sexta-feira, 15 de março de 2019

O problema da religião dos Chans e a solidão juvenil







Amauri Nolasco Sanches Junior

Eu tinha acabado de assistir ao filme Coração Valente – onde Mel Gibson dirigia a atuava – e queria saber o que vinha antes da idade média. Porque eu, nessa época, só tinha a quarta série e ia numa oficina abrigada numa entidade famosa aqui em São Paulo. Descobri que antes da idade média veio a idade clássica, onde se começa com os gregos e termina com os romanos. Eu tinha acabado de ganhar uma coleção de livros Os Pensadores – que vinham com o jornal Folha – do meu pai e lia muito entretido aquilo e comecei a pesquisar sobre o assunto na internet. Filósofos que interligavam tudo que eu ouvia falar e comecei a ter acesso a textos. Isso era internet discada e eram limitadas as minhas entradas na internet, ou eram nas madrugadas solitárias ou eram nos finais de semana.

Lógico, com a banda larga que chegou em 2002, o acesso à internet ficou mais livre e o conteúdo amentou monstruosamente. Com a internet irrestrita, com vários conteúdos variados, o sonho de liberação do conhecimento ficou muito mais restrito. Educamos os jovens a ter uma rapidez das suas vontades. Ninguém quer mais esperar. Aliás, construímos um mundo liquido que não tem mais uma solidez de valores sérios e de um olhar crítico dentro das informações que estamos recebendo. Eu passava horas lendo um texto em websites, porque eu fui educado a ler, incentivado a procurar o conhecimento. Não coisas fúteis. Mas, não sou santo não, vi muitas mulheres na internet, vi muito vídeo pornográfico e essas coisas, mas, não coisas destrutivas. A internet é uma coisa vasta que merece nossa atenção mais plena.

Vamos falar do conhecimento – num modo até mesmo, espiritualista – porque acho que não ficou tão claro. O que faz uma informação virar um conhecimento? O entendimento. Não adianta você vê uma rosa vermelha sem entender o que é uma rosa e o que é ser vermelha, além disso, nós aprendemos na escola, que na biologia a rosa é uma flor e a flor é o órgão reprodutivo dessa flor, ou se for uma árvore, além da flor tem um fruto. Na gramatica, rosa é um substantivo que dá nome em uma espécie de flor, e vermelho é um adjetivo, porque cor é uma qualidade. Eu sei disso porque eu li e entendi. Entendi lendo com atenção, saber ouvi os outros, porque a maioria não dá atenção para o outro. Eu quero ter aminha opinião, não tenho tempo de pesquisar e ponto. Posso ser mal-entendido, mas, eu vou escrever mesmo assim.  Se você não incentiva seu filho da leitura e se ele não se interessa por nada, ele não está preparado para ir na escola porque escola é para estudar. No mesmo modo, podemos dizer, numa universidade. Numa universidade você vai ter um ensino superior, porque não é só restrito em uma sala de aula, é amplo. Não podemos achar que se eu faço publicidade, eu só vou ler sobre publicidade. E se você não ler, pior ainda, porque você sempre vai ser um publicitário menor. Se você chega ouvindo funk, ou só falando de banalidades na TV, você não é um universitário.

Um engenheiro, por exemplo, tem que saber que pedra, areia e cimento, faz o concreto e sem o concreto, as estruturas de um prédio não se sustentam. Como já aconteceu de um prédio cair, porque as estruturas foram feitas de areia e pior, areia de praia que corrói os ferros do alicerce da viga (por causa do sal do mar, que é rico de sódio). Na publicidade – que é uma das minhas áreas – se você não tiver uma vasta leitura de onde vão tirar inspiração para as peças (chamamos as propagandas de peças)? Na engenharia urbana, se sabe (ou podemos achar, que se presume), que para recapar um asfalto tem que quebrar toda a rua e manter o nível (nivelação, na verdade), da via para não causar um acidente. Acontece, que a juventude está sendo educada – muitas vezes, pela internet e pela TV – a terem tudo na mão, não ler nada e tudo é copiado e colado. Muitas vezes, até mesmo por causa da grade escolar e universitária (eu sei, porque dormíamos 3 horas da manhã para entregar um trabalho), incentivam a serem copiadores de outros trabalhos. Afinal, em um trabalho escolar não se pode ter a opinião do aluno, não se pode comentar de forma crítica, atuações e não se pode ir a fundo. E o mais importante, não temos aula de ética, nem nas universidades e nem nas escolas. Daí vem o meu lado espiritualista – para mim, há um lado espiritualista critico que não se amarra na religião.

