terça-feira, 10 de novembro de 2020

A banalização do termo ‘pessoa tóxica’

 





 

Amor não é se colocar refém dos outros, é ter a liberdade de compartilhar a vida com alguém sem medo. 

Beatriz Mello



por Amauri Nolasco Sanches Júnior


Dias desses eu me deparei com um artigo que falava que pessoas tóxicas eram pessoas que não admitiam que tinham errado (assim era o título). No artigo dizia, que pessoas tóxicas não pedem desculpas porque querem demonstrar o seu arrependimento, elas pedem desculpas para manipular. Claro, uma pessoa psicopata ela vai ser fria e calculista ao ponto de querer, realmente, manipular a pessoa que quer dominar e fazer o que ela quer na sua psicopatia. Isso se chama pessoas psicopatas, de “psique” (alma) e “pathos” (sofrimento). A psicopatia são, a rigor da etimologia, doenças da alma e do modo que o sujeito vai se relacionar com a sociedade. Ora, muitos psicólogos são contra o termo “pessoas tóxicas” porque não fazem parte de um estudo científico rigoroso. E esse é o perigo de usar o termo “pessoa tóxica”. 

Todos nós sabemos que a esquerda vem tomando para si e por achar que são os “guardiões do bem” - que chamo de Síndrome de Rainha Dragão (quem assistiu Games of Throne sabe do que estou dizendo) – e nessa guarda do suposto bem, começam a separar as minorias entre grupos. Esse termo “pessoa tóxica” nem mesmo existe, apenas é um termo para categorizar coisas que são meros comportamentos e que na psicologia e afins, poderia ser chamado de psicopata. Mas como todo termo popular ele sofre uma banalização e essa banalização começa diluir a verdadeira essência daquilo existir ou o que aquilo foi cunhado para tal propósito. Ou seja, a banalização destrói o propósito do termo ou de uma ideia. Vide as teorias nietzschianas que foram apossadas pelo fascismo e pelo nazismo, que quase destruíram, e muitos estudiosos, custaram em desvincular. 

Existem “pessoas tóxicas”? Existem, a meu ver, comportamentos “tóxicos” no sentido de tolher liberdades e achar sempre que você tem razão e nesse sentido, os mileniuns caberiam perfeitamente nisso. Poderíamos chamar de “geração tóxica”? Claro que não. Cada geração nasce com uma capacidade desenvolvida graças, de alguma maneira, o desenvolvimento moral e social dos seus antepassados. O desenvolvimento da plantação nasceu de processos e houve uma geração que atingiu o ápice de pôr em prática, como o processo industrial e tecnológico do século vinte, culminou no desenvolvimento (porque não espiritual) dessa geração. Acontece, que o ser humano não aceita as mudanças e hoje, elas acontecem muito rápido e não há um processo de adaptação. Mas, como essas mudanças acontecem bastante rápido, muitas coisas ficam dos tempos passados e a agenda politica de ambas as ideologias acabam envolvendo a geração milenium que tem um outro desenvolvimento, biológico e espiritual. 

Dai começamos já olhar as mudanças dos anos 80 para cá, quando as mulheres mileniuns não querem mais ser mulheres e sim, pessoas do sexo feminino. Assim como homens mileniuns não querem mais serem homens e sim, pessoas do sexo masculino. O masculino e o feminino passa a ser uma polarização pertinente para uma mudança de desenvolvimento e o processo de evolução humana. Mas tem um problema (filósofos adoram um problema), como ficou alguns conceitos do passado (como o conflito entre machismo e feminismo) e assim, fica um ranço entre os sexos. Homens devem ser homens para prover e as mulheres devem ser mulheres para se submeterem aos homens. As relações tóxicas partem no princípio muito antigo, que a dominação do “macho alfa” deve prevalecer porque alguma divindade assim o quer. Há ai um conflito, pois o modelo antigo se perde por causa dessa mudança e ai, as relações humanas se perdem entre o novo e o antigo. 

