quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Canalhas do golzinho branco

 







Amauri Nolasco Sanches Júnior 


O que é o canalha? Muitas pessoas podem dizer, que um canalha poderia ser uma pessoa com índole duvidosa, mas, vamos nos aprofundar sobre o que seria um canalha. Canalha é a rale, reles mortal que está no mundo para não raciocinar e sim, atrapalhar o modo social e ético. Aliás, segundo o Google, é uma pessoa vil, ou seja, uma pessoa insignificante. Um mero objeto. No caso da ciclista que foi derrubada porque um rapaz passou a mão na bunda dela, é um cara tomado pelo desejo de ser inútil, de ser um objeto social e político de uma cultura que não cabe mais na sociedade no momento. Esse tipo de machismo, escroto, tratando as mulheres como meros objeto de seus desejos, não cabe mais na sociedade milenal (meu termo). 

Já disse em outros textos que se confunde ser contra o politicamente correto – e até mesmo as pautas hereditárias – e ser mal-educado, não respeitar o outro como um ser humano. Esquecem da regra de ouro: “não façam com os outros o que você não quer que façam com você” e isso é um ensinamento milenar e faz parte da maioria das religiões. O mundo racional (vulgo científico), não fez do mundo um lugar melhor, pois, a violência humana não pode ser combatida com mudanças psicológicas ou genéticas – como vimos nos filmes – e a humanidade ficara em paz. Assim, como denunciou o escritor e filósofo Adous Huxley em Admirável Mundo Novo, vamos ficar uma sociedade padronizada e com castas (porque a aristocracia vil, não vai querer perder a majestade) e estas castas vão dominar a humanidade e deixá-la meia bobalhona. Não sabem diferenciar uns dos outros, vão pensar igual e ter uma aparência de boneca Barbie (que já acontece de certa forma). 

Então, qual é a solução? Sócrates – assim como outros filósofos e pensadores – disseram que a solução de um pensamento alienado é conhecer a si mesmo. Essa atitude canalha, é uma cultura sexual alienada e sem proposito (além de se comportar por instintos puros) e como algo mecânico, como se fossemos máquinas reprodutivas sem raciocinar, sem sentir, sem refletir daquilo que fazemos. Uma vez li uma coisa de Santo Agostinho que levo para mim, pois, a pergunta ao deitar-se no travesseiro: será que fiz algo importante? Será que eu ofendi ou machuquei alguém? Acontece que o século vinte é um século niilista onde o mundo ficou sem nada, sem os valores alicerçados no respeito, do humanismo e o sentir vai ficando de lado para darmos mais valor só ao raciocínio. E, muitos pesquisadores disseram, o raciocínio sem sentir não é um bom raciocínio. 

Os iluministas – na qual, concordo em partes seu pensamento – erraram em pensar que o mundo deveria ser só racional, porque acharam que o pensamento religioso era o pensamento sentimental. A fé você sente, mas a fé é aquilo que você acredita sem ter uma prova concreta e o que vimos pessoalmente. Se antes tínhamos a religião como norte de um futuro prospero – se digo nós, digo humanidade – temos hoje a ciência como objeto da nossa fé. A fé recai em tudo, como acreditar que as pessoas vão ler esse texto, vão ler minhas matérias jornalísticas e vão se sentir informados. Mas, é apenas uma fé, acreditar que o ser humano, finalmente, vai usar seu cérebro e analisar a realidade. 

Mas o que é a realidade? O que é o desejo e a escolha? Kant diria que dependemos muito das nossas escolhas e essas escolhas existem através daquilo que intencionamos. Nesse caso – da canalhice machista – é obvio que houve intencionalidade em passar a mão na ciclista e deflagrar assédio e nada que o rapaz dissesse seria o bastante para legitimar sua inocência. 






sábado, 25 de setembro de 2021

Tolos e suas tolices num mundo de Schopenhauer

 





Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

Schopenhauer tem uma frase – muito usada em memes – que diz que, quem escreve para os tolos tem um grande público, porque, para ele, existiam escritores que só escreviam aquilo que a grande maioria gostava de ler. Isso Schopenhauer não estava errado. A grande mídia sempre escreve o que a grande massa lê – quando não tem preguiça nenhuma – do que, realmente, tem como verdade dos fatos. Talvez, ao escrever essa frase, Schopenhauer estava pensando no seu desafeto Hegel. Mas, a meu ver, a frase fala como as pessoas ainda romantizam a ignorância como se fosse uma coisa legitima e que as pessoas – por serem pobres e sem estudo – não precisem estudar e tem mais conhecimento para evitar certas práticas. Práticas sem teorias são, na maioria das vezes, práticas que dão errado. Ou qualquer um pode construir um edifício? Qualquer um pode operar uma pessoa? Qualquer um pode escrever um livro didático sem uma base teórica?

O que seria um tolo? Tolo – além de ser um adjetivo substantivo masculino – são aqueles que não tem inteligência ou juízo, ou que ou é tonto, simplório, ingênuo e faz ou diz tolices. Talvez, quando Schopenhauer disse que “quem escreve para os tolos”, tivesse se referindo aos ingênuos que sonham com um mundo idealizado e romantizam coisas que não se deveria romantizar. Como aqueles que acreditam num mundo melhor – esse melhor é subjetivo – ou aqueles que romantizam a pobreza ou a ignorância. Tanto a pobreza como a ignorância são coisas ruins e devem ser combatidas sim, isso não tem a ver com ideologias políticas, mas tem a ver com uma visão humana. Pessoas felizes são pessoas que não gostam de violência (porque não precisam) e só se combate isso, dando melhores condições para saírem dessa pobreza e conhecimento o bastante para transformarem vícios linguísticos e comportamentais, em algo correto e justo. A tolice desse tipo de pessoas são a tolice de acharem que mudando termos, superficialmente, vão resolver o problema e vão acabar com tudo isso.

