tatuado

 

Givaldo ganhou uma tatuagem em sua homenagem — Foto: Reprodução/TV e Facebook



Segundo seu discípulo, Epicteto teria dito: "não são acontecimentos que perturbam as pessoas, são seus julgamentos a respeito deles". Ou seja, o julgamento moral que se faz de um acontecimento pode te atormentar muito mais, do que o acontecimento em si mesmo. O tatuador de Mogi das Cruzes, tatuou na sua perna o rosto do morador de rua – mendigo pegador para outros – Givaldo Alves, por ele ser pego no carro com a esposa do personal treinner. A questão que se levanta é: por que não se fala da mulher que, com seus transtornos psicológicos – que claro, especialistas de redes sociais não acreditam – está sendo exposta com essa história toda? A questão que o Givaldo errou em expor ela, expor a situação e o tatuar incentiva uma coisa errada ser a certa. Muitas vezes, acho que a “chave” moral do Brasil é invertido ou temos um povo ressentido, onde não se pode estudar e nem ser algo na vida e ficam achando representações da classe pobre num suposto poder.

Acredito que o termo “representação” resume muito a questão que vamos avaliar. Porque, numa ideia de se sentir representado, muitos membros das minorias, acabam caindo na armadilha do populismo achando que estão sendo representadas. Será mesmo que estão? A frase: “uma mão no volante e outra no carinho” conota uma forma poética num ato cafajeste da forma que o carro tem uma conotação de poder, pois, uma “mão no volante” tem a denotação de direção, de saber o caminho e como mudar a direção. Mas, que direção? Direção que conseguiu ter uma mulher que nunca conseguiria? Daí vamos numa outra consideração, porque a imagem do morador de rua, transando com uma mulher bonita e mulher de um sujeito que é a imagem majoritária do homem desejado. Aí cai a pergunta: desejado por quem? Por homossexuais? Porque, pelo que eu estudei – não sei se os estudos batem – mas, as mulheres não têm nenhuma conotação visual. A mulher tem que ser convencida e não vai no modo visual, no modo que os homens vão.

Isso me fez lembrar de um filósofo da escola cínica – além de Epicteto o estoico – o Diógenes de Sinope (ou O Cão), que ficava nas ruas gregas morando num vaso grande (que alguns chamam de barril). Ele se masturbava na  rua (seu mestre transava com a mulher na rua), ele cuspia na cara dos ricos, adorava ficar refutando Platão, e até mesmo, pediu para Alexandre Magno sair da frente do seu sol. Diógenes tinha uma filosofia peculiar que era o cinismo (que se definiu como um dos braços da filosofia socrática), que via as coisas mundanas como problemas e viviam na rua. Há uma diferença – falando do mundo contemporâneo – entre mendigo e morador de rua, porque morador de rua tem a escolha, mendigo não. Diógenes morava nas ruas porque sua filosofia assim dizia – muito parecida com os brâmanes hindus ou os cristãos primitivos – e assim, poderia dizer que não poderia se apegar a nada. Hoje, temos o estoicismo moderno onde o desapego tem uma outra conotação – mais ou menos, de não ficar ansioso – e nada tem a ver com o desapego.

Muito se especula se tais filosofias não vieram do oriente, já que a Grécia mantinha bastante comercio de produtos do oriente e muito filósofos – dizem ate Platão – foram até o oriente. Porque suas doutrinas parecem muito com a noção do budismo indiano e o taoismo chines, que temos que desapegar das coisas materiais e se ligar nas coisas do próprio ser. Afinal, não haveria nenhuma separação entre mim e a realidade onde estou, assim, cada coisa nessa realidade só é um simbolismo para definirmos o que seria aquilo. Não há, para os taoístas, diferença entre mim e uma maçã, porque ela só é um símbolo para definir aquilo que estou comendo. Assim, como, não há diferença se Deus existe ou não, porque não vou conseguir provar e ao mesmo tempo, ele pode ser tudo ou nada. O nada não existe, pois, tudo está contido em tudo.

