Amauri Nolasco Sanches Junior
Eu gostei da série Games of Throne
– confesso que não li nenhum livro – exibida na TV
norte-americana, HBO. Como disse no texto sobre Daenarys, Games of
Thrones ensina muito mais de politica do que muitas series que
mostram os bastidores do poder. House of Card, por exemplo, mostra
uma visão muito mais local da politica (no caso, a dos EUA),
enquanto Games of Thrones, mostra uma coisa mais universal e histórica dentro do poder. Mas, como uma pessoa com deficiência,
quero destacar dois personagens dentro do universo da saga. Uma é o
Brandon Stark e o outro, é Tyrion Lannister. Porque, a questão do
preconceito e de achar que somos inúteis – até mesmo na família –
é bem pontual dentro de qualquer família. Tyrion teve um papel
crucial dentro da saga e Brandon, mostrou um lado bastantes
espiritual, da deficiência.
Tyrion sempre foi odiado pelo seu
pai e sua irmã Cersei – no qual, no final, tentou salvar – por
acharem que ele tinha matado sua mãe ao nascer. O único que sempre
tratou ele igual foi Jaimes Lannister. Porém, além de ser a mão
(seria o conselheiro) do seu sobrinho, que morreu envenenado, ainda
ele foi da rainha Deanarys. Achei a frase “o amor mata o dever”
bem interessante, mas, Tyrion disse que o dever mata o amor. Jon
sabia que teria que matar Daenerys por causa da sua idealização do
bem, pois, mesmo que quisesse a liberdade de todos os escravos, ela
mataria inocentes. Eu achei os capítulos finais da série bastantes
dentro da filosofia de Maquiavel, ou seja, o governante deve sempre
procurar o bem, mas, não pode desmerecer o mal como uma das soluções
viáveis. O mal foi feito para derrubar um reino tirânico e insano,
mas, teve que matar sua libertadora para achar uma solução racional
e pacifica.
Nada melhor que um rei que olha para
o seu reino no ângulo de baixo, da proteção justa e que não
queria ser o rei. O simbolismo da destruição do trono de Ferro foi
o simbolismo da destruição da ambição, da guerra e da ganância.
Não há melhor maneira de ter acabar com a ganância do o objeto de
cobiça? A ira de Drogo (o único dragão que restou dos três da
Deanarys), simboliza a destruição do poder irracional (que matou
sua mãe) e um novo começo, com o poder racional, justo. Dragões
tem um simbolismo de sabedoria (sophia) e isso é muito rico dentro
das histórias orientais, no ocidente os dragões são o simbolismo
do mal. Porém, a gente sabe que vários simbolismos que temos a
igreja romana inventou ou deturbou, para dominar os camponeses ou
aldeões (como apareceu também na série), que ainda acreditavam nos
deuses pagãos.
Portanto, os dragões da série não
são demônios ou símbolos do mal, mas, símbolos do poder da
sabedoria. Quando um deles foi para o lado sombrio – como montaria
do Rei da Noite – ficou a sabedoria para o mau, aquilo que está no
inconsciente. O Rei da Noite simboliza as ideologias que criam
zumbis, criam pessoas que morreram (como pessoas que desejam, amam e
etc.), para se tornarem seus peões (como no xadrez). Mas, o dragão
e os zumbir se disfacelam quando o líder é eliminado (sua ideologia
vai junto com ele). Não vimos um monte ao longo da história e ainda
temos um monte? Ora, há vários nas redes sociais que seguem esses
“reis da noite”.
Tyrion mostrou o quanto uma pessoa
pode amadurecer por ser diferente, no mesmo modo, há um grande
amadurecimento no Brandon (quase todos os personagens). A limitação
faz de nós, pessoas que podemos olhar o mundo de outra maneira e de
outros aspectos. A visão mistica da deficiência (o corvo de três
olhos simbolizando a sabedoria de Odin), não é nova, porque o ser
humano rejeita aquilo que não tem certeza. A deficiência é uma
variável perfeita dentro do aspecto da realidade (dentro da
evolução), mas, no conceito determinista e ideológica, a
deficiência acaba sendo uma entrave dentro do pensamento prático, o
pensamento vigente e o pensamento que a essência perfeita. Mas,
essências são como energias, não tem forma alguma. Todas as
mitologias – ou a maior partes delas – fala de uma consciência
sem forma nenhuma, e se não há forma, não há a perfeição da
ideologia humana.