Falo isso com bastante propriedade. Como pessoa com deficiência, eu estudei tarde porque as escolas não eram acessíveis – como ainda não são – porque o brasileiro tem essa ideia do servir para a sociedade, pois tudo aquilo que não serve tem que ser escondido. Ninguém lê nada porque o intelectual não presta, aquilo que te faz conhecer é ruim e não vai gerar nada. Não trabalhei – mesmo formado em publicidade e propaganda, TI (Técnico de Informática) e filósofo da educação – porque as empresas tratam o trabalhador como uma máquina e porque não querem gastar em acessibilidade. Brasileiro é avesso coisas sociais e a investimento, porque só quer ganhar dinheiro, não quer investir. Essa aversão a deficiência é a prática, é a pressa sem o planejamento e sem o que é nobre. Porque a nobreza não vem do dinheiro, vem das virtudes únicas e justas e isso se adquiri com conhecimento.

Mas, como Schopenhauer disse, os ingênuos querem as coisas fáceis, querem memes e vídeos curtinhos sem se ater em uma verdadeira arte do conhecer.  Minha notícia do ministro da educação gastando30 mil reais em uma quarentena nos Estados Unidos só teve 12 leitores, mas por que isso? Por que uma notícia de uma senhora desapareceu em 2012 não desperta curiosidade dos leitores? Ou que a Paralimpíadas foram alvo de ataques capacitistas? Porque o grande público quer coisas fáceis, coisas que não percam tempo lendo ou se informando. Aliás, muitos dizem que essa aversão do conhecimento da nossa cultura é influência da igreja católica, que via no conhecimento um pecado, o pecado do orgulho. Claro, pregavam isso porque um povo ignorante era mais bem dominado. Mas, será que foi só isso mesmo?



sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Uma resposta para Sartre

 




 

„Quem escreve para os tolos encontra sempre um grande público. “ —  Arthur Schopenhauer



Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

A professora tutora da universidade, onde estou cursando bacharelado de filosofia, postou o seguinte texto do filósofo francês Jean-Paul Sartre (1905-1980) em um fórum da matéria metafisica:

“Nosso planeta é habitado hoje pelos pobres, de um lado – os extremamente pobres, que morrem de fome – e uma pequena porção de ricos, do outro – ricos que começam a se tornar menos ricos, mas que, ainda assim vivem muitíssimo bem.

Com essa terceira guerra mundial, que pode estourar quaisquer dias desses, com esse conjunto miserável que é o nosso planeta, o desespero recomeça a me tentar: a idéia que não acabaremos jamais com isso, que não há finalidade, mas apenas pequenos fins pelos quais combatemos... Fazemos pequenas revoluções, mas não existe um fim humano, não há algo que interesse ao homem, só há desordem. Pode-se chegar a pensar assim. É uma ideia que volta a nos tentar incessantemente, sobretudo quando já estamos velhos e podemos pensar: pois é, em cinco anos, no máximo estarei morto. Na verdade, penso dez, mas poderão ser cinco. Em todo o caso, o mundo parece feio, mal e sem esperança. Esse seria o desespero de um velho que já morreu por dentro. Mas eu resisto, e sei que morrerei na esperança, dentro da esperança – mas essa esperança teremos de fundá-la. É preciso tentar explicar por que é que o mundo de agora, que é horrível, não passa de um momento no longo desenvolvimento histórico, e que a esperança sempre foi uma das forças dominantes das revoluções e das insurreições – e como sinto ainda, a esperança como minha concepção de futuro “

(SARTRE, J. P. O Testamento de Sartre.” Porto Alegre: L&P Editores, 1986, p. 63).

 

 

E depois duas questões para respondemos. A primeira dizia: “O que Sartre aponta no ano de 1980 é ainda atual? O que é e o que não é mais?” e dei uma resposta técnica, mas vou dar um outro tipo de resposta.

Na primeira parte, Sartre disse: “Nosso planeta é habitado hoje pelos pobres, de um lado – os extremamente pobres, que morrem de fome – e uma pequena porção de ricos, do outro – ricos que começam a se tornar menos ricos, mas que, ainda assim vivem muitíssimo bem.”.

Primeiro, quando Sartre escreveu esse texto não tinha terminado a Guerra Fria e nem tinham grandes corporações tecnológicas (hoje as empresas do chamado e-comerce estão dominando o mercado) dominando o capitalismo. Então, com crises extensas de um lado (capitalismo) ou do outro (socialismo), o mundo se dividiria em dois e fariam um palco de massacres inteiros de civis, pessoas na pobreza extrema (por causa do socialismo extremo também) que fariam os ricos serem menos ricos, pois vendiam muito pouco. Por outro lado, também tinham países que as inflações eram enormes – como no Brasil – onde muito pouco poder de compra e era um caldeirão de pobrezas extremas. Mas, o mundo mudou e outros paradigmas são construídos e uma nova capitalização de se fez através da internet. Não há mais a guerra fria – embora que ainda tenha seus efeitos ainda, como o Talibã no Afeganistão – e não estamos numa hiperinflação e nosso poder de compra é maior (pelo menos na época).

A questão é: existem pessoas passando fome? Sim. Outros que querem trabalhar e não podem.

A segunda questão que a professora fez foi: “Você concorda com Sartre quando ele afirma que “[...] o mundo parece feio, mau e sem esperança”.

A questão de Sartre fica subjetiva – interpretação do próprio leitor – quando ele diz que “o mundo parece”, pois é uma visão do autor em achar o mundo feio, mau e sem esperança. A meu ver, “o mundo” que Sartre fala é a realidade onde a humanidade se construiu como sociedade e suas boas ou más condutas (que tem a ver com a moral e a ética). Se o mundo é feio, mau e sem esperança, é porque nos colocamos neste estado para ver que só há feiura, maldade e não há esperança. O niilismo filosófico não criou uma visão crítica, criou um vácuo filosófico do nada dentro de uma realidade que não vai mudar porque se criou esse vácuo. A questão nunca vai ser o outro e sim, a si mesmo.

