Amauri Nolasco Sanches Junior
Em uma entrevista da UOL, o
professor, Luiz Felipe Pondé , disse que somos carentes de “letras
e reflexões”. As “letras” são importante para saber escrever
e fazer entender para um bom dialogo, mesmo e, principalmente, nas
redes sociais, sempre temos que saber escrever. A reflexão tem a ver
com a escrita e a ideia, de letras e reflexão é a questão de
escrever com tamanha lógica e perfeição e a reflexão é
importante. Não se faz nem politica ou qualquer coisa sem nenhuma
reflexão. Mas, Pondé não para por aqui, ele diz que temos uma
sociedade mesquinha e os mais ricos não querem financiar cursos de
humanas, por acharem que humanas são cursos de “vagabundo” - um
pensamento, totalmente, do século dezenove – e por acharem que
cursos de exatas ou das áreas biológicas (como medicina) são bons
para a economia e vai voltar rápido. Será?
Vamos pegar medicina – que, aliás,
foi um dos exemplos do Bolsonaro – e vamos pensar um pouco. Um
curso de medicina está em torno de 10 mil reais – não sei ao
certo – e fora o material didático que é preciso para o curso.
Numa universidade (pratica) e numa faculdade (teórica), existem
milhares de materiais biológicas – como cadáveres de animais e
até mesmo, de seres humanos – assim, há um enorme investimento.
Além de residência que pode durar anos, mais ou menos, dez anos. O
governo – através das universidades e faculdades – forma o
médico e ele presta concurso publico ou vai trabalhar. O governo
espera que o médico formado com o dinheiro do contribuinte, atenda a
mesma sociedade que financiou o seu curso. Porém, nem sempre esse
mesmo médico – formado com o dinheiro publico – vai querer
atender em periferias ou em cidades do sertão nordestino. Será que
ele iria? Pesquisas mostram que não.
Na verdade, existem duas culturas
que atrapalham o nosso progresso, a questão do governo em ter que
agradar alguns setores (que estão em outras áreas e não nas
humanas) que são os pilares da economia. Outra, é nossa cultura
tecno religiosa que não gosta de coisas muito intelectuais. Nossa
cultura, primeiramente, foi forjada dentro de um pensamento católico
que não gostava muito do conhecimento. Poderemos ver muito isso em
nações que adotaram o pensamento protestante – o verdadeiro e não
a versão neopentecostal – e nações que sempre foram da igreja
católica, que não tolerou o conhecimento pregando ser pecado. Num
outro lado, adotamos pensamentos práticos como o marxismo (Karl
Marx) e o positivismo (Augusto Comte), que por termos esse pensamento
não muito intelectual, gerou bastante uma negação do
intelectualismo. Só que existem duas coisas importantes: primeiro,
sem a filosofia não existiria nenhuma respaldo de qualquer coisa
(dês da engenharia, até a medicina); segundo, sem a filosofia não
existiria uma teologia e nenhum entendimento o que seria as
ideologias politicas. Nem da direita conservadora, nem da esquerda
revolucionaria ou progressista. Nem mesmo o liberalismo – concordo
com o professor Pondé – que o governo anda brincando, e com essa
postura intervencionista, vem criando duvidas sobre ser liberal.
Acontece, segundo Camus – filósofo
franco angeliano – que disse que a filosofia nasceu do espanto, de
se espantar com a realidade. Os primeiros filósofos foram os
naturalistas – quem vem dos gregos “physis” que, sim, veio o
termo físico – que, queriam descobrir a origem de tudo. Mas,
Sócrates, queria descobrir mais do que isso – já que o deus Apolo
disse ao seu amigo que ele era o homem mais sábio de Atenas –
queria descobrir o homem sábio, aquele que vai entender o ser humano
em sua essência. Qual é a essência do ser humano? Para Sócrates –
que foi muito seguido pelo seu discípulo Platão – a essência do
ser humano é o conhecimento, porque quando você conhece (até saber
da sua ignorância), você enxerga a sua realidade de outro modo. O
poder não gostou muito. O poder achou que Sócrates estava mostrando
sua ignorância e mostrar a ignorância – principalmente, quem
governa – porque ninguém que governa pode ser governante.
O conhecimento é o entendimento da
informação e se isso acontece, a sua realidade muda. Talvez,
Sócrates queria mostrar que o conhecimento não vem de fora e sim, o
conhecimento vem de você mesmo. Por isso mesmo, ele repetia a frase
do Oraculo de Delfos, que era para conhecer a si mesmo, dai, você
conheceria o universo e os deuses. Exato. A questão do
autoconhecimento, sempre foi uma discussão longa e fez a base do
questionamento da essência humana. O universo podemos entender como
realidade, tudo que existe e os deuses, podemos colocar como o ser
humano que muda o ambiente, a essência espiritual do humano. As
religiões de hoje, perderam a essência espiritual como uma
sabedoria milenar que fez o ser humano questionar sua origem. A
filosofia fez além, mas, não refutou o lado espiritual por
completo.
Não há o bem ou o mal dentro da
visão filosófica, há o conhecimento e a ignorância. O
conhecimento faz você ver a luz e é esse o ponto, porque foi
eternizado na teoria da caverna de Platão (aluno de Sócrates).
Porque a ideia do conhecimento como uma luz, é a base de uma crítica
e uma autocritica, que o poder e seus tentáculos (como as religiões
e as ideologias politicas), não gostam por ser contrário ao seu
poder discursivo. Não é a toa, que a mais conhecida filosofia do
império romano tenha sido a estoica, porque pregava as coisas
materiais e negava a realidade. Por que negar a realidade? Por que
não se apegar ao material? Ora, essas filosofias vão povoar a
Europa por muito tempo, até na idade moderna com o filósofo francês
Renê Descartes.
Mas, desde Sócrates, o conhecimento
foi o foco e sem a filósofos não teríamos nem a tecnologia que
temos hoje. O sistema boleano de 0 e 1 – que usamos nos software de
computadores – foi criado por um filósofo (Leibniz). Os sistemas
de medida de construção e de engenharia, vai do teorema de
Pitágoras ao teorema cartesiano (de Renê Descartes). Sistemas
econômicos – que são a base do capitalismo – foi desenvolvido
dentro da filosofia. A sociologia desenvolveu o entendimento das
sociedades e é uma das “filhas” da filosofia. Então, o problema
não é a filosofia e a sociologia e sim, a ideologia que ainda
dominam um lado do dialogo e não mostra um outro lado. Se deveria
exigir que se tenha que mostrar um outro lado da questão. Ao meu
entender, um filósofo não pode ter uma ideologia e uma aula de
filosofia não se pode ensinar um viés. Se houver isso, não é uma
aula e sim, uma doutrinação. Isso não quer dizer que sou a favor
do término dos cursos.