Essas noções fazem sentido? Não sabemos. Mas, o caminho da felicidade e da verdade sempre foi o caminho da preponderância e equilíbrio, porque tudo que é demais faz sempre mal. A natureza consiste em equilíbrio, como pétalas certas para uma flor, asas certas para o inseto, patas certas para um cachorro e temos capacidade de perceber isso. Quando foi que o ser humano perdeu isso? Me parece que o mundo pós-moderno perdeu a noção ética em nome do dinheiro, em nome de se construir um nome e um ser que não existe. a existência se limitou na racionalidade cartesiana, mas, a consciência vai muito mais além do que a racionalidade. Somos um conjunto de sentimentos, desejos etc., que nos fazem tomar decisões. O grande problema, me parece, é a ilusão moral e realista de uma realidade que não existe. Como no filme Matrix.

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior



 

sábado, 2 de abril de 2022

Os cientistas políticos das mídias sociais

 




A primeira pergunta que a filosofia tentou e ainda tenta, responder, foi: o que é a realidade? Porque, é muito estranho animais não tenham nenhuma noção do mundo que vivemos e nós, temos essa noção. As primeiras tentativas de interagir com a realidade foi através de pinturas nas cavernas – muito pesquisadores, teorizam ser primeiras tentativas de religiosidade e outros, claro, contestam – e assim, mostrar que aquela visão ou aquelas lembranças, ficariam marcadas naquelas paredes para sempre (ou até nosso planeta durar). Depois se criou mitos e deuses que eram os fenômenos da natureza, mas, não satisfeito, o ser humano sempre buscou conhecer essa realidade e saber se ela teria uma finalidade. No ocidente se viu e se imaginou que teria uma explicação racional, no oriente, não há separação entre essa realidade e nós. Que, particularmente, eu concordo. A realidade pode ser feita dentro daquilo que decidimos fazer, nossas ações sempre vão ter as consequências delas e isso é tudo na natureza.

Hoje, com nosso mundo virtual, as pessoas se tornaram especialistas daquilo que eles não leram. E entramos na política como meio de realidade de uma vida, essencialmente, mais prática e menos teórica. Ou a arte da demagogia? Filósofos gregos já diziam isso, pois, depois da morte de Sócrates por indução ao suicídio (fizeram tomar uma taça de cicuta) muitos deles desacreditaram da política. Mas, há vários problemas ai. Primeiro, a pergunta teria que ser: se a política administrativa – não a socialização humana de construir sociedades – não é uma coisa natural, por que ela foi inventada? Porque, muito antigamente quando o ser humano era nômade, não tinha reis e nem governantes para reger as várias sociedades, e não se sabe o porquê – existem várias hipóteses – isso aconteceu. Muitos começaram a analisar reinados e governo, mas, não se tem uma análise de um possível começo. Mesmo o porquê, é muito estranho seres humanos preferirem perda de liberdade a não ser, a liberdade de um ser humano mais consciente dos seus atos.

Segundo, nosso povo não teve uma educação histórica muito bem-feita. Uma: sendo um país que gosta de praticar e não estudar – a maioria brasileira detesta ler – não se tem paciência de analisar programas políticos e procurar as coisas na internet. Duas: não há alma viva que tenha lido todos os autores que tanto criticam (incluindo, Paulo Freire), porque detestam estudar e por detestarem estudar ficam dizendo que é melhor ler a bíblia do que ir para uma universidade. Só que, ouvi o evangelho de um pastor ou padre, é muito diferente do que ler diretamente ele. Vivemos na era da ignorância com uma ferramenta de conhecimento gigantesca e ainda, as pessoas querem ficar nas catacumbas da ignorância. E nem acho, como muitos intelectualóides, que é um problema da religião e sim, da tomada de consciência do próprio povo. Afinal, acredito muito nos dizeres, que quem faz a escola é o aluno, pois, ele teria que ser o maior interessado.