No final das contas, o que seria feio? O que seria mau? Pois, Sócrates dizia que todo ser humano era bom por interesse de ser bom não ser bom por ser bom. Mas, como chegamos a bondade? O conhecimento. Desde Sócrates – depois Aristóteles colocou em sua metafisica – que o homem só se torna bom com o conhecimento. Aliás, Aristóteles disse que o homem (ser humano) tinha sede do saber, mas e aqueles que não tem? Esta é a duvida e talvez é a questão de se ter ou não fome, a falta de conhecimento verdadeiro.  

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

Entre Luciano Hang e José Ortega Y Gasset

 


Ortega y Gasset según Fernando Vicente

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"Eu sou eu e minha circunstância, e se não salvo a ela, não me salvo a mim."
José Ortega y Gasset

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Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

Muitas coisas parecem estranhas nesse cenário político que estamos passando no Brasil nesses últimos tempos, até uma doença horrível vira palanque político e alvo de teorias conspiratórias que não são verdade. Segundo a Folha de S. Paulo, o documento que mostra o resultado do laudo da pericia, mostra que Regina Hang, mãe do dono das lojas Havan Luciano Hang, além de ter recebido o tratamento precoce contra a doença, ainda Hang teria dito que não tinha dado nada a ela que é uma inverdade.

Ainda, dentro do prontuário medido da mulher diz que ela morreu em consequência de uma pneumonia bacteriana e não tem nenhuma citação de Covid-19, nesse sentido, ela foi internada na unidade hospitalar Sancta Maggiore (em São Paulo), como causa da sua morte. Ainda o documento de quase 2000 páginas, foi escrito pela empresa Prevent Senior, que opera e controla o hospital onde a mãe de Hang faleceu.

Isso nos remetem em duas coisas, a ética como base de uma não verdade e a verdade como objeto de desejo de saber qual for o seu conteúdo. Primeiro, a ética não tem a mesma conotação da moral, pois, a ética tem a ver com o caráter e a moral tem a ver com o costume. O costume tem a ver – dentro de uma sociedade – um modo de pensar coletivo e sobre o que a sociedade pensa num geral. Costume – como achei no google – é o mesmo de hábito, uma prática frequente, regular. Mas, também, é um modo de pensar e de agir que é característico de uma pessoa ou de um grupo social.  Ou seja, se a moral tem a ver com o costume, então, a moral enquanto alicerce de hábitos sociais devem seguir o que a grande maioria pensa. Mas, existe a ética, e o caráter tem a ver com o hábito e valores que recebemos desde nossos berços.

Ortega Y Gasset dizia que “achamos uma verdade quando achamos certo pensamento que satisfaz um pensamento intelectual”, ou seja, todas as verdades não existem porque são verdades superficiais. Nesse caso, a questão é defender a sua verdade e não a verdade maior, a verdade que contrapõem na questão subjetiva de cada um. Ora defendendo um lado, ora defendendo o outro. Qual narrativa está com a razão? Estão certos? O bolsonarismo se fez diante de coisas erradas que o governo petista fez não éticas, por outro lado, se faz diante do anti politicamente correto e o seu alicerce é a religiosidade cristã moralista e fanática. Já o lulopetismo se constrói durante o regime militar entre o socialismo sindicalista – principalmente, o sindicalismo brasileiro que ainda tem um pensamento do século dezenove – onde o lema era defender o direito dos trabalhadores e que, ao longo do tempo, se ampliou em defender as minorias. O governo petista teve êxito no primeiro mandato, mas ao logo da ânsia de se perpetuar ao poder, começaram a se vender (ou comprar) e tomar medidas populistas que geraram o bolsonarismo.

Ortega diria – em suas aulas de metafisica – que tanto o bolsonarismo como o lulopetismo não existem pelo fato que são verdades que confortam o modo intelectual tanto de um lado, quanto do outro. Se isso for verdade – quem fez o relatório foi a empresa Prevent Senior – há um hábito de modificar e esconder documentos para dar lugar as suas narrativas, ou seja, defender as suas verdades e isso é antiético. Tem a ver também com a moral, pois, se transforma em um hábito, um modo operante e que as verdades têm que ser defendidas nem que sejam verdades forjadas. Gasset tem razão, as verdades não existem por si mesmas, são feitas por aqueles que querem elas e assim, defendem seu ponto de vista.

A questão é: se a mentira o antiético é uma forma de operar dentro de uma sociedade, esse antiético não está na moral? Numa sociedade que não tem capacidade de leitura e argumentar o que leu, como queremos construir uma sociedade justa e honesta com conhecimento?



sábado, 18 de setembro de 2021

Alice cadeirante e os grupinhos das Maravilhas

 





Alice perguntou: Gato Cheshire... pode me dizer qual o caminho que eu devo tomar?
Isso depende muito do lugar para onde você quer ir – disse o Gato.
Eu não sei para onde ir! – disse Alice.
Se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve.

(Alice no País das Maravilhas)

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

Não há obra literária mais filosófica – poderia concorrer com o conto O Espelho de Machado de Assis – que tenha sido escrita nos tempos modernos do que Alice no País das Maravilhas (li na versão da editora DarkSide). Claro, todo mundo lembra do clássico da Disney porque é famosa e o povo não tem o hábito da leitura – porém, prefiro o filme do Tim Burton – e deveria ser recomendado nas escolas (o livro mesmo). Indo além do que uma analise o porquê a abra foi escrita, mostra uma menina que segue um coelho e vai para um outro mundo e no final, ela é acordada. Tem duas coisas interessantes, pois, toda a narrativa tem uma narrativa matemática (Lewis Carroll era professor de matemática) e as questões filosóficas dentro da lógica metafisica (leia-se: linguagem e realidade).

