Amauri Nolasco Sanches
Junior
Imaginem pessoas diferentes com suas aparências que não são
tão comuns para a sociedade, querendo, como outras pessoas, acharem seus pares
para amarem. Porque, se essas pessoas são seres humanos, são como humanos e
querem amar e ter uma vida como todo mundo. Claro, que poderíamos colocar como um
estereotipo do amor romântico, de ter o outro para cuidar e ser cuidado, de ter
segurança para ter um relacionamento. Mas, logicamente, por serem diferentes,
são vistos como pessoas a margem da sociedade. A questão mostrada no seriado
documentário, The Undateables (algo como “Os Insuportáveis”), mostra o universo
das pessoas com deficiência britânicas que tem uma vida normal, porém, não
podem se relacionar por causa das suas deficiências. É claro “abiguinhos”, que
ser uma pessoa com deficiência na Grã-Bretanha é muito diferente, em ser uma
pessoa com deficiência no Brasil. Meu irmão mora na Irlanda, sempre me mostra
pessoas com deficiência circulando normalmente entre os pedestres sem muito
atrito (lá a maioria tem motorizada). Então, me impressiona essa diferença
brutal, tanto cultural (onde pessoas com deficiência tem um tipo de trabalho,
agencias de relacionamento não tem departamento diferenciado, pessoas com
deficiência moram sozinhas e etc), quanto numa maneira estrutural (acessibilidade
plena), num mundo onde as pessoas não subprotegem pessoas, mas, colocam as
pessoas com deficiência como pessoas.
Onde quero chegar? Na série, isso fica bastante marcado, os
pais não tentam tirar a ideia de um relacionamento com o outro. Muito pelo contrário,
acham que os filhos deveriam sim ter um relacionamento com outras pessoas. Com
todas as suas limitações, o físico Stephen Hawking, se casou duas vezes e teve
filhos no primeiro casamento. A questão, pelo menos para mim, é olhar a pessoa
e não a deficiência, porque a deficiência é uma característica que pode ser
superada com a pessoa, com seus pensamentos, com seus relacionamentos, com a
maneira de causar impacto e empatia ao outro. Daí começa a questão, porque há
ainda, muito forte no nosso país, uma imagem de “coitado” que deveríamos esquecer
de vez, mas, ainda é muito forte no nosso país.
Li na semana passada, que uma mocinha com paralisia
cerebral, estudando na UnB, estava com dificuldade em deixarem a irmã de 11
anos a ficar no alojamento de estudantes, porque a mãe tinha que ficar com ela.
Ora, vamos aos fatos, que me levam a escrever esse texto. Primeiro, o site Metrópoles
usou o termo “paralitica” que além de ser errado, ainda transforma as pessoas
com deficiência em meros “coitados” que precisam ser sempre amparados. Nós que
escrevemos notícias, temos que ter extremo cuidado com as palavras, que podem
ser interpretadas e assimiladas de forma bastante, erradas. Segundo, todos tem
o direito de ter ou não uma pessoa consigo em qualquer lugar, mas, acho que
deveríamos rever esse tipo de pensamento de dependência. Quando eu estava na
FCD (Fraternidade Cristã de Pessoas com Deficiência), eu fiz minha primeira
viagem aos 16 anos de idade, no interior, com os companheiros de movimento. Não
tinha muito independência e também, tenho a mesma deficiência que a mocinha,
paralisia cerebral. A paralisia cerebral não causa paralisia no cérebro ou algo
desse tipo, mas, é uma falta de oxigenação na hora do parto, e alguns casos,
podem ocorrer casos uterinos e até, por causa de meningite. Porém, raciocinamos
tão bem, como qualquer ser humano.
Acima de qualquer discussão é salientar que devemos sempre
acreditar e defender a inclusão. Incluir é deixar a pessoa ter um convívio
dentro da sociedade e aprender a fazer adaptações para viver dentro dessa
sociedade, pois, temos que adaptarmos cada vez mais a ela e vencer algumas
barreiras. Por incrível que pareça, a questão moral e ética são questões
bastante difíceis, por causa da nossa cultura. Uma cultura que gosta de “varrer
para de baixo do tapete”, uma cultura que ainda sustentam associações assistencialistas,
uma cultura que enxerga as pessoas com deficiência como “anjos” assexuados ou
pessoas que atrapalham a vida cotidiana da sociedade. Uma sociedade que se diz
tolerante, mas, não gosta de ver o diferente e o que acha ser, errado. Mas, o
que seria certo ou errado? O que seria aquilo que deve ou não, ser aceito? A
questão é quase uma questão subjetiva, porque vele a visão de cada pessoa como
pode ver a cultura e a sociedade como um todo. Nosso povo acha que ser cidadão
só envolve o nicho de cultura e comunidade que estão acostumados, e não é bem
assim, existem outros setores que são tanto quanto brasileiros.
O que me incomoda é que esse tipo de escolha sejam escolhas
padrões, assim, universidades não precisam ter acessibilidade para podemos
frequentar. Que as pessoas com deficiência, sejam vistos como pessoas que não
podem se virar, que não podemos ser felizes longe dos nossos pais, que não
podemos ter uma vida. Inclusão não é ter só uma rampinha para a mamãe ou o
papai, empurrar sua cadeira como um neném com um carrinho. Na maioria das
vezes, quem olha feio para mim quando estou com minha noiva, não é quem está
passeando (existem pessoas que acham bonito), mas, pais de pessoas com
deficiência que não gostam de ver um casal namorando. Ainda mais, dois
cadeirantes com paralisia cerebral. Por que? Não querem que sofram, não querem
que se decepcionem, não querem que se frustrem. Mas, eu amadureci, graças a
atitude dos meus pais de não me protegerem, de deixarem eu me decepcionar, de
me frustrar e até mesmo, sofrer. Ninguém morre por causa do sofrimento, ninguém
morre por ficar frustrado, a questão, é a nossa cultura de subproteção.
O sofrimento não vai
fazer as pessoas com deficiência, se transformarem de cristal. Frustrações não vão
fazer s pessoas com deficiência, em sofredores eternos e que não podem superar
essas frustrações. Somos humanos e temos sentimentos, mas, como todo ser
humano, temos a razão e a racionalidade. Com a razão podemos mostrar que
podemos superar algumas dificuldades, assim, podemos ser independentes com
nossa deficiência. O que vi ali, foi nitidamente, um retrocesso a inclusão de
pessoas com deficiência que deram a razão de não adaptação da universidade, ao não
convívio aos colegas (como se alguma colega não pudesse ajudar a mocinha), ao
de tomar decisões que no futuro, vai ser importante. Mas, como disse, cada um
escolhe o que agrada. Só espero que essa escolha não seja padrão.
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