sexta-feira, 10 de maio de 2019

Inclusão na Netflix: Special e Atypical









Amauri Nolasco Sanches Junior


Quem me conhece sabe muito bem que não tenho nenhum conceito moralista, nenhum traço de ser uma pessoa conservadora. Acho, que se dizer conservador no Brasil é meio fora de mão, como os carecas do ABC se dizerem nazistas – aliás, pesquisas mostras que os únicos homo sapiens puros são os africanos daí podemos dizer: Chupa Hitler! – porque você não quer conservar uma politica que sempre foi sinônimo de corrupção. Ser a favor da família são valores morais e está em uma certa tradição e não, dentro do conservadorismo. Enfim, não sou a favor de cercear o direito das pessoas dentro da sexualidade ou de qualquer desejo, mas, não podemos exagerar para não ficarmos com certas imagens. Assim, minha análise das series Special e da série Atypical vai ser uma análise além do que as pessoas dizem, como “legal” ou que eles falam da deficiência. Vai chocar muito gente, mas não vejo diferença nenhuma entre as duas séries e as novelas da Globo.
Por que eu digo isso? Por exemplo, no Special o personagem principal é um estudante de jornalismo com paralisia cerebral – eu tenho a mesma deficiência que ele, então, tenho lugar de fala – que anda e é gay (se preferir, homossexual). A mãe dele subprotege ele e assim, ele não sabe fazer nada. Todo mundo do estagio – menos a melhor amiga dele – pensa que ele ficou assim por causa do atropelamento que ele foi vitimado, apenas, dois meses antes porque sua melhor amiga achou que assim ele ganharia destaque dentro do tabloide (são jornais vagabundos que o povo adora ler). E fala serio, a chefe dele parece uma retardada mental. Sinceramente, ultimamente não tenho saco para comédia americana que parece um bando de debeis mentais achando que estão fazendo graça para ri.
A caracterização do personagem ficou bom – lógico que existem atores bons que interpretam perfeitamente, como o ator que fez o Christy Brown no Meu Pé Esquerdo – porque o ator é da mesma deficiência (a cara de bobo não nega). E tem um outro porém, os personagens em volta do deficiente – tanto no Special, quanto do Atypical – são destaque, coisa que não cabe numa série para contar uma história e foi a única coisa que eu não gostei tanto no livro, como no filme no Extraordinário. Assisti três filmes sobre pessoas com paralisia cerebral – Meu Pé Esquerdo, Gaby – Uma Historia Verdadeira e Porta em Porta (acho que todos tem no YouTube) – que o personagem principal é quem protagoniza a história. Sinceramente, eu não quero ver se a mãe dele namora e nem como ela namora, quero ver o personagem principal. Agora vou falar da sexualidade dele.
Aquela cena que ele transa com o gogo boi na cama com o óculos é uma cena ridícula. Ficou parecendo o seguinte: que as pessoas com alguma deficiência só vai transar se pagar ou por piedade e, sinceramente, quem paga para fazer sexo é uma pessoa que não tem ideia ou é tão vagabundo que não sabe conquistar. Verdade. Fora que a cena ficou grotesca e depois, para amenizar a “merda” que fizeram, colocaram o gogo boi dizendo que ele era “fofo”. Espera ai! Nós lutamos para incluir as pessoas com deficiência, para tirar o estigma de infantilização da nossa imagem para o Netflix – uma empresa americana que é uma nação que os deficientes têm uma vida normal – colocar um gogo boi chamando um deficiente de “fofo”. Eu achei uma novela e sinceramente, novelas eu não gosto.
No mesmo modo, podemos falar do Atypical que é uma história sobre um autista. Não consegui ver nem três episódios. Primeiro, deveriam mudar a sinopse do seriado (talvez, do Special também), para a história da família das pessoas com deficiência e não da pessoa, porque o foco acaba sendo a família. Para começar, mostra o conflito existencial da irmã dele que acaba, no final das contas, arrumando um namorado. Depois, o cotidiano da mãe dele fica chato e ela vai para altas aventuras por ai. No final das contas, o que nós vemos é o autista que tem um amigo, vai para escola e sofre preconceitos como qualquer pessoa que tem deficiência vive. Um seriado, que pouco me deu tesão para ver, e que deu um tédio danado.
É importante como divulgação sobre nossa causa? Talvez. Mas como eu disse antes, no mesmo modo que essas séries mostram a deficiência, tem algumas imagens que ficam estigmatizadas dentro do segmento das pessoas com deficiência. Como, por exemplo, do personagem do Special chamar a mãe porque não sabe desentupir uma privada. Eu que sou cadeirante, desentupo várias vezes a minha privada e ainda, limpei várias vezes a mesma privada. A questão é: se queremos transar, namorar, casar e ter uma vida, mais ou menos, normal, não temos que desentupir uma privada? Se o cara transa com um gogo boi, ele não pode desentupir uma privada? Claro que o fato de não poder desentupir uma privada não faz pessoas serem independentes ou dependentes, mas, as pessoas têm a mania de generalizar só por causa de um caso. Se apegar a um fato só para argumentar a vários fatos não é um argumento bom, porém, é usado com argumento para escolas especiais, para mães que não querem que seus filhos namoram, para trancafiar seus filhos e por ai vai. Acho que esse tipo de imagem, rotula as pessoas com deficiência a serem bobos, as mães mulheres frustradas e ainda, coloca como se a família vivesse em torno 24 horas por dia a pessoa com deficiência. Desculpe-me, mas, só é mais uma novela com pessoas deficientes.

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