Mas essa parte do Gato Cheshire, onde Alice pede uma informação em caminho seguir – sendo que havia dois caminhos – é interessante, porque depois dessa parte que eu coloquei, ele disse que tanto o Chapeleiro Maluco quanto a Lebre de março são malucos. Alice diz que não quer se meter com maluco e o gato diz que ela não vai ter escolha, porque ali todo mundo era meio maluco. Mas que caminho deveríamos seguir? Buda diz que existia um caminho do meio onde haveria um caminho reto que nos levaria ao presente – os estoicos tinham filosofia parecida – e os filósofos budistas dizem que não há certo ou errado, poderemos escolher em trilhar um caminho ou trilhar o outro caminho. Jesus, o Cristo (que podemos dizer, o ungido), foi mais enfático em dizer que estreito é o caminho certo e largo o caminho da perdição. Não é o que estamos vendo todos os dias? Buda e Jesus dizem – cada um na sua linguagem – que para encontrar respostas, devemos trabalhar para ter essas respostas e a trilha e enxergar a realidade como ela é. Jesus se consagrou – pelo menos, os discípulos disseram isso – como a verdade, o caminho e a vida. Ou seja, o caminho até a verdade e a verdade como a vida.

Talvez, o que Carroll quis dizer nessa passagem, a meu ver, tem a ver com o caminho que sempre nos dizem para trilhar e que não sabemos como e qual trilhar. E tem a ver com o conhecimento. Se não há certeza daquilo que vai trilhar porque não trilhar qualquer caminho? Porque Sócrates disse, que uma vida não examinada não vale a pena ser vivida. O que você imagina com isso? Que se você não sabe o que leva você viver ou ter sua opinião, não vale você viver porque você nem sabe o que está fazendo no mundo e isso é grave. A gravidade está em pessoas que se agarram em pastores picaretas – que prometem curas milagrosas como se fossem procuradores de Deus – e políticos mais picaretas do que estes pastores, que sofrem preconceito por causa das suas deficiências e acham que não se deve discutir nem religião e nem política. Se quer inclusão, tem que trilhar o caminho da política se não quiser trilhar, vai ter que ficam dentro de casa.

Já fui muito expulso de grupos de pessoas com deficiência, por causa dos meus posicionamentos sobre só haver brincadeirinhas ou tratar as pessoas com deficiência, como se fossem eternas crianças e não trato. Ou se discuti a vida, ou não haverá acessibilidade, não haverá escolas, não haverá nem o direito de se namorar (como alguns são obcecados), não haverá trabalho e não haverá direito de escolha para pessoas com deficiência. Religião e política se discuti sim e a família, se estão tratando direito as pessoas com deficiência ou não, como e se estão sendo respeitadas as vontades e desejos dessas pessoas. Quantas pessoas como deficiência não são trancadas dentro de casa? Quantas pessoas querem pedir cadeiras de rodas (ou outros aparelhos) e a família diz que a pessoas não sabe de nada? Quantas pessoas com deficiência não são empregadas porque as empresas não querem se adequar e o governo não fiscaliza? Isso são as pessoas que não querem discutir religião e política, pois são escravas do poder e só levam a vida numa brincadeira porque são auto alienadas.





quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Por que autistas são chamados de ‘retardados’?

 

 




Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

Eu estava lendo uma matéria do G1 sobre o filho do baterista do Molejo ter sido chamado, por uma vizinha, de “retardado” por causa de um desentendimento. Segundo a mãe do menino – mulher do baterista – disse que a mulher começou a querer identificar ela através do seu filho. Que o menino seria um doente, uma criança que tinha “problema”. E como ela não atendeu nessa identificação, ela também perguntou se era um filho de um “preto”, um pagodeiro, favelado, pai de uma criança “doentinha”. Depois que Cristiane tentou explicar que seu filho era autista, que não era uma doença a vizinha disse:  "depois que autismo virou moda, retardado tinha mudado de nome" e outra vizinha disse, que a mulher insistiu em dizer que ele era “doente sim”.

O autismo não é um objeto e sim, uma condição e não é doença mesmo que tenha CID (código internacional de doença). Acho que essa questão entra na questão de Sócrates: a origem do mal é um fato colaborador do mal? Aí chegamos do fato de tanto Sócrates como Platão – seu discípulo – acharem que o problema do bem e do mal tem a ver com o conhecimento. Claro que uma dúvida fica no ar como: o ministro da educação tem o conhecimento, mas disse que crianças com deficiência atrapalham as crianças sem deficiência, onde esta o conhecimento dele? Cadê o entendimento dele que deficiência nada tem a ver com incapacidade? Se os próprios governantes acham que deficientes são incapazes, o que dirá o senso comum sem estudo nenhum. Mas, Sócrates poderia me dizer que a ignorância nem sempre é o conhecimento que se acha ter, mas o conhecimento verdadeiro de uma mente aberta, sem outros valores que podem interpretar segundo outros interesses. Isso mesmo, qualquer um tem o entendimento conforme o que acredita.

Primeiro, quando a mulher disse “depois que autismo virou moda” demonstra que a frase não faz o menor sentido logico. Mesmo o porquê, tudo aquilo que vira se torna em alguma coisa, e moda quer dizer algo que virou tendencia, ou seja, um objeto. Um autismo não é um objeto – nenhuma deficiência – no sentido de escolha, mas uma condição que se nasce. Se há muitos autistas no mundo é porque a medicina avançou e se pode diagnosticar mais pessoas com mais precisão, não é uma tendencia e não pode ser encarado como tal. Depois ela disse que “retardado mudou de nome" demostrando ignorância e desprezo a mudança. Aliás, brasileiro é avesso a mudanças desde sempre e isso é característico da nossa cultura. Queremos ser modernos, mas ao mesmo tempo, somos um povo que gosta do passado como se aquilo tivesse importância. Mas não tem nenhuma. O passado já foi.

