Eu e minha mãe na praia e ela me segurando |
Amauri Nolasco Sanches Junior
Minha mãe se foi a cinco ou seis
anos para o mundo espiritual – embora, eu sei, que ela vem nos meus
sonhos me ver – vitima de câncer e que no começo, foi muito
difícil eu lhe dar com isso. Hoje já vejo que a minha mãe ensinou
a me virar e se preparar para o inevitável, elas vão embora e isso
é tão natural como o abacateiro dá abacate e a mangueira dará
manga. Porém, uma outra lição que a minha mãe deixou e levarei
para sempre no meu coração é: “se cuida”. Esse se cuidar não
é qualquer se cuidar, e sim, se virar as diversidades da vida e por
mais que eu esteja bem com meu pai, não é a mesma coisa. Mãe é
única e deveríamos cuidar com amor dela. Mas, não fico triste,
porque sei muito bem, que ela não quer que eu fique.
Eu na primeira comunhão aos 11 anos de idade com a minha mãe |
Uma coisa que ela não gostava era
ser chamada de “mãe especial”, porque sempre quando se fala em
“especial”, estamos lhe dando uma outra condição.
Na verdade, especial é um adjetivo que mostra uma exclusividade
específica a uma condição
única e então, como somos pessoas com alguma deficiência, elas se
transformam em mães específicas. Ou seja, é, segundo a nossa
cultura católica dramática, uma pessoa particular numa condição
particular. Minha mãe dizia que não era nada especial, assim como,
ela achava que eu não era uma pessoa especial. Afinal, eu fui criado
sempre em pé de igualdade com meus irmãos e mais, nada de sermos
dois homens e uma mulher (e minha prima chegou depois). Aliás, minha
mãe sempre dizia que se eu e meu irmão, deixasse alguma namorada
gravida, a gente trabalharia e sustentaria o filho. Resultado:
nenhuma namorada grávida.
Mas, voltando a mãe especial, minha
mãe odiava esses termos pomposos que as pessoas tinham a mania de se
colocar. Como se fosse um consolo ou uma desculpa, para esconder a
culpa de ter um filho com deficiência ou alguma síndrome. Quantas
mães não sabem como cuidar uma pessoa com deficiência? Claro, que
tem aquelas series idiotas que confirmam a imagem de mães que
sub protegem o filho, que acham que o filho não pode enfrentar o
mundo. Minha mãe não tinha isso não, ela dizia que eu deveria
enfrentar o mundo e ter uma vida. Afinal, eu iria continua minha
jornada. Nunca achava que caixao deveria ser duplo só porque eu
tinha deficiência, pois, a deficiência nunca era um empecilho para
a vida. Minha primeira viagem, foi aos 16 anos de idade na FCD
(Fraternidade Cristã das Pessoas com Deficiência) para
Pindamonhangaba e sozinho com meus amigos. Foram experiências
superimportantes dentro da minha vida, porque hoje eu consigo sair
sozinho. A questão é ter segurança na sua capacidade de se virar
nas diversidades da vida.
Não existe nenhuma mãe especial,
existem mães que tem filhos com deficiência e isso já basta para
ter certeza que Deus sempre coloca almas dessas nas mãos de mulheres
fortes. Minha mãe era uma alma espartana.
Muito bom Ju����
ResponderExcluirObrigado Ro Misso Dark
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