Por Amauri Nolasco Sanches Júnior
Quando você pensa em discriminação racial, pensamos logo no nazismo e de uma figura bastante “asquerosa” como Adolf Hitler (tanto foi, que sua família teve que mudar o sobrenome por ter ficado marcado como um nome asqueroso). Mas, longe de defender Hitler, seu preconceito e o uso dessa discriminação vem muito antes e tem sim, fontes muito mais antigas. Os gregos achavam que os asiáticos e os que não eram gregos, bárbaros (que vem do próprio grego que quer dizer “tagarela” porque falavam “bar bar bar”) e, muitas vezes, eles eram escravizados pelos vencedores gregos. Tanto é, que o filósofo Aristóteles, era contra a excursão de Alexandre – seu pupilo – para países estrangeiros levar a cultura grega, que para eles, era muito superior (mesmo que alguns elementos tenham vindo da asia). Já os romanos – que são herdeiros de muitas coisas gregas – sistematizaram esse terno e usaram para os povos que viviam além das suas fronteiras. Os romanos chegam a escravizar esses povos e até mesmo, usar eles contra seus próprios povos.
Teria alguma base biológica para tal? Não. Biologicamente, somos todos homo sapiens e mais, segundo o Pirulla que estuda bastante sobre isso, exames genômicos mostram que o pessoal da África é mais homo sapiens porque é a origem. Portanto, poderíamos refutar os nazistas da época – porque depois nem sabem o que estão seguindo – dizendo que se existe alguma pureza, porque não há, os africanos estão ganhando nessa. Porém, a grosso modo, somos uma espécie única, porque todas as outras espécies de hominídeos se extinguiram. Então, não há bases sólidas para se acreditar que existe uma cor mais pura do que a outra e que existem “raças”, porque todo mundo tem a mesma capacidade de racionalizar e de sentir – até mesmo de criar culturas – e assim, uma etnia superior é uma grande besteira. E nesse erro de milênios, culminaram na segunda guerra mundial que ceifaram milhares de pessoas, a segregação racial americana (com sequelas até hoje) e também, outras minorias entram nesse combo. Por seculos inferiorizaram as mulheres, inutilizaram as pessoas com deficiência, estereotiparam os povos que não viviam nas cidades, e etc.
O problema é o preconceito desemboca na ética. Quando olhamos a ética (ethos), sempre temos que ter em mente que estamos falando de caráter, pois, tem a ver com os valores que você recebeu durante sua educação (familiar) e escolarização (cidadania). E tem uma outra coisa, estereótipos do senso comum que se espalham como um medo e chegamos no cerne do problema. Por que se tem medo de ciganos, por exemplo, por causa quem em dado momento, algum ou alguns deles, resolveram sequestrar crianças (se é isso é verdade)? Medo. Mestre Yoda do Star Wars – o jedaismo na verdade, é o budismo zen em outra roupagem – tem razão em dizer que o medo gera a raiva e a raiva gera o ódio e o ódio encaminha você para o lado negro (não vou colocar obscuro, porque eu quero dizer negro como uma ausência de luz e nada tem a ver com racismo, ok?). Porque para o budismo zen – que gosto bastante – o medo vai produzir imagem para, exatamente, você alimentar o esterótipo do outro e enxergar o outro a partir do medo que você tem.
No nosso folclore temos a figura do Saci Pererê que é negro (racismo) e tem uma só perna (capacitismo) e faz várias travessuras, matando os cavalos dos senhores de engenho. Werner Jeager em Paideia, vai dizer que a ideia do mito é educar as crianças para que elas absorvam o que a sociedade quer que elas absorvam. Por outro lado, tem as falas de efeito também, como na música Cadeira de Rodas do cantor Fernando Mendes, que constrói um estereótipo de que a menina da cadeira de rodas (ou a cadeirante) chora o dia inteiro e assim, é uma eterna sofredora e outras coisas mais. A questão sempre gira em torno de símbolos alimentados dos medos do discurso dominante que as pessoas com deficiência são sofredoras e etc.
