segunda-feira, 4 de março de 2019

Golfinhos ateus e a sociedade com críticas vagabundas




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Amauri Nolasco Sanches Junior


“Considero ateísmo a posição filosófica mais simples. Um golfinho pode ser um ateu. Já um conceito de Deus exige músculos conceitual”
Luiz Felipe Pondé

As pessoas estão cada vez mais limitadas em seu próprio “mundinho” e mais focadas em ideias limitadas em uma só visão. Não entender uma frase elementar como está do Pondé, é além de uma limitação férrea de pensamento, ainda uma constatação de canalhice intelectual. Porque é muito mais fácil você dizer que aquilo não existe do que analisar o fenômeno religioso – todas as religiões – numa analise muito mais profunda e lendo os vários livros sagrados e todas as Gêneses.  Por isso, não consigo ler livros do biólogo Richard Dawkins, porque ele faz uma crítica vagabunda de um só viés de religiosidade mostrando uma verdade cientifica que não existe. Ontem, pesquisas cientificas levavam a um caminho, hoje elas levam em outro. Não existem verdades cientificas como as pessoas pregam, existem pesquisas que levam algumas hipóteses que vão ainda ser testadas. Mas isso não dá certeza nenhuma. Não temos certeza de nada.

Mas, essa frase do Pondé – que na verdade, é um conjunto de frases do artigo de 2009 da Folha “Budista light” – mostra um outro aspecto da nossa era, a dificuldade de entender uma simples frase. Por que? Porque são construções de um pensamento e um pensamento se constrói com conceitos (dentro da consciência) e se você não analisar um conceito (compreensão que alguém tem de uma palavra; noção, concepção, ideia.), então, fica uma crítica vazia. Muitas vezes, ou quase sempre, as críticas do senso comum são críticas vagabundas, porque são simplistas demais. Dentro da filosofia – pelo menos, a filosofia séria – uma crítica não é um julgamento de valor ou apenas um julgamento, mas, uma análise muito mais profunda sobre aquilo que as críticas devem ser analisadas. Ou seja, numa análise muito mais profunda. Sempre se quer simplificar aquilo que não se pode simplificar. Mas vamos a frase do Pondé.

Em muitas palestras, ele vem repetindo esse pensamento e é muito interessante. Qual a ideia central dele? É o modo vagabundo que as pessoas seguem algo. Alguns séculos atrás – na verdade, até os anos 80, mais ou menos, do século vinte – era impensável evangélicos não saberem o que estão seguindo, budistas tinham que seguir rituais, espiritas tinham que ler a obra cânone de Allan Kardec e etc. Hoje, como Pondé quis dizer no texto (que presumo que você leu), as pessoas não querem mais se aprofundarem nessas coisas e começam a seguir uma versão mais “light”. Assim, as pessoas não abrem mão daquilo que sempre fizeram. E por outro lado, as religiões estão muito mais preocupadas em número de seguidores, não existe uma ordem espiritual, mas, a religião virou um grande negócio. Porém, o ateísmo “toddynho”, é um fenômeno para as massas e fica repetindo uma coisa milhares de vezes até achar que vai te convencer, ou te encher o saco. Um outro fenômeno dentro desse tipo de ateísmo, é achar que é muito mais inteligente do que a maioria das pessoas. Para mim, só simplificou e inverteu o que os religiosos sempre disseram e tem um paradoxo semântico. Se você disser que “Deus não existe”, ele passa a existir porque você tem um substantivo próprio que chama uma consciência que não se sabe se existe ou não.

Segundo pesquisei no Google, o termo “deus” é um substantivo masculino e numa definição teológica, é um ente masculino, eterno, sobrenatural e existente por si só, e também, é a causa necessária e o fim ultimo de tudo que existe. Segundo as religiões primitivas designavam o termo como forças ocultas ou aos espíritos que eram, mais ou menos, personalizados (como nas inúmeras mitologias). Ou seja, quando damos a algo uma definição, estamos dando já com uma certa referência aquilo. Se temos uma definição do Papai Noel, por exemplo, é porque temos uma referência de São Nicolau que entregava presentes com o trenó. Por isso mesmo, Pondé nos alerta que “um conceito de Deus exige músculos conceitual”, porque temos que passar até mesmo, pela definição do caso.

Não é só a definição de “deus”, mas, a definição de todas as descobertas que foram feitas. O mapeamento genético nos mostra, que cada cromossomo tem uma definição como uma característica do corpo, assim, há uma seria semelhança entre o código genético e um algoritmo de um software. Cada linha do algoritmo é lida pelo computador como uma tarefa a ser cumprida, o mesmo com o código genético com suas definições corporais. A pergunta é: qual consciência pode ter definido esse código? Por que componentes inanimados de uma Terra, mais ou menos, primitiva se juntaram e deram células vivas? Por que galáxias com milhões de estrelas contem milhares de planetas que podem ter vida? Acho que a definição que “deus não existe”, é uma definição muito mais simplista, do que fazer uma definição simples como essa. Assim, o Pondé tem razão quando diz, que uma análise tão rasa dessa, até mesmo, golfinhos seriam ateus. E não me venham com essa de “teoria alienatória” que poderia ter construído tudo por mera sorte, porque tem uma definição vagabunda tanto quanto, da afirmação que “deus não existe”.

E outro, o aspecto espiritual ainda vai muito longe. Porque, se as religiões querem muito mais seguidores do que ela deseja religar ao divino (num modo bastante espiritual), deveriam voltar a base, como disse o Mano Brown aos petistas. Por uma razão bem simples: a espiritualidade vai muito além do que a moral social e as suas bugigangas sociais capitalistas que desejamos. Essa coisa de que “Deus te dá aquilo” é pura balela, mesmo o porquê, o próprio Jesus disse que era para darmos o que é de Cesar para Cesar e o que é de Deus para Deus, ou seja, para a espiritualidade não interessa dinheiro e ouro e sim, as condutas éticas de cada um. Assim, como as condutas a espiritualidade deve ser feita com uma certa concentração, rituais sem climas de festa, apenas, uma conexão com a consciência divina. Para mim, você passar uma hora ou duas horas, em um templo não te faz um sujeito espiritualizado, porque, isso são religiões que estão dando um fest-food espiritual. Isso são religiões dos medrosos que não querem descobrir uma espiritualidade muito além dessas igrejas materialistas pentecostais e neopetencostais. Essa falta de profundidade, tem o preço da burrice plena.



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