Por que a deficiência é uma
variável possível? Porque dentro da evolução sempre teve um papel
crucial dentro das mudanças dentro do nosso corpo e dentro da
genética, sendo que mesmo as flores não são iguais, existem árvores
com malformação, existem animais sem os membros. Adaptação sempre
é o foco. Somos misticos – temos várias pessoas que vê coisas
sobrenaturais, tem uma visão além da realidade vigente – porque o
tempo para nós, é diferente. Temos que esperar. Sentimos mais.
Temos mais sensações com as outras pessoas. Temos uma visão da
verdadeira realidade.
Nossa visão é muito mais subjetiva
– esse subjetivismo não quer dizer antiético – porque o ser
humano é escravo do seu próprio conforto, pois, não há liberdade
dentro da realidade religiosa e ideológica. A religião
institucional leva ao desespero e a desconfiança (o suicídio de
pastores é um grande sinal disso), a ideologia faz o ser humano
querer um líder (que Freud vai chamar da visão paterna), que o
proteja e faça sua vida feliz. Não encontra nada além daquilo e
não descobra seu potencial e só vai encontra, se conhecer a si
mesmo. As ideologias e as religiões sempre nunca barrarão isso de
querer conhecer a você mesmo. Afinal, a quem o ser humano vai
procurar se estará seguro de si mesmo? Mesmo acreditando no
subjetivismo, acredito que temos certos valores éticos e morais.
O preconceito nasce do medo – já
que a deficiência é um mistério que assusta o ser humano –
porque desse medo, nasce várias lendas. Anões, currupiras, faustos,
sereias, medusas e etc, que mostra um ligeiro julgamento errado disso
tudo. A questão da deficiência sempre foi estranho, mas, não
deveria ser. Na verdade, vendo os comentários sobre o Bran ser o
rei, vimos muito a imagem do cadeirante como um sujeito que não
presta para nada. O culpado disse por um lado, é da própria pessoa
com deficiência que se coloca nessa condição, por outro lado, a mídia (na sua eterna exploração por causa de audiência) alimenta a
imagem de “coitado”. Nem anjo e nem demônio, mas, um ser humano.
Porém, a imagem do Brandon Stark como rei, é uma imagem de um rei
que já tem embutido questões éticas, de justiça e questões muito
além, porque somos atacados pelo preconceito e pela discriminação.
Tanto Bran viveu isso, como o Tyrion viveu, mas, nunca renegaram a
suas aparências. Eu defendo que as pessoas com deficiência deveria
renegar toda a cultura que nos discrimina, ir para a cultura
alternativa e esquecer tudo e toda a sociedade que nos rejeita. Eu
leio livros, aprendo cada vez mais. Eu ouço rock que me dará uma
visão crítica do mundo. Eu não tenho religião, porque não sigo
nenhuma que me faz um sofredor e inútil (que sempre quer me curar).
Não sigo nenhuma ideologia politica, pois nenhuma fala em
acessibilizar, melhorar as condições não só das pessoas com
deficiência, mas, da maioria.
Outra coisa que ninguém sabe,
tivemos reis deficientes, tivemos imperadores deficientes.
Presidentes cadeirantes que tiveram que esconder sua deficiência por
vergonha. Tivemos todo tipo de governante com deficiência e nem por
isso, eles foram bons e ruins. E isso não só a questão da
sociedade, também é questão da família. Não pode sair com roupa
tal. Não pode sair com fulano. Não pode escrever declarações de
amor no Facebook. Não pode namorar. Não pode casar. Não pode sair
com saia ou com um decote chamativo (como se a culpa fosse da mulher
com deficiência ou sem deficiência). A própria pessoa com
deficiência com a veneração da família, não cobra dela
acessibilidade, não cobra dela liberdade e respeito, não cobra o
mínimo de ética. Tyrion mostra o quanto isso é verdade. O quanto
devemos sempre travar uma guerra para o amadurecimento (na questão
da família, escrevei outro texto).
Gostei no final e gostei que o rei
foi um cadeirante.
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