Não se usa mais o termo “retardado” e não é uma questão de estar ou não na moda, mas porque o conceito clínico avançou e as coisas não são como eram. Ou seja, o brasileiro demora em assimilar mudanças porque gosta da acomodação, não gosta de evoluir, conhecer, de ler as coisas como conhecimento e não importa se vai usar ou não, esse conhecimento uma hora vai servir. Única coisa atrasada que eu vejo não é os autistas e sim, nossa cultura que adora ficar na ignorância e no passado.



quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Os dados de Gabriela Prioli

 




Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

Por que será que meu texto “onde esta dona Beatriz?” teve mais leitores do que a notícia “Senhora desapareceu em Aparecida no ano de 2012e, desde então, nunca foi encontrada”? Muitas pessoas podem falar que o nome pode ter colaborado com a questão, mas temos que fazer uma certa investigação como acontece na nossa cultura. Quando eu era mais novo, uma amiga dizia que ler comendo fazia mal – depois minha noiva disse que o pai dela dizia a mesma coisa – e rimos da cara dela, pois não faz nenhum sentido ler comendo faz mal. Mesmo o porquê, existem pessoas que leem jornais tomando café ou almoçando, nem que seja um folheto de alguma coisa. Isso nos leva a uma verdade: por que temos tanta aversão ao conhecimento e a leitura? Isso fica claro quando vimos as pessoas postarem mais vídeos curtos (os cortes) ou memes, do que ler e analisar uma matéria e com calma postar sua opinião e isso é um “carimbo de pensamento”.

Ora, o que deveria ser um carimbo de pensamento? Esse termo foi inventado pelo professor Vitor Lima do canal “Isto não é filosofia”, onde ele diz que carimbos de pensamento são frases fáceis para as pessoas decorarem e nem saberem o que isso significa. Muitas frases dos filósofos viram memes, isso pode ser positivo de um modo, mas de outro mostra uma parte do pensamento daquele filósofo de uma frase tirada de um contexto. Um exemplo bastante clássico dentro da filosofia é a frase de Nietzsche “Deus está morto” tirada de um contexto maior – que ele faz críticas contundentes a cultura alemã da sua época e o niilismo que iria por vir – onde há um pensamento muito mais abrangente. Alguém pesquisou sobre essa frase para saber? Alguém comprou ou pegou o livro Gaia Ciência para procurar essa frase? Não. Como acontece com todo ser humano que vive no Brasil – não só, mas a maioria é daqui – eles ouvem o galo cantar e não sabem onde o galo está cantando. Ou seja, as pessoas ouvem coisas e não entendem essas coisas e saem repetindo sem estudar o entender isso tudo e só analisando a coisa como título do texto.

Daí dou uma certa razão para a professora Gabriela Prioli quando, em entrevista ao canal Flow Podcast, indagou o Monark sobre dados daquilo que ele estava dizendo sobre a educação. Primeiro, eu não acho que números são confiáveis, mesmo o porquê, números podem ser manipuláveis conforme interesses. Mas, alguma base sobre o que é a educação (escolarização) tem que ser mostrada. O que eu vejo pode ser uma realidade, o que o outro vê pode ser outra realidade. A realidade não existe como um ponto único porque ela é percebida por muitas mentes, que podem enxergar essa realidade a partir das crenças ideológicas ou religiosas, regem sua consciência. A prova disso é a recusa do meu texto “eu vou de Lula?” de um grupo sobre Libertarianismo que não viu que era uma pergunta e não uma afirmação, porque as pessoas enxergam a realidade que querem enxergar e não a realidade como ela é. Claro, que nessa resposta da Prioli, existem valores que ela acredita como: a educação nos governos anteriores não estavam tão ruim assim, existem valores acadêmicos de probabilidade e comparação de dados e a questão de que o senso comum não sabe o que esta dizendo. Muitas vezes, não é verdade.

Do mesmo modo que o moderador do grupo enxergou uma afirmação e não uma interrogação, a Prioli enxergou a resposta do Monark como uma isenção do governo Bolsonaro. Que não é verdade. A educação decai quando o regime militar censura e tira filosofia e sociologia dentro da grade e coloca moral e cívica – e colocaram a moral que interessava e a cívica que entrasse nos moldes que quisessem – onde aluno tinham que ser empregados servis e sem indagar nada. Tanto é que, num dado momento, aparece o carimbo de pensamento “política e religião não se discute”. Será mesmo? Será que as questões políticas e religiosas não podem ser discutidas? E a educação não melhora, porque temos uma cultura tecnicista e o que importa e formar mão de obra para o capitalismo atrasado do Brasil. Aliás, o que não é atrasado aqui no Brasil? Mas o atraso do Brasil – assim como da América latina inteira – somos o feudo do mundo e a nossa vassalagem é necessária. Onde o mundo vai plantar ou criar gado? As américas serviram para isso desde a tomada delas pelos europeus.

A realidade não é feita de dados e sim de fatos, fatos históricos e que nos remetem até além daquilo que nos querem condicionar. Além disso, a Prioli deveria saber que existe vida além da academia. E no mais, podemos dizer que Platão ficaria enfurecido do que fizeram da sua ideia de academia.



terça-feira, 14 de setembro de 2021

Eu vou de Lula?

