Amauri Nolasco Sanches Junior
Estava vendo uma entrevista com o Dee Snider – que era vocalista do Twisted Sister – e um dado momento, o Danilo Gentilli perguntou o que aconteceu com o rock que ficou assim. Dee disse que ficou muito sério. Ou seja, dos anos 90 em diante as pessoas se levaram muito a sério e isso começou com o grunge. Mesmo gostando de algumas bandas da “onda” grunge, eu tenho que concordar que, realmente, porque quase todos morreram com depressão ou overdose (ou quase morreram). O rock, o heavy metal (e seus derivados) são marcados pela maneira cínica – na concepção grega mesmo – de comportamento que não aceita o mundo como ele é e começam a fazer criticas a moda Diógenes mesmo (o que morava num pote de barro). Se levar muito a sério é uma maneira muito do subconsciente de orgulho, pois, você não admite que a sua realidade não é a realidade do outro.
Ora, como isso aconteceu dos anos 90 em diante? Dai me deparei com um texto que saiu no site Pensador Anonimo com o Titulo: “A geração “Floco De Neve”: Pessoas sensíveis que se ofendem por tudo”, que achei interessante. Fiz uma pesquisa e encontrei uma explicação no Wikipédia dizendo que o neologismo foi cunhado no inglês (Generation Snowflake) para designar a geração que ficou adulta a partir de 2010 (embora, algumas pessoas que ficaram adultas um pouco antes, também contém essas características). É uma geração que tem pouca resistência a gerações anteriores a sua, ou seja, são bastante vulneráveis para encarar alguns pontos de vista que não são da sua. Mas o texto também – da Wikipédia – diz que muitas pessoas lá não concordam e até o termo é considerado depreciativo. Porque, mesmo sendo bastante difundido, não tem nenhuma base cientifica para provar tal tese.
Voltamos ao texto. O autor começa com a explicação o porquê essa geração foi chamada de “flocos de neve” e se é verdade ou não, deveriamos ler para, pelo menos, fazer uma reflexão. Diz no texto do site, que o alerta foi dado graças alguns professores da universidades de Yale, Oxford e Cambradge, que notaram alguns dos seus alunos que iam as suas aulas, eram em sua maioria, pessoas sucetivel, não toleravam nenhuma frustração e eram inclinados a sempre – qualquer coisinha – a fazer uma “tempestade num copo d`água”. Assim, segue o texto, dizendo que essas crianças saem muito mais ao padrão da sua geração do que seus pais (ou seja, segundo a tese, essa geração é muito mais padronizada do que as anteriores). O autor ainda diz que isso não significa, como um boa caracteristica do ser humano, há caracteristicas e comportamentos diferentes da geração que nasce e não respondem a isso. No entanto, não negamos que a cada geração tem varias metas, sonhos e formas de comportamento caracteristico que resultam das circunstâncias que tiveram que viver (a vivência).
O diagnóstico e a origem faz todo o sentido. Para começar – segundo o texto – essa gração tem superproteção demais e começa a extrema vulnerabilidade e escassa resiliência desta geração têm suas origens na educação. Esses indivíduos, que, geralmente, são crianças que foram criadas por pais que subprotegem demais, que são sispostos a pavimentar o caminho e resolver os menores problemas. Como resultado, essas crianças não teve a oportunidade de enfrentar as dificuldades e conflitos do mundo e desenvolver à frustração, ou resiliência (capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar à má sorte ou às mudanças). Não se deve esquecer que uma dose de proteção é necessária para que as crianças cresçam em um ambiente seguro, mas quando impede que nós explorarem o mundo e os limites seu potencial, essa proteção se torna prejudicial.
Exagerado sentido do “eu”. Outra característica que define a educação recebida pelas pessoas da geração “floco de neve” é seus pais os fizeram sentir muito especiais e únicos. Somos únicos, isso não é ruim ter consciência disso, mas, também devemos lembrar que essa singularmente não nos dá direitos especiais sobre as outras pessoas, pois somos todos tão únicos quanto os outros. Esse sentido muito exagerado do “eu” pode gerar uma origem ao egocentrismo e uma crença de que não é necessário tentar muito, porque, afinal, somos especiais e é garantido o sucesso. Quando vamos percebemos que este não é o caso e temos que trabalhar muito para conseguir tudo aquilo que queremos, perdemos os pontos de referência que nos guiaram até agora. Então, começamos a ver o mundo hostil e ameaçador, assumindo uma atitude de vitimização.
