quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Autoconsciência e anarquia-1






Amauri Nolasco Sanches Junior

A autoconsciência é um lema dentro da filosofia ocidental, desde quando o filósofo Sócrates (469 a.C. - 399 a.C) disse “sei que nada sei” em um dos seus discursos. A autoconsciência, também, é muito difundida nas filosofias orientais de descobertas de si mesmo e da realidade que pensamos ser verdade, pois, segundo essas filosofias, nossos falsos egos constroem realidades que não existem. Voltamos ao filósofo grego, Sócrates. O filósofo foi chamado de sábio pela pitonisa do Oraculo de Delfos (o oraculo mais importante da Grécia na época), e por não aceitar, começou a procurar um outro que poderia ser mais sábio do que ele. Mas, o mesmo Sócrates, adotou o lema do oraculo em dizer em conhecer a nós mesmo, pois, conheceríamos o universo e os deuses. Conhecer sua própria natureza, poderíamos saber o que somos.

A autoconsciência é uma desconstrução de um ego (eu) construído em cima, de valores aprendido numa sociedade, praticamente, automática possa ter criado. Essa desconstrução tem que ser dolorido, deve ser um processo de construção de uma outra personalidade. Mas, com que valores? Com qual pensamento? Não adiante tirar valores velhos por valores muito mais, piores. Como saber? Ai que está. Na anarquia há um dilema interessante, dizendo, que para construir algo melhor, temos que destruir algo que não serve mais. Se você acha que alguém é “fascista” (não estou chamando ninguém de fascista), você não pode apoiar alguém que apoiam regimes iguais ou ainda, piores. Todo “ismo” é o mesmo, tem um viés do poder e fazer essa análise, tem que ser num modo de reconstrução. Não estou pregando que devemos deixar alguns valores de lado de repente, porque nossa psique é muito delicada e pode causar várias neuroses graves nesse processo. Porém, devemos nos perguntar coisas básicas que pode nos levar a questionar algumas coisas do nosso cotidiano. Poderíamos questionar se aquilo é certo fazemos, se não estamos agindo automaticamente, se tal ideia ainda existe e pesquisar sobre as crenças que se acredita.  Quando acordamos e não pensamos nada além aquilo que eu devo fazer, não estou sendo eu mesmo, estou sendo um ser automatizado.

Devemos ser assim em tudo dentro do que nos rodeia. Porque a analise (que na filosofia chamamos de crítica), tem que ser sem paixões, porque a racionalidade tem que prevalecer. Para a racionalidade prevalecer, temos que ter em mente que, há um significado em tudo que nos rodeia, porque tudo tem um termo. Como disse o filósofo contemporâneo austríaco, Wittgenstein, nossa realidade é os termos que a nossa consciência coloca para construir uma realidade. Porque, dentro da natureza, um cachorro não é um cachorro, esse é uma definição humana. Porém, se temos uma imagem dentro do termo, qual poderia ser a importância daquela imagem significativa? Qual a importância de acreditar num ideal ou uma religião? Qual a importância de ficar xingando ou ameaçando pessoas por não pensar igual? Nenhuma. Porque você está coagindo um ser humano só porque não age como você quer, porque não acredita naquilo que você acredita. Por outro lado, o mundo virtual tem uma potencialidade de ser verdade, mas, não é verdade, é só um mundo artificial de comunicação com avatares sem nenhuma importância. A imagem desses perfis, não tem nenhum significado.

Nós damos o significado de cada coisa. Esse computador que estou usando para escrever esse texto, por exemplo, tem um significado de trabalho e de reflexão em escrever textos ou livros. Para outras pessoas, pode ter outro significado, como outras nem gostam de computadores (os mais jovens, preferem o celular). Porém, de um modo geral, o computador tem uma importância de ser uma múltipla ferramenta de uso muito ampla para a humanidade. Meu blog, dando um outro exemplo, é uma prova disso. Mas também, houve um grande avanço nas transações financeiras, nas comunicações entre empresas (reuniões sem a presença do diretor), governos podem emitir o que estão fazendo (nem sempre é verdade), famílias e amigos podem se comunicar sem sair de casa entre outras coisas, que a tecnologia nos ajudou. Porém, a tecnologia é uma ferramenta e não tem nenhum significado, se ninguém tiver usando. O uso dará um significado. E o significado tem a ver com a ética individual e uma moral coletiva.

Se estamos falando de autoconsciência, estamos falando de ética. Porque a ética são coisas individuais dentro dos valores aprendido, dentro de uma subjetividade de mundo que se acredita. Você pode bater, por exemplo, em outra pessoa por diferenças? Não. Você pode roubar aquilo que não te pertence e agredir o outro por isso? Não. Isso é ética. Porque a ética vai usar e julgar, uma moral dentro da sociedade, que nesse caso, bater e roubar é errado. Você pode dizer: Ah, mas tem a lei para punir aqueles que fazem isso. Porque houve um entendimento moral que roubar e bater, é uma coisa nociva ao convívio social, no mesmo modo, fazer discriminação. O princípio da discriminação é o preconceito e o preconceito é tudo aquilo que se tem medo, ou seja, tudo que se acha que diferente e não pode acontecer. Crenças. A discriminação é uma violência antiética psicológica que julga por parâmetros estéticos normativos (isso está além de esquerda ou direita, porque é um princípio de consciência do convívio social). Por que vou julgar aquela pessoa por ele ser homossexual? Por que julgar aquela pessoa por ele ser mulher, ser uma pessoa com deficiência, ser negro ou ser índio e etc? Não tem o porquê. Sabemos que foram construções do poder de narrativas para separar povos, determinar questões de dominação e colocar seus reinos como poderosos e únicos. Mesmo assim, somos todos “homines sapiens”.

A autoconsciência analisa exatamente a questão ética de saber que somos seres humanos e não há condição física para medir questões de caráter, porque existem muitas pessoas bem arrumadas, bem afeiçoadas, que tem um mau caráter. As atitudes valem mais do que as aparências. E mais, caráter é individual. Você não deveria julgar uma comunidade inteira, por causa de três indivíduos que cometeram crimes. Como aconteceu no caso dos venezuelanos que tiveram que ir embora. E tenho uma definição bastante interessante dentro do libertarianismo (que muitos chamam de anarcocapitalismo, mas, são duas vertentes distintas que talvez explique num outro texto), que se chama PNA (Princípio da Não Agressão) que consiste que toda violência contra meu corpo (minha dignidade está incluída), é uma agressão a minha propriedade. Porque minha única e verdadeira propriedade, é o meu corpo e minha consciência e quem atenta a isto, é meu agressor e tenho o direito a defesa. Se há discriminação de qualquer natureza, é uma agressão e tem que ser defendida e isso é ético e moral (ou deveria ser). Isso tem que ser analisado pela autoconsciência, uma análise da minha própria natureza ética em destruir preconceitos e aceitar as pessoas como elas são, não o que elas deveriam ser.

Assim, podemos construir uma nova ética em saber que aquilo não é bem-vindo, portanto, não precisa de um governo para dizer isso. Vimos isso muito no budismo, por exemplo, que se destrói um ego que transforma você em um ser separado de um TODO e constrói no lugar, algo ligando você no TODO. Uma autoconsciência abre portas para o anarquismo e para o conhecimento verdadeiro, porque dará o indivíduo um conhecimento para ir sozinho sem tutores para resolver os problemas.

Continua....

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