quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Mutter – e quando bebes com Síndrome de Down são mortos?

 




No falecido Orfut – que tinha mais discussões interessantes – numa comunidade de pessoas com deficiência, minha aliás, estávamos discutindo uma fala de uma juíza famosa na época, que tinha dito numa entrevista, que quando as pessoas veem uma pessoa deformada, ou com amputação, elas sentem asco. Na época, me lembro bem, muitas pessoas foram contra e até disseram que conviviam com pessoas que não tinham asco, que eram amigos de verdade. Eu dizia que todo mundo tinha um pouco dos mesmos preconceitos que motivaram Hitler a fazer o que ele fez, exterminar judeus em nome de uma ideologia (pois, precisava de um inimigo para isso) e exterminar pessoas deficientes em nome de uma perfeição que não existe. Lembrando que o próprio Hitler tinha uma deficiência em um dos joelhos por causa de um tiro na primeira guerra e seu ministro da propaganda, Joseph Goebbels, tivera paralisa infantil (poliomielite) quando era criança e assim, mancava por ter uma perna mais curta do que a outra. 

Como disse acima, a perfeição não existe, a perfeição poderia ser definido como característica de um ser ideal que pode e reúne todas as qualidades e não tem nenhum defeito, e pode designar uma circunstância que não possa ser melhorada. Isso é definição que as religiões têm de Deus ou dos deuses, pois, seres humano não são perfeitos – no sentido de perfeição estética ou moral – e sim, há uma construção moral através da educação e através do melhoramento dos meios para se viver. Daí a ideia de perfeição platônica, que todo mundo distorceu (e por causa dessa distorção, tenham colaborado com o extermínio de um monte de deficientes pelos nazistas), pois, o Bem só pode ser chegado através da educação (paideia) de despertar o ser humano para a realidade. Voltamos na caverna platônica do outro texto, pois, as pessoas ainda estão vendo uma sombra da realidade e não a realidade em si mesma. Ou seja, nosso corpo como toda a realidade, para Platão, era meras cópias e cópias não são perfeitas, e sim, só o original é perfeito e completo. Daí a necessidade de sempre achar que o mundo deveria ser perfeito, a humanidade deveria ser igual, as pessoas não deveriam ser deficientes e etc. O sofrimento é o grande inimigo a ser combatido – segundo os psicólogos – porque através deles o ser humano é mais violento, mais preconceituoso e tal. Mas não é bem assim. Sofrer também faz parte dessa busca platônica, porque ao sair da caverna, os olhos começam a doer. Isso foi muito bem mostrado no filme Matrix, quando Neo sai do casulo e usa os olhos (que nunca usou). 

Então, quando lemos notícias como do site Crescer veiculado com O Globo, que diminuíram 54% de nascimento de bebes com Síndrome de Down (que replica o cromossomo 23) na Inglaterra por causa da autorização do aborto nesses casos, podemos voltar para o caso do nazismo. Isso aponta uma certa hipocrisia. Porque, a meu ver, há um discurso de que temos que ter filhos saudáveis para propagar genes, o problema é que não estamos numa selva e temos tecnologia o bastante para cuidar. Quem está sofrendo? Os nenéns deficientes ou os pais que sentem vergonha por ter esses nenéns? Será que não se tem conhecimento ou se tem uma vaidade de ter um filho saudável? Queiram ou não, todos colaboram com a imagem nazista da perfeição que não faz sentido, pois, o amor quando tem uma idealização estética (sim, existem pessoas assim), não é amor e sim, uma simples vaidade. Algo parecido foi quase feito aqui, quando quiseram flexibilizar as empresas de contratarem pessoas com deficiência (que os donos dessas empresas insistem que não tem pessoas com deficiência qualificado, que é uma grande mentira), e a volta das classes especiais, como se o governo não tivesse nenhuma condição de arrumar as escolas (que aliás, está atrasado uns 30 anos). A ideia da exclusão como acontecia antigamente, não faz nenhum sentido por causa da tecnologia (pessoas com síndrome de Down vivem mais e tem uma vida sociável e feliz), graças ao avanço médico e graças aos vários remédios desenvolvidos ao longo de décadas. E ainda, canalhas como o biólogo Richard Dawkins, a uns cinco anos atrás (só dá uma gogada e você acha), disse no Twitter que é imoral uma mulher tenha um filho com essa síndrome. Ora, ele não viu ainda que existe até banda com pessoas com síndrome de Down? Que existem casais felizes com pessoas com síndrome de Down? 

Imagina, se pessoas que são estudadas pensam assim (lembrando sempre, que ter um diploma não é sinônimo de conhecimento, porque por anos eu tive a quarta série e nem por isso não lia ou pesquisava), as pessoas que não tem nenhuma noção disso, vai pensar muito pior. Dawkins com seu conhecimento biológico – que é muito melhor do que o conhecimento de todas as religiões – poderia ir muito além daquilo do senso comum e dizer que independente de tudo, depende do amor apenas.
 

Amauri Nolasco Sanches Jr 


44 anos, publicitário, TI, Filosofo da Educação e estudante de licenciatura de filosofia


Essa música fala do aborto 






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