Amauri Nolasco Sanches
Junior
Quem é essa tal de Bettina? Só é uma mulher que investiu um
dinheiro que ganhou do pai ou é mais uma invenção de uma empresa financeira? Uns
falam que ela é uma herdeira de um patrimônio milionário de uma família rica,
outros desconfiam e acham que é apenas uma atriz que se faz de uma garota rica
herdeira. A pergunta é: qual a importância de fazer um meme (ironia com a vida
cotidiana), de uma propaganda e não vai a fundo na analise dessa propaganda? Será que as
pessoas já estão se perguntando se esse mundo do “capitalândia” não é toda essa
fantasia de ter liberdade e fazer tudo que quiser? Não que eu seja favorável ao
socialismo – que era outro parque temático social – mas, temos que analisar o
que deu errado no capitalismo. Um sonho vendido de liberdade e não é a verdade.
O capital aqui no Brasil, com altos tributos que as empresas têm que pagar,
demoram muito para chegarem num capital tipo Amazon, tipo um Facebook e até mesmo,
um Google. Muitas empresas de internet brasileiras, aliás, tiveram que ser
vendidas.
As investigações da Operação Lava-Jato, mostra que as
empresas mais bem-sucedidas são, exatamente, ou empresas que tem uma tradição
de serem empresas mais velhas, ou empresas que tem um capital duvidoso. Não que
isso acontece com todas as empresas. Existem empresas que vivem do varejo –
como empresas de moveis ou de necessidades básicas – que tiveram bastante sucesso,
como, por exemplo, uma Casas Bahia ou Magazine Luiza. No Brasil, só quando você
vai fazer um passeio básico, você gasta R$ 200,00 brincando, vê o quanto é
gritante os preços por causa da carga tributária. Eu sou autor independente e
sei, que mesmo vendendo o livro em gráficas por tiragem – que aliás, é bem
melhor do que pagar para editar um livro que é um absurdo – eu fico com 5% da
autoria do livro, 20% a 30%, fica com a gráfica e os outros 40% a 50% fica de
imposto. Se mostra que o Brasil não é um país pobre, mas, o Brasil mostra um
auto teor de desigualdade. Porque, a partir do momento que você começa a dar preferência
em uma determinada empresa, ou determinado produto, para talvez, dar uma
valorizada, como acontece no mundo mobiliário, você começa a quebrar as demais.
O mercado brasileiro – e isso reflete no governo – foca muito em uma
determinada demanda, muito, imediatista e não enxerga uma outra demanda não tão
imediatista assim. Empreiteiras são necessárias para obras (aliás, o esquema
começa justamente, com a construção de Brasília), mas, uma livraria não é
necessária por causa do conhecimento que ela produz. O poder aqui no Brasil –
pelo menos, a sua tradição – remete as cortes que vieram de um legado latino
(logo, romano), misturado de um teor da igreja cristã católica, que o
conhecimento não é para todo mundo e aí que eu quero chegar.
Por que, por exemplo, uma Empiricus tem mais destaque numa
plataforma de vídeo (no caso, o YouTube), do que uma Saraiva ou Cultura? Pela
nossa cultura. Os brasileiros, num modo geral, não gostam de estudar os assuntos
porque ele não sabe interpretar aquilo e nós não tivermos um incentivo
cultural. Toda a quinquilharia ideológica dentro das músicas, os incentivos do
senso comum, que saem um funk ou um axé, é um reflexo claro disso. Dentro de
uma perspectiva cultural, você tem que elevar o conhecimento, para elevar a
produção e elevar as maneiras de evolução e redimensionar as obras culturais,
num nível que mais gente possa ir além daquilo que podemos se ater em analises
e gostos muito elevados. Esses níveis baixos do ensino refletem nas redes
sociais em produção de memes (que são analises rasas do assunto), produção de
notícias falsas (fake news), músicas que degeneram a cultura do ser humano
racional (não num aspecto moral, mas por ser músicas fáceis de se decorar como
se fosse a literatura de autoajuda), todo um aparato de coisas para “atrofiar”
o cérebro e os donos do poder acharem e empurrarem coisas desnecessárias. Como
as tomadas com três pinos, como o kit dos primeiros socorros, como inúmeras
empresas que usam pirâmides como base de negócio e agora, a modinha do
coaching.
Se as pessoas daqui tiveram uma escolaridade meio “porca”,
claro, que a interpretação daquilo que elas estão vendo fica difícil. Para uma análise
bem mais profunda devemos perguntar: será que as empresas e o governo preferem
cidadãos com boa instrução ou com má instrução para não questionarem certas
coisas? Será que esse questionamento é uma tiração de sarro da Bettina ou é um
despertar da consciência? Meu modo de ver o mundo é bastante cético, as pessoas
sempre vão se revoltar quando estiverem com necessidades, e toda essa revolta
de 2013, foi a necessidade de lutar por uma causa (20 centavos). Todas as
revoluções dentro da história humana, ou tiveram motivações da classe burguesa
(como foi na revolução francesa que terminou em ditadura e o termino com
Napoleão), ou vão usar isso para a renovada do poder. Resumindo: a sopa é a
mesma, o que muda é sempre a mosca. Não há sexo, não há dinheiro, mas, só há
uma questão de poder. Bettina é tão escrava quanto o gari que limpa nossas
ruas, porque ela acha que pode te ensinar a investir em uma fórmula quase mágica.
A pergunta que eu faço vendo o comercial da Empiricus é: para que eu quero ter
um milhão de reais se para ter esse um milhão eu tenho que pagar? Então, espera
aí, para ficar rico eu tenho que deixar outra pessoa rica e isso parece muito o
esquema de pirâmides. No mesmo modo, quando eu vendo produtos de alguma loja ou
de cosméticos, eu tenho que comprar aqueles produtos. Só que eu ganho muito
pouco e não terei lucro. E por outro lado, o esquema de pirâmide é crime.
Eu vejo no Instagram as pessoas gastando dinheiro em viagens
(como se eu quisesse ver essas viagens), pessoas que querem gastar em baladas
(como se eu quisesse ver essas baladas ou shows sertanejos), e não se perguntam
o porquê disso tudo. No mesmo modo, quem
quer os cursos para se chegar a um milhão. Por outro lado, Bettina no vídeo não
dá formulas milagrosas, ela diz que transformou o dinheiro que ela ganhou em
uma quantia mais alta. Para mim, isso não é o problema. a questão da empresa é
usar um marketing agressivo e exagerado (que torna esse tipo de propaganda,
rejeitada). Não, as pessoas não leem artigos com nomes de filósofos fazendo
coisas cotidianas. Não, as pessoas não querem ver vídeos toda hora no YouTube.
Elas querem ler e ver vídeos que confirmem a suas crenças, religiosas e
ideológicas, como se fossem bolhas. Talvez, a Empiricus tenha exagerado para
exatamente sair dessa bolha que os algoritmos têm transformado o debate
público. A questão é: qual o preço dessa bolha? O governo Bolsonaro pagou o preço
alto nesta questão, preço esse de ser escravo de uma ideologia fanática e de
pouca eficiência dentro do marco civil brasileiro. Talvez, a Bettina só seja um
começo da nova era chata e que não tem nada de bom para deixar para o futuro.
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