domingo, 27 de junho de 2021

Sweet Tooth e o emburrecimento programado

 






Amauri Nolasco Sanches Júnior


Quem viu a série, Sweet Tooth, sabe que fala de preconceito e como o comportamento humano muda em torno do perigo eminente. Fala de preconceito – explícito quando mostra as crianças híbridas – e mostra como o estado é ineficiente em torno dessa situação (começada, exatamente, pela confiscação de uma pesquisa biológica). Fala de egoismo – quando os vizinhos queimam as casas com seus ocupantes – quando se tem um vírus a solta. Fala de humanos que erram e deixam para trás um mundo que muda e tenta consertar. E acima de tudo, o mundo mudara de qualquer jeito, seja pelo bem, seja pelo mal, mas que a mudança vai vir. Será que a série nos faz refletir por causa de várias coisas que anda acontecendo?

No livro que estou lendo “Emburrecimento Programado”, do professor norte-americano John Taylor Gatto, fala como as escolas estão fazendo tudo, menos criar cidadãos que pensem e tem uma visão crítica. Ate dá um monte de exemplo, como em alguns estados dos Estados Unidos, as taxas de analfabetos amentaram depois que as escolas começaram ser obrigatórias dentro do território americano (antes do século dezenove não eram). Na verdade, o professor Gatto constatou o que eu constatei aqui também, as escolas estão muito mais preocupadas em formar trabalhadores e pessoas obedientes, do que cidadãos críticos que podem melhorar a comunidade de onde vive. A questão apresentada na serie tem a ver um pouco disso, mostrando que os pensamentos e costumes tem que ser repensados e governo nenhum vai se importar com a população se algum dia coisa pior acontecer. Escolas tem que escolarizar, ou seja, criar cidadãos e saber o básico para criar pessoas que saibam se virar dentro do mundo e das coisas, como escrever, ler e calcular, e nas universidades, aprender as coisas profundas para trabalhar. Educar é algo muito mais profundo.

Educação vem do latim “educare” que eram pessoas que mostravam a realidade para os garotos (garotas não eram educadas). O termo latim era uma tentativa de tradução do termo em grego “paideia”, que significava, grosso modo, formação de crianças. Mas não era qualquer formação – feita pelo “pedagogós” – mas era uma formação da cultura grega e a ser um cidadão grego como era o costume. Ou seja, dentro dessa “paideia” teria que ter o ETHOS grego, com todo seu caráter e toda sua ética moral. Na verdade, muitos traduzem ETHOS como caráter, mas o termo em grego era muito mais do que a formação do caráter e sim, era a formação do espírito, era a essência do espírito grego. Ou seja, as coisas eram bem mais simples e se educava no ócio e tem nada de comunismo – Gatto erra em dizer que a União Soviética é uma República platônica – e sim, uma solução para não se tornarmos uma sociedade automática. Você trabalha para que? Você ganha dinheiro para que? Juntar e depois os herdeiros brigarem?

Varias coisas deveriam ser repensadas e reavaliadas dentro do pensamento social, pois, está nos adoecendo tanto fisicamente como mentalmente e não é coisa de vagabundo, é coisa de gente sensata. Quem quer dar toda sua vida por uma empresa que quando não te quiser mais não vai exitar em te dispensar? Quem, em sã consciência, vai deixar de conviver com a família por causa do trabalho? Temos que trabalhar, temos que estudar, mas temos que resinificar as coisas sempre como uma outra imagem como gostar daquilo e não ser por ser. Religiões, ideologia e etc, que fez um mundo um lugar mais “tóxico” estão sendo repensados – junto com outras espiritualidades e filosofias orientais e dando mais significado – por causa do fracasso que foi isso tudo. Bombas atômicas, o poder pelo poder, caças indevidas, entre outras coisas que não fariam o ser humano mais humanos.



quarta-feira, 23 de junho de 2021

Nirvana e o não-eu

 





Amauri Nolasco Sanches Júnior

Certo dia a muitos anos atrás, meu tio – que é espírita - disse para mim que aqui na cidade grande seria muito difícil meditar e ele não conseguia. Eu acho – não julgando ele – que, as vezes, isso é culpa das escolhas nos levam a conseguir ou não, porque escolhi me importar naquele momento e tirar essa ansiedade que o mundo me colocou. E outra, o que me atrai mais no budismo é o desapego, porque não me apego em nada e a ninguém que não me agrega. Nem ideologias e nem religiões. Presos em prédios e em ideias imbecis que nada agregam a ninguém. Mas, lendo o livro “Por que o budismo funciona?” do escritor e filósofo Robert Wright, descobrir outras afinidades que me fazem refletir se fechamos os olhos para a verdadeira espiritualidade. Porque religiosidade quer dizer uma religação com a conexão com o divino, sem interesses materiais ou interesses de melhora para serem mais sociáveis.

Na essência, nirvana é “o incondicionado”, aquele último estagio que você atinge toda a verdade e a realidade como ela é e não como você idealizou ou que você acha ser bom ou não. O budismo ocidental tirou a ideia do bem e do mal, justamente, pelos julgamentos errados que esses conceitos transformaram as nossas culturas – os países do ocidente – em um verdadeiro inferno. Ou seja, parece que adotamos, mais ou menos, um budismo socrático-platônico. Tanto para Sócrates, quanto para Platão, não existe bem ou mal, e sim, conhecimento e ignorância. Dai que se aproxima bastante da teoria da iluminação de Buda (e de certa forma, ate mesmo de Jesus), porque o mal é apenas a ignorância daquilo que realmente importa dentro da vida, o conhecer. Não a toa, Aristóteles – assumindo a posição do seu mestre Platão – diz que o ser humano é um ser que procura o conhecimento porque tem “sede” do saber. Mas qual é essa “sede” do saber? Qual deveria ser essa procura?

