domingo, 29 de maio de 2022

Gustavo Lima e a farra do dinheiro publico

 







“Todo homem que tem o poder é tentando a abusar dele (…). É preciso que, pela disposição das coisas, o poder freie o poder.”

MONTESQUIEU

 

Talvez, uns dos grandes problemas da nossa república democrática seja a ideia da ética. Já trouxe essa discussão ética em um dos textos desse blog – não lembro quais – onde trouxe a questão do ETHOS grego dentro da sociedade da polis daquela época. Também, trouxe que entre os gregos e o mundo moderno está o império romano – de alguma forma, continuou em um âmbito católico durante a era medieval – que produziu uma outra coisa, o MOS ou no plural, MORES. O mundo pós-moderno colocou a ética dentro de uma ciência que estuda a moral, mas, na sua essência, ética tem a ver com o caráter dentro da problemática social onde a moral vai dar as regras de um bom viver. Se a ética tem a ver com os valores aprendidos dentro da nossa educação (familiar) que de certa forma, dá um redirecionamento para a moral. A questão poderia ser discutida dentro do que Aristóteles dizia sobre a ética (ethika) ou o que Kant diria da moral (mores), mas, o ponto é que viemos de uma cultura medievalista, somos herdeiros diretos da escolástica. Talvez, o ponto é: temos a ética frágil porque somos uma cultura burocrática e que prezamos nossos costumes até onde não atrapalhe nossa meta.

A questão nem seria o valor pago do Gustavo Lima – que a mídia noticiou como R$ 1,2 milhões de reais – mas, a questão da não melhoria das cidades que esse dinheiro poderia ser usado. E, o porquê o cantor concordou já que sabia que o dinheiro faria falta para os cofres da cidade? Daí entramos em Kant e a intensão do show e o porquê tem pagado tanto – as prefeituras – por shows não culturais e que não iriam trazer nada para ninguém na cidade. Mesmo o porquê, o que achamos bom e gostosos, outras pessoas podem não achar bom e gostoso e não querer pagar esse tipo de show. Por isso mesmo – pegando o gancho de Sócrates e Platão e o problema da democracia – deveríamos repensar essa questão da maioria, porque existem questões, que a grande maioria pode impor e impondo vai obrigar a grande minoria a ser submetida a esse tipo de situação. Por outro lado, quem garante que a grande maioria sabe o que a cidade ou uma comunidade quer realmente? Os marxistas resolveram essa questão – que Marx expos dentro da sua obra – dizendo que a grande maioria, na verdade, estão alienados e escolhem o que dizem para escolher. Será mesmo? Será que a grande maioria é ignorante o bastante, que um show é menos importante do que uma rua asfaltada ou um hospital construído? Se essas coisas tivessem sido construídas, não teria problema nenhum em contratar cantores, mas, não é a realidade da maioria dos casos.

E Sérgio Reis solta essa: “é dinheiro para o público, não é dinheiro público”. Ora, se o dinheiro da prefeitura não é público, então, de onde esse dinheiro vem? Daí entramos no mundo encantado da opinião do nosso povo, pois, se eu não concordo, por exemplo, está errado e deve ser proibido, se eu gosto, está tudo bem. Desde muito jovem venho observando velhos sinais de favorecimento daqueles que “puxam o saco” ou que de alguma maneira, tragam “benefícios” para si próprio. Esse favorecimento não era qualquer favorecimento, tinha que ser um favorecimento que traria poder e a sensação de ser superior. Era um ressentimento que caia – de alguma maneira, ainda cai – nos que achavam ser inferiores e isso fica muito claro, nas minorias como nós (pessoas com deficiência). Mas, o porquê disso? Por que as pessoas tendem a acharem que tudo deve trazer “vantagem”? De onde vem a ideia da vantagem?

Talvez, a questão da vantagem seja uma questão de sermos colonizados por bandeirantes que queriam achar riquezas e voltar para a metrópoles (como chamavam Portugal). Para chegarem as suas metas – enriquecer e serem poderosos, pois, a grande maioria era nobres endividados (inclusive, Pedro Alvares Cabral) – tinham que conseguir comprando os indígenas, escondendo a maior parte em locais não acessíveis ao reino e esconder o que estavam fazendo. Só que a maioria, nunca voltou ou ficou rico poderoso. Na verdade, Portugal e seu rei, fizeram como um feudo para produzir aqui o que eles não tinham lá. Os bandeirantes, por outro lado, começaram a casar e ter filhos com as índias e assim, ficaram e tinham o que precisavam. Até o reino de Portugal achar “imoral” e mandar órfãos para os homens nobres se casarem aqui, não queriam que eles voltassem. Na essência, somos uma nação feudalista que ainda acha que o agronegócio dará frutos para o Brasil, por isso mesmo, o Brasil nunca pode se modernizar, nunca pode tratar e melhorar os interiores dos Estados e fazer uma grande modernização. Não que o agronegócio é errado, mas, no Brasil, só isso não vai trazer emprego e progresso.

Nossa cultura feudalista-sertaneja sempre levou o Brasil para o atraso, para a idolatria da ignorância e da incapacidade de pensar e trazer uma coisa cultural mais útil. Mesmo assim, sabemos por que existem isso e o porque da idolatria da ignorância. Por que não coisas que façam pensar? Aliás, por que coisas que façam sofrer?

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior – 46 anos, técnico de informática, publicitário, filósofo da educação e futuro bacharel em filosofia.

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sábado, 28 de maio de 2022

Meu amigo bêbado nem conhece Sócrates

 



A tradição filosófica – desde Tales de Mileto – diz que o exercício filosófico é o encontro da sabedoria enquanto verdade. Mas, não é uma verdade qualquer, é o porquê que existe algo e não o nada. Na nossa mente – isso desde muito tempo – existe sistemas lógicos que tentam entender a realidade enquanto tal. A vaca tem uma origem, assim como nossa espécie deve ter, assim como a arvore deve ter e ai, chegamos a uma origem. A origem tem sido um dos objetos mais discutidos dentro da filosofia nos últimos 3 mil anos e já é uma tradição, mesmo que a irmã dela, a ciência, tenha se empenhado em achar essa origem, os filósofos já debateram muito. Mas, indo bastante além da origem de tudo, o que será que esta por trás da verdade e a realidade? Pois, verdade vem de aletheia e esse termo grego era designado para a realidade de todas as coisas, aquilo que está bem além daquilo que entendemos. Pois, tudo que vive, tem autonomia e isso era a liberdade (eleutheros) – os gregos tinham uma outra visão de liberdade – hoje, a liberdade tem uma outra conotação.

Mas, voltando a verdade, os gregos tinham uma ideia de realidade muito além do que temos. Aliás, verdade e realidade tem uma única definição, pois, tudo que existe dentro da realidade é verdade para nós. Porém, será mesmo que esta verdade é verdadeira? Não se sabe. O mundo contemporâneo – porque não a filosofia pós-moderna – pegou a realidade e a verdade e colocou no mesmo escopo da subjetividade e inventaram a desconstrução de verdades que são – em essência – verdades dentro do que acreditamos como verdades. Claro, existem verdades que são verdades que aceitamos como reais, mas, a subjetividade é muito além daquilo que o senso comum pensa. A subjetividade é a capitação daquilo que sentimos graças a nossas percepções e nisso, existem pessoas que entendem esse fenômeno e interpretam como os fenômenos em essência e existem outras, que não entendem esses fenômenos e julgam conforme seu entendimento. Ou seja, nada tem a ver com verdades dogmáticas. Os dogmas é uma outra coisa. Não são as verdades que Nietzsche disse que não são absolutas – essas são dogmáticas – por exemplo, que ele pegou do fragmento de Heráclito. Tudo flui e muda conforme o tempo.

