sábado, 13 de abril de 2019

Os Deuses Americanos e as velhas e novas ideias






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Amauri Nolasco Sanches Junior

estou assistindo uma série chamada “American Gods” (Deuses Americanos) que é baseada do livro homônimo de Neil Gaiman – o mesmo que idealizou o quadrinho, Sandman – na qual, eu não li (mas, pretendo). A história gira em torno do presidiário Shadow, que sai do presidio por causa da morte da sua mulher, Laura, que descobre que ela estava lhe traindo com o vizinho. Mas, o foco do texto é a história em si – não nuances do conidiano, que Gaiman colocou para dar um ar bem realista – quando velhos deuses e novos deuses, brigam pela idolatria e a fé humana. A grosso modo, a série – possivelmente, o livro – mostra os conflitos de uma velha ideia cultural e uma nova ideia cultural e mais, mostra como as religiões se reinventam para caber daquela certa cultura. Ídolos também. Vamos dizer que Nietzsche e seu Eterno Retorno não estava errado. Mas, as coisas não tem um caráter de looping eterno.

A série mostra também as várias maneiras de se ver alguma coisa e o porque de se ver, como no episodio da festa da Deusa Páscoa (Páscoa na verdade é uma data judia), Ostara, que era a deusa da fertilidade dos povos nóricos. Tinha ali vários Jesus para mostrar quantas imagens diferentes a sociedade enxerga Jesus Cristo, que é uma constatação do quantas imagens idolatradas temos de uma mesma entidade. Ora, chegou uma hora que o Senhor Wednesday (na verdade, Odin), disse para a deusa Ostara que todo aquilo era para ele e não para ela e que, não havia nenhuma reverência a ela diretamente. Assim, o escritor mostra como ideias antigas são facilmente esquecidas ou as narrativas são mudadas conforme os vários interesses do poder. Daí se entra os novos deuses, os deuses virtuais dentro da informática, dentro das redes sociais (na verdade, o escritor escreveu a história muito antes das redes sociais), onde a idolatria pessoal sempre é a reverenciação de si mesmo, o fechamento do ser humano em uma bolha ideológica e espiritual. A série mostra a ideia nietzschiana da morte de velhos valores em nome de outros, como se tudo ficasse algo liquido (usando Bauman), as coisas não tem mais o significado que tinha antigamente.

Claro que as coisas mudam, a própria série mostra isso, mas, também mostra como o ser humano se acomoda em certas ideias ou em certos conceitos. E vejo isso sempre, porque o ser humano, ainda, tem muito medo de ousar e sair das suas próprias crenças – que muitas vezes, são inventadas – e ver um todo. Temos que ter um “colinho” quentinho sem as nuances da vida que fazem as tristezas e as frustrações. Sempre se quer impor a visão única de um conceito, somente e completamente, humano demasiado humano, como diria Nietzsche. Mas, vou além para analisar um exemplo de velha ideia e nova ideia.

Nossa cultura sempre teve um viés atrasado porque nunca se gostou de ler – por isso o marxismo e o positivismo comteano pegou aqui, porque são filosofias práticas – porque não se tem muita paciência de se planejar. Se tem uma certa preguiça de olhar num todo. Acho eu, que isso acontece porque nosso país não tem muitos ídolos, porque sempre gostamos de idolatrar ídolos de fora (como reis ou heróis) mas, sempre achincalhamos os nossos reis e heróis. A grosso modo, os reis e os heróis, são humanos e são fadados ao erro e existem milhares de idolos que tem tanta podridão, quanto qualquer ser humano. Ninguém é perfeito – aliás, é uma características da série também – e ninguém pode ser isento de erros ou imperfeições. Porém, temos uma cultura que é avessa a pesquisas e não entra em uma grande discussão com o contraditório. Tanto é, que a resposta padrão sempre foi “é verdade”. Aliás, ninguém sabe o que é a verdade ou a realidade.

Posso dar um exemplo pontual. Eu gosto de canais de YouTube que analisam livros – chamados de booktubes – e vários deles fazem de livros populares e outros, fazem análises de livros não tanto populares. Aliás, acho o YouTube uma plataforma interessante para quem sabe procurar conteúdo bom, porque, também não tem coisa boa não. Voltando, tem um canal Três Vias – na qual, recomendo bastante – que analisa livros com conteúdo bastante intelectual e qua ajuda bastante a leitura de vários livros difíceis. Ora, o canal levou strikes – são notificações para o YouTube por causa de direitos autorais – da editora do livros que se achava prejudicada por causa disso (achava que as pessoas não iam comprar os livros). O autor do canal – cuja esqueci o nome - explicou que se a editora não tirasse os strikes o canal seria deletado. Mas, em video, disse que conversou com a editora e que se ela – leia-se, a editora – não tirasse os strikes ele iria mover um processo, porque ele estava analisando as obras e não lendo elas ou publicando textos dela, pois, estava em um artigo juridico (ele é formado em direito). Como publicitário, acho que foi um péssimo trabalho de marketing de pesquisar as vendas do mesmos livros e um péssimo trabalho de ver os videos, que aliás, pegaram de surpresa quem conversou com o rapaz dono do canal.

Mas, as pessoas podem perguntar para mim: mas, o que isso tem a ver com a série? Tem a ver com as novas e as velhas ideias. As velhas ideias sempre povoaram o mercado brasileiro de editoras, com aquela velha ideia de pagar para editar e a velha ideia que só a elite – que para mim e para o professor Villa é rastaquera – lê, pois, são abertas livrarias só no centro. Quem vai no centro de uma cidade, hoje em dia, comprar um livro ou ficar numa livraria? Ou como vimos, as pessoas compram em livrarias virtuais? A velha ideia que só a elite vai ler vem fechando livrarias como a Saraiva ou a Cultura sem a visão que a classe média e a classe pobre também lê – não tanto, mas, tem mercado sim – vai ficar para trás.

Gaiman nos mostra, que a realidade e a crença tem fronteiras muitos tênue e não está somente na religião, pois, na série há várias criticas até mesmo, na ideia do mundo de hoje do capitalismo heitech, que povoa a internet. Longe de temos um mundo racional e sem crenças – leia-se ter uma ideologia ou uma religião confortável. Mas, também mostra como as religiões não são estudadas e são seguidas por mera ignorância ou acomodação, até mesmo, uma forma de aceitação social.

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