Amauri Nolasco Sanches Junior
estou
assistindo uma série chamada “American Gods” (Deuses Americanos)
que é baseada do livro homônimo de Neil Gaiman – o mesmo que
idealizou o quadrinho, Sandman – na qual, eu não li (mas,
pretendo). A história gira em torno do presidiário Shadow, que sai
do presidio por causa da morte da sua mulher, Laura, que descobre que
ela estava lhe traindo com o vizinho. Mas, o foco do texto é a
história em si – não nuances do conidiano, que Gaiman colocou
para dar um ar bem realista – quando velhos deuses e novos deuses,
brigam pela idolatria e a fé humana. A grosso modo, a série –
possivelmente, o livro – mostra os conflitos de uma velha ideia
cultural e uma nova ideia cultural e mais, mostra como as religiões
se reinventam para caber daquela certa cultura. Ídolos também. Vamos
dizer que Nietzsche e seu Eterno Retorno não estava errado. Mas, as
coisas não tem um caráter de looping eterno.
A série
mostra também as várias maneiras de se ver alguma coisa e o porque
de se ver, como no episodio da festa da Deusa Páscoa (Páscoa na
verdade é uma data judia), Ostara, que era a deusa da fertilidade
dos povos nóricos. Tinha ali vários Jesus para mostrar quantas
imagens diferentes a sociedade enxerga Jesus Cristo, que é uma
constatação do quantas imagens idolatradas temos de uma mesma
entidade. Ora, chegou uma hora que o Senhor Wednesday (na verdade,
Odin), disse para a deusa Ostara que todo aquilo era para ele e não
para ela e que, não havia nenhuma reverência a ela diretamente.
Assim, o escritor mostra como ideias antigas são facilmente
esquecidas ou as narrativas são mudadas conforme os vários
interesses do poder. Daí se entra os novos deuses, os deuses
virtuais dentro da informática, dentro das redes sociais (na
verdade, o escritor escreveu a história muito antes das redes
sociais), onde a idolatria pessoal sempre é a reverenciação de si
mesmo, o fechamento do ser humano em uma bolha ideológica e
espiritual. A série mostra a ideia nietzschiana da morte de velhos
valores em nome de outros, como se tudo ficasse algo liquido (usando
Bauman), as coisas não tem mais o significado que tinha
antigamente.
Claro
que as coisas mudam, a própria série mostra isso, mas, também
mostra como o ser humano se acomoda em certas ideias ou em certos
conceitos. E vejo isso sempre, porque o ser humano, ainda, tem muito
medo de ousar e sair das suas próprias crenças – que muitas
vezes, são inventadas – e ver um todo. Temos que ter um “colinho”
quentinho sem as nuances da vida que fazem as tristezas e as
frustrações. Sempre se quer impor a visão única de um conceito,
somente e completamente, humano demasiado humano, como diria
Nietzsche. Mas, vou além para analisar um exemplo de velha ideia e
nova ideia.
Nossa
cultura sempre teve um viés atrasado porque nunca se gostou de ler –
por isso o marxismo e o positivismo comteano pegou aqui, porque são
filosofias práticas – porque não se tem muita paciência de se
planejar. Se tem uma certa preguiça de olhar num todo. Acho eu, que
isso acontece porque nosso país não tem muitos ídolos, porque
sempre gostamos de idolatrar ídolos de fora (como reis ou heróis)
mas, sempre achincalhamos os nossos reis e heróis. A grosso modo,
os reis e os heróis, são humanos e são fadados ao erro e existem
milhares de idolos que tem tanta podridão, quanto qualquer ser
humano. Ninguém é perfeito – aliás, é uma características da
série também – e ninguém pode ser isento de erros ou
imperfeições. Porém, temos uma cultura que é avessa a pesquisas e
não entra em uma grande discussão com o contraditório. Tanto é,
que a resposta padrão sempre foi “é verdade”. Aliás, ninguém
sabe o que é a verdade ou a realidade.
Posso
dar um exemplo pontual. Eu gosto de canais de YouTube que analisam
livros – chamados de booktubes – e vários deles fazem de livros
populares e outros, fazem análises de livros não tanto populares.
Aliás, acho o YouTube uma plataforma interessante para quem sabe
procurar conteúdo bom, porque, também não tem coisa boa não.
Voltando, tem um canal Três Vias – na qual, recomendo bastante –
que analisa livros com conteúdo bastante intelectual e qua ajuda
bastante a leitura de vários livros difíceis. Ora, o canal levou
strikes – são notificações para o YouTube por causa de direitos
autorais – da editora do livros que se achava prejudicada por causa
disso (achava que as pessoas não iam comprar os livros). O autor do
canal – cuja esqueci o nome - explicou que se a editora não
tirasse os strikes o canal seria deletado. Mas, em video, disse que
conversou com a editora e que se ela – leia-se, a editora – não
tirasse os strikes ele iria mover um processo, porque ele estava
analisando as obras e não lendo elas ou publicando textos dela,
pois, estava em um artigo juridico (ele é formado em direito). Como
publicitário, acho que foi um péssimo trabalho de marketing de
pesquisar as vendas do mesmos livros e um péssimo trabalho de ver os
videos, que aliás, pegaram de surpresa quem conversou com o rapaz
dono do canal.
Mas, as
pessoas podem perguntar para mim: mas, o que isso tem a ver com a
série? Tem a ver com as novas e as velhas ideias. As velhas ideias
sempre povoaram o mercado brasileiro de editoras, com aquela velha
ideia de pagar para editar e a velha ideia que só a elite – que
para mim e para o professor Villa é rastaquera – lê, pois, são
abertas livrarias só no centro. Quem vai no centro de uma cidade,
hoje em dia, comprar um livro ou ficar numa livraria? Ou como vimos,
as pessoas compram em livrarias virtuais? A velha ideia que só a
elite vai ler vem fechando livrarias como a Saraiva ou a Cultura sem
a visão que a classe média e a classe pobre também lê – não
tanto, mas, tem mercado sim – vai ficar para trás.
Gaiman
nos mostra, que a realidade e a crença tem fronteiras muitos tênue
e não está somente na religião, pois, na série há várias
criticas até mesmo, na ideia do mundo de hoje do capitalismo
heitech, que povoa a internet. Longe de temos um mundo racional e sem
crenças – leia-se ter uma ideologia ou uma religião confortável.
Mas, também mostra como as religiões não são estudadas e são
seguidas por mera ignorância ou acomodação, até mesmo, uma forma
de aceitação social.
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