Por vezes as pessoas não querem ouvir a verdade, porque não desejam que as suas ilusões sejam destruídas.(Friedrich Nietzsche)
Por vezes essa frase é atribuída a Nietzsche, mas não se tem nenhuma referência da onde saiu ela. Mas, a frase mostra como as pessoas não gostam da verdade e como as pessoas gostam de serem iludidas. Elas gostam e por gostar de viverem iludidas, gostam de viver na caverna olhando para as sombras. Platão – dois milênios antes de Nietzsche – vai demonstrar que as pessoas são iludidas graças ao discurso predominante do poder, que são imagens de sombras. As sombras eram metáforas perfeitas para demonstrar, segundo a ideia platônica, que na verdade, os objetos de verdade (podemos demonstrar como a verdadeira essência do objeto) estava nas mãos daqueles que tinham a liberdade de ver o mundo real. Mas, que também, estavam na mesma caverna e não poderiam ver esse mundo real, e também, como o resto acorrentado, viam ali um mundo real. Para todo mundo ali, aquela caverna é a realidade. Existiam, os teóricos das sombras, aqueles que tentam explicar essas sombras. Mas, que diz a verdade? Para Platão, só podemos ver a verdade se sairmos de dentro da caverna por completo, ver o mundo como ele é e não o que ele aparenta. Dizer a verdade é ver esse mundo e esse mundo te espantar.
Talvez, o mundo tenha espantado Tales de Mileto e dai por diante – com vários pensadores da natureza (physis) – se tenha tido, uma verdadeira obsessão para se descobrir a origem de tudo e assim, se descobrir a verdade da vida e de tudo que existe. Sócrates, talvez levado a uma reflexão muito mais profunda, tenha descoberto que não importa descobrimos a origem de tudo e não descobrimos quem somos e o que somos. As pessoas gostam de se iludir, talvez, porque as pessoas gostam de enxergar aquilo que elas querem enxergar e não aquilo que elas são de verdade. Quem será, verdadeiramente, um Elon Musk? Quem será, verdadeiramente, um Bill Gates? Quem será que se mostra, verdadeiramente, no Instagram sem filtro? Ou diz a verdade num Twitter? As pessoas vivem de aparência, porque é um analgésico para elas não sentirem a dor de serem manipuladas ou até mesmo, serem usadas nas mídias sociais. Elas são a nova caverna e está transformando em coisas que importam de verdade, em coisas que se banalizam e ficam coisas corriqueiras. Por exemplo, no passado, xingar as pessoas era tido como uma má-educação, hoje se banalizou.
Lembro que quando eu estudava na entidade AACD (Associação a Assistência das Criança Deficiente), numa dessas unidades quando tinha classes especiais, nos anos 80, um motorista (nós íamos com Kombis sem nenhuma adaptação) que brigou por causa de uma batida. Encrencou porque a mulher – casada com um militar num tempo, ainda, que os militares ainda mandavam – não queria pagar um amassado de uma calota traseira, do lado direito. Quase foi atropelado. E ainda, ele demorou para ir embora, ainda, chegamos tarde em casa (antigamente não tinha celular e redes sociais), sendo que, ele ganhou a causa muito tempo depois. Mas, o porquê que ele fez isso? Mesmo o porquê, a Kombi não era dele, o amassado nem era tanto – na outra batida, o amassado chegou aos pés dele – e a questão se arrastou por muito tempo. Tempos depois, ele se torna o chefe dos motoristas (hoje, ao que parece, não tem mais esse tipo de transporte na entidade), sendo que, a tradição da entidade era de fazer chefe o mais antigo motorista por causa da sua experiência.
Muitas pessoas podem dizer que ele tinha virtude, mas não era bem assim. Uma vez ele deixou meu amigo na porta do cemitério – assim disseram meus amigos depois do fato – e ele chorando deu uma volta ao quarteirão e voltou. Ficava me enchendo o saco e até mijar nas calças (eu tinha 9 anos) por causa que ele achava que minhas casas, tanto uma quanto a outra, eram contramão. Traiu a mulher com a secretaria da unidade tendo um filho com essa secretaria. E ainda, usava nós para expressar uma visão de “bom moço” quando era chefe e assim, achava que tinha o direito legítimo de ser chefe. Como vimos, a imagem virtuosa era apenas um meio para se conseguir aquilo que almejava e assim é tudo, a realidade é apenas uma ilusão a partir que você só vive aquilo. A sensação desse motorista em ser chefe dava para ele, talvez, uma sensação de suma importância. Mas, ele sabia que não era um cargo de importância dentro da entidade.
Do mesmo modo, existem pessoas que acham que existe virtude em ser mãe ou pai de uma pessoa com deficiência. Mera ilusão. Quantas famílias não fazem assédio moral, não deixam os deficientes terem relacionamentos, ou que se negam a aceitar que esse deficiente é um ser humano? Poderia as outras pessoas dizerem que é um tipo de proteção, mas que não passa de um tipo de vaidade social em se pintar de “especial” e parecer “bonzinho” para as outras pessoas. Ou seja, não adianta achar que as pessoas cuidam ou protegem, se no final das contas, elas até pegam o beneficio delas para pagar o aluguel, não compram o que o deficiente precisa e ainda, acham que estão certos em sub proteger. Talvez, cai na visão do motorista em usar pessoas com suas deficiências, para parecerem “especiais”. Porém, a “aretê” grega era muito mais do que uma mera aparência, pois, não adianta parecer virtuoso com atos genéricos e sim, como esses atos são feitos num modo geral. Se não, cai na hipocrisia. E é isso, que a ética socrática vai combater e a caverna platônica vai demonstrar: mesmo que eu diga tudo isso, que não é mentira, o povo vai duvidar. Como disse meu professor de publicidade, o ser humano não enxerga o obvio.
É obvio que as pessoas usam uma as outras para conseguirem “vantagens” - termo que acabou com o Brasil – e é lógico (da maneira platônica aristotélica) que nem sempre famílias gostam de ter deficientes lá. Se você ficou horrorizado, muito poucos deficientes são criados dentro do amor verdadeiro e liberdade, muitos ou criam porque são obrigados ou para parecerem virtuosos para a sociedade. Nem gostam dos deficientes da família, porque não fariam o que eles fazem. Por outro lado, a virtude platônica nos diz que a verdade esta além da deficiência ou da aparência, mas, a verdade está na essência do ser. Porque ele pode ter virtudes ou não, que nada tem a ver com sua deficiência e sim, no seu caráter. Educação. Nós, brasileiros, temos uma educação vagabunda e que não tem eficácia nenhuma, além de ser uma fazedora de técnicos para a indústria. O problema é que a vida não é só a indústria, é social e se não ensinarmos ética, não ensinarmos virtudes (não essa religião que ensina uma virtude que temos que ter coisas e não ser o que somos), ensinamos a ser hipócritas e sínicos. Tudo acaba no dinheiro. Não que não devemos ter, mas não é só isso.
Amauri Nolasco Sanches Jr
44 anos, TI, publicitário, filósofo da educação e estudante de licenciatura de filosofia
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