Na verdade, a filosofia que é ensinada no Brasil é cheia de buracos que não são preenchidos. A desconstrução de Foucault também não é essa – do mesmo modo não entenderam várias filosofias – pois, seguindo a filosofia nietzschiana – ele queria desconstruir com dogmas e ensinamentos que já não fazem tanto sentido. Por que haveria de ter um ser mais perfeito do que o outro? Por que pessoas tidas loucas, estão fora da realidade? Sabemos o que é ou não realidade? Se não sabemos o que é a realidade, como podemos saber se aquilo é real ou não? Como disse, a realidade não pode ser colocada em uma simples explicação, pois, realidade depende dos fenômenos das coisas que estão em nossa volta. Uma garrafinha de água é um objeto, todo mundo que ver essa garrafinha vai constatar que é o mesmo objeto que eu constato que é real. Não tem nenhuma “interpretação” nisso. A garrafinha é ela em essência. Como podemos achar que ao olharmos o céu, vemos um ponto vermelho (Marte) e dizer que aquilo é uma estrela só porque desconhece que podemos – em períodos do ano – ver o planeta Marte a noite a olho nu (sem telescópio). Então, desconstruir uma verdade dogmática (ou moral) não é o mesmo de desconstruir verdades objetivas, ou seja, o sol vai existir independente daquilo que acreditamos.

Como disse, estamos na era do meme e dos “carimbos de pensamento”. O carimbo da vez é a questão do amigo bêbado ser mais filósofo do que os filósofos consagrados como clássicos, numa tentativa de desconstruir a verdade da inteligência só neles. Acontece, que esse amigo bêbado – numa analise bem profunda – foge da realidade com o álcool, não tem nenhum amor a sua vida, acha que o mundo é uma merda e todo mundo quer prejudicar ele. Ele se vitimiza se embriagando e dizendo que o mundo não presta como se o mundo tinha que fazer o que ele quer. Ele não desconstrói nada, ele só não sabe o que diz. Não há nenhuma verdade em um bêbado – nem de nenhuma droga – porque estão fugindo de uma realidade que eles não podem controlar. Ou seja, não conhecem a si mesmos, não analisam os problemas do mundo, só enxergam sombras das suas próprias ideias. Nem o cara da kombi – o nome esqueci – acho ser um homem inteligente cheio de filosofia. mas, claro, sei muito bem que vão perguntar: mas, Sócrates não poderia ficar bêbado nos banquetes (simpósio)? Uma coisa é ficar alto, outra coisa que ficar sem rumo na vida. Por outro lado, como querem desconstruir discursos e verdades dogmáticas, se fazem o que uma grande parcela da massa faz? Que desconstrução é essa fazendo o que a grande maioria faz?

A meu ver, uma desconstrução filosófica acontece quando não fazemos o que a maioria faz, não ouvimos o que a maioria ouve, não diz o que a maioria fala. Ficar bêbado é o que a maioria faz – porque não consegue achar saída para sua angústia – e se é para agir como a maioria, não precisa estudar. O conhecimento te dará sempre a questão da escolha em progredir ou ficar estagnado na sua realidade, porque você descobre que está sendo enganado e que a bebida só é um analgésico daquilo que não consegue mudar.

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior – 46 anos, técnico de informática, publicitário, filósofo da educação e futuro bacharel em filosofia.

domingo, 22 de maio de 2022

Com uma educação vagabunda, Brasil quer homeschooling?

 





Segundo o portal de notícia da G1 – na qual as pessoas printaram só a chamada – a Unicef (O Fundo das Nações Unidas para a Infância) criticou com a frase: "crianças e adolescentes são sujeitos de direito – e não objetos de propriedade dos pais". A meu ver, a crítica está errada e a coisa tomou proporções binarias políticas e não estão pensando em um modo escolar e a escolarização das crianças. Educação veio do latim <educare> que por sua vez, veio do grego <paideia>. Os antigos tinham, muito bem, definido a escolarização educacional que queriam. O termo <paideia> remonta uma construção de valores de uma sociedade – que os gregos chamavam de ETHOS – e os gregos sabiam o que ensinar. Basicamente, a sociedade grega ensinava: Gramática, Retórica, Música, Matemática, Geografia, História Natural e Filosofia. A sociedade grega, antes de criar trabalhadores, criavam cidadãos (politikon) e assim, nações – até o advento do império de Alexandre e Roma – os gregos conseguiram proteger todo seu legado. Até hoje, temos e herdamos ele.

Já o termo latino <educare> dos romanos – que quer dizer “conduzir para fora” com ex (fora) e ducare (conduzir ou levar) – tem a ver em levar as pessoas viver ao mundo e em uma sociedade, ou seja, conduzir elas para fora de si mesmas, mostrando as diferenças que existem no mundo. Porém, é interessante notar que o termo educação em português tem uma conotação não encontrada no termo em inglês <edication>. Enquanto o termo em português pode ser associado de boas maneiras, principalmente no adjetivo educado, no caso do inglês se refere unicamente ao grau de instrução formal. Assim, temos uma distância enorme com a cultura anglo-saxônica e muito mais a ver, com a cultura latina ou latino-americana.  Somos latinos e não tem nada de errado nisso, os franceses são também e são o que são.

Agora, escola tinha uma conotação bem especifica no mundo antigo. Ora, os gregos tinham como escola (scholé) uma forma de recreação, um ócio que não era uma obrigação. Nesse ócio, se aprendia o básico para ser cidadão. A origem do termo, os gregos tinham como <scholé> que significa descanso, repouso, lazer, tempo livre, estudo, ocupação de um homem com o ócio, livre do trabalho servil, que exerce uma profissão liberal. Ou seja, são ocupações voluntarias de quem, por ser livre, não tem nenhuma obrigação de exercer nada. Em um ponto de vista semântico, escola seria um lugar de estudo, para comentários. Passou para o latim onde é encontrado como “schôla, scholae”, que significa “lugar nos banhos onde cada um espera sua vez; ocupação literária, assunto, matéria, escola, colégio, aula; divertimento, recreio”.

Mas, a escola pública – porque mesmo na antiguidade, as escolas eram destinadas só por uma elite eleita como digna de aprendizado – só aconteceu logo depois da revolução francesa de 1789. No mesmo ano a França instituiu a primeira escola pública com a gestão do Estado, para os cidadãos franceses. Muito embora – sejamos honestos – mesmo de forma catequizante, as escolas brasileiras jesuítas já tinham planos de ensinar índios e crianças da elite dominante. Mesmo de forma precária. Mas, claro, as escolas contemporâneas têm muito mais das francesas do que as escolas jesuítas dos primeiros séculos graças ao Marques de Pombal. Ou seja, nosso modelo educacional é francês e isso é muito evidente, o professor na frente e as mesas enfileiradas.

Acontece que, como um povo que não gosta de ler, não gosta de saber outras coisas a não ser aquilo que acreditam podem dar uma aula na sua casa? O grande problema é que nossa educação escolar ou não, não supre uma ética de cidadão e nem uma moral social. Quantas pessoas não agridem outras pessoas e ate sua esposa ou esposo, porque aprendeu em sua casa ser assim? Claro, isso não quer dizer que uma pessoa não possa agir de uma forma diferente do seu pai – que mostra, que valores podem sim, serem subjetivos – mas, acima da questão da educação esta ainda, uma idolatria familiar que vem do fato de sermos uma sociedade com valores medievos ainda. Qual o problema? O lema da nossa bandeira é “ordem e progresso” e ela veio de uma frase do filósofo francês positivista Augusto Comte que dizia: “O amor por princípio e a ordem por base. O progresso por fim”. Cadê o “progresso por fim”? Vamos ainda achar que lemos o bastante para ensinar por conta própria os filhos?