O que se chama de “pessoas tóxicas” são pessoas que não sabem se relacionar com essa mudança. Ora, e no mais, o termo “pessoa tóxica” está sendo banalizado por causa da alta sensibilidade dos mileniuns que em vez de serem educados adequadamente, são educados no modelo arcaico. Pessoas do modelo arcaico aprenderam a ser machos e não homens, agrediram, estupraram e destruíram sempre e quando isso deve ser mudando, se luta contra a mudança. Por quê? Porque há ainda resistência. Ainda por cima, há mileniuns que sentem confortados com o arcaico e lutam, também, contra. Há, nesse ponto, uma análise a ser feita: em todo o universo tem que haver esse contraponto para se criar uma síntese daquilo que deve ser feito e criado em cima daquilo que foi destruído. A destruição vai acontecer de qualquer maneira, resta saber como. 

Ai voltamos a essência do termo “pessoa tóxica”. Tudo que é tóxico é nocivo para o organismo, porque contem veneno e tudo que tem veneno, pode intoxicar qualquer organismo sensível a ele. Dizem que a toxidade vem de produtos sintéticos (não naturais), mas, plantas, insetos e outros organismos vivos, podem produzir tóxicos que chegam até, a matar. Já pessoa tem um debate muito forte em volta. Pois, no português coloquial, pessoa pode ser considerado como sinônimo de ser humano. Mas, na filosofia, há um debate muito grande sobre o sentido mais preciso e o mais correto do termo, e também, quais sãos os critérios a serem usados e definirem algo (ou, até mesmo, alguém), como uma pessoa. Dentro da filosofia, uma pessoa pode ser definida como uma entidade que tem certas capacidades ou atributos que são associados a personalidade, como por exemplo, em um contexto particular, moral, social, ou até mesmo, institucional. Essas capacidades ou atributos podem muito bem, incluir a autoconsciência, a noção do passado e do futuro, também, a posse da lógica deônica. Filosoficamente, podemos dizer que uma pessoa é um ser humano como um agente moral. Ou seja, é aquele que realiza um ato moral e ao mesmo tempo, ajuíza sobre esse ato moral. 

Ora, que tipo de veneno (toxidade) pode produzir um ser humano? Vamos lembrar que o ser humano tem duas vias que colocam ele na realidade aparente (porque não sabemos se essa é mesmo, a realidade): o corpo (res extensa) e o espírito (res cogitan). O corpo é o meio para ser percebido e, talvez, um meio para se construir uma personalidade (dai o termo pessoa faz sentido) e o espírito é o meio que compõem a vida e o anima como seres que tomam decisões ou vivem. Não há nada de religioso nisso, pois, as religiões, até mesmo, foram engolidas pelas ideologias. Quando acontece o desequilíbrio entre um dos dois – muito o corpo se torna materialista e muito do espírito se torna alienado religioso – levando a ilusão (os indianos vão chamar de Véu de Maya, ou seja, envolto na ilusão). Foi o que Platão mostrou no mito da caverna. Pois, o problema não é perceber as formas, mas construir dentro de si mesmo meios de ver as formas verdadeiras. Será que se deve ficar com alguém por amor ou por apenas sexo? Lembrando sempre, que o amor e o sexo se complementam e se queremos equilíbrio e serenidade, muito bom achar equilíbrio entre os dois. 

Por que eu disse lá em cima, que a esquerda – que alguns chamam de esquerdismo, alias – vai se apropriar dessa pauta pela imagem que eles tem de “guardiões do bem”? Mesmo o porquê, uma questão é importante nesse momento: considerado como “cultura” o funk carioca não guarda componentes dessa toxidade? A meu ver, você chamar uma mulher de “vagabunda” ou de “cachorra” tem muito mais toxidade do que você dizer que, por exemplo, certas roupas deixam ela mais velha. Ou que, de repente, as questões de dizer aquilo que você não gosta ou aquilo que você sente. Qual a diferença disso e de uma agressão verbal ou física? Quantas famílias são destruídas por pais que batem nas mães e destroem o psicológico dos filhos, porque tem a sexualidade abalada pôr a sua própria família ser desestruturadas. O problema não é a ideologia (seja a sua ideologia “pet”), mas a nossa cultura ainda medievalista e sem razão de continuar. 

Não é incentivando viverem uma realidade difícil, que o ser humano vai alcançar o apogeu da racionalidade e dos bons sentimentos (que poderíamos chamar de virtudes), mas mostrando uma realidade maior e muito mais além (não estou falando da realidade metafísica). Uma realidade virtuosa e mostrar que não existe nada de toxidade, mas as pessoas são egoístas por serem egoístas, as pessoas são estúpidas porque são estúpidas, são comportamentos que, muitas vezes, mudam.



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