terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Matrix7 – “O Dilema das redes” um documentário vagabundo

 


Por Amauri Nolasco Sanches Júnior



não sei o porque – na verdade, eu sei mas eu quero que você descubra por si mesmo – as pessoas cultuam coisas sem graça nenhuma e que nada tem a ver com o debate mais amplo das mídias sociais. Porque, sabemos muito bem, que não tem nenhum dilema social, o que tem são pessoas que pensam diferente e está tudo bem, porque pessoas pensam diferente a todo o momento. Não existe dialogo? Não. E isso é muito antes das mídias sociais existirem, porque a intelectualidade tem um modo ético (a intelectualidade e a burguesia), e o senso comum tem em um outro nível, porque ignoram várias coisas que quem lê e estuda, sabe que não é bem por ai a conversa. Documentários como “O Dilema da Rede” (que já fazem uma tradução tendenciosa de “The social dilemma”, que seria numa tradução livre, O dilema social, que nos fazem ver que não é um documentário só das mídias sociais), são, na verdade, documentários para doutrinar os jovens dizendo que quem não escolhe um dos lados, tendem a ser pessoas que não tem nenhum dialogo. Mas não é bem assim. 

Por que condenaram o filósofo Sócrates de Atenas? Ora, Sócrates, tinha um jeito novo de filosofar além de ensinar e além daquilo que se chamava na época, physis. Pois, Sócrates tinha um outro problema além daquilo que se tornou a procura da origem de tudo, ele se preocupava com a alma (psique). Mas, não era a alma que viria a ser na nossa cultura cristã, é a alma como uma energia que lhe dará a vida, é você por essência. Depois, seu método (a dialética é, completamente, platônica) consistia em exortação (proteptikós) e indagação (elenkhós). Ou seja, você exorta uma ideia para assim, você indagar essa ideia. Mas tem algo além disso, Sócrates tinha um dilema que era cuidar da sua alma, no modo de que você deveria ter prudência (phronesis) e a refutação (elenkhós), onde você chegaria a uma verdade. Assim, o conhecido “conhece-te a ti mesmo” era chegar até a sua alma e colocar em questão se aquilo que é ou não a realidade dos fatos. Quem garante que tudo que aparece nos programas policiais é a verdade? Quem garante que os personagens que aparecem no documentário são mesmo ex-funcionários das empresas das mídias sociais? A questão, na sua essência, era descobrir se a pessoa sabe mesmo. 

Fizeram um processo contra ele, não foi o povo, não foi ninguém do seu convívio e sim, um poeta desconhecido amigo da elite atica da época. Se Sócrates vivesse hoje, ele seria alvo da grande mídia, estaria nos grandes documentários do Netflix, estaria sendo analisado pela academia. Mas, ele vivia numa Atenas já em decadência que se segurava na democracia como um ponto de mostrar que lá era livre, existiam os poetas, os filósofos e os sofistas (os ancestrais dos advogados) que transitavam e debatiam as ideias livremente. Socrares mostrou que não era bem assim, os grandes oradores, teóricos e sofistas, só repetiam o que aprendiam. Você repetir, como todos nós sabemos, é só você repassar aquilo que você foi informado, mas, você não assimilou esse conhecimento, você não entendeu a essência daquilo. Seria como hoje, as pessoas ficam filosofando com memes, pois, acham isso um modo de difundi, porém, isso só faz o jovem repetir e ter um “carimbo” filosófico. Isso não pode ser sinônimo de filosofia. 

Socrares, na sua procura frenética de desmentir o oráculo – que disse que ele era o mais sábio da Grécia (Héllas) – começou a desagradar muitas pessoas e assim, começou-se uma campanha para eliminar as ideias de Sócrates para tudo voltar ao normal. Mas, diz a história, que se arrependeram e deixariam o velho filósofo escapar, porém, num ato de vingança, o próprio Sócrates diz que cumpriria a lei e morreu envenenado. A questão de Sócrates não foi a única e não foi a última, pois, tudo que desagrada o poder é lavado ao extremo e assim, eliminar o problema. Agora, diante da morte de Sócrates, Jesus e outros, por que será que o alvo sempre é, hoje, as mídias sociais (que alguns chamam de redes sociais) e algumas figuras que espalham ideias nelas? Por que será, no próprio documentário, eles pedem que as mídias sociais sejam regulamentadas? Por que será que as universidades (pelo menos as públicas) rejeitam o senso comum sem estudar esse fenômeno e senso comum rejeita a universidade? Por que os artistas estão sendo alvo de críticas se eles que estudam e elevam a cultura? 

Dai voltamos ao mito de Prometeu que deu o fogo da sabedoria ao ser humano e por consequência, sofreu o castigo de Zeus (o rei dos deuses) acorrentando em um rochedo e um pássaro comendo seu fígado por toda a eternidade. Quem dá ao seres humanos a sabedoria – ou o poder de chegar a ela – é condenado a viver no eterno suplício de ser condenado, achincalhado entre outras coisas, porque o poder sempre dá um jeito de convencer a massa (como valores que refutam, automaticamente, o indagador). Então, por isso mesmo, vejo com desconfiança documentários como este, por saber todas essas histórias.

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