Há vários anos, eu me deparei com meu próprio “mundinho”, porque temos essa tendência de criar bolhas de realidade para se sentimos confortáveis. Minha mãe – que não está mais comigo e foi continuar sua jornada na espiritualidade – sempre dizia que eu tinha um “mundinho” e que eu não via a realidade. A questão é quase um paradoxo. Porque eu posso criar esse “mundinho” como ter uma realidade que não vejo – seja por causa de uma ideologia, ou seja, por uma religião – e não enxerga uma realidade além dessa bolha. Bolhas são o que as mídias sociais usam para prender seus usuários. E outra é o que minha mãe chamava de verdade, e nem sempre é assim, porque mãe tem essa visão preocupada com o filho, ainda mais, com deficiência. Mas, hoje, eu admito que tinha sim um “mudinho”, mas não que minha mãe achava que era ele, e sim, a verdade de perceber como somos presos em imagens por causa de narrativas depreciativas de você mesmo. Não é que porque sou cadeirante, que não posso ter uma vida como todo mundo tem. Tudo pode ser adaptado.

A imagem de pessoas como eu – cadeirante com paralisia cerebral – pode dar uma noção muito grande, como a sociedade se ilude com imagens daquilo que é “normal” e aquilo que não é “normal”. Existem pessoas, porque eu já li, que acha que paralisia cerebral é uma pessoa que não tem capacidade nenhuma de pensar, sentir ou de qualquer coisa além de ser cuidado por outra pessoa. Sou a prova, que não tem nada a ver e existe sim, graus de paralisia cerebral como existem graus de outras deficiências. Não dá para simplificar. Não dá para dar uma explicação fajuta e achar que o mundo gira em torno daquela explicação. Mais ou menos, as filosofias orientais – como o Yoga e o Budismo – trazem como libertar das imagens ilusórias daquilo que é o que é. A deficiência não é a essência de uma pessoa, é uma dificuldade que pode ser de inúmeros graus, mas não torna uma pessoa inútil, ela só precisa de adaptações para fazer o que todo mundo faz. Só olhar como uma pessoa e não como uma deficiência.

Com tudo – continuando o livro – o escritor dá o exemplo da banda Nirvana e que, claro, não alcançou a iluminação. Kurt Coubain levou ao extremo sua dor – quem leu sua biografia sabe, que ele tinha muito mal resolvida a questão da separação dos seus pais – e em 1994, se matou com um tiro na cabeça. Há várias teorias, mas ninguém sabe ao certo, o que aconteceu. Porém, não alcançou sua paz esperada e não teve a satisfação que tanto queria. Talvez, sem nenhum julgamento, ele se iludiu achando que com a banda aquilo não doesse tanto nele, não achasse que o mundo era uma “merda”, não achasse que as pessoas queriam te magoar. Na verdade, a nossa vida inteira as pessoas nos magoam porque temos muitas perspectivas inúteis delas. As pessoas são o que elas são e só. Não tem o que ser ou deixar de ser. Quem é um pai perfeito? Quem é uma mãe perfeita? Quem é o filho perfeito?

Quando achamos que somos perfeitos ai estamos muito longe de ser, porque nada nos faz serem paladinos da moral. Talvez, ninguém tenha chegado no Coubain e dito: “Ei cara, corta a porra do cordão umbilical e sai dessa” ou até mesmo, a questão dele ser mimado tenha agravado, pois, não lhe disseram nunca não (a mãe dele mesmo admitiu). As pessoas estão muito mais sensíveis porque não querem o sofrimento e procuram a felicidade a todo custo, porque não ouvem não, não há nenhum limite.


sábado, 19 de junho de 2021

O tribunal da internet e Sartre

 






Amauri Nolasco Sanches Júnior


“o que você fez daquilo que te fizeram?”

Na verdade, essa pergunta é derivada da frase do filósofo e escritor francês Jean Paul Sartre (1905 – 1980): “Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você.”. Mas a pergunta é boa e mostra bastante a filosofia existencialista. O mais engraçado – sendo uma filosofia ateia e cética ao extremo – que tem vários pontos em sintonia com o pensamento budista. Principalmente, na parte que Sartre diz que antes da essência existe a existência. O budismo, nesse ponto, concordaria com Sartre, e diriam que sem uma essência não existe apego. Porque quando desconstruímos tudo que achamos ser verdade – como realidade – começamos a repensar o porque aquilo dizem ser verdade, pois, podem não ser verdade.

Quando dissemos “o fazer”, queremos dizer que algo é feito a partir de uma causa inicial. No sentido de pessoa, “o fazer” tem a conotação moral daquilo que aprendemos o que é o bem ou o que é o mai. Gosto do pensamento de um vilão de um filme que virou meme – no qual, esqueci o filme – que diz que tudo que fazemos o que eles querem viramos heróis, quando fazemos tudo que eles não querem, viramos vilões. Quer dizer que tudo que concordamos com a maioria somos legais e podemos ser “amigo” de todo mundo, mas quando não concordamos, muito poucos vão querer ser seu amigo. Toda as ideologias, todas as religiões e todo conceito humano só é seguido porque se tem um certo interesse envolta disso, pois, nenhum ser humano tem a capacidade de se soltar das coisas que lhe prendem. Todo mundo necessita de um cobertor quentinho para se sentir confortável e tranquilo. Mas e quando esse cobertor quentinho é tirado dele e ele se confronta com a realidade?

Esse “o que fizeram” quando não há nenhum conceito construído a partir de uma construção moral – no sentido de uma realidade artificial – em que ainda há elementos vigentes das formas de ilusões que cercam nossa sociedade. Por exemplo, podemos amar um cachorrinho e tratá-lo como deve ser tratado, com muito amor e carinho. Mas ele não é um ser humano e não faz e nem come coisas de seres humanos – mesmo o porquê o organismo canino é diferente – e não pode ser tratado como um ser humano. Ter respeito por algo é desconstruir dentro de si a ideia que os objetos e o seres – sejam qual forem – são bons ou são maus. Eles apenas são. Quando você constrói todo o conceito de bondade e maldade, você está dando sua essência moral para aquilo e começa a julgar a partir daquilo que acha ser certo ou errado. Mas, o que é certo ou errado? Será que não seria ignorância ou conhecimento?

