Por Amauri Nolasco Sanches Júnior
Dias desses eu fui chamado de “macho alpha” só por causa de um texto da Fantine Oliveira – que escreve muito bem sobre o universo das pessoas com deficiência – sobre a invisibilidade que as mulheres com deficiência tem no movimento feminista. Perguntaram-me qual seria o intuito de compartilhar esse texto num grupo que está tentando, pela centésima vez, unir nossa causa em uma só (depois vou escrever melhor sobre esse assunto). Na hora eu não respondi, mas, fiquei refletindo sobre essa questão e deveria ter respondido que havia muito mais mulheres com deficiência sofrendo abusos do que possamos imaginar. Mas, com o vídeo do canal Além da Cadeira (que vou postar no final do texto), com a Camila De Lucca, eu vi que não era só a Fantine que sentia esse desamparo diante do movimento feminista, mas muitas mulheres com deficiência são assediadas, violentadas, pisoteadas, sofrem assédio moral e psíquico e irresponsavelmente, existem mães que dão anticoncepcional e corta o ciclo menstrual das suas filhas.
Se eu fosse um macho alpha estaria aqui querendo defender as mulheres com deficiência ou não? Aliás, só que diz isso são aquelas que não me conhecem, pois, pensam que estamos num campo de batalha e que homens e mulheres devem estar a todo momento guerreando. Por quê? Sempre fui criado que homens devem respeitar as mulheres e as mulheres devem respeitar os homens, pois, um relacionamento que não há respeito, não é relacionamento. Ora, odeio “machos alphas”, odeio pessoas tóxicas que só querem e não dão nada para as outras, odeio homens que acham que estão dentro de um “galinheiro” e ele se sente o “galo”. Que aliás, com tantos problemas e demandas, acham que se tem que acessibilizar puteiro.
Dado essa pequena explicação do meu caráter e como eu penso – não vou mais – devemos olhar as pessoas com deficiência (segundo a sociedade), como pessoas e não focar na deficiência. Primeiro, temos que analisar de forma mais ampla e ver que a sociedade nos enxerga como seres assexuados e que somos incapazes e isso, faz séculos afora. Pois, etimologicamente, preconceito vem do latim “prejudicium” e quer dizer, um julgamento prévio ou, favorável ou não, formado de antemão, a partir de certas circunstâncias, fatos ou aparências. Podemos dizer, também, que é uma ideia, opinião ou sentimento desfavorável sem nenhum exame crítico, ponderação ou razão. Ou seja, todo preconceito é uma visão que não tem nenhum critério se aquilo é verdade ou não e sim, são visões estereotipadas de uma realidade, muitas vezes, que não existe.
As religiões têm muito essas visões morais e começam difundir visões sem nenhum critério. A maioria das mães que prendem mulheres com deficiência são evangélicas (isso não quer dizer TODAS), pois, a visão de ser uma missionária do “senhor” é muito forte. Aliás, a visão (quase psicopata) de “mãe especial” vem deles e que, na sua maioria, são mulheres que não tiveram instrução. Dai vale um parenteses, a meu ver, não existe bem ou mal, e sim, conhecimento e ignorância. As pessoas que fazem alguma coisa com as outras, não fazem porque querem, mas, falta nela um conhecimento que aquilo é errado. Mas, se ele sabe que está errado, podemos dizer, que ele está numa ilusão. Se uma mãe, de um modo geral, prende uma filha com deficiência, ela quer preservar essa filha ao sofrimento, mas, ela não sabe (por causa da sua condição de obsessão de uma ideia), que essa filha vai sofrer de qualquer modo. Mesmo assim, ela fere no direito da sua filha de ter liberdade, afinal, essa mãe casou com quem quis, transou com quem quis e fez o que quis; então, por que sua filha não pode? Por causa da deficiência? Por que ela não pode sofrer?
Imagine uma mulher com deficiência que é cadeirante, trabalha e tem uma vida ampla e de repente começa a namorar um rapaz sem nenhuma deficiência e a mãe, num surto de loucura, faz sua filha sair do emprego e tira sua cadeira de rodas, prendendo ela em casa e proíbe ela de falar com o rapaz? imaginaram? Ora, aconteceu de verdade e são histórias que me contam e é muito comum, mulheres com deficiência serem presas, violentadas, assediadas, e outras coisas muito piores. Eu mesmo vivi isso a pouco tempo, pois, a maioria das pessoas com deficiência não tem coragem de denunciarem, porque mesmo as mães fazerem isso, o apego é muito pior. Ai entra em uma outra tese minha: as pessoas não amam e sim, veneram. E, em alguns casos, nem amam tanto assim, e só fazem, para serem “bonitinhos”.
Eu sempre amei todos os membros da minha família, mas, determinei certas coisas que eu tenho condição de fazer e que sou uma pessoa. Eu amo como qualquer um, eu sei determinar com que eu gasto, eu sei como faço e namoro quem eu quiser. Porque não tenho nenhuma necessidade de ter minha família grudada no meu rabo e dizendo o que eu devo ou não, o que devo fazer com minha sexualidade e se eu vou ou não, sofrer. Minha mãe, até onde eu sei, não disse para meu pai me cuidar antes de morrer, ela disse para mim. Eu fui criado assim. Fui proibido de entrar na casa de uma ex, fui proibido de casar com a primeira namorada, fui proibido de falar com minha ex-noiva – meu maior amor – e estou vivo, não fiquei depressivo e nem tentei me matar. Não digo que não estou sofrendo, mas, eu não preciso de ninguém no meu rabo. Mas, não é com a maioria das pessoas com deficiência e muito pior – porque estamos num país machista – são as mulheres com deficiência.
Essas mães são psicopatas e eu sou o “macho alpha”, ou se preferirem, como a feminista evangélica de 18 anos me disse, sou um ser tóxico.