As pessoas não sabem nem porque peidam, porque estão com diarreia, porque não dormem, porque não comem. Atenção consigo mesmo acabou, porque vivemos numa sociedade doente de ritmo louco, de inconsciência daquilo que querem, daquilo que são. Uma amiga escreveu uma verdade, o povo não sabe votar e passa 4 anos reclamando e discutindo com as pessoas por causa de política e não viu ainda, um presidente descente. Ela não tem razão? Não se sabe nem quem votou nas outras eleições, vai querer discutir nas mídias sociais o que? Na verdade, aqui em sua maioria, se vota em seu próprio interesse, como se o presidente fosse governar só para ele. Isso são atos políticos?

Mas, o porquê isso acontece? as pessoas acham que a realidade tem a ver com aquilo que nossos sentidos captam e assim, desenvolvemos a tese da subjetividade. Por outro lado, a meu ver, as pessoas gostam do que muitos gostam e alguns tem pensamentos a frente do seu tempo, que se coloca em xeque essa tese. Se não há uma realidade, então, um bule teria que ser um objeto para cada um, sendo que, o objeto bule, tem um padrão. Embora, se fomos mais além, a maneira de ver um objeto dentro de uma linha do tempo diferente, pode ser de um outro jeito. Isso me faz pensar que num modo histórico – como Marx teorizou – a subjetividade sempre existiu e vais existir, mas, em uma forma de enxergar cada objeto, essa visão muda.

Como disse em outros textos, o grande problema – ou os grandes problemas – sempre recaíram, ou na liberdade, ou na felicidade. O problema – mais um – é que a felicidade pressupõe liberdade, e nem sempre, somos felizes ou livres. Aliás, nesses últimos tempo, tenho desconfiado que o ser humano goste da liberdade ao ponto de apoiar governos autoritários e corruptos. Qual a logica disso?  Me parece que a dinâmica humana é sempre seguir um outro e não pensar por si mesmo.

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior 

sexta-feira, 1 de abril de 2022

A bunda da Anitta e o pianista desconhecido





 Vendo um vídeo do Nando Moura – sim, vejo alguns vídeos dele – ele disse algumas verdades do gosto musical do brasileiro e do mundo. Claro, algumas posições dele sou contra – achar que só a estética antiga é um modo de arte, é uma delas – o que sou a favor, é a questão que se diz respeito ao gosto musical. Venho notando muito – desde o final dos anos 80 – que o gosto musical brasileiro vem sendo de músicas fáceis e ninguém quer discutir a letras das músicas. Lembro nos anos 90, que eu e meus amigos ficavam discutindo as letras da Legião Urbana sempre (e de outras bandas). Mas, a grande maioria não questiona, a grande maioria não fica perguntando: por que estou ouvindo essa merda?

Nando Moura comentou do pianista Nelson Freire – que faleceu recentemente – que desde os anos 40, toca músicas clássicas e mostrou que brasileiro não é feito de bundas e carnaval. As bandas Angra, Sepultura, Sarcófago, Ratos de Porão, e outras, também mostraram e mostram que o brasileiro nada tem a ver, só, com bundas e carnaval. Eu vou além – mesmo o porquê, não sou conservador a esse ponto – porque, desde o surgimento da lambada, o brasileiro vem emplacando sucessos fáceis e temporários que as pessoas não precisam analisar. A questão é: o porquê? Por que que as pessoas pararam de gostar de coisas belas e que tocam o coração e passaram a gostar de coisas de traição, de cafajestagem ou de putaria, sem ao menos, questionar se isso traz alguma coisa para a sua vida? Porque as pessoas vendem a ideia de que a prática é muito melhor do que a teoria, mas a tragedia é que nem sempre a prática tem que ser praticada sem ao menos, tiver um planejamento. Muito lindo esse discurso, porém, as melhores letras de música, são as letras trabalhadas e harmonizadas com a melodia.