Sartre diria que é uma questão de má-fé. Sartre constrói esse conceito a partir do pensamento que a má-fé é uma mentira a si mesmo. Por quê? Segundo o filósofo, quem usa esse conceito está mascarando uma verdade muito desagradável ou apresenta como verdade algum erro agradável. Assim, segundo Sartre, a má-fé tem na sua aparência uma aparência de mentira. Só que, e isso muda tudo, na má-fé você esconde a verdade para você mesmo. Como o Cazuza um dia cantou, mentiras sinceras me interessam. Ou seja, você se apega a verdades que você sabe que não é verdade, mas aquilo é agradável para seu próprio ego. Chamar alguém de comunista ou fascista te faz engajado dentro da politica, mas, você mesmo sabe, que nem toda a esquerda é comunista e nem toda direita é fascista. São extremos de ideologias, que na sua essência, nem existem. O verde da nossa bandeira é da realeza dos Bourbons, mas nos ensinaram que era as vastas matas que cobrem nosso território. Preferimos acreditar nessa narrativa.

Por outro lado, segundo a frase do começo do texto, quem é chamado de comunista ou fascista se ofende porque aceita essa falsa verdade e alimenta essa má-fé. Por isso mesmo, Sartre vai dizer que o importante não é você ser chamado de comunista ou fascista ou outra coisa, o importante é aquilo que você faz daquilo que te chamam. Se importar é uma delas. O momento que as pessoas pararem de se importar, aquilo não tem mais importância nenhuma. Ai começamos a entender a pergunta: o que você fez daquilo que te fizeram? Pois, “daquilo que te fizeram” só há má-fé e se há má-fé nunca é a verdade em si mesmo.


quarta-feira, 16 de junho de 2021

Cristiano Ronaldo faliu a Coca-Cola

 


Amauri Nolasco Sanches Júnior

Depois que as grandes ditaduras foram derrotadas e o capitalismo liberal se sentiu vitorioso – com várias falhas e vários atos questionáveis – os norte-americanos (porque americanos somos todos nós), acharam que as questões de liberdade e igualdade de oportunidade estavam resolvidas. Mas, fazendo uma critica muito mais profunda, não é bem assim. Vários produtos questionavam foram ao longo do tempo – e não sendo hipócrita, também consumo – sendo cada vez mais, consumidos muito mais pela fama do que pelo gosto. A Coca-Cola foi inventada no século dezenove como um remédio de dor de barriga e depois, não sei porque cargas D'Água, se tornou um refrigerante e foi comprado porque o cara que inventou se matou. Isso mesmo, tomamos um remédio de dor de barriga gelado.

É saudável? Não. Vamos continuar enchendo nossas barrigas com esse remédio e vamos ter vários males. Por outro lado, a atitude do jogador português Cristiano Ronaldo de recusar o refrigerante – que ele já disse que não toma – de alguma forma, foi uma atitude única e mostra que as coisas estão perdendo unanimidade. Não se precisa mais bajular nada para se ganhar dinheiro, se valoriza mais a liberdade e as coisas não são como a grande mídia pensa. Afinal, o escritor e cronista Nélson Rodrigues dizia que toda unanimidade é burra. Talvez, ele tenha a ideia que quando as coisas têm uma unanimidade, é porque essas mesmas coisas não tem uma critica profunda de quem usa ou vê. Alguém já parou para pensar o porquê de se tomar um remédio de dor de barriga gelado para se refrescar? Já pararam para pensar o que ali tenha de verdade? Claro, não acho que tenha cocaína – teríamos evidências de muitas overdoses – mas, não acho que seja cem por cento natural.

Como eu disse no começo, o capitalismo liberal diz que foi vitorioso e hoje é uma unanimidade. Mas, o liberalismo não prega liberdade? O Cristiano Ronaldo não tem direito de não querer beber uma Coca? Não estamos no meio de países democráticos que asseguram livres escolhas? Pelo visto, não quando envolve interesses. Mesmo o porquê, quando falamos de liberdade, falamos de escolhas e as pessoas teriam direito dessa escolha. Se são boas ou não, cada um que arquem com as consequências. Sem dúvida nenhuma que nem todo mundo é liberal ou socialista porque quer – ai entre meu pensamento – porque há um interesse entre ser liberal ou ser socialista. As pessoas que querem empreender e podem fazer isso, com certeza, tenderão a ser liberais e defenderão um mercado mais aberto e menos burocracia estatal (o partido NOVO é um caso a parte). Os que vivem na pobreza querem o socialismo como uma espécie, de justiça social. Particularmente, tenho a tendência de ter a visão de Nietzsche nesta questão.

Nietzsche diria que todo ser humano que quer castrar o direito do outro de ter sucesso e aproveitar seus frutos, é um ressentido. Ou seja, as pessoas ao invés de julgar as outras por ter conseguido superar e vencer, deveriam seguir seu exemplo e achar meios de vencer também. Parar de ser um bando de ressentido e cobrar de quem tem que cobrar. Cristiano Ronaldo tem segurança e banca “peitar” empresas como a Coca-Cola e dizer que não vai tomar, não vai aderir porque ela patrocina os jogos e ponto. Ele não fez critica nenhuma e nem disse para as pessoas não tomarem, disse que ele queria agua e não o refrigerante. Simples. Talvez, alguém no mundo dando um exemplo desse, comece a não ser submisso as coisas que nos empurram. Talvez, ele tenha uma atitude sensata em dizer não quero e mostrando que ninguém vai fazer nada com ele – não aparentemente – porque ele sim, desafio uma megaempresa e mostrou que sim, temos escolhas a fazer.

terça-feira, 15 de junho de 2021

Tom e Jerry e a pilula vermelha (red pill)

 




Amauri Nolasco Sanches Júnior

Quem sabe o que eu posto, sabe muito bem, que não sou um filósofo como os outros que ficam com essa besteira de discutir banalidades. Porque eu entendi – isso desde Sócrates – que um filósofo não se prende em banalidades sociais só para mostrar que está engajado na discussão do momento. Eu quero entender coisas que a maioria acha que entende. Mas o que eu chamo de banalidades? Essa conversa fiada de politica binaria que vem desde a revolução francesa. Direita e esquerda foram importantes naquela assembleia e depois, hoje se transcendeu esse aspecto e se começa a ter um outro nível de discussão, a discussão para que serve esse tipo de politica. Nada me tira da cabeça que o bolsonarismo – como o lulopetismo – não quer moralizar a politica e melhorar nada, querem fazer do modo deles e assim, temos o chamado, “pirracento”. Crianças ou pré-adolescentes que para romper uma ordem estabelecida – que no caso, são os pais – fazem as coisas para pirraçarem aqueles que não fizeram aquilo que eles queriam.