 


Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

Platão – filósofo grego que viveu trezentos anos antes de Cristo – dizia que nosso mundo é como uma caverna e seres humanos que nascem nessa caverna e são acorrentados. Virados para uma parede, e nessa parede estão sombras que poderiam ser a realidade. Existiam intelectuais que discutiam a natureza dessas sombras, mas nenhum deles sabiam o que eram porque estavam dentro da caverna. O filósofo então diz – sem dizer como e nem o porquê – um ser humano se liberta das correntes e consegue, de algum modo, sair dessa caverna e ao sair seus olhos doem. A luz solar lhe cega porque seus olhos nunca foram usados e ele, ao melhorar, começa ver o mundo como ele é. E volta para avisar os outros que nem as sombras e nem a caverna são a realidade, mas o povo não acredita e ri do pobre homem e ele insiste, ao insistir, ele morre pelas mãos que tentou ajudar. A questão platônica são duas e importantes: o que será a realidade e o conhecimento como meio de se libertar e isso tem a ver com o filósofo.

Dois exemplos modernos vão seguir o modelo platônico: um é Alice no País das Maravilhas e o outro é o filme Matrix. Aliás, o filme Matrix é uma mistura insana entre o mito da caverna e o da Alice no País das Maravilhas e o contexto dele é bem o que a história nos mostra. Os seres humanos sempre foram meios para se alimentar o poder (as máquinas) em energia para funcionarem. Mas existem outras características, que o filme mostra que é bastante interessante. No começo do primeiro filme de uma trilogia – nesse momento que estou escrevendo esse texto, vai sair o 4º filme – Neo é um hacker que trabalha numa grande companhia de software, mas ele sempre achou que tinha algo de errado na realidade no geral (o despertar). No seu computador – onde fazia o serviço de hackeamento – aparece “siga o coelho” em referência ao livro de Alice no País das Maravilhas. Ora, o livro, segue em resposta – claro que o autor estava ciente da pergunta cartesiana o que seria sonho e o que seria realidade – o que é um sonho e o que seria uma realidade.

A questão de toda filosofia é: o que seria a realidade? Podemos estar seguros que a realidade é tudo que existe, mas nem sempre a realidade é uma realidade. Todas as sensações que temos quando estamos acordados sentimos quando estamos dormindo. Então, como saber se estamos na realidade mesmo? Como saber que aquilo é real ou não e que as pessoas estão mesmo dizendo a verdade? Porque, a verdade – como algo realizável – é um fenômeno de percepção e expressão o que entendemos como realidade, pois, tudo aquilo que é real é percebido e tem um termo para nos referimos a coisa ou o ser (para a filosofia, o ser consiste em todos os objetos). O objeto, num modo geral, consiste em algo que tem um objetivo e que não há dúvida. Mas, será mesmo? Será mesmo que percebemos a realidade ou percebemos aquilo que fomos condicionados a perceber?

Você deve estar me perguntando: o que isso tem a ver com o Lula ou o Bolsonaro? Será que o discurso de qualquer um dos dois é o verdadeiro – não só, porém, eu simplifiquei – e sincero? Ora, voltaremos ao filósofo Platão. No tempo dele, Atenas, estava em processo democrático e seu mestre Sócrates havia sido condenado por ter corrompido a juventude – que de algum modo, ainda acontece – e foi condenado a se matar bebendo cicuta (veneno). Então, ele desenvolveu um conceito que a democracia era um regime teatral, ou seja, é uma teatrocracia. Isso fica bastante claro quando ele diz no mito da caverna, que quem produz essas sombras são os governantes dessa caverna e querem dominar a percepção da realidade. Ninguém, na verdade, sabe qual é a realidade e como acessar ela em seu poder majoritário. Alguns dizem que é se libertando da caixinha, mas que caixinha?

A esquerda (caixinha 1) é a ideologia da mudança, não quer romper o estado e sua dominação (Matrix?) e acabar com a escravidão conceitual onde o ser humano é escravo, quer só dar um verniz bonitinho social para transvestir de bondade e justiça social. A direita (caixinha 2) é a ideologia que preza os costumes antigos e tradicionais (visão conservadora) e defendem a propriedade privada e uma liberdade na economia (liberalismo). Embora queiram menos estado, querem que ele exista. Qual caixinha você escolhe? A caixinha 1 que quer mais estado e quer dominar tudo e a liberdade seja restrita em ter o que o estado quer que tenhamos ou do lado de uma política que defende os exploradores? De algum modo, sair dessa caverna é ver que de qualquer forma você estará preso nela e veras sombras daquilo tudo que é.

Será que vou na caixinha 1 ou vou na caixinha 2? Sempre tem uma terceira.

segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Onde está dona Beatriz?

 




Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

Já li muitas notícias sobre pessoas desaparecidas, muitas dessas notícias, intrigam quem lê. Como uma pessoa pode desaparecer assim do nada? Domingo, dia 21 de outubro de 2012, dona Beatriz e seu marido – eles moravam ou moram no Rio Grande do Sul – foram até Aparecida do Norte conhecer o santuário famoso que, diz a tradição, foi construído por causa de uma imagem encontrada de Nossa Senhora e essa imagem ter feito vários milagres. Entraram numa Casa das Velas – onde se compra souvenirs – e o marido disse para ela esperar lá fora e ele ao pagar pelas coisas não achou mais ela. O que deve ter acontecido com dona Beatriz? Alguém levou ela embora para roubá-la ou é um mistério como aqueles dos livros da escritora Agatha Cristy?

 Se fosse um sequestropara roubar ela, tanto a polícia quando o chefe da boca da região – que o filho do casal procurou ajuda – já teriam achado, no mínimo, o corpo da senhora. Se fosse um caso de um acidente – cair no rio ou cair em um lugar remoto – ainda sim, se teria encontrado o corpo ou restos mortais dela. Como pode estar um psicológico de parentes que nunca mais souberam o que aconteceu e onde está dona Beatriz? Infelizmente, muitas pessoas desaparecem todos os anos e não se sabem onde estão ou como desapareceram, porque na nossa mente, as coisas devem ter sentido e um proposito para acontecerem. Mesmo quando você lida com a morte de alguém ou a doença grave de outras pessoas (por que não, até a sua) e refletir a vida. Afinal, Sócrates – filósofo grego que viveu quatrocentos anos antes de Cristo – dizia que uma vida sem ser refletida não valia a pena ser vivida.

