quarta-feira, 9 de junho de 2021

Transformação digital não é só para fake news

  




Amauri Nolasco Sanches Junior

 

 

Muitas pessoas românticas – no sentido, do movimento romântico – acham que a filosofia não tem nada a ver com essa transformação digital que estamos vivendo. Até brinco que sou um filosofo blogueirinho, porque as pessoas acham que não existem filósofos que podem sim, usar formas digitais para fazerem seu trabalho ou que não tem nenhuma área além da academia, que não possa atuar um filosofo. Confesso que não sou e nem quero ser um filosofo acadêmico (não nos moldes positivistas que colocaram as universidades hoje).

 

Cada vez mais, as empresas de tecnologias se deram conta de que se precisa colocar no meio do quadro de seus funcionários, pessoas voltadas para a discussão ética e também que tenham uma visão critica diferente aos técnicos que desenvolvem os softwares ou constroem ou modificam as redes sociais. Por isso, a formação na área de filosofia pode oferecer uma capacidade que é muito valiosa dentro das empresas de tecnologia e para desenvolver uma discussão dentro da ciência e dentro da ciência tecnológica. Mesmo o porquê, é muito perigoso se pensar que se pode avaliar uma função por causa da sua utilidade, ou seja, aqui no Brasil se tem muito isso, dar utilidade as funções e avaliar essa função através da utilidade dela. Herança positivista.

 

O problema é a ética numa visão contemporânea e como se lida com toda essa discussão da tecnologia e seu uso. Ética, desde quando surgiu na Grécia antiga, tinha que rever a capacidade do ser humano em atos que agregavam e os que não agregavam. Aristóteles foi muito mais longe, disse que a ética não poderia ser só uma teoria e sim, deveria ser um ato pratico. Graças aos romanos, um tempo depois, a ética passou a ser a ciência da moral porque na tradução latina de ETHOS (grego), se diz MOS e no plural MORES que deu origem do termo moral. Enquanto, ética explana o lado do caráter do ser humano, a moral explana o lado do modo que lhe damos com nossos costumes. Ou seja, a ética vai estudar esse modo que lhe damos com os costumes e vai avaliar no viés do caráter de cada individuo.

 

Mas, muitos leitores devem estar perguntando: o que tem isso com a transformações digital? Como instrumentos inventados e construídos pelo ser humano, também podem ser usados com seus interesses e quem o financiam. Hoje, mais do que nunca, as redes sociais são usadas como formas de manipulação não só de opiniões, mas também do consumo de certos produtos e certos serviços. Exemplos temos inúmeros, desde fotos das garotas nuas por um pix, até mesmo, produtos que de repente você está procurando e eis – por ter usado o Google – ele chega na sua rede social. Mulheres artificiais no oriente (Japão) entre outras coisas.

 

Esses temas foram explorados em series na Netflix – como Black Mirror e Love, Death & Robots – onde a tecnologia e a ética humana são levadas a um interesse. O consumo desenfreado. A maquina querer pensar sozinho. O bem e o mau de outra perspectiva (como o bicho papão do Natal). Mesmo o porquê, o ser humano como um ser consciente da sua realidade, não só raciocina e sim, ele sente e transforma essa realidade a partir daquilo que enxerga. Se ele enxerga um mundo materialista e tudo gira em torno dos bens materiais, ele vai construir valores automáticos sem desenvolver uma empatia por outro ser humano. Educar é esse processo.

 

A propagação de noticias falsas – que, na verdade, são informações falsas – são um reflexo do modo do que a grande maioria enxerga a realidade. Não é muito diferente do japonês que casa com uma boneca de silicone, pois, é  a realidade que ele enxerga por ter aprendido valores só materiais e não sentimentais. Estamos uma sociedade automatizada, com muita sede de prazer e dinheiro e pouca sede de saber. O paradoxo é esse: com tanta informação no nosso poder (com a internet), as pessoas estão pouco aptas a acessar ela. Sócrates disse isso a dois mil e quinhentos anos atrás, ele não poderia fazer o “parto” de ideias, sem que a pessoa não tivesse “gravida” dessas ideias. Ou igual Jesus, não podemos dar perolas aos porcos, porque senão, eles vao destruir essas perolas.

 

As inúmeras transformações digitais, facilitaram e muito o ser humano da sua vida diária e no trabalho. Por outro lado, essa transformações – como um meio evolutivo – não teve a mesma evolução na educação no sentido ético. A energia nuclear pode fornecer energia elétrica, mas pode arrasar cidades ou nações inteiras com os misseis nucleares. Isso tem a ver com a energia nuclear ou a utilização dessa fonte de energia? Não tem a ver com a ética? Do mesmo modo devemos olhar na noticia falsa algo nocivo que, eventualmente, vai trazer estragos para a sociedade que vai alimentando crenças falsas e atitudes que podem prejudicar o bem estar das sociedades humanas.


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