segunda-feira, 18 de março de 2019

Bettina e a filosofia – uma análise da imagem e da linguagem







Amauri Nolasco Sanches Junior

Quem é essa tal de Bettina? Só é uma mulher que investiu um dinheiro que ganhou do pai ou é mais uma invenção de uma empresa financeira? Uns falam que ela é uma herdeira de um patrimônio milionário de uma família rica, outros desconfiam e acham que é apenas uma atriz que se faz de uma garota rica herdeira. A pergunta é: qual a importância de fazer um meme (ironia com a vida cotidiana), de uma propaganda e não vai a fundo na analise dessa propaganda? Será que as pessoas já estão se perguntando se esse mundo do “capitalândia” não é toda essa fantasia de ter liberdade e fazer tudo que quiser? Não que eu seja favorável ao socialismo – que era outro parque temático social – mas, temos que analisar o que deu errado no capitalismo. Um sonho vendido de liberdade e não é a verdade. O capital aqui no Brasil, com altos tributos que as empresas têm que pagar, demoram muito para chegarem num capital tipo Amazon, tipo um Facebook e até mesmo, um Google. Muitas empresas de internet brasileiras, aliás, tiveram que ser vendidas.

As investigações da Operação Lava-Jato, mostra que as empresas mais bem-sucedidas são, exatamente, ou empresas que tem uma tradição de serem empresas mais velhas, ou empresas que tem um capital duvidoso. Não que isso acontece com todas as empresas. Existem empresas que vivem do varejo – como empresas de moveis ou de necessidades básicas – que tiveram bastante sucesso, como, por exemplo, uma Casas Bahia ou Magazine Luiza. No Brasil, só quando você vai fazer um passeio básico, você gasta R$ 200,00 brincando, vê o quanto é gritante os preços por causa da carga tributária. Eu sou autor independente e sei, que mesmo vendendo o livro em gráficas por tiragem – que aliás, é bem melhor do que pagar para editar um livro que é um absurdo – eu fico com 5% da autoria do livro, 20% a 30%, fica com a gráfica e os outros 40% a 50% fica de imposto. Se mostra que o Brasil não é um país pobre, mas, o Brasil mostra um auto teor de desigualdade. Porque, a partir do momento que você começa a dar preferência em uma determinada empresa, ou determinado produto, para talvez, dar uma valorizada, como acontece no mundo mobiliário, você começa a quebrar as demais. O mercado brasileiro – e isso reflete no governo – foca muito em uma determinada demanda, muito, imediatista e não enxerga uma outra demanda não tão imediatista assim. Empreiteiras são necessárias para obras (aliás, o esquema começa justamente, com a construção de Brasília), mas, uma livraria não é necessária por causa do conhecimento que ela produz. O poder aqui no Brasil – pelo menos, a sua tradição – remete as cortes que vieram de um legado latino (logo, romano), misturado de um teor da igreja cristã católica, que o conhecimento não é para todo mundo e aí que eu quero chegar.

Por que, por exemplo, uma Empiricus tem mais destaque numa plataforma de vídeo (no caso, o YouTube), do que uma Saraiva ou Cultura? Pela nossa cultura. Os brasileiros, num modo geral, não gostam de estudar os assuntos porque ele não sabe interpretar aquilo e nós não tivermos um incentivo cultural. Toda a quinquilharia ideológica dentro das músicas, os incentivos do senso comum, que saem um funk ou um axé, é um reflexo claro disso. Dentro de uma perspectiva cultural, você tem que elevar o conhecimento, para elevar a produção e elevar as maneiras de evolução e redimensionar as obras culturais, num nível que mais gente possa ir além daquilo que podemos se ater em analises e gostos muito elevados. Esses níveis baixos do ensino refletem nas redes sociais em produção de memes (que são analises rasas do assunto), produção de notícias falsas (fake news), músicas que degeneram a cultura do ser humano racional (não num aspecto moral, mas por ser músicas fáceis de se decorar como se fosse a literatura de autoajuda), todo um aparato de coisas para “atrofiar” o cérebro e os donos do poder acharem e empurrarem coisas desnecessárias. Como as tomadas com três pinos, como o kit dos primeiros socorros, como inúmeras empresas que usam pirâmides como base de negócio e agora, a modinha do coaching.

Se as pessoas daqui tiveram uma escolaridade meio “porca”, claro, que a interpretação daquilo que elas estão vendo fica difícil. Para uma análise bem mais profunda devemos perguntar: será que as empresas e o governo preferem cidadãos com boa instrução ou com má instrução para não questionarem certas coisas? Será que esse questionamento é uma tiração de sarro da Bettina ou é um despertar da consciência? Meu modo de ver o mundo é bastante cético, as pessoas sempre vão se revoltar quando estiverem com necessidades, e toda essa revolta de 2013, foi a necessidade de lutar por uma causa (20 centavos). Todas as revoluções dentro da história humana, ou tiveram motivações da classe burguesa (como foi na revolução francesa que terminou em ditadura e o termino com Napoleão), ou vão usar isso para a renovada do poder. Resumindo: a sopa é a mesma, o que muda é sempre a mosca. Não há sexo, não há dinheiro, mas, só há uma questão de poder. Bettina é tão escrava quanto o gari que limpa nossas ruas, porque ela acha que pode te ensinar a investir em uma fórmula quase mágica. A pergunta que eu faço vendo o comercial da Empiricus é: para que eu quero ter um milhão de reais se para ter esse um milhão eu tenho que pagar? Então, espera aí, para ficar rico eu tenho que deixar outra pessoa rica e isso parece muito o esquema de pirâmides. No mesmo modo, quando eu vendo produtos de alguma loja ou de cosméticos, eu tenho que comprar aqueles produtos. Só que eu ganho muito pouco e não terei lucro. E por outro lado, o esquema de pirâmide é crime.

Eu vejo no Instagram as pessoas gastando dinheiro em viagens (como se eu quisesse ver essas viagens), pessoas que querem gastar em baladas (como se eu quisesse ver essas baladas ou shows sertanejos), e não se perguntam o porquê disso tudo.  No mesmo modo, quem quer os cursos para se chegar a um milhão. Por outro lado, Bettina no vídeo não dá formulas milagrosas, ela diz que transformou o dinheiro que ela ganhou em uma quantia mais alta. Para mim, isso não é o problema. a questão da empresa é usar um marketing agressivo e exagerado (que torna esse tipo de propaganda, rejeitada). Não, as pessoas não leem artigos com nomes de filósofos fazendo coisas cotidianas. Não, as pessoas não querem ver vídeos toda hora no YouTube. Elas querem ler e ver vídeos que confirmem a suas crenças, religiosas e ideológicas, como se fossem bolhas. Talvez, a Empiricus tenha exagerado para exatamente sair dessa bolha que os algoritmos têm transformado o debate público. A questão é: qual o preço dessa bolha? O governo Bolsonaro pagou o preço alto nesta questão, preço esse de ser escravo de uma ideologia fanática e de pouca eficiência dentro do marco civil brasileiro. Talvez, a Bettina só seja um começo da nova era chata e que não tem nada de bom para deixar para o futuro.

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