segunda-feira, 16 de novembro de 2020

A Tragédia de São Paulo

 




Por Amauri Nolasco Sanches Júnior

O berço da democracia é a Helade (Grécia) e o termo é uma junção entre “demo” (bairro, povo) com “kratos” (poder) e remete o poder que vem da população. Alguns estudiosos ja dizem que a tradução por “poder do povo” está defasada e que, por motivos de muito estudo, se constatou que na verdade, os gregos tinham mesmo o poder dos bairros. Atenas, onde a democracia aparece, tinha seus bairros pessoas influentes que poderiam decidir o rumo politico – alias, o termo politica vem também do grego “politikon” que eram pessoas que decidiam as prioridades daquilo que era publico – e assim, como toda cidade-estado na época, há a elite dominante que é as famílias descendentes dos fundadores da polis e os burgueses, que eram aqueles que vendiam a mão de obra (alias, os burgos existiram até a revolução francesa). 

Com esse novo paradigma, vimos que a essência da democracia não é o poder do povo enquanto povo mesmo, mas, o poder de alguns bairros que tem mais consciência do que outras. Não é isso que nós vimos nas eleições? A elite lança seu candidato e convence o mais ignorante a votar naquele candidato por motivos óbvios, pois, sempre os burgos eram levados a convencer todos que aquilo era uma boa solução. Mas, essa solução só era benéfica para eles. Como hoje, que a politica, se faz assim. Quem sempre se beneficia com o candidato – seja qual for o espectro ideológico – é sempre a elite que dará sempre as cartas para o jogo. Por isso mesmo, que para se votar ou discutir politica, devemos tirar todas as paixões possíveis para não cometemos erros graves e entregar a cidade, o Estado ou a nação, nas mãos de pessoas desqualificadas que só vão atender o interesse dessa classe. 

Então, como um anarquista que sou (sempre lembrando que o anarquismo não é bagunça), devemos enxergar o poder e o Estado onde ele controla em um grande jogo que sempre será jogado com quem entende do jogo. Seria como você ter uma corrida de cavalo e quem entende de cavalo vai apostar no que tem a tendência de ganhar, porque só na observação ele sabe do físico e no potencial do animal. Na politica, todos os cavalos (sejam quais forem) sempre serão dados por aqueles que entendem desses “cavalos” e convencerão eleger um deles. Por outro lado, existem aqueles que os “donos do poder” ajudarão a eleger, porque assim, vão usar o modelo populista para iludir o povo e assim, implantar o que quiserem. Em 2002 aconteceu com o ex-presidente Lula e em 2018 aconteceu com o Bolsonaro, todos estavam nas mãos da elite brasileira que mesmos ricos, são na verdade, rastaquera. Não sabem ler e não tem nenhuma cultura, por isso mesmo, acabam financiando os funkeiros. 

Só que esse tipo de análise cética não é feita pela maioria, porque nossa cultura foi construída em cima de passionalidade, ou seja, o brasileiro é um povo cordial no sentido de demonstrar muito o que está dentro do coração (cor). Também, temos questões outras como a politica polarizada que estamos vivendo, como se tudo isso, não fosse uma coisa só e única. O capitalismo nasceu com a necessidade de prover cada vez mais rápido o consumo e hoje em dia, ainda tem a questão de serviço. Só que os donos das fábricas pagavam o que eles queriam, por motivos óbvios, pois, com uma mão de obra ignorante que nem sabia escrever o próprio nome, não tinha o conhecimento da venda do trabalho. Mesmo o porquê, a maioria vinha do campo. Então, houve a resposta no socialismo/comunista e o anarcosindicalismo (que é muito diferente do anarquismo que eu acredito) que foi importante no seu tempo, mas, aconteceu a grande deturpação soviética e se demonstrou que o poder seduz, porque o comunismo nunca irá ser implantado. Por quê? Pelo simples fato que os governos socialistas nunca serão desfeitos e o povo nunca ira governar nada. 

Não vejo o capitalismo e o socialismo como antagônicos, porque sempre me vem a musica da Pitty “reprogramar o sistema”, como se os donos do poder quisessem mudar o sistema operacional. Hora (quando interessa e é preciso) estamos no lado esquerdo, hora no lado direito e no final das contas, não se chega em lugar nenhum. A população sempre vai sofrer e sempre vão sucatear a educação e saúde, para os mais pobres morrerem (manutenção de mão de obra) e serem ignorantes até o final da vida. Por quê? Porque o sistema precisa das pessoas para sustentar o poderio politico e todo o suporte do Estado, em todas as instâncias, todas as ideologias e religiões. Portanto, para isso não seja descoberto, se precisa dar crenças ideológicas e religiosas para dar esperança aos que vão alimentar o sistema, para não dar o bug e esse sistema não ser destruído; sempre o futuro vai trazer algo de bom, seja num modo do mundo (ideológico) seja num outro mundo (religioso). 

Bruno Covas (PSDB) e Guilherme Boulos (PSOL) são parte desse sistema, que no fundo, não são diferentes. O PSDB (dissidente do MDB) sempre veio com a proposta de melhorar o social sempre na parte financeira para que, as pessoas comecem a empreender. Acontece que não tirou nenhum imposto, sendo assim, só os mesmos podem abrir as empresas ou grandes financiamentos e investimentos, o podem. No mais, Bruno Covas não foi um bom prefeito, errou bastante em algumas resoluções desses empreendimentos e no meio da pandemia errou nas aglomerações. Não quis cancelar o carnaval – por causa dessa mesma elite que vai tentar eleger o Boulos – enfim, teve uma gestão muito capenga (claro, tirando o tratamento do câncer). O PSOL (dissidente do PT) é um partido socialista e acredita – diferente do PT que é muito mais trabalhista (assim, sendo social-democrata) – piamente, que o melhor sistema é o socialismo. Ou seja, acreditam numa sociedade igualitária em oportunidade e que o Estado tem que intervir na economia para não ter essa desigualdade. Então, por que a maioria dos filhos e a própria elite, está apoiando a candidatura do PSOL? O próprio Guilherme Boulos é dessa elite, onde monta um movimento e promove invasões para os “sem-teto”. Ou, como diz o filósofo Pondé, a esquerda é o fetiche da elite ou há algo muito mais assombroso no subterrâneo desse sistema. 

A questão para toda a analise é: estamos fora ou dentro da Matrix? Será mesmo que estamos querendo mudar ou estamos só ajudando a reprogramar o sistema? 






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