sábado, 12 de dezembro de 2020

Os moralistas do politicamente correto

 



Por Amauri Nolasco Sanches Júnior


Muitas coisas eu discordo do professor Paulo Ghiraldelli Jr – por razões que expliquei em vários textos – mas seu vídeo sobre o abuso sexual que sofreu Dani Calabresa por parte do Marcius Melhem, foi o resumo que sempre acho que acontece em muitas partes do chamado “politicamente correto”. Há um erro histórico dentro da questão do politicamente correto, porque ele começa não por pautas da esquerda, mas com o moralismo conservador yanque. E por isso mesmo, há uma capa (um tipo de biombo) para se mudar termos e maneiras de falar (semântica), para esconder coisas piores do que dizer. Qual a diferença alguém me chamar de deficiente e de me chamar de pessoa com deficiência? Nenhuma. Porque o biombo é pessoa com deficiência e por baixo ha atitudes capacitistas que ninguém olha, como não aceitar que somos pessoas como outra qualquer, como o movimento feministas não achar que mulheres com deficiência tem sexualidade e sim, são assediadas, trancadas, proibidas de ter um namoro e por ai vai. Além, claro, que empresas exigirem laudos médicos para mandarem seus currículos. 

A questão é: o que mudou no comportamento da sociedade ser chamado de pessoa com deficiência ou deficiente? Empresários passaram a contratar deficientes, ruas estão acessíveis, as pessoas passaram a nos respeitar? Muito pouco ou quase nada. Foi o que aconteceu com Melhem, pois mesmo ele ter reformulado todo o Zorra (que mudou de Zorra Total para só Zorra) tirando piadas ditas ofensivas, machistas, homofóbicas, etc., mas em contrapartida, punha sensualidade nos personagens da Calabresa. Porque estava personificado em sua cabeça a imagem dela “gostosa”, dela daquele jeito, e fazia com que ela encarasse esse tipo de personagem fazendo da vida da humorista, um inferno. E não adiantou nada tirar as piadas, os personagens sensuais, ficaram. E existe um outro fenômeno interessante aqui, a Globo é odiada tanto pela esquerda quanto pela direita, porque tem um conteúdo pasteurizado a muito tempo e tem serias dificuldades de mudar isso. 

Agora temos que fazer uma importante pergunta: o porquê nunca pensaram em modernizar o Brasil e nunca se pensaram fazer uma educação escolar de verdade aqui sem amarras vagabundas e grades infinitas, que no final das contas, nunca vão ensinar nada? Primeiro, a nossa elite gosta de dinheiro, mas detesta cultura porque acha que cultura é perda de tempo, pois não é. E financiam aquilo que dará a eles uma grana em imediato, sem esperar o retorno que poderá demorar, pois, a nossa cultura tem essa característica de querer tudo para amanhã. Segundo, não ha nenhuma modernização do Brasil porque não há interesse nem da elite mercenária e nem do nosso corpo politico, de deixar sermos vassalos comerciais de outros países. Por outro lado, isso demanda uma educação de qualidade, sem nenhuma amarra ideológica e assim, não interessa se a família é cristã, se a família é comunista, se a família é isso ou aquilo, a educação tem que passar valores de respeito e humanização. Não um moralismo que pode esconder psicopatas perigosos (como acontece nos Estados Unidos), e nem um esquerdismo que enxerga um mundo cor-de-rosa e nem liberal que tudo é no modo econômico. 

Uma educação de qualidade incentiva as crianças a aprenderem coisas que agreguem dentro das vidas delas, pois o que vimos, que muitas crianças são ensinadas a serem só profissionais e não cidadãos. Não sou contra se aprender uma profissão e trabalhar na indústria, o que eu questiono é o modo de montar uma educação onde há repreensão e decoração. As crianças devem entender para aprender e não decorar, pois decorando ela não vai questionar outras coisas que ela vai saber que está errado. E a questão dos relacionamentos liquidos tem um pouco a ver com isso. Se uma criança aprender que o outro importa, não vai descartar uma amizade só por causa daquilo que não concorda, ou até mesmo, a imagem que idealiza do outro. Ele vai ver a realidade e isso mesmo que os governantes não querem.



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