Num outro texto que escrevi sobre o deputado que queria
curar sua colega de plenário (aqui), eu expus a minha visão sobre a deficiência
como algo ilusório entre o belo e o não belo. Queiramos ou não, criamos um
padrão estético que se você sai desse padrão, ele começa a soar estranho
daquilo que você está acostumado. Daí entra as pessoas com deficiência – seja
qual for – e a ideia da perfeição (que envolve o Dr bumbum), que desemboca na
estética. Bom. Vamos começar pela nomenclatura que o pessoal erra e muito. Não
é deficiente, não é portador de necessidades especiais e muito menos, especial
(afinal, não somos pastel), mas, pessoa com deficiência. Demorei um pouco para
entender, porque eu achava que pessoa com deficiência era um exagero, porém,
quando você destaca a pessoa antes da deficiência, você coloca o substantivo
antes do adjetivo e dará mais ênfase dentro do indivíduo que tem uma
dificuldade. Só isso. Todos têm a sua própria dificuldade e devem assumir essa
dificuldade.
Então, devemos analisar pessoa primeiro do que deficiência. Originalmente
– numa analise etimológica – o termo “pessoa” vem do grego “prósopon” (aspecto)
que passou pela língua etrusca como “phersu” que significa “aí”. A partir desse
termo, os latinos (romanos) construíram o termo “persona”, que são as máscaras
usadas nos teatros pelos atores. Eram chamados também, personagens teatrais que
eram representados (eram só homens, porque as mulheres eram proibidas a atuar
nos palcos). Portanto, o termo “pessoa” é um parente muito distante de palavras
de origem grega que são originadas do termo “prósopon” e seus derivados, como “prosopografia”
e “prosopopéia”. Já no vocabulário latino se conserva o termo original “pessoa”
(persona), no galego temos “persoa”, no italiano e espanhol (línguas latinas)
temos “persona”, no inglês (que tem alguns termos vindo do latim), “person” e
no francês que temos “personne” (que pode significar também “ninguém” se em francês,
você escrever sem o artigo. Além, do francês vim do latim também) entre muitas
outras línguas (Aqui).
O conceito de “pessoa” entra no pensamento do ocidente através
do pensamento teológico do termo “hypótasis” que quer dizer, “posto sob”. Era uma
tentava de construir uma referência as “pessoas” as Santíssima Trindade que
partilham uma essência divina, que se vestiu em latim como “persona”, ou seja, “o
que soa através”. Só, que etimologicamente, se remete a uma realidade “subsistente”
que possui uma essência ou natureza que por essa se manifesta. Na verdade, “pessoa”
não seria uma “essência” ou, se pensarmos biologicamente, uma “espécie”. Podemos
classificar a “pessoa” como o filósofo, poeta e teólogo, Severino Boécio
(477-524 d.c.), classificou um dia, como uma “substância individual de natureza
racional”. Assim, trocando em miúdos (como dizem), seria uma realidade de
natureza inteligente. Na era moderna, o filósofo Immanuel Kant (1724-1804), dizia
que pessoa era uma constituição de uma realidade pessoal, uma “autonomia” a
capacidade de se autodeterminar que surge como uma vontade livre e racional. Numa
síntese: a razão instaura a liberdade, que é a constituição de uma pessoa e
seria a raiz da sua dignidade (aqui).
A palavra deficiência assim como, o termo deficiente, vem do
termo latino “deficiente”, que seria uma declinação do termo latino “deficiens”,
que tem a mesma origem, “deficere”, o significado é faltar, falhar. Após o
surgimento de termos tidos como politicamente corretos, foram criados vários outros
termos que chamamos, eufemismos (palavra, locução ou acepção mais agradável, de
que se lança mão para suavizar ou minimizar o peso conotador de outra palavra)
como aleijado, deficiente, cego, surdo, mudo para pessoa com deficiência, física,
visual, mental, auditiva e etc. algum tempo atrás, existia o termo “portador de
deficiência” que mostrou a falha do “portador”, porque aquele que porta, não porta
mais e a deficiência, é permanente em alguns casos.