Como querem ensinar as crianças se nem a notícia do G1 leram e printaram a manchete da matéria?

 

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior – 46 anos, técnico de informática, publicitário, filósofo da educação e futuro bacharel em filosofia.

sábado, 21 de maio de 2022

Devemos ensinar religião nas escolas?




Há uma herança muito forte dentro da nossa cultura vinda da escolástica. Ora porque fomos colonizados pelos freis da companhia de Jesus, ora porque viemos diretamente das escolas portuguesas no primeiro período da colonização – antes mesmo, do marques de Pombal que introduziu uma escola mais moderna. Mas, essa obsessão religiosa sem o conhecimento religioso, vem de uma cultura – não tão pouco vinda da era medieval – que não se tem nenhuma salvação estudando e adquirindo o conhecimento. Ler e se questionar acaba sendo inútil. Mas acima das culturas e práticas medievais, está o positivismo de Comte, onde não há nenhuma salvação além dos especialistas. Mas, acima ainda dessa questão, nossa cultura prefere muito mais a prática do que a teoria. Nesse fator nos perdemos.

Tendo que responder em um fórum no curso de bacharelado de filosofia que estou fazendo, as perguntas são direcionadas no que diz respeito ao ensino de religião nas escolas públicas. Será que seria interessante ter ensina de religião nas escolas? Qual a religião que será escolhida para ser ensinada? Daí entra as questões perguntadas dentro da matéria Filosofia da Religião.

 

1) O que você acha do ensino religioso escolar? Deve ser confessional?

 

Temos que entender como nação – não só como cidadão – que existe várias religiões e pessoas que seguem essas religiões. Claro, que nesse mesmo contexto, os filhos (pelo menos, num primeiro momento) vai seguir o que os seus pais seguem. Além do mais, segundo a Constituição de 1988, o Estado brasileiro é laico para, exatamente, abrigar essas várias religiões que existem no Brasil. Aliás, o Brasil é muito famoso em ser tolerante com várias religiões e por não ter guerras ideológica. O fato é que, como todas as áreas humanas, existem fanáticos que não toleram o diferente. Tudo roda envolta da liberdade. Por quê? Porque tem a ver com escolhas e as escolhas têm a ver no que estamos carregando como subjetividade de valores.

Por isso mesmo as pessoas dizem que a religião tem a ver com a moral, porque ela se liga com os valores que nossos antepassados criaram. No caso de uma religião, se não concordamos, mudamos de religião e isso vai ser muito decisório do modo ético que vamos seguir. Acho – como muitos filósofos – que a questão religiosa tem muito a ver com as conditas morais das pessoas e como elas se comportam diante da sociedade. Mas, você pode me perguntar: onde fica Deus nessa história toda? A meu ver, Deus como entidade metafisica – desde Aristóteles – tem muito mais a ver com a espiritualidade e o mudo que enxergamos na ótica espiritual.

Deus tem o conceito segundo a sociedade que o interpreta, mas, a meu ver, seria impossível definir ele de forma exata.

2) O que fazer quando nem todas as confissões religiosas são oferecidas como ensino nas escolas?

Como disse um pastor num livro que estou lendo – A Religião dos Primeiros Cristãos de Gerd Theissen – a religião é semiótica e depende muito dos símbolos e imagens para se sustentar perante a sociedade. Portanto, quando dissemos que há uma necessidade de se ter religião nas escolas, se estar dizendo que as religiões devem ser aprendidas. Ora, a pergunta é: qual religião deve ser aprendida? Pois, há uma grande tendencia do nosso país de ser cristão – por ser colonizado por uma nação cristã – mas, tem um outro problema, porque há outras variações cristãs. Quais delas iriam prevalecer? As questões são bastante complexas.

A questão sempre fica nas entranhas da moral e dos costumes de um povo. Mas, aqui no Brasil, sempre tendemos a ser universalistas por abrigarmos milhares de outras religiões e outras culturas, mesmo o porquê, a base colonião sempre foi cristã. Então, e as religiões africanas? E as mitologias indígenas? Há questões a serem resolvidas e no ensino das religiões, tendem a ficar de lado por razões políticas e eleitorais. Quem iria votar em um candidato – sendo nossa sociedade em maioria cristã – que abra o ensino nas escolas para outras religiões?

 

3) O ensino religioso nas escolas públicas mantidas pelo Estado (municipais, estaduais e federais) deve ser obrigatório com a presença facultativa do aluno como prescreve a Lei vigente?

 

A meu ver, crianças não deveriam ser expostas a nenhuma religião até ter idade o suficiente para escolher. O Estado não deveria se meter nas escolhas individuais, deveria apenas ministrar uma grade que pudesse dar a chance de ser ensinado o básico. Além, claro, ser ministrado filosofia dentro desse currículo como a prática de uma ética mais forte – que estamos vendo, está muito enfraquecida – e, se poderia ensinar filosofia da religião que é muito mais profundo do que a própria religião.

Ao que parece – e isso é bastante importante – o brasileiro colocou a responsabilidade da educação em instituições públicas ou não. A ética e a moral não se aprendem só na religião, se pode ir as igrejas e ter uma vida religiosa regular e não ter ética, porque a ética tem a ver com caráter. A religião mexe muito com a moral, pois, a religião tem a ver com comunidade. O coletivo. O caráter tem a ver muito mais com o indivíduo e seus valores, ou seja, as crianças aprendem com o exemplo. Daí a educação, pois, educare latino é mostrar a realidade as crianças e não mostrar o que se quer mostrar dentro de um pensamento restrito. O pensamento brasileiro é restrito e tem raízes muito antigas que vão muito além do mundo moderno. Afinal, criamos os filhos para nós mesmos ou para a sociedade?

4) Que impacto o ensino religioso nas escolas pode causar na vida social, se os conflitos de interesses entre diferentes religiões não são resolvidos?

 

Não. Porque, inevitavelmente, vai tender favorecer uma religião. Segundo um livro que estou lendo sobre idade média, o filósofo fala que a própria igreja católica deixou os reinos laicos. Isso mostra como laicidade não tem a ver com ateísmo, mas, governos não deveriam ser ligados a alguma religião e ter liberdade para isso. Não sei se é verdade – mesmo o porquê, vimos várias resoluções medievais fanáticas – mas, isso mostra que mesmo que a própria religião tenta desvincular, as pessoas ficam muito ligadas a elas por questões de dependência afetiva. E no mais – mesmo que seus fundadores eram pacifistas como Buda, Jesus entre outros – a religião sempre foi levada para a política, sempre foi usada ou para a guerra, ou foi usada para convencer os mais humildes a fazerem aquilo que não queriam fazer. Isso tem nada a ver com a existência ou não de Deus.

Aliás, a existência ou não dele, parte da premissa de acreditar na existência de um ser superior, que está muito acima da nossa realidade no qual, nos encontramos.

5) De que forma e com qual conteúdo o ensino religioso pode ser ministrado nas escolas para garantir o diálogo interreligioso e a tolerância religiosa?

 

Esse “conteúdo” poderia ser um conteúdo universal e ecumênico. A questão é: sendo ecumênico, será que pais evangélicos vão deixar filhos lerem ou ver coisas de umbanda ou candomblé? Segundo essa ala do cristianismo – bastante radical – essas duas vertentes vindas da religião africana (ou matriz afro), são do demônio como herança de crenças dos senhores do engenho. Suspeito que esse “conteúdo” vai trazer muito mais discórdia – com a cultura que temos – e vai acentuar que quem manda nos filhos são os pais. Mas, a educação tem que ser, totalmente, dada por ele.

Me parece muito curioso quando vimos o brasileiro seguir aquilo até não mexer nas suas crenças profundas, porque eles não concordam. O grande problema, na maioria dos casos, é que aquilo que não concordam é a essência do negócio. No mesmo jeito, iria ser o ensino religioso.