Outra – terceira característica – que gera a geração “floco de neve” é a insegurança e a catástrofe. Porque, umas das características que mais definem essa geração é sempre exigir uma espaço seguro. Porém, a titulo de curiosidade, essas mesmas pessoas tenham crescido em um ambiente social, que particularmente, estável e bem seguro, em comparação os seus avós ou seus pais, mas ao invés de serem pessoas mais confiantes, eles tem medo. Esse mesmo medo é causado pela falta de habilidades para enfrentar o mundo, pela educação excessivamente superprotetiva que receberam e que os ensinou a ver possíveis abusos em qualquer ação e a superestimar eventos negativos os transformando em catástrofes. Isso os levam a desejarem se bloquear em uma bolha de vidro, para criar uma zona de conforto limitado onde eles se sintam seguros.
O que eu acho? Nós estamos vivendo um clima estranho, porque dês do fim dos anos 80 e começo dos anos 90, você já via coisas bizarras. Mas, essas três características são até certo ponto, bem fiéis ao que está hoje. Como disse no começo do texto, Dee Snider está certo, essa juventude tem sérios problemas em se levar a sério e não relaxar e se divertir. Eu acho uma delicia escrever, acho muito gostoso você pesquisar e descobrir coisas novas, para mim, além de um trabalho, é uma diversão. Eu não me levo a sério porque eu erro, não sou senhor da razão, não faço o que as outras pessoas fazem e começo a ver, que querem me obrigar a ser o que eu não quero ser e se eu não sou, sou excluído das amizades e coisas do tipo.
O verdadeiro rebelde é não fazer da sua vida algo padrão, mas, essa geração tem a horrível mania de padronizar tudo. Para falar de filhos, você tem que ser pai (eu fiz muitas sobrinhas minhas dormirem e etc), para falar de pessoas com deficiência eu tenho que sair com todos os movimentos se não sair, estou desqualificado. Eu tenho que participar de todas as plenárias para falar de politicas públicas para pessoas com deficiência, tenho que participar de algum lado, porque ser “isentão” é errado. Tudo se deve seguir algum padrão. Tudo tem que ser um drama. Rockeiros dos anos 90 para cá, simplesmente, a grande maioria, se mataram porque não aguentaram a frustração de não cantar num festival, por exemplo. Ou porque a mulher confessou que iria trair ele, mas, lembrou dele e não traiu. Tudo é uma dramatização anormal, doente e até – saindo um pouco da cena americana – começa com as bandas de black metal lá nos países nóricos (sobre isso, vou escrever um texto mais espiritual). As gerações depois da minha, não podem se sentirem frustradas e ai que começa a minha tese da critica vagabunda.
Viemos construindo uma cultura – imaginem um prédio – onde as vigas sustentadoras é a cultura grega (os romanos beberam dessa fonte). E qual é uma característica importante para os gregos helênicos? A harmonia. Toda a mitologia grega clássica, veio da noção entre os caos e a harmonia e nisso, tendia sempre em procurar sempre a harmonia. Isso se refletiu tanto nas esferas da religião grega, como na própria filosofia começando em Heráclito de Éfeso. Para o grego tudo antes da realidade era o caos e esse caos não era uma bagunça generalizada, era simplesmente, como se fosse um abismo eterno. Veio a realidade e houve a harmonia. Mas, eram características de quase todo o pensamento daquela época, porque o caos era a ignorância, aquilo que não sabemos e a harmonia é aquilo que sabemos, que Platão, chamará de suma bem. Sempre quando o mundo grego sentia esse caos, ele harmonizava de alguma maneira com outro pensamento que não gerasse esse caos. Depois dos deuses homéricos, vieram a filosofia e a filosofia – que ao meu ver, começa com a morte de Sócrates – consegue harmonizar um pouco a cultura.
Nós viemos desse mundo e mesmo a religião cristã, colocou em muitas explicações teológicas, tem filosofias platônica-aristotélicas. Porém, herdamos muito a filosofia estoica que os romanos adotaram e construíram a sua cultura. Então, a questão da verdadeira cultura é a cultura grega entre o caos e a harmonia, nessa vertente, há o conhecimento e a ignorância (sim, tem isso no budismo e a maioria das religiões orientais). A ignorância sera o caos (aquilo que não tem forma) e o conhecimento é a harmonia (aquilo que tem forma). Você só enxerga as formas dos objetos – como percebemos a realidade – e toda essa realidade, se harmoniza daquilo que você conhece. Mesmo que muitos especialistas neguem que não há causa e efeito, há sim uma efeito que vem numa causa e se você não perceber a causa, as coisas vem do nada. Ai chegamos o que Nietzsche chamou de niilismo.
