terça-feira, 10 de julho de 2018

Me chamaram de comunista. E agora?





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Amauri Nolasco Sanches Junior (aqui)

Umas das coisas que eu não gosto é ter ídolos, e isso é bastante claro em meus textos que escrevo. Mas – estava demorando – fui chamado de comunista por causa de dois fatores. Primeiro fator é a dicotomia que estamos vivendo politicamente, que vem povoando as redes sociais. Segundo, temos uma herança da guerra fria (que acabou em 1989 com a queda do muro de Berlim) que o comunismo dominara o mundo, que é um discurso ainda, dito pelo Olavo de Carvalho. Então, se você faz uma crítica contundente contra candidatos ditos da direita – não acho que o Bolsonaro é totalmente, de direita, porque ele tem a pauta de esquerda de não privatização – você começa a ser chamado de comunista. O problema é que ninguém sabe o que é comunismo e confunde o petismo – que é um populismo que visa o bem-estar do próprio partido – com o comunismo que nada tem a ver.


Basicamente, o comunismo não é a mesma coisa que socialismo e não é a mesma coisa que o anarquismo. Primeiro, vamos falar do socialismo. O conhecido socialismo, é um sistema governamental transitório entre o capitalismo e o comunismo. Ou seja, os governos socialistas ou dito socialistas, ainda não são governos comunistas. Num governo socialista, existe um líder que assume o comando para socializar os meios de produção – como fabricas, fazendas, vendas e etc – que no sistema capitalista, são comandados pelos seus donos (burgueses). Para implantar o socialismo, deve haver uma desapropriação de tudo que produza (bens ou serviços), pela força, se assim necessitar. Nesse sistema, as pessoas começariam a aprender a socializar suas produções com toda a comunidade, aonde todos tem as mesmas coisas, sendo que tudo seria gerido pelo ESTADO, o coordenador dessa divisão.


O comunismo seria uma etapa depois do socialismo, por isso, dizemos não ter havido nenhum comunismo no mundo, porque nunca passou do socialismo. Nesse sistema não há nenhum líder para governar o ESTADO, porque todos já teriam consciência de socialização dos meios de produção e da produção em si (tudo que se produz é da comunidade), assim como da divisão igualitária entre os indivíduos da comunidade. No comunismo, a pessoa trabalha para a sociedade por um período do dia, em um outro período do dia se dedica ao lazer, assim todos seriam felizes e teriam tudo que quisessem.  Chamaríamos esse sistema de uma sociedade utópica, mesmo o porquê, nunca existiu uma sociedade sem um governo ou governante. Mesmo o porquê, o sistema soviético nunca passou do socialismo e se quisermos ter uma visão muito detalhada disso, podemos assistir “À Revolução dos Bichos” baseada na obra homônima, de George Orwell.

A diferença no anarquismo é bem evidente. Seria a ausência total do ESTADO, da hierarquia e da força coerciva. Na teoria, uma liderança pode vir a existir temporariamente, dentro de algum grupo de operação, por exemplo, se houver algum incêndio. Mas, o grupo decide quem vai liderar a operação, ou seja, a liderança poderá variar conforme a operação e o dia. O anarquismo (do grego ναρχος, transl. anarkhos, que significa “sem governantes”, a partir do prefixo ν-, an-, sem + ρχή, arkhê, soberania, reino, magistratura + o sufixo -ισμός, -ismós, da raiz verbal -ιζειν, -izein), é na verdade, uma filosofia política que engloba muitas teorias, métodos (caminhos) e ações que objetivam a eliminação total de todas as formas de governo compulsório. Em geral, os anarquistas são contra qualquer tipo de ordem hierárquica que não seja livremente aceita e preconizam os tipos de organizações libertarias baseadas na livre associação.

Mais uma coisa importante, a anarquia não é ausência de ordem, mas, ausência de coerção (Coerção [coertione] é o ato de induzir, pressionar ou compelir alguém a fazer algo pela força, intimidação ou ameaça.). Essa noção errada, que a anarquia seria a ausência de ordem, foi muito propagada no finalzinho do século dezenove e no início do século vinte, pelos meios de comunicação e de propaganda patronais, que são mantidos por instituições políticas e religiosas. Um outro erro muito comum, é considerar a anarquia como uma ausência de solidariedade (indiferença) entres os seres humanos, que, na verdade, um dos laços mais valorizados dentro da anarquia e o voluntarismo (auxilio mútuo). A ausência de ordem – que é uma ideia externa ao princípio anarquista – se dará o nome de “anomia”. E o mais importante, os anarquistas se opõe a todas as formas de agressão, apoiando só a autodefesa ou a não violência (anarcopacifismo). Mas, outras vertentes, apoiam outros modos, como uma revolução violenta. Mas, mesmo com ações violentas no passado, hoje se tem a consciência de diversos tipos de ações não violentas.

Portanto, não há razão nenhuma que possa juntar essas três vertentes. Mesmo sendo anarquista, não sou idiota e nem eterno adolescente para saber que são teorias de uma sociedade utópica e que hoje, a implantação, seria um desastre. Uma das provas disso é a União Soviética que além de ser um novo capitulo do czarismo russo, ainda foi um desastre que levou milhares de inocentes morrerem. E foi além, o desastre ainda teve a colaboração de Joseph Stalin (1878-1953), com sua paranoia de ser perseguido, matou até mesmo, colegas do próprio partido. Mas, o problema, não é ser chamado de comunista, o problema é ser chamado de comunista por causa de críticas ao sistema norte-americano. Além, claro, ser chamado de comunista por causa da dicotomia que atinge as opiniões das redes sociais. Na verdade, ninguém nem sabe o que está dizendo.



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