6) Quem e como se deve capacitar e autorizar o professor de ensino religioso nas escolas públicas?

 

Essa é a questão – mesmo o porquê, quem iria dar esse tipo de aula – pois, como disse já, isso deveria ser ampliado com a filosofia da religião. Fazer discussões interreligiosas, ministrar conteúdos ecumênicos universais, pesquisar sobre as religiões do mundo. Quem vai se dispor em ministrar uma matéria tão ampla dentro das escolas, sendo elas, já saturadas com a própria matéria regular? A educação escolar brasileira é atrasada, pobre, vagabunda e ainda não supre as grandes tendencias do mercado hoje – pensando em fabricas de trabalhadores ao invés de construção de cidadãos – porque se tem uma cultura atrasada, onde políticos e industriais acham que o povo deve ficar ignorante. A questão é muito mais profunda do que isso.

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior – 46 anos, técnico de informática, publicitário, filósofo da educação e futuro bacharel em filosofia. 

segunda-feira, 16 de maio de 2022

Kant e o incrível animal que gosta de ser enjaulado

 





Immanuel Kant (1724-1804) viveu num mundo envolvido no iluminismo, onde seu lema era a liberdade e o conhecimento. Muito embora fora criado num lar puritano – que vai marcar muito sua filosofia crítica – Kant teve dois “encantamentos” enquanto estudante. Uma foi a filosofia do filósofo francês Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) e o outro, as descobertas cientificas e em especial, da descoberta de Nicolau Copérnico (1473-1543). Por isso, vai chamar sua filosofia, de uma descoberta copernicana da razão. Mas, o que seria a razão?

Se entende como razão uma faculdade de raciocinar, compreender, julgar e tem a ver com a inteligência. Também, podemos dizer, que a razão é o raciocínio que conduz a uma indução ou dedução de algo. Segundo a Wikipédia:

 

“Razão é a relação existente entre dois valores de uma mesma grandeza, expressa geralmente como "a para b", a:b ou a/b, e algumas vezes representada aritmeticamente como um quociente adimensional das duas quantidades que indica explicitamente quantas vezes o primeiro número contém o segundo.”

 

Mas, vários filósofos – incluindo o próprio Kant, de certa maneira – tem colocado a razão em um pensamento logico que tem a ver com o pensamento ordenado da matemática. Por outro lado, ter razão de algum assunto é também ter um raciocínio certo sobre aquilo ou acertar a verdadeira natureza de algo que condiz com o aspecto intuitivo. Intuímos, pelos meios dos sentidos, se aquilo é verdade ou não. Porém, os critérios entre a realidade e não realidade – como verdade ou mentira – são subjetivos e dependem de alguns fatores entre os valores que carregamos. O sonho iluminista – digamos assim – era que, quando o ser humano deixasse de seguir ordens religiosas, a razão iria predominar e o mundo seria muito mais harmonioso e o século vinte provou que não é bem assim. Mesmo com as ciências – como forma empírica de provar se aquilo é verdade ou não – que são consideradas formas racionais de se descobrir a verdade, não ficamos livres do fanatismo e das guerras. Então, será que os iluministas estavam errados?

Hoje – depois de várias pesquisas na área – sabemos, que o ser humano não usa só a razão para tomar decisões. Certamente, o ser humano usa o sentimento dando equilíbrio entre a razão e a emoção, que de certa forma, constrói a ideia da consciência. Existem até mesmo alguns cientistas, que arriscam afirmar que não haverá meios de ter uma inteligência artificial por causa da parte sentimental da consciência. Os iluministas pensavam em suas teorias, que o modo religioso passava muito mais no crivo dos sentimentos do que no crivo da razão. Por isso mesmo, achavam que com a razão muitas pessoas ficariam mais sabias e não precisassem de conflitos os mitos. Mas, ainda sim, há uma coisa bastante interessante no artigo de Kant para responder “O que é o esclarecimento?”: a liberdade através do esclarecimento.

O esclarecimento é o ato ou efeito de clarear, de explicar o sentido de alguma coisa. Dar elucidação. Informar. Algum dado educador. Esclarecer, de algum modo, é educar, dar as novas gerações a noção da realidade e da razão, mas, para Kant, ate a razão, muitas vezes, não demostra a realidade. Mas, a outra face do esclarecimento é a liberdade. A questão que permeia a filosofia é: qual a essência da liberdade? Será que temos mesmo a liberdade? O esclarecimento não deu uma maior liberdade e nem mesmo, libertou o ser humano de construir ídolos para serem adorados. A liberdade em si, continua com o mito da responsabilidade, ou seja, temos que ter tutores até mesmo, quando cogitamos a liberdade. O ser humano é o único animal que gosta de ser enjaulado, porque construiu para si mesmo, jaulas morais e jaulas ideológicas. Não que não devemos ter empatia, mas, não somos responsáveis com as escolhas dos outros em fazer ou falar aquilo que quiserem. Qual o critério nesse caso? Há algum critério?

No texto que Kant escreve em resposta a um jornal Berlinische Monatschrift – em abril de 1783 – que muito biógrafos dizem um ano depois da pergunta, vai resposta o que seria “Aufklärung”. Uns traduzem como iluminismo (na maioria dos casos, traduções francesas) outros traduzem como esclarecimento (como as traduções portuguesas). Esclarecer para Kant, não é só ficar sabendo de algo – digamos assim – mas, é como se o saber fosse uma ousadia. Talvez, mais profundamente, a resposta a pergunta fosse “saprere audi”, o ouse saber. Mas, o que seria ousar saber? Ousar saber é muito mais do que o conhecimento, é ter coragem de ir mais além do que opiniões alheias. Não ficar escorado em cima de tutores espirituais, tutores políticos ou outros tutores que te levam ao abatedouro. O termo “gado” vem daí, vem da analogia de conduta do gado ao abatedouro e, talvez, eles sabem do seu destino. Por que não se salvam? Por que não tem consciência? Talvez. Por isso mesmo, Kant vai usar minoridade ou maioridade – não em questão de idade – para designar aquele que sabe, mas é cômodo seguir aquilo (por causa da turva), e a maioridade que é aquele que não vai atras da maioria.

Por que as pessoas vão atras da grande maioria? Para Kant, quem não consegue se libertar é por causa da “preguiça e a covardia são as causas”, ou seja, é muito mais cômodo seguir um sacerdote ou um político e não questionar. O porquê temos que repetir tais palavras? O porquê temos que seguir tais ideologias? Esse tipo de dogmatismo – que ele queria acabar com a metafisica religiosa – traz o ser humano no âmbito de seguir sem nenhum critério. Ou seja, não se tem o critério da razão – pelo menos para Kant – e ainda, não tem como julgar as questões para seguir ou não. Hoje, como disse, sabemos que existem muitos outros fatores para a grande massa seguir uma determinada maioria. Mesmo que as pessoas digam que “fulano não pensa”, mas, não existe ser humano que não pense. Claro, vimos isso nos movimentos terraplanistas, os antivacinas ou até mesmo, aqueles que seguem religiões ou seguem ideologias sem questionar o porquê seguem.

Podemos imaginar – se Kant vivesse na nossa época – se iria concordar com esses movimentos, pois, para ele, só do fato das pessoas seguirem outros sem questionar, já seriam pessoas acomodadas e que não vão ousar saber. Saber não é negar, e nem negar é questionar, é apenas negar sem saber o porquê. A negação sem questionamento é só um ‘não” vazio, sem proposito, sem um porque de existir.  O próprio Kant vai dizer: “Sapere aude! Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento”. Ou seja, ter coragem de usar seu entendimento mesmo que isso, inevitavelmente, se fique sozinho com sua opinião. Todas as pessoas que ousam saber, de algum modo, ficam solitárias porque as pessoas não gostam de pessoas que questionam. Questionar tiram as pessoas da zona de conforto. E ouso dizer, alguns acadêmicos também não ousam saber, só repetem aquilo que leem, estando como a maioria, na sua zona de conforto.

