domingo, 23 de setembro de 2018

Hobbes e o professor que quase morreu por querer dar aula





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O Leviatã – Thomas Hobbes

Amauri Nolasco Sanches Junior

Quem não viu um vídeo viralizado de um professor sendo agredido dentro de uma sala de aula no interior do Rio de Janeiro? Alunos, entre 17 e 18 anos, agrediram um professor durante a uma prova de português na última terça-feira (18). Depois de muito analisar o caso – tentei escrever uma matéria, mas, foi barrada – fiquei pensando o quanto a juventude vem se tornando intolerante diante aquilo que não quer. Isso não é culpa de Paulo Freire (1921-1997), que não dizia o professor não ter autoridade, mas, rever a maneira de ensinar. A juventude não vai entender um pensador do século XIX se não viveu aquela realidade ou não entender, até mesmo, matemática. Eu só aprendi a tabuada, por exemplo, quando eu entendi as sequencias logicas de cada uma sem me ater na conta de multiplicação que se é aplicada ao ensinar, porque isso confunde o aluno. O conhecimento só existe se entendemos a informação passada, senão, vira mera informação não tem nenhuma conexão com a realidade. Aliás, acredito que a realidade seja uma crença subjetiva daquilo que se acredita como valor, tanto moral, como valor ético.

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Porém, vamos imaginar um jovem criado pela televisão ou pela internet, vendo candidatos à presidência dando respostas com palavrões e com violência, novelas ou coisas do tipo (como BBB ou A Fazenda) falando ou fazendo coisas deseducadoras, YouTubers ensinando como responder professores esquerdistas (como se eles só respondessem os professores de esquerda). Além, daqueles Youtubers que ensinam como peidar. Lógico, que, fisiologicamente, se não peidarmos, ficaremos com fortes dores abdominais. Mas, qual o valor educativo disso tudo? O que um jovem vai ser eticamente, aprendendo como peidar ou como responder professores que se mostrarem de esquerda? Não há diferença nenhuma da falta de educação você peidar e você responder um professor. E tem um outro fator, a ausência dos pais ou isolar os jovens ensinando a ter coisas, porque assim, eles crescem achando que as pessoas são coisas. O professor naquela sala, por exemplo, era uma coisa a ser descartada dentro do mundo daqueles jovens. Aquele professor atrapalhou a tranquilidade daqueles jovens, porque não queriam fazer a prova, não podiam ser frustrados com aquilo tudo.

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Existiu um filósofo do século XVI, chamado Thomas Hobbes (1588-1679), que dizia – ou pegou emprestado de um poeta romano – que o homem é o lobo do próprio homem. Ou seja, não tendo predadores naturais, o homem seria o inimigo do próprio homem, e o Estado seria um mediador para que o ser humano, seja pacificado e controlado. Hoje sabemos que o ESTADO foi construído por causa do aumento de clãs agricultores que se juntaram em torno de margens de rios, ou em grandes faixas de terras criando cidades. Por outro lado, no mesmo modo que foram criados governos, esses mesmos governos manipulam as religiões e manipulam o conhecimento, para os súditos ou cidadãos, não se rebelarem sobre suas ordens. Não tinha como Hobbes saber disso, porque essas teorias e estudos antropológicos, iriam vir depois da teoria darwinista evolutiva do século XIX. Por outro lado, Hobbes só defendeu onde sempre trabalhou, dentro do ESTADO e as cortes europeias. O homem não é o lobo do próprio homem, mas, foi condicionado dentro das leis morais, que o outro pode lhe causar mal por causa da união possível de uma sociedade inteira. Só pensar se houve tantas guerras quando o homem era colhedor e caçador – mesmo dizendo que os índios travavam guerras, as povoações indígenas, eram já sociedades complexas, mesmo tendo simplicidades – por serem nômades e muito poucos que não se encontravam.

Por manipular o conhecimento, o ESTADO tem todo o controle do ensino (criando órgãos reguladores de ensino), que só entra aquilo que interessa para seus próprios interesses. A poucos séculos, ou apenas a cem anos atrás, somente os nobres podiam ter escolas e aprenderem a escrever. Na idade média, o conhecimento era muito restrito para bem poucos por causa da aniquilação das cidades romanas e assim, até mesmo muitos nobres, nem ler sabiam (Carlos Magno era um deles). Então, sempre houve manipulações do poder para convencer que os estudos são chatos – até hoje se ouve que a filosofia é chata e não serve para nada – que o legal é curtir a vida e quando ser mais velho, trabalhar e casar. Podemos casar e trabalhar, mas, é essencial para não ser manipulado, ter estudos que não deixarão ser manipulado por ninguém.

Esses jovens foram burros em acreditar que se rebelar ao sistema é fazer esse tipo de coisa, porém, se rebelar ao sistema é ter o conhecimento para indagar ele e destruí-lo nas suas entranhas. Filósofos, ao logo dos séculos, fizeram isso e não foram menos rebeldes (não filósofos como Hobbes, claro), quebraram as marras e não seguiram ninguém. A questão é: o sistema sempre encontra meios para destruir aquela filosofia ou aquele conhecimento, para continuar no poder. Não vai ser um presidente, não vai ser um guru que mudara isso, mas, nós mesmos. Seguir os outros sempre tem o espirito de manada (sim, concordo com Nietzsche), e não te faz uma pessoa inteligente, te faz mais um no rebanho.


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