Mas, quero ampliar minha questão. Se as pessoas querem mudar esse tipo de imagem social, que discrimina as minorias por estereótipos bem enraizados dentro da nossa cultura, não se pode criar outras imagens que fazem o mesmo. Se tem pessoas que dizem que “todo negro é ladrão”, “todo deficiente é inútil”, “toda mulher é frágil” e por ai vai, outras pessoas dizem “todo homem é igual”, “todo homem é um estuprador em potencial”, “todo cristão é homofóbico” e etc. Porque a generalização é a mesma. Todo homem, por exemplo, não é igual. Ainda há, dentro da nossa sociedade, homens que respeitam as mulheres e existem homem que acham estupradores pessoas ao nível de psicopatas. Não há nenhuma relação entre ser homem e ser canalha ou ser um estuprador, porque segundo o próprio feminismo tóxico (nada a ver com o feminismo verdadeiro clássico), os sexos são construídos socialmente, logo, se ele é um estuprador em algum momento a sociedade construiu assim. A questão é: quem constrói um estuprador? A mãe? O pai? Os avós? Ou as músicas, no qual, eles ouvem? Daí vão ter que admitir que a única música de cunho sexual é o funk, que sim, faz apologia ao estupro.
Podemos ver que não é fácil identificar, realmente, uma só questão discriminatória sem sair do modo ideológico, porque a ideologia em si, já é uma discriminação. Porque sempre uma análise como esta, estará contaminado com símbolos da ideologia que você acredita. Então, chegamos no caso do rapaz que morreu vítima de espancamento numa loja do Carrefour em Porto Alegre, que faz crer, ser um crime racista. Será mesmo que tem cunho racista ou tem um outro cunho? Porque anos atrás, eu e minha ex-noiva, comprando alguma coisa no supermercado Extra fomos seguidos por seguranças pensando que iriamos roubar tal salgadinho. Além deles, muitas pessoas acharam isso também, só porque eramos cadeirantes. Ora, nem estava com minha cadeira motorizada e não tinha como eu fugir em velocidade e outra, meu caráter e o dela, sempre ensinaram que roubar é errado. A discriminação existe e é muito forte dentro do nosso meio, porque é alimentada pelo sistema e esse sistema, não tem ideologia. A mente se aprisiona por símbolos, porque precisamos dar nomes as coisas, pois, estamos numa cultura generalista que precisa padronizar para ter sentido. Se eu falar aqui algo contra o Bolsonaro, serei tachado de esquerdista, se eu falar algo contra o Lula, serei tachado de coxinha ou coisa parecida.
Ai chegamos mais a fundo disso tudo: o sistema. O nosso sistema – onde vivemos – foi construído em cima de crenças e mitos greco-romanos, portanto, muitos preconceitos e estereótipos vem dai. Todo sistema, seja ele qual for, tem algo que o alimenta e roda ele para existir. Quando dizemos que todo homem é igual ou frases do tipo, estamos sempre criando imagens que vão nos colocar longe do outro, não querendo conhecer nem a história ou a outra ideologia, religião e etc – mesmo para criticar – assim alimentando o sistema. Porque, não faz nenhum sentido você estudar 20 anos, trabalhar uns 50 anos e morrer sem ter vivido uma vida, sem ter visto os filhos crescerem, sem aproveitar o ser amado, sem aprender de forma verdadeira. Talvez, nem mesmo se pode conhecer a si próprio. Ai uma indagação se faz necessário: ser honesto é se deixar escravizar? Trabalhar é se enfiar numa fábrica 50 anos e não viver? Por outro lado – porque filósofo adora um outro lado – você ser contra o sistema não te dará o direito de matar e roubar outra pessoa que é escrava do mesmo sistema do que você. Por que ir ao extremo ao outro? Por que achar que não faz sentido nenhum o sistema e matar o outro que está no mesmo sistema?
O sistema desde de Hitler não mudou, ele foi reprogramado para aceitar o diferente (ou aparentemente), porque o sistema nazista foi importante por um tempo. E vamos ser sinceros, só deu a guerra porque as tropas alemãs entraram na Polônia. Porém, a propaganda é a mesma. Os discursos de arranjar um inimigo é o mesmo. Só não se pode declarar, como politica do Estado, medidas raciais e étnicas. Mas, todo mundo sabe, que isso veladamente acontece. Por isso mesmo, sem sombras de dúvida, o sistema não tem ideologia e brigamos por nada.
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