quinta-feira, 28 de março de 2019

Estudos mostram que sim, pessoas com paralisia cerebral tem sexualidade



Vickie e Thomas têm paralisia cerebral. 

Amauri Nolasco Sanches Junior




Em um post de um grupo específico para as pessoas com paralisia cerebral, que era de uma série de uma pessoa com deficiência com paralisia cerebral que é homossexual, gerou uma discussão interessante. A Netflix sempre fez série de pessoas com deficiência e sempre colocou, em seu catálogo, séries que mostram o cotidiano. E isso não podemos negar. A plataforma de videos, tem se mostrado muito versificada nessa área. Mas, eu acho que há dois problemas a ser analisado além da Netflix, a questão cultural da nossa sociedade de ainda achar que as pessoas com deficiência são assexuadas. 




Na discussão apareceu a tão famoso versículo de Paulo de Tarso que condena o homossexualismo. Para uma análise mais profunda da questão, temos que ver quem era Saulo (depois mudou o nome de Paulo) e o contexto desse versículo, para ir mais além da discussão. Antes de se converter, Paulo era um centurião de origem judaica e que estudou na Grécia e que sabia dos muitos pensamentos. Portanto, estamos falando de um homem letrado e que conhecia tanto as leis mosaicas, quanto as inúmeras filosofias gregas. Quando ele escreve nas epístolas os versículos: “O homem que se deitar com outro homem como se fosse uma mulher, ambos cometeram uma abominação, deverão morrer, e seu sangue cairá sobre eles.”, mostra quanto ele era muito apegado as leis mosaicas, que o próprio Jesus, quis “endireitar”. Não esquecemos também, que houve muita briga entre Paulo e Pedro (Simão), por conta das suas ideias muito fora daquilo que Jesus havia pregado. Outra coisa, é querer levar o que um homem, com uma outra cultura e uma outra realidade, escreveu a quase dois mil anos ao pé da letra, é uma insensatez. Em inúmeros textos, já disse que as pessoas deveriam seguir o que Jesus disse, o resto é judaísmo e você tem que escolher, ou você segue o judaísmo ou você segue o cristianismo. 




Deixando teologias de lado, vamos falar de sexualidade e capacitismo. A sexualidade é a grande rival da religião – pelos menos, a religião Institucionalizada – porque tem a ver com o prazer e um povo com prazer, porque o prazer gera feromônios que dá uma sensação de alegria, não pensará em uma redenção e outra coisa, a religião – dita cristã – se porta com uma moral de séculos atrás. Como o prazer é atrelado a tudo que não pode (que vem de poder, o poder de mudar algo, por exemplo), nós pessoas com deficiência, que somos “imaculados”, somos protegidos dessa “tentação”. O prazer, verdadeiro claro, é um dissolvente da culpa e do medo. Todas as suas energias e pensamentes estão naquele ato. Portanto, depos de ir muito além da sua realidade medíocre, você se encontra até mesmo, com as energias criadoras divinas e você começa se conhecer e sentir a criação dentro de você. Na verdade, a mesma energia da oração é a energia do ato sexual. 


O capacitismo (o preconceito com as pessoas com deficiência), começa quando mães – quando eu namorava no shopping, as caras feias sempre vinham de pais de crianças ou pessoas com deficiência – acham que seus filhos não podem ter uma sexualidade como qualquer ser humano. Quando o sexo em si – não estou dizendo perversão que é uma outra discussão – fica parecendo uma coisa suja, sem propósito e ainda, achando que seu filho não pode reproduzir (crescei e multiplicai) por ter deficiência, a questão é bem mais complexa. Porque tem a ver com posturas que até mesmo a Jesus era contra, pois, todos nós temos nossas limitações e todos nós somos seres que viemos do divino. Ou vamos ser diferente dos outros seres humanos? Não, não somos diferentes de outros seres humanos. 


Lógico que tem pessoas que tem mais limitação, não estou dizendo que há só um padrão. No meu livro sobre o capacitismo (vou deixar linkado aqui), eu abordo a questão bem ampla, que mostra que o capacitismo tem linguagem e tem uma linha tênue entre as outras maneiras de discriminação. Por que? Pessoas podem ter uma limitação física, mas, podem não ter uma limitação intelectual. Você pode estar tratando seu filho como se fosse uma criança, mas, ele pode ter jaculações involuntárias, ou você pode ter um susto quando trocar ele ou fazer qualquer coisa. Ter um diagnóstico preciso (sempre com uma segunda opinião), deve esclarecer sobre esse assunto e vamos sempre incentivar a inclusão. 


E sobre a homossexualidade, poderá chocar algumas mães que por ventura lerem esse texto, porém, há muitas pessoas com paralisia cerebral que fazem sexo e são homossexuais. Tem pessoas com deficiência com essa deficiência que casam e moram junto com ou o sexo oposto, ou do mesmo sexo. Tem filhos e cuidam desse filho. Que fazem comida, lavam a roupa, limpam a casa e até trabalham. E outra coisa, existem pessoas com paralisia cerebral que lutam pelos direitos de todas as pessoas com deficiência. Portanto, isso que ele não é capaz (da onde vem o termo capacitismo que é um derivado do espanhol “capaz”), é uma tremenda e ridícula bobagem.



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