Mas, o que é a vida e o que é a realidade? Segundo Platão, conforme ganhamos conhecimento, mais bondade estamos dispostos a ter. Por isso mesmo, estamos sempre dizendo que é importante a educação. O problema são os formadores de opinião que a maioria segue – mesmo que não concorde do que diz – porque eles acham que tem uma opinião própria, mas não tem. Platão, no seu mito da caverna, diz que além daquelas acorrentados e que eles enxergam só as sombras da parede, existem os intelectuais que teorizam as sombras. Mas, estão dentro da caverna. Ou seja, não é diferente daqueles que enxergam muito mais do que aquilo que quer enxergar. Sempre vamos ver a realidade naquilo que nos interessa e nesse mundo polarizado, as questões humanitárias ficaram num segundo plano.

A empatia (se colocar no lugar do outro), ficou muito obsoleto porque só interessa a notícia do momento, só interessa aquilo que eu quero ver. E nem sempre as pessoas vão ler, porque querem as coisas fáceis com vídeos rápidos e que não denotam nenhum trabalho. Ter empatia não é nem ser comunista (que o bolsonarismo transformou em um adjetivo, mas é um substantivo denominativo abstrato) e nem ser essas ideologias hibridas que o brasileiro adora formar, é ser humano na mais pura essência e o conhecimento te faz ser humanista. O que vimos é ninguém lendo nada, porque ler aqui é perca de tempo.



segunda-feira, 6 de setembro de 2021

Anvisa atrapalhou jogo do Brasil – tive um orgasmo e gozei

 




Amauri Nolasco Sanches Júnior

Confesso que quando eu vi que a Anvisa pediu a PF que deportassem 4 jogadores argentinos – que tinham sim passado pelo território inglês – eu tive um orgasmo e gozei, mas a minha gozada não foi pelo fato em si, foi por ver que nada mudou e eu estava certo. Nada mudou porque estamos vivendo nesses últimos vinte anos, governos populistas que só dão um discurso de mentira e o povo, sempre cai nas lábias deles. Confesso que eu queria muito que esse governo fosse diferente – com honestidade e honra e que eu tivesse enganado – mas constatei, depois dessa “mancada” da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), que tudo continua igual e ainda, a fanatização não é diferente do lulopetismo.

A pergunta que fica: o porquê os argentinos mentiram sobre as resoluções sanitárias da Anvisa? Quando pensamos em mentira, sempre nos vem a mente a não verdade, que a verdade é uma realidade dos fatos. Heráclito lá na Grécia antiga iria discordar, porque para ele os fatos mudam durante a vida e o que era no passado, nem sempre será no presente. Então, Nietzsche nessa linha iria dizer, que algumas verdades só existem graças a interesses que essas verdades existam e que o que era verdade no passado, por interesses de quem enxerga essa verdade, pode ser mentira no presente. Mas, nesse caso, estamos falando de medidas de segurança de pessoas que podem estar contaminadas com a nova variante Delta (indiana) e pode contaminar outras pessoas, e talvez, isso seja um problema kantiano e seu imperativo categórico.

Desde Sócrates – lá em trezentos antes de Cristo – a questão da bondade é vista como uma questão de caráter, ou seja, para a filosofia socrática, a bondade da maioria era uma bondade que interessava (mais ou menos, o que Nietzsche dizia). Immanuel Kant – que viveu no século dezoito – dizia que deveríamos agir conforme esse ato fosse imitado por todo mundo eternamente. Mais ou menos, o discurso do gladiador (aliás, é um ótimo filme). Eu desconfio que Kant, como um bom cristão, pegou isso da máxima cristã que diz, não façamos com os outros o que não querem que façam com você. Ligando o imperativo categórico com o que aconteceu, podemos dizer que, se não queremos que mintam para mim ou para as instituições do meu país, não vou fazer com os dos outros. Mas me parece que há um probleminha, para a filosofia kantiana, há leis universais e o direito enquanto aquilo que é justo e correto. Por outro lado, há uma barreira, o interesse.

Acima desse problema sanitário do jogo, havia questões que envolvia o interesse da CBF que o jogo acontecesse por causa do público. Em miúdos: dinheiro. A CBF por muito anos, passou por cima de questões éticas para que jogos – que envolvia milhões de reais – acontecessem e desses as confederações de futebol, a grana que queriam. Isso é fato. O problema aí, é que entre o direito universal que tanto Kant idealizou como algo universal, depende de caráter (ética) e se envolve caráter, envolve a cultura e a educação de um país. Esbarramos em um novo problema (filósofos adoram problemas), há uma diferença entre educação e escolarização. Educação é a família, com seus valores dão, escolarização são matéria que faz ser um cidadão e a cultura do nosso povo. Se há pessoas mentirosas isso tem a ver com os valores que ela carrega e isso tem a ver com a educação. Claro, que a escola pode nos dar uma noção ética de como podemos nos portar diante a sociedade – respeitando as leis – mas, segundo nossos próprios valores, achamos certo ou não mentir.

Para Rousseau – filósofo franco-suíço que viveu no século dezessete – a mentira só antiética quando lesa outra pessoa e se não lesa, só é uma ficção. No caso dos 4 argentinos, poderiam custar a vida de milhares de pessoas no estádio, mais o ato de corrupção que fez o acordo para o jogo acontecer. Por outro lado, Kant – ele de novo – vai dizer que a mentira é algo errado em todos os sentidos, pois, no limiar do ocorrido, vai lesar outros de qualquer modo. Por exemplo, uma traição de um marido pode parecer um ato isolado e não muito público – de um modo social – mas, pode causar males que com o tempo passam a ser sociais a partir dos valores passados para os filhos. Ou seja, começam as mulheres dizerem que todo homem é igual, começam os filhos acharem que o amor só traz sofrimento, começam a achar que todo ser humano mente como os pais deles e não confiam em ninguém. Como a filosofia kantiana, o marido causou um estrago social só pelo ato carnal (de um prazer momentâneo, ou seja, um interesse) e causar um rompimento da universalidade de uma ética-moral social de respeitar o outro ao seu lado.

