
Amauri Nolasco Sanches Junior
Nos Estados Unidos, além de serem
construídos por pessoas que tinham a linha protestante, ainda muitas
escolas e universidades foram, igualmente, construídas. Mas,
diferente das universidades e escolas católicas – que tivermos
várias no Brasil – que eram mais catequese do que outra coisa, os
colonos americanos (da Nova Inglaterra como eram chamados os Estados
Unidos na época), fizeram todas laicas (e olha que a maioria era
Quacker). Por que fizeram as universidades laicas e sem nenhum viés
religioso? Porque não eram só os filhos daquela comunidade que
estudariam ali, mas, todos poderiam estudar no mesmo lugar. A questão
sempre foi promover e incentivar um ensino de qualidade para formar
mais profissionais que poderiam somar para a própria comunidade.
A questão lá já se resolveu no
período colonial, aqui só se resolveu com a vinda do principie
regente em 1808. Enquanto as universidades americanas já funcionavam
no século quinze e dezesseis, as nossas só tomaram corpo no século
vinte e muito vagabundadamente. As universidades brasileiras são
ideologizadas, porque o governo nunca se preocupou com elas e mais
ainda, no regime militar. Por que tirar do currículo escolar francês
e outras línguas? Por que tiraram filosofia e sociologia? Para
começar, mesmo as comunidades protestantes americanas e países como
a Alemanha – que aliás, é o país original de Martinho Lutero –
os pilares de uma boa educação é exatamente, a filosofia (como uma
visão crítica) e sociologia (que não é diferente da educação
cívica que o regime militar colocou nas escolas). Não há razão
nenhuma em não financiar uma educação de verdade.
Por que a esquerda é canalha? Há
trinta anos, tivemos governos de esquerda de muita radicalidade ou
pouca radicalidade, mas, a prova cabal que só tivemos governos e
políticos de esquerda é a constituição brasileira. A constituição
é completamente, de esquerda e um viés esquerdista. Isso não é
ruim, pelo menos para mim, porque a esquerda também tem pontos
bastantes positivos. Mas, não melhoraram a educação. Na verdade, a
educação nunca foi valorizada pelo Brasil porque se detesta a
teoria, porém, países desenvolvidos prezam muito a teoria. Grosso
modo, a teoria sempre foi uma importante fronteira daquilo que é
teórico e aquilo que é prático (seria uma discussão entre os que
apoiam Platão e os que apoiam Aristóteles). Platão achava que a
sabedoria – os gregos tinham uma outra ideia de “sophia” que
nos remete a felicidade (eidainobua) – só era alcançada, quando
sempre buscamos o conhecimento, ou seja, o mundo Inteligível (dai
vem o termo intelectual) ou se preferirem, o Mundo das Ideias. Já
Aristóteles, divergindo do seu mestre, vai dizer que a felicidade se
dará na prática, porque o homem é racional e sempre vai buscar o
saber. Nesse saber estará a ética e a ética só vale se for
prática. Mais ou menos, o que os gregos, no tempo dos dois
filósofos, fizeram na educação (que se chamava Paideia). Mas, além
da paideia existe para o grego naquele tempo, o “ethos” que tem
uma tradução como caráter. Exatamente isso, Aristóteles diria que
existe em cada um caráter e sem esse caráter não existe a
felicidade.
Porém, Aristóteles vai muito além,
ele vai dizer que graças essa busca ao saber – porque o homem é
racional – ele constrói esse caráter (ethos) e é um animal
gregário (zoo politikon) e deve usar essa ética para cuidar da
polis. No modo de ver aristotélico, o ser humano com o saber, sempre
terá um caráter prudente e sempre buscara aquilo que é bom e justo
dentro da sociedade. Ou seja, o homem como ser social, deve pôr em
prática aquilo que encontrou na procura do saber e buscar sempre o
equilíbrio necessário. Acho – porque não sintetizei ainda se é
ou não – que o pensamento aristotélico sempre predominou a nossa
cultura, graças a colonização e a catequização do catolicismo. A
igreja romana usou Aristóteles até o telo para configurar seu poder
– além de Platão e o estoicismo – porque você não tem que
pensar muito e sim, temos que fazer. Por outro lado, a
industrialização seguiu os princípios escravocratas aqui no
Brasil.
A grosso modo, seria deixar uma
parte da população sem estudo no morro para ter mão de obra.
Claro, o pensamento evolui e muitos industriais – principalmente,
de empresas internacionais – incentivam o estudo, porque entendem,
que um empregado com maior conhecimento, é um empregado versátil.
Porém, a grande maioria, ainda acha que é papel do governo dar
escolaridade e que ele – o empregador – só vai procurar a mão
de obra. Erro crasso. Se um faxineiro não souber ou não ter noção
de química, pode usar produtos errados e assim, deteriorar muito
mais rápido os utensílios do banheiro. Porém, se teve uma
autovalorização do diploma universitário – sempre lembrando, que
a burocracia sempre vai incentivar a corrupção – e cursos como
filosofia, sociologia e a maioria de humanas, exige-se diploma. Essa
é uma contradição da esquerda aguerrida brasileira, porque ao
mesmo tempo ela branda aos quatro ventos a luta de classe, ao mesmo
tempo, exigem certificados que é o maior símbolo do capitalismo
vigente.
Vou usar um exemplo. Para mim, um
professor deveria fazer um teste de professor (daquela matéria que
ele vai dar), assim, só teria certificado cursos de maior risco,
como médico, engenheiro (de todas as áreas) e etc. E vou dar outro
exemplo, minha crítica do Olavo de Carvalho nunca foi ele não ter
um diploma de filosofia, porque eu sei o que é as pessoas falarem
que você não tem diploma (mesmo eu tendo, existem amigos que não
incentivam meus livros porque não tem “pares” e não tem
relevância acadêmica e são de esquerda) e não pode falar sobre
aquilo. Mas, a confusão que ele faz dos filósofos e suas
filosofias, que puxa um viés católico (além de embolar Epicuro com
PNL no O Jardim das Aflições). Primeiro, Epicuro nunca disse que
devemos se entregar ao prazer desmedido e sim, ter prudência dentro
dos desejos que temos. Sempre lembrando, que para o grego, a
sabedoria (sophia) tinha a ver com a felicidade (eudaimonia).
Hoje a escolarização – pois, a
educação vem da família – é voltada para fins econômicos e não
para melhorar a polis. Um filósofo trabalha até mesmo, em empresas
de software na parte ética, assim, existem palestras que são
importantes para reforçar a ética. Mas, na questão da educação,
vimos o desastre que é daqui. Mesmo nas passeatas, vimos cartazes
com dizeres errados, comunicados – escritos por professores – que
não tem uma escrita impecável. Que deveria ser o alicerce mais
forte. Mais destacado para exigir uma educação de qualidade. Faz
quinze anos que não temos um presidente que pelo menos, saiba falar
e tenha uma pronuncia de um presidente da republica. Sem a leitura
não há nenhum debate.
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