domingo, 1 de julho de 2018

O filme “Frequencies” e a velha cultura podre




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Amauri Nolasco Sanches Junior (aqui)

Uma pergunta, bastante pertinente, num grupo de filosofia me fez voltar no filme “Frequecies”, que assisti na sexta-feira (dia 29 de junho). A pergunta questionava que alguns grupos ditos de filosofia, tinham tendência a serem de pensamento de esquerda (vulgo esquerdista). Eu respondi, que na verdade, nem a esquerda gosta de filosofia e nem a direita gosta (muito menos por se dizer conservadora). Filósofa no lado de um Bolsonaro ou de um Ciro Gomes para você ver como eles reagem. Por que? Porque a verdadeira filosofia questiona tudo e todos. Mas, o que um filme sobre relacionamentos, pode a ver com ideologias políticas e crenças religiosas? Tudo. Porque toda a cultura humana, sempre teve a ver com o sexo e suas consequências.

O filme “Frequencies” ou “OMX: The Manual”, é um filme feito nos Estados Unidos e de forma independente. Não é conhecido do público brasileiro e nem foi passado no cinema brasileiro. Bom, o filme se passa todo dentro de uma teoria que temos uma frequência de sucesso ou de fracasso, que tudo não passa de algo pré-determinado. A questão é: qual seria a frequência de cada um dentro de cada tarefa que estão destinados a fazerem? O destino de forma cientifica. A crença do destino vem desde os gregos que achavam que cada ser humano é destinado a uma tarefa e essa determinação, tinha até a ver com os dos pais. Se o pai era ferreiro, por exemplo, o filho tinha que ser ferreiro, por causa do destino da família. Tinha uma prova e se essa prova determinava qual frequência era de cada criança.

No filme, tinhas as pessoas de alta frequência e de baixa frequência. As de alta frequência (ou frequências de elevada magnitude), era bem-sucedidas eternamente nos negócios ou nos estudos, e também, coisas bem menores. Porém, por outro lado, elas perdem a capacidade de terem alguma emoção na vida, não amarão, não vão ficar tristes, não vão ficar alegres e nem mesmo, vão ficar envergonhados. Serão como maquinas e não expressarão nenhuma emoção. Porém, as pessoas que estão em baixa frequência, terão a expressão sentimental e emocional, e assim, por outro lado, vão sempre carregar consigo uma estranha habilidade de serem fracassados e que tudo que fazerem, derem errado.

A essência do filme, na verdade, é em torno de um casal e seu amigo. A mulher (que começa o filme como menina), se chama Marie-Curie – nome de uma cientista polonesa que foi reconhecida uma das primeiras mulheres cientistas – e Issac-Newton (diminutivo Zak). Marie tem a frequência alta e era bem-sucedida e Zak, era de frequência baixa. Tudo que Marie fazia era de sucesso e era bem vista dentro do colégio, já Zak, era um fracassado e tudo que fazia dava errado. Eles eram tão antagônicos, que só poderiam ficar junto um minuto, porque, mais que um minuto tudo em seu próprio universo, se abala. Marie queria sentir algum por Zak, que desde menina (no começo do filme isso é mostrado), sabia que os dois eram destinados um para o outro. A forma que o casal se relaciona tem a ver com duas visões diferentes e cientificas, os afetos e a lógica, porque para a sociedade humana, as duas não podem viver em harmonia. Zak inventa uma máquina para baixar a frequência ne Marie, mas, foi descoberto pelo governo, porque as frequências tinham a ver com as palavras (a teoria da linguagem). Mas, quem descobriu isso é Theo (Theodor-Adorno), que é mostrado como o grande questionador da trama. Dois cientistas, um filósofo.

Ai que está. O filme questiona a sociedade como uma realidade construída, porque a realidade são normas construídas a partir de normas importantes para quem construiu o discurso. Por que existe o pensamento lógico e o que ele muda a realidade humana? O sentimento e a razão vêm do mesmo princípio, o ser humano. Na verdade, a moral é uma construção de uma educação dominada por uma educação banalizada dentro de um consumo e dentro da indústria, que faz a sociedade caminhar para a alienação. Daí o questionamento, pois, o pensamento lógico te põe como uma máquina, o pensamento sentimental, te põe como um ser alienado e o terceiro é a síntese. Theo não quer ser musico como o pai (a crítica cultural de adorno), porque ele descobriu o meio de chegar a previsão do que vai acontecer. Ele previu até mesmo o final da conversa com o pai. Previu que Zak iria ficar com Marie, e todo filme gira em torno do destino.

Temos uma crença que tudo no universo tem que ter um motivo aparente e isso não é verdade, mesmo o porquê, não existem fatos eternos e nem verdades absolutas. O senso comum adora verdades absolutas. Não quer ler, não quer pesquisar e ainda acha, que tem a única solução possível para o Brasil e para o mundo, que, claro, é a mais fácil possível. A ideia do filme, talvez, seja questionar o que a humanidade criou como padrão e não se pode questionar. Se você defende as minorias que precisam de auxilio e melhores condições, você é esquerdista. Se você defende a pauta ambientalista, se você defende uma pauta que requer mudança, você é comunista filho da puta (como já vieram dizer no meu perfil). Agira, se você defende a família, é contra o aborto, é contra as pautas homoafetivas e feministas radicais, e outras coisas, você é um filho da puta reacionário fascista. Aliás, nem precisa colocar o “filho da puta”, porque esquerdista e fascista, virou xingamento. Essa discussão rasa e sem propósito traz milhares de questionamentos dentro da filosofia.

O filme questiona os padrões éticos, os padrões morais, os padrões que a sociedade impõe. Tanto, que no final, eles (o casal) chegaram à conclusão que estavam destinados a ficarem juntos. Ou seja, sem verdades absolutas.

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