Quem nunca assistiu Tom e Jerry quando era criança? Tom é o gato que quer pegar o Jerry que e o rato, que é normal, pois, gatos quando não eram domesticados, comiam roedores e aves de pequeno porte. A questão que para mim (numa visão de uma critica mais além do mesmo), é que Tom nunca conseguia pegar o Jerry e o desenho sempre, a cada episódio, começado tudo de novo. Mesmo que os dois se espanquem (que é visível dentro do desenho), nunca morrem e não tem um fim determinado como se as suas realidades vivessem um loop eterno. Loop são coisas que ficam repetindo eternamente e o gozado, nas minhas pesquisas, que existe uma teoria de loop temporal. Ora, será que Tom e Jerry estão num loop temporal? Se sim, eles não tem nenhuma liberdade e sempre terão a consciência que aquilo é uma realidade. Se não, os episódios são dias diferentes que acontecem a mesma coisa e eles tem consciência que aquilo é uma realidade. Ai temos que perguntar (é uma das perguntas mais perguntadas na filosofia): o que é a realidade? Uns podem dizer que a realidade é tudo que capta nossas percepções, outros podem dizer que a realidade é nossa subjetividade produzindo regras fenomenológicas – entre nós e os objetos – que interagem, de certa forma, num ambiente específico. Ai que esta, podemos dizer que o Tom e o Jerry tem a realidade dentro da percepção que eles percebem, então, as questões das repetições de movimento, são normais.

Dentro da internet há uma teoria que o mundo acabou em 2012 e nós estamos sonhando tudo isso, como se mudássemos de dimensão. Se, realmente, o mundo acabou a pergunta que não se cala é, o porque estamos sonhando e fazendo uma outra realidade? Numa outra teoria, nós estamos numa simulação de computador e, na verdade, somos programados para fazer tarefas ou somos iguais o jogo The Sims e alguém nos ordena – por mouse ou outra tecnologia – a fazer aquilo que fazemos. Na verdade, a meu ver, custamos a acreditar nas nossas próprias responsabilidades de ter criado essa realidade social que ai esta. Afinal, como Sartre disse, somos condenados a sermos livres. E outra coisa, não seria muito lógico ter simulação dentro de uma simulação e, a animação do Tom e Jerry, nada mais é do que uma simulação de um gato e um rato com feições e comportamentos humanos para passar algum pensamento dos autores.

Mas será que o Tom e o Jerry nos diz algo da sociedade humana? De certa forma, sim e isso tem a ver com nossa cultura. Nossa limitação binaria nos faz correr atrás de um rato, que muitas vezes, não existe ou que não é tao mau assim. O Tom é as pessoas que buscam correr atrás que um bem que não existe, porque não sabem pensar por si mesmo e dependem de “tutores” para pensarem no lugar delas. Um gato só corre atrás de um rato, porque o instinto natural – dado gracas a evolução da sua espécie – faz ele fazer isso para se alimentar e eles faz isso a vida inteira. O ser humano usou isso para afastar os ratos do convívio humano (só na era medieval os gatos foram tidos como demoníacos e foram exterminados e o resultado, a peste negra). Mas o ser humano é um ser que tem consciência e sabe o que faz e o que escolhe, ou seja, o ser humano fazer só duas escolhas não faz o menor sentido. Ou faz dentro de uma narrativa que ensina o bem e o mau e isso, somos herdeiros platônicos.

Talvez, Tom tenha uma escolha a fazer ou não tenha, pois, quer pegar o Jerry para ser reconhecido por sua dona. Sim, muitos poucos episódios mostram, mas Tom é um gato que tem uma dona e um deles, a dona do Tom, compra um gato automatizado (talvez, uma critica a tecnologia que estava surgindo na época). Mas, no fim desse mesmo episódio, a dona de Tom, reconheceu a eficacia do seu gato pelas decisões que ele toma com diretrizes dela. Exato. O erro liberal é achar que os meios de produção são progressistas e evoluem conforme vai se aperfeiçoando esses meios, só que esse aperfeiçoamento tem que ter um certo cuidado. Como no episódio que disse, a dona do Tom verificou que ele pode tomar decisões e não destruir a casa toda para pegar o Jerry e a automatização de todo meio, pode gerar erros. Ovos podem ter pintinhos e podem ser embalados juntos. Leites podem estar vencidos e embalados assim mesmo. E o maior tiro do pé capitalista, a internet. Pois, mesmo que grandes corporações ganhem dinheiro com tudo isso, as informações contidas não deixar uma parcela não aceitar as informações que eles mesmos fornecem.

Como no episódio do gato robô, a programação pode fazer com que ele seja eficiente no sentido de seguir ordens (como seguir a risca), mas não eficaz de diferenciar quando se pode usar ou não uma arma, por exemplo. Mas ai está o paradoxo, pois, a decisão de não quebrar a casa serve para a dona do Tom, a não vontade de não querer pegar o Jerry, não. Na cultura ocidental, as coisas e decisões tem que ter uma utilidade e se não tiverem, não há o porque existir. Um pensamento deve seguir um propósito, assim como uma ideologia tem que seguir um propósito. Caso Tom resolvesse se rebelar e não querer pegar o Jerry, ela não está seguindo um propósito, não atende o interesse da dona dele. Ai chegou dentro do que eu queria.

E se o Tom acorda um dia e começa a indagar o porque ele corre atrás dele e começa fazer ligações como sua dona nunca aparecer, a casa muda de ambiente sempre, as cenas sempre se repetem e ele não faz outra coisa, na maioria das vezes. Ele pode pensar que é um instinto, mas ele se apaixonou por uma gata (que quase lhe levou ao suicídio) e esqueceu do Jerry. Ai ele percebe que não faz sentido fazer isso por 70 anos e começa a observar sua realidade. Não existe nada. O que existe só existe quando o desenho reprisa e depois começa tudo de novo. Como um loop temporal. Ora, e se o Tom tomasse uma pilula vermelha e siasse disso? Será que aqui fora ele seria um gato velho? Será que ele ia perceber que se passou 70 anos da sua vida lá?

