quarta-feira, 28 de abril de 2021

Nossas cadeiras de rodas eram iguais – não ficamos juntos #PCDVacinaJá

 


Sim, parei de acreditar no amor como eu acreditava. Porque eu cresci acreditando num sonho que um dia eu ia ter uma pessoa que ficasse comigo e fosse minha companhia, mas, o mundo preconceituoso e hipócrita, não deixou que esse sonho fosse realidade. Pois, como temos uma educação religiosa que coloca as pessoas com deficiência numa imagem inferior e capacitista (discriminação) e isso sempre foi um muro divisório entre mim e a pessoa que eu tinha um relacionamento. Ser evangélico, no Brasil, é acreditar em coisas que um protestante lá fora nunca acreditaria, porque, acreditem ou não, o protestantismo abriu portas para teorias científicas e filosoficas – até mesmo o liberalismo que tanto o brasileiro não sabe – ou seja, o pentecostismo e o neopentecotismo, nada tem de protestante. A questão é a maneira que nossa sociedade olha o PCD e como ele é estigmatizado dentro do pensamento coletivo numa sociedade, onde a educação é quase inexistente, como pessoas incapazes.

Na verdade, a família brasileira se diz tradicional, mas nem sempre podemos chamar algumas assim. Para mim, como sempre vi, existem muito mais famílias desestruturadas do que pensamos, porque a educação familiar nem sempre foi harmonizada com amor e respeito. Não há um consenso nas famílias daqui, porque o brasileiro sempre se colocou como anticidadão, pois, enquanto sociedades inteiras um ajuda o outro. A corrupção e a mesquinhez está no DNA do nosso povo. Mesmo o porquê, um se acha melhor do que o outro, porque isso ressoa dentro de cada religião e ideologia politica. A meu ver, quando você tem uma imagem sobre aquilo, nem sempre aquilo é verdade. A verdade e os sentidos podem nos pregar peças – sim, nesse sentido sou cartesiano – e podemos achar que estamos vendo um garfo, mas, aquilo é uma faca, por exemplo. Podemos achar que uma pessoa é incapaz por causa da sua condição física – e muitas vezes, psíquica – mas ela pode nos surpreender num segundo momento e que pode caracterizar, um preconceito nosso.

Preconceitos sempre começam com medos. Medos do diferente e por ignorância daqueles que não entendem a realidade. Por isso tem tantas pessoas que não querem se vacinar ou acreditam em opiniões – vamos sempre repetir o que Platão dizia, que opinião não é conhecimento – que, muitas vezes, não estão interligados a realidade. De onde veio a imagem que as pessoas com deficiência são incapazes? De onde veio a imagem que as pessoas com deficiência não transam, não namoram, não casam? Temos um indicativo dos povos antigos, os hebreus, que não admitiam que pessoas “deformadas” subissem ao altar para adorar Deus. Ai vem meu questionamento: alguém já viu padres ou pastores cadeirantes? Alguém já ouviu falar na história do cristianismo, além de ser “caridosos” com os deficientes, a igreja ordenou algum bispo ou algum papa com alguma deficiência? Eu não vi e estou para ver algum sacerdote cadeirante dentro de alguma igreja, pois, o que eu vejo, um cantinho reservado e só. A grande maioria até acha que nós atrapalhamos os cultos ou as missas.

Por essa cultura que é chamada de conservadora, mas é tradicionalista, não tenho saco em dar satisfação para a família que não é minha, pois, mesmo eu sendo uma pessoa com deficiência, a minha própria não pede nada de satisfação. Por que tenho que dar satisfação para a família dos outros? Ora, e não é por ser homem não, conheço amigas que viveram ou vivem sua vida e é mulher, acho que a questão se chama hipocrisia. O hipócrita sempre acha que ele não deve seguir aquilo que ele mesmo prega, e acha que o mundo tem que seguir a risca um preceito que é só dele. A tradição – que ele próprio não segue – é um deles. Por que os irmãos da pessoa podem fazer e ela não? Por que eu tenho que dar satisfação a família da minha namorada se quero ou não sair com ela? Até acho importante sim o cara ser responsável e dar satisfação sim a mãe da pessoa, mas ser escravo dessa atitude sabendo que os irmãos podem fazer o que quiser, é um pouco demais, não? Se for assim, só porque sou uma pessoa com deficiência, então, prefiro ficar solteiro com minha filosofia e com meu pensar. Prezo a liberdade, seja onde for.

E no mais, há uma visão muito antiga – isso vem desde quando eu era bem pequeno na AACD – que não temos meio anticoncepcionais e podemos ter filhos assim fácil. Não é bem assim. Essa visão é uma tentativa bem vagabunda, de achar que somos crianças (em alguns casos, até dou razão), mas não somos. Temos o direito de ser feliz, temos o direito de ter uma vida como outra pessoa qualquer. No mais, acredito que amar não é só dormir com alguém e sim, é sonhar com esse alguém, construir um futuro, resistir as diferenças e, descobrir que o amor não junta metades, o amor une inteiros, que não apenas se completam, mas sim transbordam. Fora isso, é mera convenção social.

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