sábado, 9 de março de 2019

O mijo do Twitter e o mundo que não pensa






Amauri Nolasco Sanches Junior

Estou lendo o livro O Mundo que Não Pensa de Franklin Foer – que trabalhou vários anos no site de notícia da Microsoft – e achei a visão dele bem interessante. Estou no terceiro capitulo que ele está falando do algoritmo e do Facebook – achei interessante a parte que ele desmistifica os hackers e esclarece que quem invade não são os hackers e sim, os crackers – onde, segundo ele, os algoritmos fazem as pessoas lerem ou comprarem conforme as tendências de procura. Isso não é mentira. Várias vezes eu procurei rodas para a minha cadeira de rodas, e apareceram no meu Facebook várias propagandas de rodas. No mesmo modo, eu procurei o nome de livros e apareceram no meu e-mail os mesmos nomes dos livros da Saraiva e da Cultura (falidas por incompetência). Só que Foer não enxerga uma coisa: antes mesmo de toda as bugigangas criadas pelo Vale do Silício, incluindo as redes sociais, como uma ideologia dos anos 60 para facilitar a humanidade, existe a vontade e o NÃO.

Eu fui criado na filosofia do NÃO. Não é tudo que você vai ter quando você quiser. Nem todas as pessoas vão concordar com você. Você não vai ser unanimidade. Nem todo mundo vai ser teu amigo. Nem tudo você vai poder fazer. Nem todas as coisas são importantes. Você não pode deixar que as pessoas te humilhem. Você não é obrigado a concordar.  Assim, entre um sim eu lavava dois não do meu pai e da minha mãe para me educar. Portanto, eu não compro se recebo esse tipo de anuncio. Aliás, eu compro tudo aquilo que eu tenho vontade de comprar e não aquilo que me enviam como imposição consumista. Eu leio o que eu quero ler. Eu falo o que eu quero dizer e ouço o que eu quero ouvir. Eu ouço metal desde meus 12 anos de idade e nunca deixei de ouvir por causa de amigos ou parentes. Daí entramos em uma outra filosofia, a do NÃO.

Eu acho que quando você diz NÃO – seja daquilo que você não gosta ou daquilo que você não sente vontade – você constrói uma narrativa solida dentro de uma consistência de caráter. Eu não gostar de funk, por exemplo, isso não quer dizer que não vou ser um amigo que não vai ajudar ou não vai conversar com uma pessoa que gosta. Eu tive amigos que adoravam futebol e nem por isso – por não gostar de futebol – eu assistia jogos porque ele gostava e não sabia de assunto nenhum. Por que? Porque o meu caráter foi construído dentro daquilo que é verdadeiro, daquilo que eu sou de verdade. Eu nunca gostei de me construir a partir do ambiente no que eu vivo. Mesmo em ambientes que a maioria gostava do Roberto Carlos, eu ouvi o Roberto Carlos.  Mesmo em ambientes que as pessoas gostavam de sertanejo, eu comecei a gostar de sertanejo (que eu acho muito pop para ser o sertanejo raiz). Assim a construção de nosso caráter, vai se tornando cada vez mais, a partir do que a massa acha que eu devo gostar.

O problema de teses como de Foer, além de serem românticas (que não tem nada a ver com o amor de duas pessoas, mas, um medo quase irracional com a tecnologia e os avanços científicos. Começa com romances como Frankstein), são teses que esquecem que o ser humano é um ser racional. O que acontece que somos educados, tanto pela nossa cultura ocidental, quanto pela escola (as universidades, principalmente), a não ter uma visão crítica de perguntar o “porque” daquilo e o “porque” eu devo fazer isso ou aquilo. O porque eu devo seguir tal religião que a minha mãe segue? O porque eu devo ler esse livro que estão me mostrando no e-mail? Será que isso é importante ou é prioridade? Porque não devo comer aquilo que eu tenho vontade? Porque a ciência diz que devo vacinar? Afinal, Aristóteles disse a mais de dois mil anos, que os homens tendem a ter o conhecimento, procura o saber. As redes sociais só são ferramentas, os algoritmos só são ferramentas. A tendência de massificação começa com as nossas atitudes de ir na onda para ser aceito. Se eu não tenho vontade, não posto no Instagram. Se eu não tenho vontade de postar no Facebook, eu não posto. O NÃO é bastante libertador.


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