Assim, qualquer semelhança, é mera coincidência.

domingo, 13 de junho de 2021

Liberdade, amor e deficiência

 


Amauri Nolasco Sanches Júnior

Muitas pessoas me perguntam o porque eu fui para o lado da filosofia. Talvez, ninguém faz a mesma pergunta para o meu amigo Dudé que é músico, ninguém faz a mesma pergunta a minha amiga Lak que é publicitaria (aliás, eu sou formado também) ou até mesmo, minha amiga Dariane por administrar uma escola de música e é mãe. Talvez, se tem uma imagem muito sólida que as pessoas com deficiência tem que superar sua limitação física e vá para os esportes, que não tem nenhum problema. O problema é fazer dessa imagem algo padrão, e poderia encher esse texto de exemplos – até mesmo, amigos pais de família – de pessoas com deficiência que não escolheram o esporte e foram para áreas intelectuais e artísticas. Existe, até mesmo, pessoas com deficiência influencer que pode fazer um conteúdo bom e com qualidade. Mas, como não envolve uma “superação” física – que acaba sendo piegas – não tem visualização e não faz o jornal famoso ter visualizações.

Mas, voltamos a minha escolha. Eu escolhi a filosofia para entender dois problemas que foram centrais na minha vida, liberdade e amor. Talvez, ao me debruçar no tema da liberdade eu tenha me espelhado dentro da deficiência e os anos que vivi numa instituição famosíssima. Porque, por eu e muitos outros temos deficiência, temos que ser vigiados e sermos olhado, como seres que não podemos ter ou fazer nossas escolhas. Alguns professores, terapeutas ou mães e pais, podem responder que não sabemos fazer essas escolhas e acabamos sofrendo. Eu responderia o mesmo que o filósofo francês Sartre, que somos condenados a termos a liberdade e a liberdade pressupõem arcar com escolhas. E as escolhas, inevitavelmente, darão ou alegrias ou tristezas e não somos bonequinhos de porcelana para não sofrer. Até no banheiro sofremos. Sofremos por não ter as mesmas oportunidades. Resta aprender a encarar a realidade como ela é e não como se quer que ela seja. Claro, que não quero dizer que não podemos se indignar com algumas coisas (como falta de acessibilidade), mas não achar que somos responsáveis por uma realidade que esta ai há muito tempo. Minha veia anarquista (sim, sou indiferente ao que determina o estado) me faz pensar que não importa o certo ou errado, o que importa é a virtude e a ética. Inevitavelmente, vem a questão central: o que seria a liberdade? Que, se irmos bem a fundo, todos os hinos brasileiros dizem. Por outro lado, muitos poucos respeitam.

Além do mais, a questão do sofrimento está atrelado ao amadurecimento e como enxergamos o mundo que nos cerca. Se não sofremos, estamos em uma redoma de vidro. O sofrimento faz parte da vida e a deficiência, a meu ver, não pode ser encarada como um sofrimento. Mas, liberdade tem seus desafios e pode trazer felicidade e a felicidade pode trazer satisfação. Acontece, que nem sempre estamos satisfeitos, como a música mais famosa dos Rolling Stones, somos seres insatisfeitos. Mas, além de sermos animais insatisfeitos – porque, temos plena consciência da realidade que nos cercam – somos animais sociais e assim, animais morais. Morais no sentido de construir normas para não acharmos que só nós somos a sociedade, pois, o ser humano é um ser que cria sua própria realidade. Portanto, além de termos direitos também temos nossos deveres e os deveres são atos que não ferem ou tratem o outro com respeito. Muitas pessoas com deficiência esquecem que se elas tem direitos e devem se envolver com a politica, porque dentro da politica que nossos direitos estão. Além dos direitos e deveres – que envolve a politica – esta a liberdade. E a liberdade se define como aquele que consegue dominar seus sentimentos, seus pensamentos e a si mesmo e conhecer a si mesmo, e assim, delimitar seu limite e se conhecer. Mas, liberdade, pode ser também a capacidade de se decidir a si mesmo para cometer tal ato ou não agir, ou seja, ou você comete o ato e arca as consequências ou você não comete ato nenhum.

Junto com a liberdade vem o amor. Existem varias formas de amar e essas formas variam e isso é sim, um problema sério dentro da deficiência. Nossa mãe nos ama, porque não importa como somos, porque um amor materno é um amor incondicional, não depende de uma outra coisa. Amizade e amor eros é uma outra coisa. Amizade depende de ver o outro como um igual, porque a amizade se define como dois seres que tem os mesmos interesses. Não adianta, amizade também define com estética. Se esteticamente, você se parece o que todo mundo é, não vão ter amizade com você. Se você obrigar ter uma amizade, você está desrespeitando a liberdade do outro. Se queremos ter amizade verdadeira, temos que entender que a amizade é um amor que o outro é o fim em si mesmo. Ou seja, não importa se o outro tem ou não uma deficiência, ele merece ser respeitado como ser humano. Agora o amor eros e bem mais complicado dentro da deficiência do que se imagina. Mesmo o porquê, somos herdeiros de uma tradição católica que trata o amor romântico (ou eros) como uma doença ou como algo que deve ter filhos e com eles, a responsabilidade de prover esses filhos. Somos vistos como pessoas inúteis e que não podemos prover nada, trabalhar em nada e não estudar.

