Amauri Nolasco Sanches Junior
“Considero ateísmo a posição filosófica mais simples. Um golfinho pode
ser um ateu. Já um conceito de Deus exige músculos conceitual”
Luiz Felipe Pondé
As pessoas estão cada vez mais limitadas em seu próprio “mundinho”
e mais focadas em ideias limitadas em uma só visão. Não entender uma frase
elementar como está do Pondé, é além de uma limitação férrea de pensamento,
ainda uma constatação de canalhice intelectual. Porque é muito mais fácil você dizer
que aquilo não existe do que analisar o fenômeno religioso – todas as religiões
– numa analise muito mais profunda e lendo os vários livros sagrados e todas as
Gêneses. Por isso, não consigo ler
livros do biólogo Richard Dawkins, porque ele faz uma crítica vagabunda de um só
viés de religiosidade mostrando uma verdade cientifica que não existe. Ontem,
pesquisas cientificas levavam a um caminho, hoje elas levam em outro. Não existem
verdades cientificas como as pessoas pregam, existem pesquisas que levam
algumas hipóteses que vão ainda ser testadas. Mas isso não dá certeza nenhuma. Não
temos certeza de nada.
Mas, essa frase do Pondé – que na verdade, é um conjunto de
frases do artigo de 2009 da Folha “Budista light” – mostra um outro aspecto da
nossa era, a dificuldade de entender uma simples frase. Por que? Porque são construções
de um pensamento e um pensamento se constrói com conceitos (dentro da consciência)
e se você não analisar um conceito (compreensão que alguém tem de uma palavra;
noção, concepção, ideia.), então, fica uma crítica vazia. Muitas vezes, ou
quase sempre, as críticas do senso comum são críticas vagabundas, porque são simplistas
demais. Dentro da filosofia – pelo menos, a filosofia séria – uma crítica não é
um julgamento de valor ou apenas um julgamento, mas, uma análise muito mais
profunda sobre aquilo que as críticas devem ser analisadas. Ou seja, numa análise
muito mais profunda. Sempre se quer simplificar aquilo que não se pode
simplificar. Mas vamos a frase do Pondé.
Em muitas palestras, ele vem repetindo esse pensamento e é
muito interessante. Qual a ideia central dele? É o modo vagabundo que as
pessoas seguem algo. Alguns séculos atrás – na verdade, até os anos 80, mais ou
menos, do século vinte – era impensável evangélicos não saberem o que estão seguindo,
budistas tinham que seguir rituais, espiritas tinham que ler a obra cânone de
Allan Kardec e etc. Hoje, como Pondé quis dizer no texto (que presumo que você leu),
as pessoas não querem mais se aprofundarem nessas coisas e começam a seguir uma
versão mais “light”. Assim, as pessoas não abrem mão daquilo que sempre
fizeram. E por outro lado, as religiões estão muito mais preocupadas em número
de seguidores, não existe uma ordem espiritual, mas, a religião virou um grande
negócio. Porém, o ateísmo “toddynho”, é um fenômeno para as massas e fica
repetindo uma coisa milhares de vezes até achar que vai te convencer, ou te
encher o saco. Um outro fenômeno dentro desse tipo de ateísmo, é achar que é
muito mais inteligente do que a maioria das pessoas. Para mim, só simplificou e
inverteu o que os religiosos sempre disseram e tem um paradoxo semântico. Se você
disser que “Deus não existe”, ele passa a existir porque você tem um
substantivo próprio que chama uma consciência que não se sabe se existe ou não.
Segundo pesquisei no Google, o termo “deus” é um substantivo
masculino e numa definição teológica, é um ente masculino, eterno, sobrenatural
e existente por si só, e também, é a causa necessária e o fim ultimo de tudo
que existe. Segundo as religiões primitivas designavam o termo como forças
ocultas ou aos espíritos que eram, mais ou menos, personalizados (como nas inúmeras
mitologias). Ou seja, quando damos a algo uma definição, estamos dando já com
uma certa referência aquilo. Se temos uma definição do Papai Noel, por exemplo,
é porque temos uma referência de São Nicolau que entregava presentes com o trenó.
Por isso mesmo, Pondé nos alerta que “um conceito de Deus exige músculos
conceitual”, porque temos que passar até mesmo, pela definição do caso.
Não é só a definição de “deus”, mas, a definição de todas as
descobertas que foram feitas. O mapeamento genético nos mostra, que cada cromossomo
tem uma definição como uma característica do corpo, assim, há uma seria semelhança
entre o código genético e um algoritmo de um software. Cada linha do algoritmo
é lida pelo computador como uma tarefa a ser cumprida, o mesmo com o código genético
com suas definições corporais. A pergunta é: qual consciência pode ter definido
esse código? Por que componentes inanimados de uma Terra, mais ou menos,
primitiva se juntaram e deram células vivas? Por que galáxias com milhões de
estrelas contem milhares de planetas que podem ter vida? Acho que a definição que
“deus não existe”, é uma definição muito mais simplista, do que fazer uma definição
simples como essa. Assim, o Pondé tem razão quando diz, que uma análise tão
rasa dessa, até mesmo, golfinhos seriam ateus. E não me venham com essa de “teoria
alienatória” que poderia ter construído tudo por mera sorte, porque tem uma definição
vagabunda tanto quanto, da afirmação que “deus não existe”.
E outro, o aspecto espiritual ainda vai muito longe. Porque,
se as religiões querem muito mais seguidores do que ela deseja religar ao
divino (num modo bastante espiritual), deveriam voltar a base, como disse o
Mano Brown aos petistas. Por uma razão bem simples: a espiritualidade vai muito
além do que a moral social e as suas bugigangas sociais capitalistas que
desejamos. Essa coisa de que “Deus te dá aquilo” é pura balela, mesmo o porquê,
o próprio Jesus disse que era para darmos o que é de Cesar para Cesar e o que é
de Deus para Deus, ou seja, para a espiritualidade não interessa dinheiro e
ouro e sim, as condutas éticas de cada um. Assim, como as condutas a
espiritualidade deve ser feita com uma certa concentração, rituais sem climas
de festa, apenas, uma conexão com a consciência divina. Para mim, você passar
uma hora ou duas horas, em um templo não te faz um sujeito espiritualizado,
porque, isso são religiões que estão dando um fest-food espiritual. Isso são religiões
dos medrosos que não querem descobrir uma espiritualidade muito além dessas igrejas
materialistas pentecostais e neopetencostais. Essa falta de profundidade, tem o
preço da burrice plena.
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