Não que só ouça rock – muitas vezes, eu ouça também de Gloria Groove a Lana Del Rey – mas, se tem que ter bom senso de questionar alguns gostos que, muitas vezes, são introjetados dentro da cultura por questões financeiras de gravadoras, empresário e essa coisa toda. Daí inventaram que gostos são subjetivos, relativizando certas coisas. Mas, se gostos são subjetivos, então, o porquê tantas pessoas passam a gostar daquele tipo de música ou daquele tipo de coisa? gostos são subjetivos, dizem. Eu desconfio de pessoas que tem o mesmo gosto, gostam das mesmas músicas e dançam em micaretas porque gostam daquilo, me dá um ar de falsidade do mesmo modo de quem vai para a balada. Isso me lembra o seriado Família Dinossauro – eu passei a minha adolescência assistindo – onde existia a dança do acasalamento e ninguém questionava o porquê existia aquilo. Micaretas e baladas são danças do acasalamento que ninguém questionam, porque você passa a ser o chato, aquele que se esconde.

Gosto de festa, mesmo o porquê, festa não é balada que você mexe a bunda sem parar. Festa você conversa, você ri, você abraça, vê e conhece pessoas como são, conhecidas ou passam a conhecer (muitas vezes, seu parente traz um amigo). Diálogos de Platão não aconteciam em micaretas ou baladas – muito menos em pancadões de funk – aconteciam em banquetes (simpósios), onde as pessoas conversavam. Não somos pavões ou animais irracionais que precisamos de danças, no máximo, colocamos adornos para nos sentimos mais bonitos. Nos exercitamos – os filósofos gregos antigos eram famosos pelos seus corpos atléticos – para cuidar do corpo, queimar as gorduras a mais. Por outro lado, por que não, não fazer nada? O ócio era muito valorizado pelos gregos e pelas escolas gregas (a lição de casa foi inventada como um castigo por um professor italiano na era moderna).

A questão sempre envolveu o sexo. O sexo é o impulso da sobrevivência e da reprodução, já que, o ser humano faz as coisas a partir das vantagens e desvantagens sexuais. Nada tem a ver com o instinto animal da copula – não menos importante – e sim, com o impulso de um passarinho fazer o ninho, os betas fazerem a espuminha nas águas do aquário, os cavalos marinhos carregarem os filhotes. E esse impulso vem sendo controlado a milênios para o trabalho, para o poderio militar, para as outras coisas que o Estado acha mais importante. Até mesmo a liberação sexual foi sempre usada por empresas e corporações que ganham com isso – as empresas de preservativo sempre são as que mais ganham, mas, logico, usem se forem transar – e sempre se acha um meio para isso. Por exemplo, não se podia fazer amor em dia santo na era medieval, e quase todo dia era dia Santo. Porque não se podia ter tantos filhos nas aldeias medievais.

O ser humano sempre quis achar meios para terem força e dominar outros seres humanos para terem poder e dinheiro. Existem milhares de teorias que dizem que quem descobriu que existia medos, existia necessidade de proteção e que existia a necessidade de controlar aquelas aldeias (como botar ordem), tenha descoberto o poder. Mas, será mesmo vantajoso para a sociedade viver em jaulas institucionais? Será mesmo que o ser humano inventou uma coisa boa para a sociedade? Pelo menos os estados modernos me mostram que não, não foi uma vantagem para nossa espécie ter inventado uma instituição burocrática que nos diz o que fazer, inventam culturas para melhor governar e se recusam dar para nós, o básico para viver. Ou acham mesmo que esse besteirol todo nas mídias não tem nada a ver com os governos? Esse besteirol na indústria cultural não é do governo americano? Se temos bundas e carnaval, os yanques tem tiros e bombas. E assim, os pianistas como Nelson Freire e outros artistas de verdade, são ofuscados.

 

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior