domingo, 25 de abril de 2021

Eu, isentão?

 


Quem me lê e quem sabe o que eu penso, politicamente, já reparou que não defendo nenhum lado. Por quê? Aos reacionários que vem o regime militar uma maravilha, eu nasci no governo Medici e sem nenhum programa de saúde que tivesse um pediatra na sala do parto – que ainda persiste e nascem bebes com paralisia cerebral – e nasci com uma deficiência. Depois, como a saúde não foi uma prioridade no país, eu tive caxumba e, talvez, pneumonia que com uma convulsão (por causa de uma febre) eu piorei minha deficiência. Como não tinha escolas adaptadas – porque a educação nunca foi o forte do Brasil – eu tive que ficar numa instituição, primeiro repetindo a quarta série para eu ter fisioterapia, depois ficando numa oficina abrigada sendo explorado (porque a entidade em questão ficava com uma parte do que a empresa pagava) e ainda, não podíamos namorar ou fazer qualquer coisa. Alias, namorar nunca podíamos porque haviam e ainda há, mães psicóticas ou acham que todo mundo quer engravidar a filha, ou casa com canalhas e acham que todo homem é um canalha. Por quê? Por causa da nossa educação vagabunda.

Como não desisto, a questão da politica no Brasil nunca foi uma questão ideológica, ela sempre foi uma questão de interesses bem escusos. No meu exemplo, podemos ver que programas bastantes simples poderiam evitar muitas deficiências e muitas mortes. Mas, o Brasil sempre teve uma péssima tendência de escolher ou não – porque tínhamos generais ignorantes – governantes que não tem nenhuma noção de nada e ainda, são aclamados como heróis ou ídolos como se salvassem a pátria. Não salvam. É uma utopia achar que um sujeito ou ideologias, podem dar jeito em um país tão desigual como o nosso. Eu como uma pessoa com deficiência fui vítima do ESTADO e como um cidadão eu fui traído e enganado da promessa, de uma esquerda fraca e burra, que fariam um país mais igual e acessível. Isso não é de hoje não. Enquanto comunistas e militares brigavam pelo poder, crianças ficavam ou nasciam com deficiência, morriam de fome, não tinham nem saneamento básico ou educação de verdade. A questão nunca foi ideológica dentro da questão do Brasil enquanto nação, sempre foi de interesses e questões politicas.

Nunca se quis modernizar o país por causa da exploração de mão de obra barata. Gente ignorante se paga menos e não sabe dos seus direitos, pois, não sabem que eles vendem o serviço e não o dono da empresa dará uma oportunidade de trabalho. Os morros das grandes metrópoles são provas cabais disso, onde pessoas ignorantes – que foram captadas com a falácia que quem estuda é CDF ou NERD – são trabalhadores braçais em potencial e são pessoas desesperadas para trabalhar. Costumo falar, que criaram a família feliz – igual as propagandas de margarina – para as pessoas acreditarem que existem casais felizes e que filhos geram essa felicidade, a utopia da família feliz, na verdade, foi uma forma de sequestrar a mão de obra e dizer que eles tem que trabalhar para sustentar esses filhos. Que você tem que arranjar um parceiro, ter filho, ter uma casa – que na maioria das vezes, ou é aligada ou um barraco – para ficar refém do capitalismo brasileiro. Ou seja, eles te convencem que você tem liberdade para fazer o que quiser e te convence que você tem que ser o que eles quiserem. Como? Com a mídia. Com ideologias hereditárias. Com utopias religiosas e politicas. Levadas com uma cultura pobre de conteúdo, uma sistematização de renegação do seu próprio país, e ainda, achar que o Brasil não presta. Nossos políticos são mercenários. Nossa mídia é mercenárias, ao ponto, de trazer um conteúdo muito sexualizado – achei graça o CEO do SBT dizer que a Sheherazade é a vergonha do canal sendo eles os produtores dos funkeiros, por exemplo, com vários programas zero de conteúdo, é uma grande piada – conteúdo que nada acrescenta e ainda, músicas que acabam com a alta estima de um povo.

Não vou ser hipócrita e achar que não vi tudo isso, mas eu sei separar aquilo que eu gosto com aquilo que é conteúdo massificado. Eu sempre fui avesso as massificações. Não gosto de séries que estão na moda ou estão em alta – a casinha de papel é um incentivo ao crime lascado – não gosto de bandas famosinhas, não gosto de livros da moda, não gosto de nada muito falado. Não porque eu leio, mesmo o porquê, existem gente que lê e é um idiota completo (que acha que todos os autores do passado são preconceituosos), porque aprendi a ser seletivo e foda-se o mundo que não estou nem ai com ele. Como eu posso entrar numa cultura que um Monteiro Lobato é racista, mas pessoas com deficiências negras, são discriminadas todos os dias e o movimento negro não divulga nada? Como posso apoiar movimentos hereditários como o feminismo, se famílias prendem ou não deixam mulheres com deficiência terem namorados ou que mulheres com deficiência são assediadas? Ou se defende todos, ou não defende ninguém. Essa coisa de achar que só aquele nicho tem que ser defendido – que eu acho chata essa discussão – é um pouco banalizar as lutas verdadeiras dos negros e das mulheres, de décadas, virar lacração de redes sociais.

Diante de tudo isso – sendo feito, tanto pela direita, quanto a esquerda – eu tenho que tomar um lado? Eu não posso nem namorar, não posso sair – porque o governo fez uma cagada mais uma vez com vacina – não posso ser quem eu sou, não posso ser deficiente sem tomar cuidado com o termo que eu me chamo. A questão é: toda essa cultura vem da onde? Será que tudo isso tem a ver com uma construção cultural que vem desde os jesuítas – que abominavam o conhecimento e as riquezas que fossem do povão – ou é uma construção desde o século dezenove da filosofia positivista de Augusto Comte? Acho, sinceramente, o brasileiro um povo crédulo e que não separa a pessoa do ídolo, tudo vira ídolos.



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