domingo, 12 de maio de 2019

Não são mães especiais, são mães de pessoas com deficiência e síndromes




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Eu e minha mãe na praia e ela me segurando

Amauri Nolasco Sanches Junior

Minha mãe se foi a cinco ou seis anos para o mundo espiritual – embora, eu sei, que ela vem nos meus sonhos me ver – vitima de câncer e que no começo, foi muito difícil eu lhe dar com isso. Hoje já vejo que a minha mãe ensinou a me virar e se preparar para o inevitável, elas vão embora e isso é tão natural como o abacateiro dá abacate e a mangueira dará manga. Porém, uma outra lição que a minha mãe deixou e levarei para sempre no meu coração é: “se cuida”. Esse se cuidar não é qualquer se cuidar, e sim, se virar as diversidades da vida e por mais que eu esteja bem com meu pai, não é a mesma coisa. Mãe é única e deveríamos cuidar com amor dela. Mas, não fico triste, porque sei muito bem, que ela não quer que eu fique.


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Eu na primeira comunhão aos 11 anos de idade com a minha mãe


Uma coisa que ela não gostava era ser chamada de “mãe especial”, porque sempre quando se fala em “especial”, estamos lhe dando uma outra condição. Na verdade, especial é um adjetivo que mostra uma exclusividade específica a uma condição única e então, como somos pessoas com alguma deficiência, elas se transformam em mães específicas. Ou seja, é, segundo a nossa cultura católica dramática, uma pessoa particular numa condição particular. Minha mãe dizia que não era nada especial, assim como, ela achava que eu não era uma pessoa especial. Afinal, eu fui criado sempre em pé de igualdade com meus irmãos e mais, nada de sermos dois homens e uma mulher (e minha prima chegou depois). Aliás, minha mãe sempre dizia que se eu e meu irmão, deixasse alguma namorada gravida, a gente trabalharia e sustentaria o filho. Resultado: nenhuma namorada grávida.

Mas, voltando a mãe especial, minha mãe odiava esses termos pomposos que as pessoas tinham a mania de se colocar. Como se fosse um consolo ou uma desculpa, para esconder a culpa de ter um filho com deficiência ou alguma síndrome. Quantas mães não sabem como cuidar uma pessoa com deficiência? Claro, que tem aquelas series idiotas que confirmam a imagem de mães que sub protegem o filho, que acham que o filho não pode enfrentar o mundo. Minha mãe não tinha isso não, ela dizia que eu deveria enfrentar o mundo e ter uma vida. Afinal, eu iria continua minha jornada. Nunca achava que caixao deveria ser duplo só porque eu tinha deficiência, pois, a deficiência nunca era um empecilho para a vida. Minha primeira viagem, foi aos 16 anos de idade na FCD (Fraternidade Cristã das Pessoas com Deficiência) para Pindamonhangaba e sozinho com meus amigos. Foram experiências superimportantes dentro da minha vida, porque hoje eu consigo sair sozinho. A questão é ter segurança na sua capacidade de se virar nas diversidades da vida.
Não existe nenhuma mãe especial, existem mães que tem filhos com deficiência e isso já basta para ter certeza que Deus sempre coloca almas dessas nas mãos de mulheres fortes. Minha mãe era uma alma espartana.



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