Nem todo mundo tem uma evolução espiritual para certas matérias. Existem pessoas que aprendem rápido e estão a frente daquelas que estão aprendendo mais lentas, então, elas têm mais tendência de desenvolver uma solidão. Vamos imaginar que você está numa sala de 30 pessoas e só você gosta do Metallica (presumindo que a maioria conhece a banda de trashmetal), por exemplo, e você comenta para um seu gosto e esse um não curti, o outro diz que você enche o saco e o funk é o melhor e mostra a realidade da vida. Você se sente sozinho. Porque o Metallica, na verdade, é algo subjetivo de quatro homens que são seus ídolos (até mesmo, a imagem do James, o vocalista, ajuda um pouco), e você queria ser poderoso e todo “foda” igual eles. Todas as pessoas tiram um barato de você que gosta de Metallica e diz que os outros gêneros são os melhores, sem namoradas, porque você é estigmatizado como satanista (o rock e mais o heavy metal, tem essa imagem no Brasil). As meninas preferem os caras que usam chapéu de Cowboy e vão nos rodeios (em grande maioria).

Espiritualmente, esse problema é analisado desta forma. Você já é mandado para um planeta primitivo para ajudar eles a desenvolver a tecnologia e a forma biológica. Porque, nem todos os espíritos podem habitar o corpo de um ser humano, eles devem ser modificados geneticamente para isso. E tem um outro porém, com esse conhecimento todo, podem ter uma tendência assassina e de má índole para cometer atos brutais. Lógico, isso não é uma “desculpa” para essa juventude sair atirando em todo mundo, que deve ser corrigida com educação, mas, devemos ter um olhar muito mais amplo das tendências humanas que são, também, tendências espirituais. Como pode ser almas daqui mesmo e que, poderiam ser generais genocidas, guerreiros bárbaros e outros tipos de coisas desse gênero.

Continuando. Você encontra um fórum que gosta e que incentiva que todo mundo que não gosta do Metallica é o inimigo, que você deve eliminar e quando isso acontece, eles te veneram. a questão é muito mais ampla até para o aparecimento desses fóruns chamados chans, porque tem a ver na educação do NÃO e a narrativa do vitimismo. Tudo é culpa do outro quando não limitamos a nossa vontade. Todo mundo, pelo menos no ocidente, é assim. Podemos ver em simples frases. Todo homem é igual, por exemplo, que remete em generalizar uma escolha sua e que é incentivada na escola. Porque a menina quer o cara fodão que tem várias meninas e é conhecido, ela não quer o estudioso, o chato que só fala de games ou coisas desse tipo. Depois, ela começa com esse tipo de narrativa. Claro, eu acho traição abominável seja por mulher ou por homem. A questão sempre gira em torno da educação, porque na educação, se ensina limites e regras para a vida.

O melhor terapeuta que temos é o NÃO. Para mim, o NÃO lhe dará limite dentro das coisas e dentro da vida. Afinal, nem tudo na vida você terá, você não vai ser cuidado por alguém a vida inteira e não pode certas práticas. Outra coisa, eu defendo um ensino que é cético e laico, que não tenha religião ou nenhuma ideologia, assim, saber questionar. Porque, a nossa sociedade é tão fanática, que ensina as crianças sempre não questionar. Será que se as crianças questionassem ou criticassem, haveriam esses gurus nesses fóruns? Será que se houvesse um ensino ético, houvesse alguma coisa desse tipo?  

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