Mas, o porquê o ser humano tem essa zona de conforto? Para o próprio Kant, existe uma acomodação dentro da comodidade de ter tutores (alguém para se apoiar), mas, há outros fatores que temos que observar que fazem sentido. Por exemplo, qual a necessidade de se ter ídolos? Por que, ainda hoje, se tem que seguir algum líder? Alguns antropólogos – estudiosos do ser humano – acreditam que seguir líderes faz parte da nossa estrutura genética (biologia) por sermos símios (primatas) e assim, temos que seguir o mais forte. O que vimos – de certa forma – é que quando somos adolescentes, sempre começamos a seguir os “populares” e deixando eles como os líderes da turma. Por outro lado – diferente dos outros primatas – temos consciência da nossa realidade e como as coisas funcionam. Isso, os outros primatas não tem – até onde saibamos – e que sempre nos deu uma vantagem evolutiva. A questão é: por que algumas pessoas usam essa consciência e outras não usam essa consciência? Pois, é inegável que seres humanos percebem sua realidade e transforme ela ao seu bel prazer. Se isso é benéfico ou maléfico – num sentido ecológico – é uma outra história, o fato que temos o poder de mudar nossa realidade e moldar ela como achar necessário para melhor viver. Kant não sabia disso – viveu no século dezoito – e mesmo assim, disse que a maioria era acomodada.

Tenho uma hipótese. O ser humano se acomoda porque não sabe que o destino ele quem faz, porque está preso em amarras morais. Não falo do moralismo sensual – que faz parte do pacote, mas... – falo das inúmeras propostas políticas e religiosas, que vendem receitas de viver bem e ser feliz. Ninguém, hoje em dia, quer sofrer, quer ficar triste ou sozinho refletindo sobre a vida. Em seu livro A Sociedade do Cansaço, o filósofo sul-coreano, Byung-Chul Han, vai dizer que estamos numa sociedade imunológica e que se precisa combater o que acha que é uma doença. Porque não estamos mais em uma sociedade da disciplina – como idealizou o filósofo francês Michel Foucault (1926-1984) – mas, numa sociedade do desempenho onde há desenvolvida doenças neurais. As pessoas querem sempre obter sucesso – mesmo sabendo que aquilo lhe trará doenças – e acham que vão mudar alguma coisa com isso na vida. Isso mostra – perfeitamente – que as pessoas mesmo esclarecidas têm que ter coisas a serem seguidas, serem “adoradas” e isso muda muito pouco.

Então, podemos dizer, que o problema não é o esclarecimento e sim, o que fazemos com esse esclarecimento. Afinal, mesmo na idade média, os esclarecidos seguiam ídolos e o poder sem questionar. Medo? As coisas que não podem ser ditas?

Amauri Nolasco Sanches Júnior


 

sábado, 14 de maio de 2022

Cultura da Vantagem – explorando necessidades e fazendo o caos

 




Não há nenhuma dúvida que nós, pessoas com deficiência, somos explorados até o fim. Na compra da cadeira de rodas – ou outros aparelhos – isso não é novidade. Como precisamos desses aparelhos para se locomover, ou para fazer nossas tarefas diárias, acabam tendo preços exorbitantes. Se uma bicicleta básica custa entre quinhentos a oitocentos reais, cadeiras de rodas custam entre mil reais a sessenta mil reais – são as tops do mercado – que é um preço de um carro popular. Mas, o que se deve a esses preços abusivos dentro desse nicho? A necessidade. Não é só as cadeiras de rodas, no começo da pandemia de covid, os comerciantes começaram a elevar o preço do álcool em gel por causa da necessidade das pessoas em comprar esse tipo de produto. Que nos faz focar nosso olhar no conceito da “vantagem”.

Vantagem é uma posição ou uma condição de superioridade ou adiantamento de algo ou alguém com relação ao outro ou a si mesmo em momento anterior. Também, podemos dizer, que é um fator ou circunstância que beneficia ou privilegia seu possuidor, seria um privilégio. Ter vantagem em algo é ter o poder de comandar ou ser mais do que outra pessoa, ou seja, quando se está com certas necessidades as pessoas que vendem ou dão, estão com certa vantagem com as outras. Na história do Brasil – até mesmo, outras nações – isso é comum, pois, lhe dar certo poder de vender o preço que se queira e não o preço justo. Um pneu de uma cadeira de rodas – que tem o mesmo tamanho de um pneu de bicicleta – custa em torno de quatrocentos reais, um de bicicleta não passa de cem reais.

Segundo vários estudiosos do capitalismo – até mesmo nosso capitalismo é diferente – há o conceito de preço do produto e o preço da produção do produto. Mas, no Brasil, as pessoas não querem ter lucros daqui um tempo e isso é uma característica do capitalismo dos anos 1920, ou seja, o capitalismo selvagem, da vantagem, de ter o poder de usar a necessidade para se ter lucro. Talvez, as empresas não enxergaram que quanto mais barato vendem, mais vendem, mais tendem a serem procuradas. As empresas de cadeira de rodas – e órteses e próteses – esqueceram uma lição básica do marketing (aliás, muitas pessoas que não têm qualificação na área administrativa abrem empresas e não sabem administrar), porque atende necessidades e não desejos. Tenho necessidade de uma cadeira de rodas, mas, posso ter um desejo de ter uma cadeira melhor, porém, desisto ao saber do preço. No Brasil, a grande maioria, prefere não vender a vender mais barato. O capitalismo brasileiro, podemos dizer, é um capitalismo de muito atraso e misto. As empresas sempre querem incentivos do governo e acabam sendo financiadas por dinheiro público, como acontece, no socialismo.

A questão é: num país como o nosso é justo ter empresas que exploram as necessidades desses nichos? Acredito – num modo bastante seguro – que essas empresas, e muitas outras, não sabem nem o que estão fazendo. Isso piora quando falamos da lei de cotas de empresas – que sempre querem diminuir por causa da burrice de não saber procurar pessoas com deficiência por, exatamente, não terem curso de administração – porque não querem entender, que o importante não é a aparência das pessoas, mas, a qualificação. Qual o problema de contratar pessoas com deficiência? Se pensava que era ignorância no começo, mas, logo se viu que não é ignorância, o empresário brasileiro ainda idealiza uma empresa com a imagem de pessoas belas (como as empresas hollywoodianas) e que as outras pessoas tenham uma boa impressão dela só pela imagem. Mas, e a eficiência? E as qualificações dentro das especificações necessárias?

Um RH (recursos humanos) sabe hoje, que o importante de preencher cargos são as qualificações das pessoas e não como ela é. Por outro lado, ainda se tem que ter o aval do gerente e nisso, está a idealização da normalidade da aparência. O belo – muito cara em nossa cultura por causa do catolicismo platônico – é um ingrediente para uma empresa. Mas, o que deveria ser o belo? O que as pessoas entendem como estética? Aliás, as pessoas não deveriam se preocupar com a estética e sim, com a ergonomia que a empresa pode dar aos seus funcionários não terem problemas futuros. Mas, vivemos num atraso e não há como convencer uma cultura derivada – e não quer evoluir – da cultura portuguesa medieval, onde as pessoas só querem defender seu feudo e não vê que o mundo mudou e não há como isso voltar o que era.

Mudar paradigmas é preciso!

 

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior




 

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quinta-feira, 12 de maio de 2022

Anitta, a universitária

  




Todo o conhecimento humano começou com intuições, passou daí aos conceitos e terminou com ideias.

