Amauri Nolasco Sanches Junior
“Sim, eu sei de onde venho!
Insatisfeito como o fogo, ardo para me consumir. Aquilo que toco
torna-se chama, e em carvão aquilo que abandono. Sou fogo, com
certeza!” — (Friedrich Nietzsche)
Postei outro dia um meme do
ex-presidente Lula, dizendo que a biblioteca particular dele pegou
fogo e tinha dois livros, mas, teve um que ele não conseguiu
terminar de colorir. Humor. Dar risada e se divertir faz parte da
filosofia, que aliás, os filósofos sempre fizeram da ironia seu
ponto forte. Demócrito – filósofo pré-socrático – era
conhecido como o filósofo risonho (ria muito). O próprio Sócrates,
sabia colocar um ponto de ironia nas suas perguntas que levaram uma
das alás que vieram da sua filosofia, os cínicos, a fazerem uma
ironia mais acirrada e provocativa. E dentro dessa pérola do humor,
está e sempre estara, Nietzsche que defendia o deus Dionísio (deus
do vinho e da felicidade).
Existe um pequeno poema na abertura
do seu livro Gaia Ciência que diz assim:
"Vivo em minha própria casa
Jamais imitei algo de alguém
E sempre ri de todos os mestres
Que nunca se riram de si também"
Nietzsche fala da sua “própria
casa” que é, suas próprias ideias e seus próprios conceitos e
que não vai na onda dos outros, de ideologias baratas, de religiões
que subverteram os seus ensinamentos para dominar pelo medo. Então,
Nietzsche, diz que ri de todos os mestres, porque trazem as verdades
absolutas e como disse o filósofo no próprio livro, não há fatos
eternos e nem verdades absolutas. Por fim, ele diz que esses mesmos
mestres nunca ri de si, porque se levam muito a sério. Todo mundo
que tem uma verdade se leva a sério demais, se identifica como um
guerreiro que está numa missão de igualar a humanidade para viverem
felizes. Só que a felicidade é algo subjetivo e que tem um viés no
desejo.
A esquerda cirandeira não entendeu
que Nietzsche não gostava do socialismo – aliás, ele não gostava
de nenhuma cultura moderna – porque ele achava que não tinha muita
diferença da religião. Numa parte, ele diz que o socialismo era uma
religião da igualdade e que eram coisas de pessoas ressentidas. Ele
não estava errado, pois, na essência do socialismo está sempre o
amanhã de um mundo melhor, não muito diferente, do cristianismo. A
pergunta é: e o hoje? Nesse momento? Nesse exato instante? O agora
que existe e não o amanhã, o passado só é mais uma lembrança.
Por isso mesmo que não existem verdades absolutas, porque as
verdades vão mudando conforme nossos atos do hoje. Nesse momento. O
socialismo defende uma igualdade dos ressentidos, aqueles que olham
quem rompeu sua realidade para mudá-la.
Na verdade, o ressentido é o cara
que não sabe chegar lá, pensam que quem chegou roubou dele. Não. A
inveja que subverte o bom para o fraco, aquilo que alastra o que é
“rastejante”. Nietzsche vai explicar que bom, na verdade, vem do
latim bonnus que eram guerreiros da elite dos centuriões do império.
Os mais treinados. Os mais capazes. Os que detinham o melhor
conhecimento. O bom da igreja romana, era o rastejante, aqueles que
quer ser mais do que o outro, não por capacidade, mas, por vantagem,
por sempre achar que vai levar alguma coisa em troca.
Muitas pessoas não ficam atreladas
e presas dentro do preconceito, dentro de uma condição
diferenciada. Não há diferença para elas o que um cadeirante pode
fazer, ou o que um outro indivíduo faz. O socialismo coloca como se
o ESTADO só pode promover a igualdade, o sufocamento do desejo, de
só usar o essencial. Sufocando assim, a evolução e a ordem natural
do homo sapiens de sempre querer conhecer o mundo (realidade) e
coisas novas. Por isso mesmo, Nietzsche vai dizer toda moral vinda da
modernidade – junto com conceitos cristãos – é antinatural,
porque sufocam esse saber esteticamente (pelo gosto). Os gregos só
seguiam aquilo que gostavam. As esculturas mostram a estética de
modo essencial. Pura. Natural. Sempre respeitando as diferenças
individuais, um Zeus não pode ser igual um Apolo. Tinha as questões
estéticas de defeitos, traços únicos. Mostrando que a natureza
nada é igual e sim, há individualidade.
Portanto, é uma insanidade achar
que tanto a esquerda, quanto a direita – o anarquismo também –
encontrar meios de encaixar Nietzsche nessas ideologias. Nietzsche
era chama que devorava tudo. Não é à toa, que ele filosofava com o
martelo.
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