domingo, 21 de abril de 2019

A verdadeira Páscoa é um momento de reflexão e não só de chocolate




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Amauri Nolasco Sanches Junior



“compreender para crer, crer para compreender”
(Santo Agostinho)

Santo Agostinho de Hipona (354-430), foi além de teólogo e bispo da Igreja Apostólica Católica Romana, foi um filósofo que juntou o platonismo com a teologia cristã. Algumas coisas como a reminiscência platônica e a sobrevivência da alma, vem de Sócrates e Platão, quando no seu último discurso, Sócrates ao beber uma taça de cicuta, diz ir para um outro mundo (dará uma espécie de paradoxo do suicídio, mas, é uma discussão para um outro texto). A questão é: que Santo Agostinho dizia que antes de ter fé (fide) temos que compreender (intelligere). 

Ao ler muitas mensagens cristãs – como gritar de felicidade a “paixão de Jesus” - me deparo com uma tremenda ignorância sobre sua própria fé. Crer é muito mais do que acreditar por acreditar, fé é uma questão clara de entender o motivo da sua fé. Os nórdicos – povos antigos que viviam na Escandinávia – tinham bem clara a imagem de Odin como o deus da guerra e o rei e pai de todos os deuses. Não pensem que eles acreditavam por acreditar, tinha vários rituais e esses rituais tinham que ser entendidos, do mesmo modo, existe uma compreensão daquilo que é seguido. 

Seguir por seguir é um ato de fé cega e nem saber o que está seguindo. Não pensem que só na religião está essa fé cega que muita gente segue, como a fé em ideologias que não deram certo, fé em pensamentos que não são verdadeiros, seguir só por seguir. O cristianismo ficou hoje, um amontoado de asneiras que não cabem num culto ou numa missa, só. A questão não é dizer que a outra fé é de satanás, sem saber, de onde vem os termos. Satanás vem do hebraico (שָטָן ) “satãn” que quer dizer, adversário. Em grego koiné (comum), se escreve “satanás” (Σατανάς). Em árabe se escreve “shaitan” (الشيطان) que deriva da raiz semítica ( šṭn) que tem o significado hostil. Ou seja, quando Jesus dizia “satanás”, ele estava dizendo que existem formas espirituais adversarias e hostis a evolução e a verdadeira designação espiritual. Dizer que a sua religião é verdadeira e a outra é de satanás (adversário) é até um sacrilégio, porque também é um lugar espiritual. 

Claro que se você é cristão, tem que seguir os rituais cristãos e deve seguir a moral cristã verdadeiramente. Matar é anticristão. Trair no casamento é anticristão. Olhar coisas não belas é anticristão. Julgar sem saber da verdade e não deixar a outra se defender é anticristão (nem vem petista achar que estou falando do Lula que não estou não). A questão que as pessoas hoje tem uma espiritualidade bastante feed food e não há mais nenhuma reflexão. Haviam tempos que as pessoas faziam jejum na sexta-feira santa, que existiam reflexões imensas dentro de igrejas e até mesmo as protestantes, tinham a palavra certa para isso. Aliás, minha avó italiana – sim, ela e meu avô materno nasceram na Itália – estudou até a segunda série, mas, sabia ler impecavelmente, porque a igreja (congregação) exigia que escrevessem bem e lessem bem para entenderem a bíblia. Hoje em dia – todos nós sabemos que é uma desculpa – não há essa exigência e cada vez mais, temos pessoas assassinando a nossa língua nas redes sociais e são cristãs. Ou seguram cartazes como: “Para que fazer universidade se sabemos a Bíblia”, mas, pelo menos, tem que saber ler, tem que entender o que está na Bíblia e ai que quero chegar.

Na verdade, Páscoa tem um significado bastante amplo para nós acharmos que se deve designar apenas festinhas, praia ou fazer aquela churrascada. Páscoa é uma grande festa judaica e cristã que comemora a Ressurreição de Jesus. Vem do latim vulgar “pascua”, que está atestado nas glosas, alteração do latim escolasticístico “pascha” e por um cruzamento com o termo “pascua”, onde o seu significado é alimento, propriamente, pasto. Porque a Páscoa coloca fim do jejum da quaresma, então, aquele mesmo termo em latim “Pascha” vem do grego – provavelmente, do koiné - “páscha” que segundo na versao dos Setenta (cujo o significado é a refeicao de Páscoa, o anho pascal. Com a origem do hebreu “pasach” que significa, “passagem”, que é uma festa celebrada como uma recordação da saída do povo hebreu do Egito, depois foi designada como uma festa cristã para designar uma celebração da ressurreição de Jesus por motivos de serem na mesma data. Na verdade, não se sabe ao certo de onde esse termo hebraico vem, mas, como eram povos nômades, muito provavelmente, eram oferendas dos animais primogênitos para evitar doenças e males. 

Vamos ficar no termo passagem. Essa coisa de ovos – que já eram características de povos nórdicos – e o coelho da Páscoa, são símbolos da fertilidade e da multiplicação. Mas, por que isso pode ser configurado na festa da Páscoa? Porque a passagem. O simbolismo da Páscoa e a quinta-feira ou a sexta-feira santa, são o momento da passagem de um novo ser humano com o simbolismo da morte de Jesus, porque uma dos significados de cruz é árvore. Ora, o pecado não nasce do fruto da ciência? A árvore da vida dará a origem do pecado de desobedecer à Deus e não ter o conhecimento – que podemos discuti em uma outra ocasião a essência do pecado original – mas, a cruz vai terminar esse período. Um renascimento da natureza humana em estar na ignorância (realidade imanente) e o ser humano renovado em uma outra realidade (realidade transcendente). 

Não foi diferente de várias tentativas de ensinarem ao ser humano que essa realidade imanente não é a verdadeira realidade e sim uma sombra, uma realidade que nos ensinaram com uma moral falsa e hipócrita (que todos devem seguir para haver união, mas, não promove união nenhuma). Dai entra a transcendia com a ressurreição de Jesus, quando uma outra realidade começa ser mostrada, um encontro espiritual divino pela verdadeira fé. Jesus não disse que Moisés não disse a verdade, disse que a moral construída com a moral ética de Moisés se corrompeu, foi distorcida por interesses políticos. A questão de Jesus era espiritual e não politica e por isso mesmo disse, para dar a César o que é de César, a Deus o que é de Deus. Tanto é – que é pouco repetido por motivos óbvios – que Jesus disse que tanto nossa fé faria com que fizéssemos o que ele fazia (não essa palhaçada que muitos pastores fazem por ai, claro), e também, que eramos “deuses”. O que são os “deuses” se não o nosso progresso moral e espiritual?

A questão da Ressurreição é uma questão vasta e pode ser discutida infinitamente. Mas, será que estamos mesmo numa realidade verdadeira?

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