Amauri Nolasco Sanches Junior
Estou lendo o livro O Mundo que Não Pensa de Franklin Foer –
que trabalhou vários anos no site de notícia da Microsoft – e achei a visão dele
bem interessante. Estou no terceiro capitulo que ele está falando do algoritmo
e do Facebook – achei interessante a parte que ele desmistifica os hackers e
esclarece que quem invade não são os hackers e sim, os crackers – onde, segundo
ele, os algoritmos fazem as pessoas lerem ou comprarem conforme as tendências de
procura. Isso não é mentira. Várias vezes eu procurei rodas para a minha
cadeira de rodas, e apareceram no meu Facebook várias propagandas de rodas. No mesmo
modo, eu procurei o nome de livros e apareceram no meu e-mail os mesmos nomes
dos livros da Saraiva e da Cultura (falidas por incompetência). Só que Foer não
enxerga uma coisa: antes mesmo de toda as bugigangas criadas pelo Vale do Silício,
incluindo as redes sociais, como uma ideologia dos anos 60 para facilitar a
humanidade, existe a vontade e o NÃO.
Eu fui criado na filosofia do NÃO. Não é tudo que você vai
ter quando você quiser. Nem todas as pessoas vão concordar com você. Você não vai
ser unanimidade. Nem todo mundo vai ser teu amigo. Nem tudo você vai poder
fazer. Nem todas as coisas são importantes. Você não pode deixar que as pessoas
te humilhem. Você não é obrigado a concordar. Assim, entre um sim eu lavava dois não do meu
pai e da minha mãe para me educar. Portanto, eu não compro se recebo esse tipo
de anuncio. Aliás, eu compro tudo aquilo que eu tenho vontade de comprar e não aquilo
que me enviam como imposição consumista. Eu leio o que eu quero ler. Eu falo o
que eu quero dizer e ouço o que eu quero ouvir. Eu ouço metal desde meus 12
anos de idade e nunca deixei de ouvir por causa de amigos ou parentes. Daí entramos
em uma outra filosofia, a do NÃO.
Eu acho que quando você diz NÃO – seja daquilo que você não gosta
ou daquilo que você não sente vontade – você constrói uma narrativa solida
dentro de uma consistência de caráter. Eu não gostar de funk, por exemplo, isso
não quer dizer que não vou ser um amigo que não vai ajudar ou não vai conversar
com uma pessoa que gosta. Eu tive amigos que adoravam futebol e nem por isso –
por não gostar de futebol – eu assistia jogos porque ele gostava e não sabia de
assunto nenhum. Por que? Porque o meu caráter foi construído dentro daquilo que
é verdadeiro, daquilo que eu sou de verdade. Eu nunca gostei de me construir a
partir do ambiente no que eu vivo. Mesmo em ambientes que a maioria gostava do
Roberto Carlos, eu ouvi o Roberto Carlos. Mesmo em ambientes que as pessoas gostavam de
sertanejo, eu comecei a gostar de sertanejo (que eu acho muito pop para ser o
sertanejo raiz). Assim a construção de nosso caráter, vai se tornando cada vez
mais, a partir do que a massa acha que eu devo gostar.
O problema de teses como de Foer, além de serem românticas (que
não tem nada a ver com o amor de duas pessoas, mas, um medo quase irracional
com a tecnologia e os avanços científicos. Começa com romances como
Frankstein), são teses que esquecem que o ser humano é um ser racional. O que
acontece que somos educados, tanto pela nossa cultura ocidental, quanto pela
escola (as universidades, principalmente), a não ter uma visão crítica de
perguntar o “porque” daquilo e o “porque” eu devo fazer isso ou aquilo. O porque
eu devo seguir tal religião que a minha mãe segue? O porque eu devo ler esse
livro que estão me mostrando no e-mail? Será que isso é importante ou é
prioridade? Porque não devo comer aquilo que eu tenho vontade? Porque a ciência
diz que devo vacinar? Afinal, Aristóteles disse a mais de dois mil anos, que os
homens tendem a ter o conhecimento, procura o saber. As redes sociais só são ferramentas,
os algoritmos só são ferramentas. A tendência de massificação começa com as
nossas atitudes de ir na onda para ser aceito. Se eu não tenho vontade, não posto
no Instagram. Se eu não tenho vontade de postar no Facebook, eu não posto. O NÃO
é bastante libertador.
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