segunda-feira, 2 de novembro de 2020

A família e a morte do amor

 



“Se alguém vier a mim, e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a sua própria vida, não pode ser meu discípulo.”

 (Lucas: 14:26)

 

Por Amauri Nolasco Sanches Junior

 

No jornal Extra, traz uma matéria onde dizia que o cantor Gustavo Lima, separou de sua ex-esposa Andressa Suita, por causa da família dela. Segundo amigos mais íntimos do cantor, Gustavo Lima não queria dividir seu dia a dia com a família dela. Disseram que a mãe dela sempre estava lá, assim como os irmãos dela e ele (Gustavo Lima) não tinha espaço para mais nada e se sentia sufocado. Como ele viajava muito, não sentia muito esse “sufocamento”, mas com a quarentena da pandemia, ele sentiu isso. E podemos sim, tirar algumas análises sobre o que seria um amor verdadeiro e a individualidade do casal – que aliás, podemos até fazer uma critica apurada sobre o narcisismo exagerado de não entender o outro também – que é bastante importante em um relacionamento.

O problema é o apego. Jesus, nessa passagem, nos diz que aquele que não aborrecer o pai e as pessoas próximas a você e seguir ele, não será chamado de seu seguidor. Em outras palavras, para ser o seu seguidor – não o cristão, pois é uma discussão a parte – não se deve se apegar daquilo que não é você, que não estar em sua própria natureza. Ora, em uma outra passagem, Jesus diz, depois que lhe avisaram que sua família estava ali e queriam falar com ele, que sua família era todos que estavam ali. Ou seja, o não apego te faz amar e não venerar, porque o que estamos vendo não é uma defesa da família ou coisa do tipo, o que estamos vendo é o apego da ideia que nos ensinaram a muito tempo sobre a família.

Você procurando no Google vai achar que, família são um grupo de pessoas que vivem no mesmo teto (como pai, mãe, irmãos e filhos) ou, um grupo de pessoas com uma mesma ancestralidade. A etimologia de família é muito mais interessante, pois, família veio do latim “famulus” que tinha o significado “escravo domestico”. Ora, o termo foi introduzido em Roma (na antiguidade) para apontar um grupo dentro da sociedade que tinha surgido entre as tribos latinas, ao colocarem a agricultura e também, a escravidão localizada. Ou seja, nossa origem latina nos coloca uma questão interessante, pois, a família era um grupo de escravos que trabalhavam nas plantações. Ora, o tempo passou e a família entrou do direito romano (que também somos herdeiros), como base no casamento e as relações jurídicas que resultam dentro do casamento e os filhos.

Hoje em dia a questão ficou muito mais complexa, porque as pessoas não querem mais sofrer ou sentir dor. Não querem mais se separar da família ou desvincular daquilo que sempre foram, não abrem mão de repente, de algo que dão apenas prazerem momentâneos. Enquanto não há uma intimidade entre o casal ou o outro não seja o projeto da sua vida, aquilo não vai dar certo mesmo porque ali não existe amor. Amor é muito mais do beijo e sexo, amor é cumplicidade e estar um com o outro. Por isso, talvez, o Gustavo Lima tenha ficado incomodado, porque ali não havia cumplicidade e quando não há cumplicidade, não há casal. Meu pai sempre disse, casa cheia fomenta brigas, porque o casal não se conversa. Não há mais nenhuma intimidade e isso é muito ruim.

A geração da Andressa não quer mais desvincular da família, não quer cuidar de si sozinha. Muito triste relacionamentos acabarem porque famílias se metem no meio, destroem sentimentos sufocando aquilo que deveria ser amor. Egoísmo? Desejo de estar perto? Não sei, só sei que meus pais criaram os filhos para o mundo.

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