quarta-feira, 10 de abril de 2019

Uma análise filosófica do novo Ultraman e as novas animações






Amauri Nolasco Sanches Junior 

Outro dia eu estava dando uma assistida na nova animação do Ultraman – quem, mais ou menos, tem minha idade não lembra do Ultraman? - e me deparei com uma dúvida do personagem principal (o filho do Ultraman original) que estava em dúvida se poderia ou não, virar o Ultraman. Isso não é só na animação do Ultraman, na animação da She-ra, a personagem ao encontrar a espada do poder, fica em dúvida. Já pensou se Ulisses tivesse dúvida se deveria ou não ir para guerra de Troia? Ou Aquiles? Claro, eles tiveram dúvida se deveriam ir para a guerra e ter seu nome lembrados para sempre, mas, tomaram a decisão e lutaram. Leônidas I de Esparta não teve a menor dúvida de contrariar os éforos – porque estava na época do festival da carnéia – e foi enfrentar os persas com seus trezentos espartanos e mais outros homens gregos – haviam atenienses no mar, e fócios que lutaram ao lado dos espartanos – e retardaram dois dias as tropas persas de Xerxes I. Já pensaram se Leônidas tivesse tido alguma dúvida sobre se deveria ou não ir? 

Acho que os novos desenhos animados, refletem essa nova geração que sempre estão com dúvida das coisas e nunca toma uma decisão, porque as pessoas sempre estão tomando essas decisões por elas. As decisões são e devem ser removidas por eles, porém, o mundo mudou e as crianças são cada vez mais criadas em midias sociais e outras coisas que não tem um vinculo com outras pessoas. Eu vi isso quando fiz faculdade de publicidade, estudei informatica, todos não sabiam tomar uma decisão. Então, não sabem que o modo ético – como uma construção de caráter – passa por poder tomar decisões. Ora, por que vou tomar decisões se não temos exemplos de tomar essas decisões? Por que os mais jovens devem tomar essas decisões, se os outros podem tomar por eles? No mesmo modo, vimos na nova animação do Ultraman, que o pai tem que decidir seo seu filho deve ou não virar o Ultraman. Será que isso tem a ver com a filosofia contemporânea? Tem um pouco a ver. 

Quando a filosofia começa – muitos vão dizer que a filosofia começa com a morte de Sócrates – ela começa a chamar para si a origem da realidade. O porque pensar. O porque os objetos são aquilo que conhecemos. Porque existimos. A lógica tinha seu lugar dentro da religião grega – quando o nada é o caos e tudo é a harmonia -  porém, chegou um momento que as explicações mitologicas eram insuficientes. Tales olhou para os corpos úmidos e disse que tudo vinha da água, depois deles foram várias tentativas de explicar a origem (arké) de tudo. Mas, Sócrates – que veio da escola de Anaxágoras – percebeu que as pessoas acham que sabem sem saber, ou querem impor verdades que não entendem e que acham saber. Morreu defendendo que saberia que nada sabia, ou seja, somos seres que sabemos muito pouco, porque vai depender da assimilação que temos da realidade. Foi ai que seu discipulo Platão, em seu memorável livro A Republica, nos diz que estamos numa realidade que não existe, são meras leituras de sombras dos verdadeiros objetos. Ora, sabemos hoje – graças que da novas descobertas da física, principalmente, a quântica – que as moléculas para formar uma rota depende muito do seu observador. Essa garrafinha de plástico é uma forma de garrafa, poderia ser outra coisa? Talvez. O problema que a física quântica só funciona com a realidade microscópia.

Mas, tanto Sócrates, quanto Platão, estavam falando de ignorância e conhecimento. Eu posso saber que isso aqui é um computador, mas, eu poderia não saber. Existem pessoas que ainda não sabem de milhões de coisas que existem no mundo, espécies de animais, insetos que nunca vamos ver na vida. Porém, com toda certeza, nosso caráter é feito de conhecimento e tão grande é esse conhecimento, temos a alma nobre. Eu acho – e você pode não acreditar – e sempre achei, que a verdadeira revolução não está em armas, mas, no conhecer. A verdadeira rebeldia – quando se rebelamos contra o sistema – sempre foi através do conhecimento e espíritos nobres, sabem disso. Herói não são revolucionários, mas, são pessoas que mantem o conhecimento de si mesmo. Aquiles – para dar um exemplo de herói clássico – tinha o pleno conhecimento da sua capacidade de lutar na guerra de Troia e essa guerra, mesmo que ela não foi nobre (e não foi mesmo), monstro que reis menores eram mais sábios do Agamenon. Por que? Porque não basta ter todas as coisas e reinos sem a nobreza da alma e a história nos mostra isso, reis cairam graças a sua burrice (no sentido de teimosia) de não aceitar a que aquilo não era certo de fazer. Antes do poder sempre temos de ter a sensibilidade de reconhecer – lembrando de Sócrates – que nada sabemos e se nada sabemos (indo para Aristóteles), sempre somos levados ao saber. E esse conhecer e esse saber nos dará sempre a segurança de um mundo mais conhecido, mais exposto da nossa consciência e podemos ver, que esse conhecimento, é a porta para ser o que somos. 

O novo Ultraman mostra que o pai do garoto (o Ultraman original), escondeu o conhecimento dele por causa da proteção exagerada. É o que acontece com o pais de hoje. Já pensou se a mãe de Aquiles tentasse impedir ele de ir para a guerra? Não. Ela colocou dois destinos que poderia ter, ou ele não iria para a guerra e seu nome seria esquecido, ou ele iria para guerra e seu nome seria entoado para todo o sempre. Ela fez com que Aquiles tomasse a decisão e decidiu pela glória e seu nome ser lembrado para sempre. Isso mostra o quão nossos jovens não estão acostumados a tomarem as suas decisões e o quão é difícil as pessoas reconhecerem o que há de melhor dentro de si mesmo. 

As filosofias contemporâneas começam a colocar o ser humano num patamar de só existência, porque só haveria de ter uma existência e o caráter e o conhecimento, são meras construções mentais. Será mesmo? Será que somos meras partes mecânicas e não sentimos nada? O problema da filosofia contemporânea é que transformou o ser humano em mero corpo mecânico e não procede, porque temos acima de tudo, sentimentos e o poder da escolha. Porém, se fomos mais a fundo, não temos tanta liberdade assim. Eu não posso ter um livro se eu não trabalhar e ter dinheiro, como não posso pegar qualquer coisa sem não agredir o outro. Nem posso amar sem a outra pessoa escolher me amar. Sempre devemos interagir dentro da realidade e se você não saber, não vai interagir com nenhum objeto. Mas, para interação desse objeto você tem que conhecer esse oobjeto. A realidade tem que ter uma outra interação com o meio, porque todo, absolutamente, todo efeito tem uma causa. Uma garrafa tem uma causa. Um texto tem uma causa. Um livro tem uma causa. Se tirarmos a causa das coisas e dos sentimentos, e porquê não, das percepções, nunca vamos observar a nós mesmos, porque nós somos aqueles que percebemos essa realidade e escolhemos como e o porquê temos que interagir. 

Decisões só vão ser tomadas se conhecemos a nós e a realidade em nossa volta. Será que faltou isso no novo Ultraman? 

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