Immanuel Kant

 

 

Ficamos surpresos quando a cantora (vide funkeira) Anitta para fazer curso numa universidade de marketing. A questão é: Anitta é uma professora qualificada para dar esse tipo de aula? Claro, dentro da história universitária mundial, devemos olhar que várias pessoas não universitárias (não tendo diploma), ministraram cursos. E – Que é muito bem documentado – não havia qualificação universitária dos professores medievais, que nos faz pensar, que qualificações universitárias são coisas bastante modernas (uma exigência capitalista). Mas, o problema não teria sido esse e sim, segundo seus críticos, tem a ver com o engajamento político da cantora dentro de um viés político e quer chamar, cada vez mais, jovens. De algum modo, é muito utilizado – principalmente pela esquerda – essa aproximação da juventude, ou por causa do idealismo em querer sempre mudar o mundo, ou porque há um conceito de renovação social. Ora, sem dúvida nenhuma, há uma renovação social e seus valores caros. Antigamente, as mulheres não podiam votar, hoje podem. Antigamente, a educação era feita do modo de dor e repreendimento, hoje, na maioria das vezes, não é mais. A renovação vai se fazendo sempre.

Mas há um fator na nossa cultura: ela confunde conservar instituições com conservar tradições. O conservadorismo não é o mesmo de tradicionalismo. Por outro lado, as tradições brasileiras na sua grande maioria, foram herdadas de outras culturas. A única tradição, realmente, que é genuína brasileira é a indígena.  Assim mesmo, as questões levantadas dentro da crítica da própria maneira de criticar essa tradição, também é estrangeira. Não desenvolveram nem mesmo uma crítica brasileira – como o brasileiro constrói um conceito – dentro da ótica da nossa visão de mundo. Por exemplo, sem demagogia, gostamos de bagunça, festas, até mesmo, putaria. Somos um povo que nunca nos importamos com que imagem nos enxergam lá fora, portanto, quando se faz uma crítica dizendo que as mulheres são vistas como prostitutas ou como sexo fácil, algumas pessoas que fazem as críticas, sempre constroem esse tipo de argumento dentro da sua subjetividade. Se nossa cultura confunde tradicionalismo com conservadorismo, também confunde subjetividade com objetividade.

Subjetividade é como se vê a realidade a partir das suas impressões dentro dos seus valores, enquanto a objetividade é o objeto da sua impressão dentro da realidade irrefutável. Um copo não pode ser subjetivado e sim, objetivado. Visões políticas e religiosas são subjetivas. O grande problema nisso tudo é que, somos herdeiros de uma universalidade de algumas visões sociorreligiosas que a igreja católica sempre colocou – usando a filosofia de Platão – e se ficou com algumas verdades universais. Será que as realidades não se convergem? Mesmo que sim, não são a mesma verdade para duas pessoas.  Aí se entra na linguagem, porque a imagem de uma mesa (significado) não é o mesmo de escrever mesa (significante). A imagem da mesa (semiótica) não será a mesma para duas pessoas, então, não se tem um absoluto dentro da verdade da mesa. Ainda tem um outro aspecto, não tão menos importante, existem formas de mesas e materiais diversos que são feitas. Então, a verdade da mesa fica a critério de quem descreve a mesa em si mesma.

A imagem da mulher imaculada – visão católica – é bem a imagem idealizada de uma visão sociorreligiosa medieval, onde as mulheres eram culpadas do pecado original. Será que a mulher não é um ser humano? Não pode fazer escolhas? Podemos ver que a questão não é se a cantora tem diploma, mas, a imagem que ela passa como uma cantora que mostra o corpo (vide: a bunda). Mesmo não gostando da sua música, a questão é sobre liberdade. Se a esquerda tem um discurso de ser democrática (na maioria das vezes, não é), a direita tem um discurso de ter liberdade (também não são). Então, o que nos faz pensar que, o fanatismo de extremismos dominou todo um discurso mundial. Temos, nesse momento, ter muito cuidado de fazer críticas pontuais de algo ou de alguém. Claro, o cancelamento iria me divertir.

Amauri Nolasco Sanches Júnior




terça-feira, 10 de maio de 2022

Conhecimento e linguagem – a era do binarismo político e do bundalismo selvagem

 



 




Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses.

Sócrates

 

O que é conhecimento? O ser humano sempre está à procura de conhecer sua realidade e para saber da realidade – num modo do fenômeno entre mim e o objeto – temos que ter a linguagem (como forma terminológica dos objetos) e a forma de semiótica (que são a construção do termo onde designamos um objeto). Uma mesa, por exemplo, chama mesa um pedaço de madeira (ou outro material) que tem uma parte plana e quatro ou mais pernas como apoio. Mas, uma bancada – uma tabua apoiada em apoios – pode, também, servir de mesa e que pode designar um lugar de apoio para ou escrever e ler, ou para fazer qualquer tarefa que exige um apoio em ficar país alto no chão. Para o linguista suíço Ferdinand Saussure (1857-1913), existe a linguagem (langue) e a fala (perole), onde existe o significante (o corpo da ideia) como o significado (a alma do termo em forma de conceito). Ou seja, a linguagem é social e a fala é individual. Mas, ela é construída em cima de uma porção de signos (semeion) e sem eles, não dará para entender nada o que se quer expressar.

Quando digo que “estou escrevendo na mesa”, já se tem ideia o que é escrever e o que é uma mesa. A uma interpretação enquanto simbologia dentro das falas e comunicação e assim, poderemos ser entendidos graças o significado de escrever e mesa. Ora, as redes sociais tendem – pelo menos, a grande maioria – a sermos claros na escrita e sempre procurar aprimorar tanto nossa capacidade de escrever, quanto a nossa capacidade de interpretar aquilo que se escreveu de um modo claro e que podemos concordar ou não. Aí há um perigo: existem modos subjetivos dentro daquilo que queremos interpretar, pois, tem a ver com as nossas crenças (enquanto religião) e tem as nossas convicções políticas (enquanto pensamento ideológico político). Se dizem ser contra o atual presidente – que se diz de direita e conservador – já ligam essa pessoa ao escopo da esquerda revolucionária (como se só existisse esse tipo de esquerda). Do mesmo modo, podemos dizer quem fala contra o candidato adversário onde são chamados de fascistas, nazistas etc. por que isso? Quando alguém é chamado de comunista – ideologia de esquerda – todo mundo acha que é uma ofensa, mas, quem não é de verdade não vai se importar e quem é, vai confirmar sua ideologia dizendo “sou mesmo”.

Mas, o que poderia dizer um “sou mesmo”? A conformação de um pensamento, indo mais fundo, é uma confirmação ideológica ou uma afronta. Aqui – no Brasil – há um grande vicio em colocar tudo em uma <<caixinha>> e dizer que a culpa de um individuo ser canalha é só do fato dele pertencer àquele grupo. Ora, só porque a mulher que mente ser feminista, isso não quer dizer que isso é coisa do movimento feminista. Mas, venho observando esse coletivismo que temos e chego à conclusão que se tem raízes muito fortes em países latinos. Todo discurso parecido se torna ou fascista ou comunista. Daí a importância de uma certa interpretação dentro da ótica do significado de cada signo linguístico, onde se separa a linguagem (coletivismo) com a fala (individualismo). Por que as pessoas ainda insistem com esse tipo de generalização? Porque é muito mais fácil do que detectar um indivíduo canalha.