A questão sempre foi familiar, porque, entre outras coisas, depende de uma educação que possa retirar esse estigma que pessoas com deficiência não são inúteis. Que se sua filha chegar com um cadeirante – ou de outras deficiências – sua filha, ou ate mesmo, seu filho, não vai ser o “cuidador” dessa pessoa. Uma deficiência não deveria definir nem se ela pode ou não fazer as coisas, ou não pode definir nem mesmo caráter. O mundo (leia-se realidade) não pode ser definido só daquilo que você acha que ele é, o mundo estava aqui e vai continuar aqui além de você. Portanto, definir as pessoas daquilo que você acha, não vai fazer o mundo ético ou não, vai trazer só preconceito e uma visão errada da realidade. O que os budistas chamam de ilusão. A realidade que se constrói a partir de um conceito construído dentro daquilo que você conheceu. E o que você não conheceu? E os seres humanos que não fazem parte desse padrão?

Por isso, eu não gosto da pergunta: “você namoraria uma pessoa com deficiência?”, porque nos coloca como se fossemos muito arquem do ser humano. Ou seja, se somos pessoas (que são vários eus num corpo social) então, somos cidadãos de algo maior e temos nosso próprio eu. E assim, essa pergunta não faz sentido e remete ao capacitismo. Ora, dai remete ao que chamo de uma visão padrão onde o conceito cultural se confunde com o nosso conceito. O conceito cultural é moral, porque pertence a uma sociedade. Um conceito do nosso eu, é um conceito ético. Na verdade, dentro da filosofia acadêmica, a ética é a filosofia ou a ciência da moral. Mas, cuidado, moral não pode ser confundido com moralismo, moral são costumes (dai há um erro decorrente em colocar como bom ou ruim, porque a moral muda conforme a necessidade) e moralismo é uma imposição de alguma ordem moral. O conceito de normalidade – como se o mundo fosse preto e branco – é um moralismo. Isso está ligado com o conceito de liberdade, ou seja, o conceito de cada ser humano tem plena liberdade de escolha desde que não interfira com o outro.

O capacitismo é um discurso que a normalização estética tem que ser preservada, porque as pessoas não querem ter “trabalho” (porque acham que vão ter algum trabalho). Principalmente, quando esse casal é de cadeirantes. Por que dois cadeirantes não podem se apaixonar e ter uma relação? E pasmem, já li que muitos cadeirantes não querem namorar outros cadeirantes para se relacionar, porque “cadeirante chega ele”. Ou seja, não quer uma relação, quer um cuidador. Ai é uma escolha, mas uma escolha que reflete dentro da visão social, porque reforça a imagem que dois cadeirantes não podem se relacionar. Se somos pessoas, somos seres inseridos dentro de uma sociedade e assim, podemos amar, podemos ter liberdade e podemos escolher.

Essa visão tive depois de entender conceitos muito importantes dentro da sociedade.



quarta-feira, 9 de junho de 2021

Transformação digital não é só para fake news

  




Amauri Nolasco Sanches Junior

 

 

Muitas pessoas românticas – no sentido, do movimento romântico – acham que a filosofia não tem nada a ver com essa transformação digital que estamos vivendo. Até brinco que sou um filosofo blogueirinho, porque as pessoas acham que não existem filósofos que podem sim, usar formas digitais para fazerem seu trabalho ou que não tem nenhuma área além da academia, que não possa atuar um filosofo. Confesso que não sou e nem quero ser um filosofo acadêmico (não nos moldes positivistas que colocaram as universidades hoje).

 

Cada vez mais, as empresas de tecnologias se deram conta de que se precisa colocar no meio do quadro de seus funcionários, pessoas voltadas para a discussão ética e também que tenham uma visão critica diferente aos técnicos que desenvolvem os softwares ou constroem ou modificam as redes sociais. Por isso, a formação na área de filosofia pode oferecer uma capacidade que é muito valiosa dentro das empresas de tecnologia e para desenvolver uma discussão dentro da ciência e dentro da ciência tecnológica. Mesmo o porquê, é muito perigoso se pensar que se pode avaliar uma função por causa da sua utilidade, ou seja, aqui no Brasil se tem muito isso, dar utilidade as funções e avaliar essa função através da utilidade dela. Herança positivista.

 

O problema é a ética numa visão contemporânea e como se lida com toda essa discussão da tecnologia e seu uso. Ética, desde quando surgiu na Grécia antiga, tinha que rever a capacidade do ser humano em atos que agregavam e os que não agregavam. Aristóteles foi muito mais longe, disse que a ética não poderia ser só uma teoria e sim, deveria ser um ato pratico. Graças aos romanos, um tempo depois, a ética passou a ser a ciência da moral porque na tradução latina de ETHOS (grego), se diz MOS e no plural MORES que deu origem do termo moral. Enquanto, ética explana o lado do caráter do ser humano, a moral explana o lado do modo que lhe damos com nossos costumes. Ou seja, a ética vai estudar esse modo que lhe damos com os costumes e vai avaliar no viés do caráter de cada individuo.

 

Mas, muitos leitores devem estar perguntando: o que tem isso com a transformações digital? Como instrumentos inventados e construídos pelo ser humano, também podem ser usados com seus interesses e quem o financiam. Hoje, mais do que nunca, as redes sociais são usadas como formas de manipulação não só de opiniões, mas também do consumo de certos produtos e certos serviços. Exemplos temos inúmeros, desde fotos das garotas nuas por um pix, até mesmo, produtos que de repente você está procurando e eis – por ter usado o Google – ele chega na sua rede social. Mulheres artificiais no oriente (Japão) entre outras coisas.

 

Esses temas foram explorados em series na Netflix – como Black Mirror e Love, Death & Robots – onde a tecnologia e a ética humana são levadas a um interesse. O consumo desenfreado. A maquina querer pensar sozinho. O bem e o mau de outra perspectiva (como o bicho papão do Natal). Mesmo o porquê, o ser humano como um ser consciente da sua realidade, não só raciocina e sim, ele sente e transforma essa realidade a partir daquilo que enxerga. Se ele enxerga um mundo materialista e tudo gira em torno dos bens materiais, ele vai construir valores automáticos sem desenvolver uma empatia por outro ser humano. Educar é esse processo.