Esse caso nos mostra como o século vinte – que foi um século científico – foi um século que refutou o iluminismo na questão da razão e colocou em xeque, que se um lado a ciência ajuda (eu sei muito bem como ajuda as deficiências diversas), mas a ciência também destrói, mata, pode ajudar uma dominação de um governo e o governo soviético nos mostrou, que o estado racional-científico, não passa de uma utopia vagabunda que era um sonho. Não muito ao céu, não muito a terra. Somos animais racionais-sentimentais que são apaixonadas por interesses, pessoas, coisas etc., que não enxergam muito além do próprio ego e esse ego é um muro entre a não verdade e a verdade, porque a realidade está muito além de um papel moeda.



sábado, 4 de setembro de 2021

Ação política dos cumplices

 



"Nem o progresso nem a vida são dons gratuitos."

Machado de Assis

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

Quando falamos de filosofia política – pelo menos, a que eu gosto – falamos da filosofa Hannah Arendt e o filósofo José Ortega Y Gasset. Um diz que a política é um conjunto de ações que fazem na cumplicidade, outro diz que as circunstâncias fazem o homem e seus conceitos. Por exemplo, Hitler não era poderoso e nem tinha o governo de nada, ele se tornou poderoso e senhor do seu governo graças a uma certa cumplicidade e o apoio de muita gente. Não se tem como negar – se os alemães se arrependeram, isso é uma outra história – o fato que estamos numa espécie, de teatrocracia aos moldes do que Platão colocou a democracia. Claro, ruim com ela, pior sem ela, mas a democracia se configura em se ter dinâmicas cênicas para convencimento e a tomada do poder. Tudo é feito no ato do convencimento.

Eu tenho uma certa desconfiança que tudo não passa de um discurso muito bem-feito para enganar a grande maioria. A vinte anos estamos vendo governos populistas tomarem o poder através do discurso assistencialista – ou da esquerda ou da direita – em sempre convencer o povo no bolso. Não há como o estado se meter na economia, há como o governo – um dos braços do estado – dar condições para o país crescer e subsistir por ele mesmo. O estado não tem como sustentar todo mundo e não tem como regulamentar tudo, pois senão, se começa ter o poder de tudo e isso é ditadura. Infraestrutura e leis que garanta harmonia social, a sociedade tende sempre a progredir e se autossustentar enriquecendo. Mas, segundo muitos pesquisadores brasileiros, somos um povo cordial – no sentido do latim cordiális que quer dizer coração – e somos avessos a seguirmos regras. O jogo político passa ser comandando graças as nossas paixões.

Assim como a educação e a escolarização, o brasileiro confunde paixão com amor. A meu ver, paixão não é tesão (atração por quem se ama), pois, tesão é tesão e paixão tem um escopo, por causa da sua família etimológica, a ver com doença e sofrimento. Por quê? Paixão vem da mesma família de paciente e doença e vem do grego páthos = daí vem patologia – e tem a ver, também, com o sofrimento. Ora, não é a toa, e os medievais vão tratar a paixão como uma doença da alma, pois, quando estamos apaixonados estamos doentes por alguém ou por algo. O amor é um afeto mais ameno do apego do ente amado, quando você percebe que o ser amado está contigo por escolha. O brasileiro acha que atração é amor, e não é. Amor tem a ver com a alma e a essência – senão, não se amaria tanto corpos considerados imperfeitos – das pessoas que são amadas, ou daquele amor por um objeto amado, também. A questão é: as pessoas acreditam mesmo num projeto político ou acreditam na pessoa em si mesmo? Será que ainda temos vontade política de modernização do Brasil?

O Brasil como colônia, nasceu com uma ideia feudal, isso é fato. Nascemos com um ideal de “terreno dos fundos” dos portugueses que tomaram conta e plantaram, sugaram o que puderam, construíram uma protoetnia e deixaram o Brasil ser livre. Isso é um fato irrevogável. O problema que o Brasil não quer assumir duas identidades: uma de latino-americanos que somos (e assim que europeus e norte-americanos nos veem), depois, temos uma identidade brasilíndia e assim se fez nossa cultura. E não, não é coisa de comunista. É coisa de pessoas que passaram anos estudando e investigando nossa história para tentar forjar uma identidade. Mas, como o argentino, queríamos ser colonizados pelos anglo-saxões. Não fomos. E somos o que deveríamos ser e deveríamos fazer filosofias e pensamentos políticos, a partir daquilo que foi forjado dentro da nossa cultura brasilíndia.

Feito isso, a modernização acontece com o amor onde você mora e a sociedade onde se vive. Nem todo ente de esquerda é corrupto, nem todo ente de direita é fascista. Aliás, isso tem a ver com o discurso da dominação que permeia nossa educação pouco eficiente, pois, se quer eliminar o outro em seu discurso adjetivando termos que podem sofrer banalização. A corrupção tem a ver com a ética de roubar ou não roubar, não tem a ver em nenhum momento, com ideologia. Tanto o stalinismo soviético como o nazifascismo ítalo-germânico, foram o extremo de ideias socialistas. Sim, a meu ver, o socialismo também foi idealizado pela extrema-direita. E sabemos, que o socialismo – como forma de educar a grande massa – é tentador como forma de unir uma sociedade em um só ideal. Qual governante não queria tal feito?