O Leviatã – Thomas Hobbes |
Amauri Nolasco Sanches Junior
Quem não viu um vídeo viralizado de um professor sendo
agredido dentro de uma sala de aula no interior do Rio de Janeiro? Alunos,
entre 17 e 18 anos, agrediram um professor durante a uma prova de português na última
terça-feira (18). Depois de muito analisar o caso – tentei escrever uma matéria,
mas, foi barrada – fiquei pensando o quanto a juventude vem se tornando
intolerante diante aquilo que não quer. Isso não é culpa de Paulo Freire (1921-1997),
que não dizia o professor não ter autoridade, mas, rever a maneira de ensinar. A
juventude não vai entender um pensador do século XIX se não viveu aquela
realidade ou não entender, até mesmo, matemática. Eu só aprendi a tabuada, por
exemplo, quando eu entendi as sequencias logicas de cada uma sem me ater na
conta de multiplicação que se é aplicada ao ensinar, porque isso confunde o
aluno. O conhecimento só existe se entendemos a informação passada, senão, vira
mera informação não tem nenhuma conexão com a realidade. Aliás, acredito que a
realidade seja uma crença subjetiva daquilo que se acredita como valor, tanto
moral, como valor ético.
Lula recebe visita
(aqui)
Porém, vamos imaginar um jovem criado pela televisão ou pela
internet, vendo candidatos à presidência dando respostas com palavrões e com violência,
novelas ou coisas do tipo (como BBB ou A Fazenda) falando ou fazendo coisas
deseducadoras, YouTubers ensinando como responder professores esquerdistas
(como se eles só respondessem os professores de esquerda). Além, daqueles
Youtubers que ensinam como peidar. Lógico, que, fisiologicamente, se não peidarmos,
ficaremos com fortes dores abdominais. Mas, qual o valor educativo disso tudo? O
que um jovem vai ser eticamente, aprendendo como peidar ou como responder
professores que se mostrarem de esquerda? Não há diferença nenhuma da falta de educação
você peidar e você responder um professor. E tem um outro fator, a ausência dos
pais ou isolar os jovens ensinando a ter coisas, porque assim, eles crescem
achando que as pessoas são coisas. O professor naquela sala, por exemplo, era
uma coisa a ser descartada dentro do mundo daqueles jovens. Aquele professor
atrapalhou a tranquilidade daqueles jovens, porque não queriam fazer a prova, não
podiam ser frustrados com aquilo tudo.
Haddad quer soltar Lula
(aqui)
Existiu um filósofo do século XVI, chamado Thomas Hobbes (1588-1679),
que dizia – ou pegou emprestado de um poeta romano – que o homem é o lobo do próprio
homem. Ou seja, não tendo predadores naturais, o homem seria o inimigo do próprio
homem, e o Estado seria um mediador para que o ser humano, seja pacificado e
controlado. Hoje sabemos que o ESTADO foi construído por causa do aumento de
clãs agricultores que se juntaram em torno de margens de rios, ou em grandes
faixas de terras criando cidades. Por outro lado, no mesmo modo que foram
criados governos, esses mesmos governos manipulam as religiões e manipulam o
conhecimento, para os súditos ou cidadãos, não se rebelarem sobre suas ordens. Não
tinha como Hobbes saber disso, porque essas teorias e estudos antropológicos,
iriam vir depois da teoria darwinista evolutiva do século XIX. Por outro lado, Hobbes
só defendeu onde sempre trabalhou, dentro do ESTADO e as cortes europeias. O homem
não é o lobo do próprio homem, mas, foi condicionado dentro das leis morais,
que o outro pode lhe causar mal por causa da união possível de uma sociedade
inteira. Só pensar se houve tantas guerras quando o homem era colhedor e
caçador – mesmo dizendo que os índios travavam guerras, as povoações indígenas,
eram já sociedades complexas, mesmo tendo simplicidades – por serem nômades e
muito poucos que não se encontravam.
Por manipular o conhecimento, o ESTADO tem todo o controle
do ensino (criando órgãos reguladores de ensino), que só entra aquilo que
interessa para seus próprios interesses. A poucos séculos, ou apenas a cem anos
atrás, somente os nobres podiam ter escolas e aprenderem a escrever. Na idade
média, o conhecimento era muito restrito para bem poucos por causa da aniquilação
das cidades romanas e assim, até mesmo muitos nobres, nem ler sabiam (Carlos
Magno era um deles). Então, sempre houve manipulações do poder para convencer
que os estudos são chatos – até hoje se ouve que a filosofia é chata e não serve
para nada – que o legal é curtir a vida e quando ser mais velho, trabalhar e
casar. Podemos casar e trabalhar, mas, é essencial para não ser manipulado, ter
estudos que não deixarão ser manipulado por ninguém.
Esses jovens foram burros em acreditar que se rebelar ao
sistema é fazer esse tipo de coisa, porém, se rebelar ao sistema é ter o
conhecimento para indagar ele e destruí-lo nas suas entranhas. Filósofos, ao
logo dos séculos, fizeram isso e não foram menos rebeldes (não filósofos como Hobbes,
claro), quebraram as marras e não seguiram ninguém. A questão é: o sistema
sempre encontra meios para destruir aquela filosofia ou aquele conhecimento,
para continuar no poder. Não vai ser um presidente, não vai ser um guru que
mudara isso, mas, nós mesmos. Seguir os outros sempre tem o espirito de manada
(sim, concordo com Nietzsche), e não te faz uma pessoa inteligente, te faz mais
um no rebanho.
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