 

A propagação de noticias falsas – que, na verdade, são informações falsas – são um reflexo do modo do que a grande maioria enxerga a realidade. Não é muito diferente do japonês que casa com uma boneca de silicone, pois, é  a realidade que ele enxerga por ter aprendido valores só materiais e não sentimentais. Estamos uma sociedade automatizada, com muita sede de prazer e dinheiro e pouca sede de saber. O paradoxo é esse: com tanta informação no nosso poder (com a internet), as pessoas estão pouco aptas a acessar ela. Sócrates disse isso a dois mil e quinhentos anos atrás, ele não poderia fazer o “parto” de ideias, sem que a pessoa não tivesse “gravida” dessas ideias. Ou igual Jesus, não podemos dar perolas aos porcos, porque senão, eles vao destruir essas perolas.

 

As inúmeras transformações digitais, facilitaram e muito o ser humano da sua vida diária e no trabalho. Por outro lado, essa transformações – como um meio evolutivo – não teve a mesma evolução na educação no sentido ético. A energia nuclear pode fornecer energia elétrica, mas pode arrasar cidades ou nações inteiras com os misseis nucleares. Isso tem a ver com a energia nuclear ou a utilização dessa fonte de energia? Não tem a ver com a ética? Do mesmo modo devemos olhar na noticia falsa algo nocivo que, eventualmente, vai trazer estragos para a sociedade que vai alimentando crenças falsas e atitudes que podem prejudicar o bem estar das sociedades humanas.


segunda-feira, 7 de junho de 2021

Cruella e La Boétie – o medo da liberdade

 




 

Aquele que tanto vos domina não tem senão dois olhos, duas mãos e um corpo, e em nada difere do homem ordinário de nossas grandes e infinitas cidades, exceto pela vantagem que vós lhes concedeis para vos destruir” 

La Boétie, Discurso da Servidão Voluntária


Não vou dar spoller, mas vou dizer que o filme Cruella (estão pondo os vilões no divã) tem um lado da liberdade, quando ela começa impor sua própria natureza. Isso mesmo. A primeira coisa que devemos nos contestar e impor sempre, é nos examinar e ver quem somos e o porque devemos ser quem a sociedade quer. Foi o que Sócrates e Jesus disseram. A verdade dentro de nós, quando encontrada, sempre deseja a liberdade e não se submete aos outros. Dai entramos no pensador La Boétie e fazer a mesma questão que o historiador Leandro Karnal levantou: por que um só homem pode governar milhões de outros homens? Será que a maioria dos seres humanos não tem medo da liberdade?

Liberdade pressupõem que as pessoas vao ter que se virar e ter que amadurecer ao ponto de não depender nem das outras pessoas, nem de nenhuma crença ao ponto de se sentir num cobertor quentinho. A primeira fala da Cruella no filme é ela dizendo que não era contra a mãe, mas era contra o mundo. Exato. Talvez, Cruella tenha visto o mundo como um lugar hostil e confuso, onde a maioria das pessoas, não querem a liberdade porque tem medo da liberdade. A liberdade faz elas sentirem dor e não trazem nada de confortável para suas vidas, porque não agem como querem, mas o que a maioria quer. Até mesmo La Boétie, era prisioneiro da dualidade do bem e do mal, uma dualidade que separa o ser humano da sua própria responsabilidade de escolher ser servidor ou ser livre das crenças dominantes.

A maioria é prisioneira do poder porque quer. Sabe disso e gosta disso. Quando começamos a questionar um dos lados – esquerda e direita – se começa a dizer coisas que não são verdades. Como disse Kant, as pessoas sempre gostam da minoridade. Da pequenez da consciência que te limita ao ponto de achar que aquilo vai lhe trazer conforto e não vai. Você só é mais um servidor daquilo que o poder fez da sociedade para poder dominar os seres humanos. Crenças não verdadeiras. Ideologias que só fazem é reprogramar o sistema. Ilusões de uma liberdade que não é a liberdade e sim, é uma manipulação do estado. As pessoas não querem se libertar e acham que são libertas. Como disse Sartre, somos condenados a sermos livres. Mas será que essa liberdade existe? Se existir não é através dos outros que vamos encontrar a tal liberdade. E nem confrontando os dois extremos contrários.

Não acredito que a filosofia possa defender um desses lados, porque ela questiona os dois lados e tendo os dois lados como questionáveis, não pode tender a nada. Não posso, como filósofo, negar por negar e sim, colocar como questão a busca da verdade. Mas, o que deveria ser a verdade? Será que ela se encontra dentro dessa realidade? Não. A realidade é muito mais do que isto aqui, a realidade é o acordar de uma caverna escura cheia de sombras e nessas sombras só narrativas que dominam o ser humano. Por que eu tenho que seguir a direita? Por que eu tenho que seguir a esquerda? Por que eu tenho que seguir tal religião? Por que eu tenho que seguir todo mundo? São questões, que talvez, nunca serão respondidas satisfatoriamente.


domingo, 6 de junho de 2021

Delírio de um Brasil da Copa

 





Amauri Nolasco Sanches Jr



Única coisa que não concordei com a Juliana Paes é a questão do “delírio comunista” que não ficou muito claro dentro do vídeo que ela gravou. Não sei se é porque a esquerda ainda insiste em uma ideologia que nunca deu certo que é o socialismo, ou porque ela acredita, como muitos, que o PT (Partido dos Trabalhadores) é comunista e acredita na ideologia como um partido. Mesmo o porquê, existem muitos membros que acreditam ainda – mesmo vendo a merda que deu na União Soviética e em outros países – numa ideologia do século dezenove e se deveria repensá-la (se querem mesmo seguir isso ai). Assim como há um “delírio fascista” onde dizem o esse presidente ter comportamentos e atitudes fascistas, que, a meu ver, não passa de uma narrativa de querer dividir a humanidade em dois lados e não é verdade. Se A não é B, então, A é diferente de B. Só que o mundo humano – enquanto cultura e comportamento – nem sempre se resume em premissas lógicas e que pode sim, na democracia, principalmente, deve existir um C e esse C é legítimo.

