domingo, 6 de dezembro de 2020

3 de dezembro – tem algo para comemorar?

 


Por Amauri Nolasco Sanches Júnior

Como estou nas provas do meu curso de Licenciatura de Filosofia, não escrevi no dia internacional das pessoas com deficiência, muito embora, eu tenha escrito um pequeno texto lá no Instagram (vou colocar no final desse). Nesse ínterim, eu vi um vídeo da youtuber Mariana Torquato, dona do canal “Vai uma mãozinha ai” - fazendo um trocadilho quanto a sua deficiência que é não ter um dos braços – gravou um vídeo com várias frases que as pessoas fazem e falam para as pessoas com deficiência, mas, que achei além de generalizado, achei bastante genérico e acho que a discussão linguística, bastante subjetiva e inócua e aprendemos isso na filosofia de linguagem (que usa a lógica pura). Podemos pegar o exemplo de uma fala que diz que não quer falar com o papai noel porque é coisa de criança, adultos não falam com papai noel. Por que eu não posso querer falar com o papai noel por eu ser adulto? Alias, tenho fotos do papai noel do Shopping Aricanduva, que eu e minha ex-noiva, estamos tirando foto com o papai noel. E isso é normal, está tudo bem. O “querer” passa pela vontade e se eu tenho vontade, isso nada tem a ver em ser ou não criança, ser ou não ser uma pessoa.

Lógico, que ser chamado de especial ou as pessoas acharem que nós ficamos o dia inteiro em uma cama, incomoda, mas temos que ter cuidado em achar que ser adulto é ser chato. Eu mesmo, como eu disse lá em cima, tenho foto com o papai noel, assim como, tenho foto com bonecos famosos. O problema é as pessoas acharem que as pessoas com deficiência são crianças, ai é para dizer não, sem ser mal-educado. Pois, a meu ver, dá para ser duro com uma questão sem ser estúpido e até argumentando que não sou criança e não quero fazer tal coisa. O problema que esse tipo de pensamento acaba sendo seletivo, porque ao mesmo tempo tudo isso do vídeo incomoda, outras pautas e outras maneiras de expressar na nossa cultura, são toleradas. Como a música “Cadeira de Rodas” do Fernando Mendes, onde ele diz que tinha uma menina (provavelmente, adolescente) que vivia triste a chorar, sendo, que isso é um estereótipo clássico no capacitismo. Porque – isso eu já escrevi em um outro texto – a imagem da cadeira de rodas foi muito estigmatizada (no sentido de estar ligada) a doença por causa do uso em hospital, mas ela foi idealizada para uso de pessoas que perderam membros em guerra. Há, até mesmos estudiosos, que dizem achar que na Grécia antiga já se usava cadeiras de rodas para veteranos de guerras. Ou seja, a cadeira de rodas sempre foi uma ideia onde havia uma utilização para a locomoção das pessoas com deficiência física. Talvez, essa ideia de sofrimento tenha vindo da igreja católica que estigmatizou as pessoas com deficiência como sofredoras.

Embora eu tenha feito toda essa análise, não acho que ser chamado de deficiente ou pessoa com deficiência, vai fazer diferença na questão do capacitismo. Claro, mudanças linguísticas podem acontecer e acontecem com frequência durante uma construção de cultura de uma nação, mas temos que romar cuidado para não ferir liberdades subjetivas que pode ferir o direito do outro de se expressar ou de pensar. Temos que mostrar que as pessoas com deficiência – e isso é bastante importante – pode ser uma pessoa como outra qualquer e isso, em prática, pode ser cobrado e enfatizado na questão de acessibilidade. Mas, como ter acessibilidade se existem mães que prendem cadeirantes dentro de casa? Como ter acessibilidade se o próprio governo acha que não tem demanda ou grana para fazer? Para ter bons profissionais com deficiência, se tem que ter escolas e essas escolas, pasmem, estão sendo sorteadas para serem adaptadas para receberem crianças com deficiência. Até mesmo, o governo federal tentou voltar as classes especiais para, exatamente, não adaptar essas escolas e jogar, mais uma vez, para debaixo do tapete.

Para as empresas contratarem cadeirantes se deve parar de tratar pessoas com deficiência trabalhando como uma coisa extraordinária, pois, não é. Uma pessoa entregando comida numa cadeira de rodas ou um muletante sem a perna puxando um carrinho, não faz dele uma pessoa especial, e sim, um trabalhador como outro qualquer. Nem acho que quem não trabalha é vagabundo. Porque as pessoas acham que é isso, a imagem da deficiência sempre vai ficar ligada a doença enquanto as pessoas ficarem postando que coisas cotidianas, são coisas especiais. Não estou fazendo Licenciatura de Filosofia para ser exemplo de superação, pois, não quero ser exemplo de porra nenhuma, mas porque eu gosto.


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