“Todo homem que tem o poder é tentando a abusar dele (…). É preciso que,
pela disposição das coisas, o poder freie o poder.”
MONTESQUIEU
Talvez, uns dos grandes problemas da nossa república democrática
seja a ideia da ética. Já trouxe essa discussão ética em um dos textos desse
blog – não lembro quais – onde trouxe a questão do ETHOS grego dentro da
sociedade da polis daquela época. Também, trouxe que entre os gregos e o mundo
moderno está o império romano – de alguma forma, continuou em um âmbito católico
durante a era medieval – que produziu uma outra coisa, o MOS ou no plural,
MORES. O mundo pós-moderno colocou a ética dentro de uma ciência que estuda a
moral, mas, na sua essência, ética tem a ver com o caráter dentro da problemática
social onde a moral vai dar as regras de um bom viver. Se a ética tem a ver com
os valores aprendidos dentro da nossa educação (familiar) que de certa forma, dá
um redirecionamento para a moral. A questão poderia ser discutida dentro do que
Aristóteles dizia sobre a ética (ethika) ou o que Kant diria da moral (mores),
mas, o ponto é que viemos de uma cultura medievalista, somos herdeiros diretos da
escolástica. Talvez, o ponto é: temos a ética frágil porque somos uma cultura burocrática
e que prezamos nossos costumes até onde não atrapalhe nossa meta.
A questão nem seria o valor pago do Gustavo Lima – que a mídia
noticiou como R$ 1,2 milhões de reais – mas, a questão da não melhoria das
cidades que esse dinheiro poderia ser usado. E, o porquê o cantor concordou já que
sabia que o dinheiro faria falta para os cofres da cidade? Daí entramos em Kant
e a intensão do show e o porquê tem pagado tanto – as prefeituras – por shows não
culturais e que não iriam trazer nada para ninguém na cidade. Mesmo o porquê, o
que achamos bom e gostosos, outras pessoas podem não achar bom e gostoso e não querer
pagar esse tipo de show. Por isso mesmo – pegando o gancho de Sócrates e Platão
e o problema da democracia – deveríamos repensar essa questão da maioria,
porque existem questões, que a grande maioria pode impor e impondo vai obrigar
a grande minoria a ser submetida a esse tipo de situação. Por outro lado, quem
garante que a grande maioria sabe o que a cidade ou uma comunidade quer
realmente? Os marxistas resolveram essa questão – que Marx expos dentro da sua
obra – dizendo que a grande maioria, na verdade, estão alienados e escolhem o
que dizem para escolher. Será mesmo? Será que a grande maioria é ignorante o
bastante, que um show é menos importante do que uma rua asfaltada ou um hospital
construído? Se essas coisas tivessem sido construídas, não teria problema nenhum
em contratar cantores, mas, não é a realidade da maioria dos casos.
E Sérgio Reis solta essa: “é dinheiro para o público, não é
dinheiro público”. Ora, se o dinheiro da prefeitura não é público, então, de
onde esse dinheiro vem? Daí entramos no mundo encantado da opinião do nosso
povo, pois, se eu não concordo, por exemplo, está errado e deve ser proibido,
se eu gosto, está tudo bem. Desde muito jovem venho observando velhos sinais de
favorecimento daqueles que “puxam o saco” ou que de alguma maneira, tragam “benefícios”
para si próprio. Esse favorecimento não era qualquer favorecimento, tinha que ser
um favorecimento que traria poder e a sensação de ser superior. Era um
ressentimento que caia – de alguma maneira, ainda cai – nos que achavam ser
inferiores e isso fica muito claro, nas minorias como nós (pessoas com deficiência).
Mas, o porquê disso? Por que as pessoas tendem a acharem que tudo deve trazer “vantagem”?
De onde vem a ideia da vantagem?
Talvez, a questão da vantagem seja uma questão de sermos
colonizados por bandeirantes que queriam achar riquezas e voltar para a metrópoles
(como chamavam Portugal). Para chegarem as suas metas – enriquecer e serem
poderosos, pois, a grande maioria era nobres endividados (inclusive, Pedro Alvares
Cabral) – tinham que conseguir comprando os indígenas, escondendo a maior parte
em locais não acessíveis ao reino e esconder o que estavam fazendo. Só que a
maioria, nunca voltou ou ficou rico poderoso. Na verdade, Portugal e seu rei,
fizeram como um feudo para produzir aqui o que eles não tinham lá. Os
bandeirantes, por outro lado, começaram a casar e ter filhos com as índias e
assim, ficaram e tinham o que precisavam. Até o reino de Portugal achar “imoral”
e mandar órfãos para os homens nobres se casarem aqui, não queriam que eles voltassem.
Na essência, somos uma nação feudalista que ainda acha que o agronegócio dará frutos
para o Brasil, por isso mesmo, o Brasil nunca pode se modernizar, nunca pode tratar
e melhorar os interiores dos Estados e fazer uma grande modernização. Não que o
agronegócio é errado, mas, no Brasil, só isso não vai trazer emprego e
progresso.
Nossa cultura feudalista-sertaneja sempre levou o Brasil para
o atraso, para a idolatria da ignorância e da incapacidade de pensar e trazer
uma coisa cultural mais útil. Mesmo assim, sabemos por que existem isso e o porque
da idolatria da ignorância. Por que não coisas que façam pensar? Aliás, por que
coisas que façam sofrer?
Amauri Nolasco Sanches
Júnior – 46 anos, técnico de informática, publicitário, filósofo da educação e
futuro bacharel em filosofia.