Então, o conhecer não é só a informação e sim, codificar a informação e conhecer seus objetos dentro dos inúmeros signos que são retratados dentro de uma frase, por exemplo. O grande problema – e o principal deles no mundo digital pós-moderno – é que se acostumou a ver as coisas de uma forma de vídeo, pois, o vídeo é muito mais do que ler. Ler você interpreta os termos dentro do seu significado logico no significante que aprendemos, o vídeo já tem uma visualização do significado. Um outro problema é a caracterização do meme, ora como filosofia de frases – fora de contexto – ora por causa das imagens que não precisam mais de interpretação. Assim mesmo, antes de tudo que você possa imaginar o contexto daquilo, a imagem te mostra como algo já pronto. Essa rejeição da leitura na nossa cultura – a prática sempre foi uma constante e por isso dizemos “fazer nas coxas” – pode ter colaborado para uma não construção dos meios de cultura própria. Não temos um hábito de nos afeiçoar com nossa própria cultura.

Ainda há uma degeneração da cultura que chamo de <<bundalismo>> onde simbolismos são destruídos para colaborar com esse binarismo político. Se coloca esses mesmos extremos como moralismo e bundalismo, como se as pessoas quisessem qualquer um dos lados e isso não é verdade. Posso não querer tomar uma posição. Nem todo branco pode ser, totalmente, branco. Como nem todo preto tem que ser totalmente preto, pois, ainda há o cinza. Ou seja, digamos, o cinza seria a síntese das coisas.

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior

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domingo, 8 de maio de 2022

Fascismo acadêmico




Ruínas da Academia de Platão (387 aC a 521 dC). O Academos floresceu por mais de 900 anos foi e ainda é, a universidade mais antiga existente no mundo. Foi fechado pelo imperador Chirstian Justiniano, que alegou que era pagão. (A Enciclopédia Internet de Filosofia)


Ser-se livre não é fazermos aquilo que queremos, mas querer-se aquilo que se pode.

Jean-Paul Sartre


Uma das coisas que eu não gosto do intelectualismo brasileiro é achar que filosofia só é filosofia dentro da academia (vide universidades e faculdades). Talvez, por isso mesmo, as pessoas rejeitam a filosofia. Nesses últimos dias, num grupo de PDFs de filosofia, tive uma prova cabal sobre isso. Um rapaz pediu o livro do Olavo de Carvalho sobre Aristóteles e teve uma discussão muito grande sobre o Olavo ser ou não acadêmico. Não gosto do Olavo de Carvalho, não por ele não ser acadêmico – ter diploma – mas, não gosto pelo fato da sua escrita não me agradar e algumas opiniões que acho, muito exageradas e não cabe mais no mundo de hoje. Mas, como amante da liberdade, acho que as pessoas deveriam ler o que quisessem e tirar suas próprias conclusões (particularmente, detesto aqueles livros de filosofia que tem de 30 a 50 páginas de introdução ensinando como ler o autor).

Democracia pressupõe diversidade de opiniões e gostos – que sempre foi muito normal dentro da história humana – onde as pessoas devem sempre acharem aquilo que te faz feliz. Felicidade e liberdade andam juntos. Mas, o que esperar de um povo onde você é expulso de um grupo anarquista por causa de divergência de opiniões? Mesmo o porquê – uma característica da nossa cultura – existem fatos que não se comprovam, como o anarquismo contemporâneo ter vindo do socialismo científico de Marx. Muitas das ideias que Marx usou, são ideias de Proudhon e de Bakunin (isso está devidamente documentado). Estranhamente, nosso povo tem alguma necessidade de fazer de ideais ou qualquer coisa como religiões, como ser vegano, como ser de direita ou de esquerda, ser a favor ou contra o capitalismo etc. isso me faz crer, de algum modo, se tem a necessidade de construir ídolos para impor pensamentos ou, esses ídolos endossarem aquilo que elas acreditam. Como quando éramos criança e dizíamos: “está vendo? Eu tenho razão”. Essa “infantilização” da nossa cultura tem origens bem da raiz medievalistas da nossa cultura – mesmo achando, também, que há um ressentimento forte e muito bem enraizado – pois, sem o soberano não se é nada (soberano nesse caso, tem a ver com a questão do Estado também).

A “infantilização” do nosso povo se agrava quando entra na nossa cultura o positivismo-marxismo, que tudo tem um porquê e uma utilidade. No positivismo comtiano (Auguste Comte), tudo não passa se não for cientificamente, que na filosofia é uma situação quase ditatorial. A filosofia é feita de conceitos (dar forma) e não pode estar amarrada em termos e pensamentos científicos, porque isso tira a liberdade de inventar conceitos do filósofo. Claro, podemos usar e não podemos negar as teorias já comprovadas e pesquisadas, mas, existem coisas que não podem amarrar a filosofia. Já o marxismo, graças a uma famosa frase de Marx, acha que o filósofo tem que mudar o mundo, negando a parte mais racional e enfatizando a parte pratica. Ora, a teoria marxista – que é bem mais vasta do que a obra marxiana – não mudou o mundo e colocou o mundo político de uma forma binaria que prejudicou ainda mais o debate político. Sua teoria levou ditaduras e mortes desnecessárias – por discordar – de uma teoria que, em tese, é uma teoria que foi ampliada com o tempo. O pensamento positivista-marxista não tem mais o porquê ser seguido, mas, foi devidamente enraizado dentro das academias como rastro de filosofias que não existem mais.

Algumas universidades – como a universidade onde eu estudo – já não tem bibliografias (conjuntos de livros) engessados em “verdades” acadêmicas como se aquilo fosse importante. Não dá (só) para ler autores de cunho acadêmico do século dezenove – sendo que muita coisa foi encontrada no século 20 – tem que se ampliar, se pensar em algum modo melhorar o modo de pensar em forma de crítica. A filosofia não pode se tornar um dogma – aliás, desde os seus primórdios, a filosofia tem quebrado certos dogmas - e sim, um modo de criticar até mesmo a crítica. Desconstruindo discursos prontos. Destruindo alicerce morais e dogmáticos. Destruindo, até mesmo, ideologias massificadas como verdade prontas.

Fascismo quer dizer um feixe unido num bastão – ou numa machadinha – que mostrava o quanto aquilo simbolizava o poder. Talvez, os acadêmicos se esqueceram das suas origens, daquilo que deveriam preservar e nem acredito que foi, totalmente, culpa da igreja católica. Mas, a ânsia de desvincular a filosofia e a própria academia das influências católicas começaram a achar que isso era através de estudos científicos (empíricos) sistemáticos. Nesse momento – por razões da opressão religiosa da época e da era medieval – se começou a achar que é superior a imagem do estudo acadêmico. Ora, a academia como tal, não começa com estudos céticos e poucos populares e sim, com o que Platão tinha em sua época. Até mesmo o nome academia, vem do deus Academus onde Platão construiu sua escola (os jardins de Academus). Então, se na tradição a academia vem de uma coisa popular (senso comum), será mesmo que deveríamos (como acadêmicos) rejeitar essas coisas e não facilitar a linguagem para abranger tais camadas?

Amauri Nolasco Sanches Júnior 

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quarta-feira, 4 de maio de 2022

Musk soltou o passarinho e o Facebook vai tomar no Orkut

 




Nestas alturas, todo mundo sabe, que o bilionário Elon Musk comprou o Twitter. O CEO da Tesla disse que vai liberar as pessoas a colocarem suas opiniões e se alguém se sentir ofendido, abram um processo dentro dos transmite legais. Isso seria logico e normal num país consciente. E não é só isso, depois do anúncio dessa compra, o criador do Orkut anunciou a volta da rede social. Mesmo isso esteja ocorrendo, sabemos que os norte-americanos não gostavam muito do Orkut, e ele só fazia sucesso no Brasil por causa da novidade gerada em cima dessa rede. Mas, no final dele, a grande maioria já tinha migrado para o Facebook ou para o Twitter. Até mesmo, num modo linguístico, a pessoa definia gifs ou memes como “orkutaram o face”. Então, será que algumas coisas podem mudar?

