terça-feira, 24 de novembro de 2020

Matrix4 – O moralismo feminista dos Porta dos Fundos

 





“Enquanto tiver alento, jamais deixarei de filosofar, de exortá-los, de ministrar ensinamentos, a qualquer um de vocês que eu encontrar. Essas foram às ordens que o Deus me deu”. 

(PLATÃO, Apologia)

Por Amauri Nolasco Sanches júnior 

Dias desses, eu recebi uma mensagem no meu Instagram de uma feminista de 18 anos evangélica – híbridos que só o Brasil produz – dizendo que estava cansada das minhas mensagens que ao olhar dela, eram mensagens vitimistas. Ora, as mulheres enchem o saco para os homens mostrarem seus sentimentos e quando mostram, são vitimistas? Mas na continuação, disse que eu sabia o que eu tinha feito e que cada causa tem um efeito. Ai que esta, nem sempre, necessariamente, efeitos tem as causas que pensamos que tiveram. Antes mesmo dela dizer isso, da causa e efeito (como se esse povinho soubesse a teoria cartesiana), ele disse do “suposto” arrependimento do que eu tinha feito com a sua tia e assim, mostrando uma dúvida se eu estava ou não dizendo a verdade. O que é a verdade? Será que a menina sabe o que eu sinto ou reproduzo do que sinto? Claro que não. Em nenhum momento, um filósofo se põem a dizer mentiras, pois, como Sócrates mesmo disse na sua Apologia (que foi escrita por Platão): 

“Mas, entre as muitas mentiras que divulgaram, uma, acima de todas, eu admiro: aquela pela qual disseram que deveis ter cuidado para não serdes enganados por mim, como homem hábil no falar. Mas, então, não se envergonham disto, de que logo seriam desmentidos com fatos, quando eu me apresentasse diante de vós, de nenhum modo hábil orador? Essa me parece a sua maior imprudência se, todavia, denominam “hábil no falar” aquele que diz a verdade. Porque, se dizem exatamente isso, poderei confessar que sou orador, não porém à sua maneira.” 

Como amante da sabedoria, buscamos praticar duas coisas (que são passiveis de erros): a virtude (areté) e a prudência (phronesis). A virtude é ser coerente com aquilo que pensa e o é, ou seja, um ser humano virtuoso segue de modo ético aquilo que pensa e aquilo que é o certo. Mas, o que é o certo? Aquilo que leva o verdadeiro bem. Não posso mentir sobre meus sentimentos se eu não gosto de mentir, do mesmo modo, eu não posso acuar uma pessoa sendo que eu acredito na liberdade. Eu não vou bater em uma mulher se sou contra baterem na minha mãe ou na minha irmã, e isso nos leva a prudência que é, entre outras coisas, moderar minhas ações dentro daquilo que sou e que posso fazer de virtuoso. Alias, graças ao “tio” Aristóteles (chamo de tio porque aprendi muito com ele), sabemos que a prudência sempre é um equilíbrio para, exatamente, encontrar a virtude. 

Ela, nesse contexto, se enganou. Pois, o que se diz na conduta humana, não existe causa e efeito e sim, acumulo de situações. Se, em toda a sociedade, eu tenho que respeitar a outra pessoa e a outra pessoa tem, do mesmo modo, me respeitar como pessoa e não interessa se ela é negra, mulher, deficiente e etc., pois, todas as pessoas estão inseridas nessas premissas de serem respeitadas. Então, se não há respeito entre duas partes, não há um ponto de inicialização disso, mas, pode haver um ponto de terminar isso. Daí entra a virtude (que termina com o orgulho), porque se eu desconfio do outro e digo para o outro que eu acho que seu arrependimento é “suposto”, então, você nunca vai ser virtuoso e sempre vai achar que não haverá seres humanos que merecem o respeito. Mas, como toda evangélica que acha que todo ser humano é falho e eles são perfeitos, eu continuarei com meu suposto arrependimento e além disso, as ideias de um feminismo tóxico (turbotecnofeminismotóxico), pioram a situação. 

Dai podem me perguntar: o que tem isso com o vídeo do Portas dos Fundos? Muitas coisas. Ali mostra uma ideia machista muito antiga, que a mulher só vai vencer na vida se ir para a cama com o chefe, com os dirigentes e etc, pois, não tem capacidade de lutar e vencer sozinha. Logico, que temos que entrar na arte, porque temos que entender toda uma estética dentro da questão educativa humana, que começa, com os gregos antigos. Jeager, intelectual alemão, vai dizer que o intuito das poesias e tragédias gregas eram educar o povo. Os mitos não eram uma “mentira” e sim, eram explicações que a grande massa entendia, pois, um grego sabia que aquilo era uma história para explicar algum fenômeno natural, ou alguma conduta humana. E isso, com o advento das poesias de Homero e Hesíodo, se começa a produzir tragédias e com essas tragédias, se começa a educar uma grande maioria do que o Estado queria que o povo se portar. Hoje, mesmo com o advento da educação de escola, o teatro e a comédia é um modo de criticar e ensinar o povo alguma coisa. Infelizmente, temos um respeito bastante seletivo dentro do espaço da mídia e quando se começa a ideologizar demais, se começa a diferenciar quem ou não, devo confiar. 

Do mesmo modo, se o canal Hipócritas, tivesse feito um vídeo do mesmo conteúdo, será que as feministas tóxicas gostariam? Claro que não. Como mostrei no começo do texto – que eu chamo de debate – o brasileiro é bastante seletivo daquilo que ele quer passar, porque ele quer moldar as situações as ideologias e as crenças, nos quais, acreditam. Se um buraco é quadrado, vão martelar uma coisa redonda ate caber naquilo que é quadrado. Eu chamo de conceito “tunado” -- tunado são carros com peças de outros carros para ficar no gosto do dono – e está cheio disso no Brasil. Ou seja, se pega uma ideologia ou uma religião e se começa a montar aquilo que te agrada e não, aquilo que é de verdade. Ai que está, a verdade enquanto aquilo que é, só se é chegada, pelo conhecimento. O saber sempre é melhor, do que a ignorância.

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