terça-feira, 30 de abril de 2019

Bolsonaro não gosta de filósofos e sociólogos, por isso lê Olavo de Carvalho



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Amauri Nolasco Sanches Junior
Em uma entrevista da UOL, o professor, Luiz Felipe Pondé , disse que somos carentes de “letras e reflexões”. As “letras” são importante para saber escrever e fazer entender para um bom dialogo, mesmo e, principalmente, nas redes sociais, sempre temos que saber escrever. A reflexão tem a ver com a escrita e a ideia, de letras e reflexão é a questão de escrever com tamanha lógica e perfeição e a reflexão é importante. Não se faz nem politica ou qualquer coisa sem nenhuma reflexão. Mas, Pondé não para por aqui, ele diz que temos uma sociedade mesquinha e os mais ricos não querem financiar cursos de humanas, por acharem que humanas são cursos de “vagabundo” - um pensamento, totalmente, do século dezenove – e por acharem que cursos de exatas ou das áreas biológicas (como medicina) são bons para a economia e vai voltar rápido. Será?
Vamos pegar medicina – que, aliás, foi um dos exemplos do Bolsonaro – e vamos pensar um pouco. Um curso de medicina está em torno de 10 mil reais – não sei ao certo – e fora o material didático que é preciso para o curso. Numa universidade (pratica) e numa faculdade (teórica), existem milhares de materiais biológicas – como cadáveres de animais e até mesmo, de seres humanos – assim, há um enorme investimento. Além de residência que pode durar anos, mais ou menos, dez anos. O governo – através das universidades e faculdades – forma o médico e ele presta concurso publico ou vai trabalhar. O governo espera que o médico formado com o dinheiro do contribuinte, atenda a mesma sociedade que financiou o seu curso. Porém, nem sempre esse mesmo médico – formado com o dinheiro publico – vai querer atender em periferias ou em cidades do sertão nordestino. Será que ele iria? Pesquisas mostram que não.

Na verdade, existem duas culturas que atrapalham o nosso progresso, a questão do governo em ter que agradar alguns setores (que estão em outras áreas e não nas humanas) que são os pilares da economia. Outra, é nossa cultura tecno religiosa que não gosta de coisas muito intelectuais. Nossa cultura, primeiramente, foi forjada dentro de um pensamento católico que não gostava muito do conhecimento. Poderemos ver muito isso em nações que adotaram o pensamento protestante – o verdadeiro e não a versão neopentecostal – e nações que sempre foram da igreja católica, que não tolerou o conhecimento pregando ser pecado. Num outro lado, adotamos pensamentos práticos como o marxismo (Karl Marx) e o positivismo (Augusto Comte), que por termos esse pensamento não muito intelectual, gerou bastante uma negação do intelectualismo. Só que existem duas coisas importantes: primeiro, sem a filosofia não existiria nenhuma respaldo de qualquer coisa (dês da engenharia, até a medicina); segundo, sem a filosofia não existiria uma teologia e nenhum entendimento o que seria as ideologias politicas. Nem da direita conservadora, nem da esquerda revolucionaria ou progressista. Nem mesmo o liberalismo – concordo com o professor Pondé – que o governo anda brincando, e com essa postura intervencionista, vem criando duvidas sobre ser liberal.

Acontece, segundo Camus – filósofo franco angeliano – que disse que a filosofia nasceu do espanto, de se espantar com a realidade. Os primeiros filósofos foram os naturalistas – quem vem dos gregos “physis” que, sim, veio o termo físico – que, queriam descobrir a origem de tudo. Mas, Sócrates, queria descobrir mais do que isso – já que o deus Apolo disse ao seu amigo que ele era o homem mais sábio de Atenas – queria descobrir o homem sábio, aquele que vai entender o ser humano em sua essência. Qual é a essência do ser humano? Para Sócrates – que foi muito seguido pelo seu discípulo Platão – a essência do ser humano é o conhecimento, porque quando você conhece (até saber da sua ignorância), você enxerga a sua realidade de outro modo. O poder não gostou muito. O poder achou que Sócrates estava mostrando sua ignorância e mostrar a ignorância – principalmente, quem governa – porque ninguém que governa pode ser governante.

O conhecimento é o entendimento da informação e se isso acontece, a sua realidade muda. Talvez, Sócrates queria mostrar que o conhecimento não vem de fora e sim, o conhecimento vem de você mesmo. Por isso mesmo, ele repetia a frase do Oraculo de Delfos, que era para conhecer a si mesmo, dai, você conheceria o universo e os deuses. Exato. A questão do autoconhecimento, sempre foi uma discussão longa e fez a base do questionamento da essência humana. O universo podemos entender como realidade, tudo que existe e os deuses, podemos colocar como o ser humano que muda o ambiente, a essência espiritual do humano. As religiões de hoje, perderam a essência espiritual como uma sabedoria milenar que fez o ser humano questionar sua origem. A filosofia fez além, mas, não refutou o lado espiritual por completo.

Não há o bem ou o mal dentro da visão filosófica, há o conhecimento e a ignorância. O conhecimento faz você ver a luz e é esse o ponto, porque foi eternizado na teoria da caverna de Platão (aluno de Sócrates). Porque a ideia do conhecimento como uma luz, é a base de uma crítica e uma autocritica, que o poder e seus tentáculos (como as religiões e as ideologias politicas), não gostam por ser contrário ao seu poder discursivo. Não é a toa, que a mais conhecida filosofia do império romano tenha sido a estoica, porque pregava as coisas materiais e negava a realidade. Por que negar a realidade? Por que não se apegar ao material? Ora, essas filosofias vão povoar a Europa por muito tempo, até na idade moderna com o filósofo francês Renê Descartes.

Mas, desde Sócrates, o conhecimento foi o foco e sem a filósofos não teríamos nem a tecnologia que temos hoje. O sistema boleano de 0 e 1 – que usamos nos software de computadores – foi criado por um filósofo (Leibniz). Os sistemas de medida de construção e de engenharia, vai do teorema de Pitágoras ao teorema cartesiano (de Renê Descartes). Sistemas econômicos – que são a base do capitalismo – foi desenvolvido dentro da filosofia. A sociologia desenvolveu o entendimento das sociedades e é uma das “filhas” da filosofia. Então, o problema não é a filosofia e a sociologia e sim, a ideologia que ainda dominam um lado do dialogo e não mostra um outro lado. Se deveria exigir que se tenha que mostrar um outro lado da questão. Ao meu entender, um filósofo não pode ter uma ideologia e uma aula de filosofia não se pode ensinar um viés. Se houver isso, não é uma aula e sim, uma doutrinação. Isso não quer dizer que sou a favor do término dos cursos.


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