Tudo isso é para mostrar que antes de uma deficiência,
existe uma pessoa que como disse Boécio, seria uma substância de uma natureza
racional, e como Kant, uma realidade pessoal autônoma da dignidade e liberdade
de cada um. E a deficiência em si, não muda isso. Porque, se a deficiência é
uma falta ou falha, todo ser humano tem uma falha ou tem uma falta, seja física,
seja de caráter. E não estou falando de uma falha de caráter entre o certo ou
errado – que fica no campo da moral – mas, caráter de construção de valores
dentro daquilo que somos educados. Se respeitamos as pessoas como elas são,
isso são valores que somos submetidos dentro de um espectro geral. E educar as crianças
a terem uma autoestima, porque se você não liga para apelidos idiotas, você tira
o estigma daquela pessoa que quer te colocar um adjetivo pejorativo. Porém,
existem as pessoas ignorantes das leis e de uma cultura do conhecimento, que se
deixam levar pelo medo e pela conformação.
Se uma pessoa é um ser autônomo, único em toda a realidade, então,
uma pessoa com síndrome de down é um ser único. Embora, com suas limitações (por
causa da duplicação do gene 21), ela é uma pessoa, autônoma que sente as
coisas. Imagine, você com 13 anos sendo discriminado e excluído de uma festa
junina e seu pai e sua mãe, vendo? Se você que é perfeito, se você é uma pessoa
aceita dentro da sociedade, ficou indignada e seus pais ficaram também, imagina
uma pessoa com alguma deficiência. Isso se chama: apatia. Estamos numa
sociedade apática que não demonstra nenhuma emoção ou simpatia, por assuntos
sobre nós e isso tem a ver com a simpatia e apatia. Mais além ainda, o
preconceito é a demonstração clara da cobrança pela perfeição e sempre
estarmos, felizes. Na própria demonstração de ignorância do deputado da bancada
evangélica, demonstra essa necessidade compulsiva da perfeição e as pessoas só vão
ser felizes se forem perfeitas. Que é uma ilusão. Nada nesse universo tem a
mesma visão de perfeição que temos, tudo funciona como deve ser e nada tem que
ser como queremos. A menina com síndrome de down foi esquecida num canto porque
não interessava a escola mostrar ela – mesmo que ela não queira, ela precisa
ser estimulada – porque uma professora que fez um magistério (existem hoje até
curso online de inclusão na educação, basta querer), ela faz um juramento de
educar e de ensinar para todos. Todos os professores que me ensinaram e
ensinaram outras pessoas com deficiência, não desistiam tão fácil e
conseguiram. Falta vontade em quebrar acomodações.
Claro, que a culpa não é só da escola e dos professores
(junto da direção), tem que ter também, uma cobrança governamental sobre a educação.
Um governo que diminui a verba da educação – nunca as suas regalias que são de milhões
de reais, além, dos salários – que investe em um currículo escolar pobre e sem
nenhum nexo, vamos assistir muitos erros como esse. O governo brasileiro é
igual todo governo latino americano, quanto menos educação, melhor para fazer o
que quiser. Não precisa ser um gênio. Daí, não temos aula de interpretação de
texto, não temos aula de escrita, não temos aula de matemática, não temos uma
aula de verdade (não essa palhaçada que se dá no ensino médio) de história, e
sim, temos que ter mais aula de filosofia e sociologia. A filosofia não atrapalha
a matemática, o que atrapalha a matemática é o jeito que você ensina a matemática,
se você é bom, você ensina qualquer coisa mesmo no meio de uma guerra. Mas, ninguém
quer saber, por causa de um sistema que te faz pensar que é liberto, que pode
fazer o que você quiser. Nem na internet você fala o que você quiser, imagina,
na vida real do dia a dia. Um exemplo que trouxe é da menina com SD, queria
dançar quadrilha (não de Brasília), não pode porque fizeram a sacanagem de
proibir ela disso por causa da sua condição física.
E qual a preocupação do quarto poder (a mídia)? O Dr Bumbum.
Isso mesmo. Um médico esteticista que faz modelagem de bunda. Aliás, o tal Dr
bumbum, é um subproduto da própria mídia que te faz pensar que você só é feliz
se você for perfeito, se você tiver a bunda perfeita. Não é bem assim, envelhecemos,
vamos cada vez mais, perder a nossas células e por outro lado, nem sempre vamos
ser felizes. Vai ter dia que estamos infelizes, com gripe, com diarreia, com várias
coisas que te deixam chato. Então, a rede social é uma puta ilusão e temos que
lhe dar com isso, com a cobrança quase insana de sermos felizes todo dia. Não sou
em nem quero ser. mas, quem em sua sã consciência vai fazer uma operação com o
Dr Bumbum? O que ele tem a mais que ofereceram mil reais para denunciarem ele e
tantos médicos que matam, que não trabalham, que não atendem direito e o ESTADO
não está nem aí?
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