O niilismo (vem do lattim nihil que traduz, nada), que é uma redução ao nada, o aniquilamento e a não existência. É um ponto de vista que se considera que as crenças e os valores tradicionais são coisas infundadas e não há qualquer sentido ou utilidade na existência. Ai chegamos ao niilismo de Nietzsche, pois, tem a ver com a não existência. Para Nietzsche, o niilismo é uma negação da vida por ter a questão da moral cristã. Porque para ele, todos os valores gregos clássicos – na qual, eu já disse – foram aniquilados por causa de um amanhã e a negação do hoje. Para o grego helênico – assim como algumas religiões orientais – o importante não é o amanhã e sim, o agora e quando se rompe isso e se quer impor um pensamento moral racional (a igreja usa muito Platão e Aristóteles para isso), se nega o vincula da realidade. Daí vamos ter, na filosofia nietzschiana, o amor fati, o amor a realidade como ela é e não um ideal. Para Nietzsche – tanto que ele vai elogiar o budismo por se apegar no agora – o importante é ter o agora e não o amanhã, mesmo o porquê, você vive agora. Ai que está, a geração floquinhos de neve pegou o niilismo do modo clássico e não vê nada de essencial dentro da existência.
Outras características – e o próprio Nietzsche faz parte nisso – que criação foi feita no viés protestante. Não que eu acho que a ordem moral cristã não gera nada, porém, essa imposição dessa moral se concretiza com a implantação da ignorância. Não foi culpa nem dos reis – que na verdade eram senhores governantes de feudos – e nem da igreja romana, mas, estamos num mundo com varias guerras. Não existiam mais as cidades, o que existiam eram feudos – alguns eram propriedade rurais romanas – e não tinham tempo e nem o porquê escolarizar. O maior monarca medieval franco – o reino Franco era da Alemanha até a França – Carlos Magnos, era analfabeto e nem assinava o nome. Portanto, o protestantismo pega e faz o contrário, letras todas as pessoas que queiram, fazem das pessoas letradas um canal da sua doutrina. Mas, veio a revolução burguesa da França e colocou fim as monarquias – restaurando as democracias, e o protestantismo teve um papel importante nesse vinculo – e se começa a separar as universidades, que antes eram da igreja, e colocar elas no ensino laico. Dai vamos chegar até o século dezenove onde Nietzsche dizia que íamos entrar num baita niilismo (o mundo ideal), onde viu que a ciência botava a regra, quando nem tinha acabado a discussão sobre a moral.
Ao mesmo tempo que o protestantismo tira o povo da ignorância total, eles colocam ele num mundo ideal e romantizado que só o amanhã pode ter um mundo melhor. Por que amanhã se vivemos hoje? Por que eu tenho que esperar um paraíso? Nietzsche diz, que o grego não esperava o amanhã e fazia hoje. Quem não sabe a história dos 300 espartanos, que sem fraquejar, segurou as tropas por dois dias? Claro, que no filme foi tudo romanceado, porque é baseado num quadrinho homônimo de Frank Miller que só mostra o lado espartano, embora, no segundo filme, mostra a parte ateniense. A questão foi muito mais sangrenta do que aquilo – se você achou que o filme foi sangrento, a historia contada é muito pior – mas, fizeram o que tinham que fazer, no agora. O grego amava o seu destino, ele não se preocupava com o amanha porque acreditava na morte heroica. Hoje, nada temos para acreditar, porque o século vinte mergulhou no niilismo cultural, e quando houve uma reação nos anos sessenta, o poder “demonizou” esse movimento e as religiões chamaram de um movimento degenerado. Claro, que alguns exageraram. Porém, outros viveram a liberdade.
No Brasil a coisa se degenera porque há vários interesses de deixar o povo ignorante. Foram seculos de alienação desaviadas que culminaram em 15 anos de presidentes ignorantes, deputados artistas e por ai vai. Nunca tivemos um plano de modernizar o Brasil. Porém, com essa “onda” niilista mundial, o Brasil não fica atrás. Jovens que não tem nenhuma noção da harmonia – até mesmo os rockeiros e metaleiros tem noção de harmonia – sem nenhuma noção daquilo que é bom e os valores nobres (até mesmo, um ideal verdadeiro) somos uma sociedade com uma juventude liquida. Uma juventude que faz drama por tudo. Quer ter razão em tudo. Não gosta de ser frustrado em nenhum momento.