As pessoas – principalmente, no ocidente – sempre teve a necessidade de colocar tudo em uma “caixinha” e o universo não trabalha assim. O universo é uma unidade – por isso mesmo, se chama universo – e que não ha nenhuma dualidade, pois, não ha como A não ser B, porque tanto A como B estão num mesmo plano da existência. Claro, mesmo que dois indivíduos tenham a mesma realidade – de perspectivas diferentes – também tem individualidades diferentes, únicas. Mas, por mais que a questão seja o respeito a opinião e expressar o que pensa – nessa realidade – temos que perceber que não há opiniões contrárias (opostas) e sim, opiniões que divergem daquilo que uma maioria acha. Aliás, em se tratando numa grande massa, o ser humano nunca pensa e sim, segue. Foi isso que Platão escreveu na sua alegoria da caverna e foi imortalizada no filme Matrix (muito embora, os diretores tenham usado muitos outros autores também). A questão pode ser formulada assim: o que cada um pensa de verdade? Todo mundo que tem uma linha de pensamento, tem porque teve uma base dessa linha de pesamento. Ou pela educação que recebeu com valores que segue, ou porque aprendeu em algum lugar esse valor. Podemos, também, seguir uma ideologia qualquer? Isso tem a ver com a base do pensamento, ou seja, quando não se tem nenhuma base do pensamento, se tende a abrir brechas para ideologias ou religiões. Ai mora o fanatismo.

Com um mundo mais niilista (negador da vida), as pessoas mais se fanatizam porque tem dentro de si, um vazio profundo. Ou seja, as pessoas seguem algo porque ignoram sua origem ou ignoram que aquilo não é bem quanto pensa. Nesse caso, o “pensar” é aquilo que se acha ser verdade e não é, é apenas uma ilusão idealizada dentro de um pensamento politico ou um pensamento religioso. Isso não quer dizer que não devemos seguir, de repente, uma linha politica ou religiosa e que, ser contra elas, seja um ato de negação absoluta. Eu, por exemplo, gosto de ser libertário e achar que tudo que se refere a ser estatal é um meio de escravidão ou ser um meio de coerção, de mim abrir um negócio ou descordar de uma posição politica e querer votar diretamente. E também, não ter nenhuma denominação religiosa e não ser ateu, e sim, ter uma espiritualidade independente de tudo que se encontra (mesmo ter um pezinho no espiritismo kardecista). Isso sim, é pensar com liberdade, pois, quando você se tranca em uma ideologia e numa religião, você está dando um atestado de dependência.

Até, muitas vezes, por eu ser um futuro bacharel em filosofia, já acharam que eu deveria ser marxista ou de esquerda e não sou. Como disse, eu posso transitar entre alguns conceitos de esquerda e alguns conceitos de direita, eu sigo livre sem achar que eu sou obrigado com alguma ideologia. Não sou. Alias, o preconceito é tanto que anarquista de verdade é o que apoia o lado marxista (que aliás, é contra os ideais anarquistas), saindo fora desse aspecto, tudo “anarcomiguxo”. Na verdade, libertários não deveriam ser chamados de anarcocapitalistas, mas, isso é um post para uma outra hora.

Ter liberdade é ter a satisfação de pensar por si mesmo.



sexta-feira, 4 de junho de 2021

Juliana tem razão

 



O homem é livre; mas ele encontra a lei na sua própria liberdade.

Simone de Beauvoir





Eu disse em um outro texto – que eu falo o mesmo que disse a atriz Juliana Paes – que, a meu ver, não deveríamos nem apoiar um e nem apoiar o outro, por razões obvias. Não vou repetir aqui. Embora não ache que estamos em um governo fascista – como nunca achei que estávamos num governo comunista no petismo – eu não acho que Bolsonaro é o modelo de presidente. O que acontece é que o brasileiro sempre achou que era anglo-saxônico e não é. Temos que nos assumir como latinos americanos como os países, como os Estados Unidos, sempre nos viu. Não pensem que nas escolas europeias e americanas, eles não ensinam as suas crianças que o Brasil é uma extensão da Europa ou dos Estados Unidos, pois, ensinam que o Brasil é um país latino-americano. Somos e temos uma cultura que veio do latim e veio dos romanos, então, não importa o que você ou as outras pessoas pensam, não viemos de uma anglo-saxônica.

Nossa noção de liberdade é a noção de livre-arbítrio católico que Santo Agostinho propôs para solucionar o problema do mal. Ou seja, o ser humano faz coisas erradas não porque Deus fez o mal e não há jeito, ele faz o mal porque escolhe o lado maldoso e egoísta. Educação? Ensinar valores verdadeiros? Em primeiro lugar devemos nos perguntar o que seria uma educação ou valores verdadeiros, porque não se pode ter ou procurar algo que não se sabe. Primeiro, educação nasce na Grécia e era destinado a ensinar só garotos que eram filhos dos cidadãos livres, mas, os gregos antigos, foram a base da educação que temos hoje em dia. Uma propagação da cultura vigente e o mais importante, a educação era uma forma de formar o espírito grego da época. Os poemas homéricos, as obras gregas poetisas são todas obras para educarem as crianças gregas e conforme a época, eram usadas como tendência dos valores éticos que as crianças deveriam seguir. Os gregos mudavam aquilo que não servia para época. Depois, os filósofos e sofistas (que para mim era também filósofos), começaram a ditar a educação e as questões, que os poetas, não discutiam. Claro, que a questão dos mitos, não é a questão de ser verdade ou não, e sim, ter explicação da realidade.

Podemos pergunta: o passarinho que está cantando é real? Podemos ouvir o passarinho, podemos saber de onde vem o canto, mas os nossos sentidos podem nos enganar e nos enganando pode nos dar uma realidade que não é verdade. Quando dissemos verdade (eletheia) dissemos uma parte da realidade, um ponto que estou vivendo e um fato que estou presenciando. Não há nada que prove que está tendo uma conspiração comunista (extrema-esquerda) assim como, não há uma conspiração fascista (extrema-direita). A realidade está sendo vista como uma coisa real quando começamos a questionar esse tipo de coisa e questionar os meios de informação.

A atriz Juliana Paes não quer – como eu – ter um lado ideológico e é valido, mesmo o porquê, vimos o que resultou e vimos o que virou. Porque o sistema só foi reprogramado, não foi modificado. Os mesmos nomes estão ai e os mesmos nomes ditam, ainda, o que pensar e o que fazer.