O Twitter sempre dependeu da linguagem para você ser aceito ou não, que mesmo com alguns momentos de censura, é uma rede social que tem mais liberdade. As bolhas podem ficar diversificadas e plurais – mesmo as pessoas acharem que os perfis fakes eram pessoas censuradas – há uma diversidade muito maior. A crítica ao Musk gira em torno do valor que ele pagou para a compra do Twitter – aproximadamente, 46 milhões de dólares – e que, assim dizem, acabaria com a fome do mundo. Musk respondeu que se a ONU (organizações das nações unidas) trouxer comprovantes de cada campanha em cada país do mundo com pobreza, ele pagaria até mais. Sabemos muito bem – isso é mostrado dentro da história – que a fome tem a ver com as guerras narrativas do poder, ora por pessoas que defendem a eliminação, ora com pessoas defendendo que deveriam dar oportunidade de trabalho. Sabemos também que, dentro do capitalismo, estereótipos de empregados que mesmo obsoleto, ainda são usados como critério de se contratar. Essas imagens vêm de séculos que se impregnou com imagens não reais de um mundo não real. A realidade é que existem pessoas com qualificação que precisam trabalhar, e que muitas vezes, não tem a imagem que o dono da empresa idealiza.

A fome – por incrível que pareça – tem a ver com a liberdade, pois, não poder trabalhar ou estudar, tem a ver com repreensão. Repreender, nada mais é, do que medidas de conter uma autonomia e pode acontecer ou por causa de governos ou por causa outros fatores. O preconceito e a discriminação são um desses fatores. Talvez, a fome seja uma forma inibidora para segurar uma situação para um tipo de narrativa dominar. Ou seja, a esquerda – que desde sempre tem o mesmo discurso e mesmo governo não resolve – com sua narrativa populista e a direita com sua narrativa demagoga, sempre tomou parte desse discurso como verdades, mais ou menos, realistas. Mas, a realidade é muito mais complexa do que isso, porque a fome tem a ver com fatores socioeconômicos dentro da região que ela acontece. A anos a Somália – pais do continente africano – passa por surtos de fome e miséria por causa da guerra, assim como o sertão nordestino do Brasil, que não melhora por causa das questões políticas da região. Essa questão tem que ser mostrada de forma verdadeira sem lados, pois, a pior coisa de se fazer é colocar a política de forma binaria.

Não existem lados quando se envolve poder e dinheiro, mesmo o porquê, a questão têm a ver com guerras narrativas. Uns vão defender que bilionários não devem existir, outros que devem existir, mas, na verdade, bilionários existem por necessidades do mundo contemporâneo e isso é fato. É um muito fácil dizer que bilionários não deveriam existir e tem um iphone, celular da Apple (que é caro, mas quebra fácil). Se você defende uns dos lados – certamente, como uma guerra armamentista – nunca vai ver o que eu analisei, pois, não acredito em nenhum dos lados. Aliás, a meu ver, filósofos e aqueles que leem muito, deveriam ter uma visão muito mais critica e muito menos binarias de certos assuntos.

Sabemos que Musk tem outros interesses – não vamos ser tão ingênuos assim – mas, essa choradeira tem uma direção e essa direção são aqueles que não gostam de quem pensa diferente.

Amauri Nolasco Sanches Júnior




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terça-feira, 3 de maio de 2022

Skylab e o roqueiro dos anos oitenta


“O filósofo

Você sabe demais sobre absolutamente nada”

(banda Death)

 

Vendo o Skylab no Flow semana passada - quarta-feira (27/04) – dizer que aquele papo estava careta demais, me fez pensar que Skylab é um roqueiro dos anos 80 que sustenta o estereotipo do roqueiro de esquerda, falando um monte de asneira. Claro, o rock como um movimento de contracultura, influenciou e influência várias gerações. Porém, uma das características das muitas vertentes dentro do rock é, exatamente, ir contra o sistema vigente. Se o sistema é de direita o rock começa a tender a criticar a moralidade exagerada, quando é de esquerda idem. Mas, ao que parece, a maioria dos roqueiros desse tempo, tem um sério problema de ver uma pluralidade democrática dentro de uma conjuntura só. É difícil entender – principalmente, o povo daqui – que há um contexto histórico e se você não respeitar esse contexto, você não estará no tempo em que você está. Filósofos budistas dizem que isso é impermanência.

Por que roqueiros devem ser de algum lado? A meu ver, roqueiros são filósofos musicais porque eles usam a estética musical para questionar aquilo, isso faz deles algo como fez a filosofia nos seus primórdios. E outra coisa, se nós (como roqueiros) acreditamos na liberdade, temos que respeitar a liberdade do outro de ser e de pensar como quiser. Não dá para construir ou seguir alguma coisa até a segunda página, como dizem. Ou você segue, ou você não segue, mas, seguir é você acreditar que aquilo te faz feliz. Mas, ao chamar o roqueiro de filósofo – claro, nossa sociedade platônica kantiana vai discordar – eu estou dizendo que o roqueiro tem um viés de questionamento e ate mesmo, questionar o próprio filósofo como acontece com a banda de death metal, Death com a música Philosopher. A questão não é criticar os “papos caretas”, o problema é achar que roqueiros tem que ter um padrão e achar o que você acha.

A musica tem a frase do refrão: “O filósofo/Você sabe demais sobre absolutamente nada” e é verdade, a crítica dentro da crítica. Uma frase socrática? Não. Sócrates lança o desafio de conhecer você mesmo, porque o conhecimento vai te levar a verdade filosófica. Mas, é uma frase nietzschiana de tirar esse limite de não crítica da própria filosofia. A estética enquanto movimento, pelo menos nos séculos vinte, ficou na mão dos especialistas. Mas, intelectual são papagaios literários que só repetem o que leram e nunca refletem sobre o assunto e fazem uma análise. Talvez, o “você sabe demais sobre absolutamente nada” é uma crítica dos filósofos das sombras, o filósofo que tem uma ideologia e se amarra a essa ideologia. Por outro lado, a análise se não houver a crítica da crítica não adianta de nada. Mesmo Skylab tem suas limitações ideológicas de não entender que o Lula errou sim e que fez um esquema de corrupção – como a maioria dos políticos.

Daí a pergunta: qual a necessidade de se ter um ídolo qualquer? Um cobertor quentinho para ficar ali confortável acreditando em promessas que no fundo sabe que é guerras de narrativas? O ser humano é o único animal que gosta de ser enjaulado, sendo em jaulas ideológicas, jaulas religiosas, jaulas de todo tipo. Mas, como disse o próprio Platão, são meras sombras de objetos e pessoas que não existem porque são projetadas graças a idealização do mundo. E o porquê elas não viram para trás e vê que existem pessoas fazendo essas sombras? Porque virar dará um trabalho grande, um esforço que a grande maioria não quer fazer. Virar quer dizer ver a verdade e a verdade tem viés de espanto e esse espanto vai gerar um nada, um despertar de um outro mundo que a grande maioria, não vai aguentar.

Mesmo Skylab não quer ver essa verdade porque isso destrói sua imagem do PT enfrentador de ditadura militar, um estereotipo do roqueiro que tem que seguir um viés de ignorante, que não pode ser culto e que diz que o punk é atitude. Ter atitude não quer dizer que não tem estética – mesmo o porquê, o punk tem uma estética única – e sim, atitudes estéticas também são reconhecidas dentro da música. O mundo da arte está cheio de exemplo, e o rock como estética da contracultura – que o brasileiro moralizou nem sei o porquê – e a crítica da crítica. O rock nacional ficou obsoleto? Não, mas influenciaram até mesmo cantores que não cantam rock. E concordo – mesmo não gostando – que o funk pancadão é o nosso punk.

Amauri Nolasco Sanches Júnior