Amauri Nolasco Sanches Júnior
A filosofia nasce do espanto. Mas não é um espanto qualquer,
era o espanto que tinha uma realidade e esta realidade deveria ter um começo ou
um proposito. Um porque de tudo existir. Talvez, quando Tales olhou tudo e
constatou que tudo continha alguma medida de água (umidade), tenha concluído que
tudo poderia vir da água. Hoje sabemos muito bem, que a fórmula da água é H2O,
ou seja, sabemos que existe uma molécula de hidrogênio e duas moléculas de oxigênio
para existir esse elemento. Seres orgânicos precisam da água – pelo menos os terráqueos
– para viverem e ela é essencial para o planeta Terra. Mas, no mundo grego, a água
tinha uma simbologia diferente e poderia conter coisas muitos mais místicas do
que cientificas, naquela época.
Tales, talvez, olhou insetos aparecerem em poças d`água ou
viu larvas de insetos dessas poças e tenha concluído isto. Talvez, ele tenha
visto corpos que se decompunham graças a umidade, mas indo além – como ele
disse que tudo tem deuses – que alguns objetos tinham vida e outros objetos não
tinham vida. Ou a formação só poderia ser consciente. Na verdade, a filosofia já
nasceu da incerteza de não sabemos onde e nem o porquê tudo existe. E, no entanto,
a filosofia do ser e a filosofia política começa com Sócrates, Platão e Aristóteles.
Talvez, Sócrates tenha visto que não adianta saber a origem de tudo se você não
sabe de quem é – que de alguma maneira, não sabem até hoje – e, primeiramente, temos
que nos conhecer. Platão, pegando sua educação política por ser descendente da família
real ateniense, começou um pensamento politico na sua obra A República. E nessa
obra se começa a indagação da realidade com o Mito da Caverna. Ai temos que
saber, para entender esse mito platônico, que Sócrates foi julgado e morto graças
a quebra dessa certeza da mitologia homérica que, naquele momento, era sagrado.
O homem foi criado pelo titã Prometeu e dele recebeu o fogo, que por isso, foi
punido.
Sócrates não se conformou, mas não renegou nada – essa ideia
veio do pensamento iluminista de renegação da religião. Simplesmente, ele não se
conformou com uma explicação, pois, achava que o ser humano era um ser que se
conformava demais com as narrativas dadas. Aristóteles, de algum modo, vai
retomar essa concepção dizendo que a bondade socrática só pode existir se tiver
uma ética prática. A ética não pode ser só teórica. Isso, segundo ele, poderia
ser visto dentro da amizade e um bom amigo era aquele que poderia querer o bem
do outro amigo. Isso é cidadania. Mas, me parece que a filosofia aristotélica, começa
a ser explorada e defendida de um modo que o filósofo não concebeu e ao longo
dos séculos, foi usada para justificar sempre aquilo que interessava na época.
Quando na França, depois da revolução, quem era contra
sentava a esquerda e quem era a favor a direita, era uma separação didática. Que
foi usada em demasia dentro da guerra fria e as coisas ficaram como ficaram. Ser
de esquerda, basicamente, é ser a favor de mudanças e ser de direita é ser
contra essas mudanças. Não há bem, não há mau. Há uma atitude política dentro
de mudanças e não mudanças. Só que o pensamento brasileiro – sim, temos um
pensamento – é contraditório, porque nossa cultura é uma eterna dialética sem chegar
numa síntese e aí chegamos ao porquê desse texto. Pois, se a filosofia não lhe dará
nenhuma certeza da realidade, por que se apegar na certeza de se fazer o bem e
o que é melhor para o outro? Por outro lado, podemos ver o pensamento contraditório
brasileiro vendo anarquistas defendendo socialistas, expulsando pessoas que não
concordam, Nietzsche virando ídolo, pessoas achando que liberalismo esta junto
com o conservadorismo e que toda a esquerda é comunista.
Ideologias políticas não são fáceis de explicar e pedem
muito estudo, não se aprende em usar uma camiseta ou levantar uma bandeira. São
só símbolos e não a ideologia em si. Para defender algo com tanto rigor, temos
que estudar esse algo, mesmo que, quando for criticar. Ai que esta, se você não
conhece, você não tem nenhum elemento de leitura para fazer uma crítica filosófica
e uma crítica madura. Começar a colocar adjetivos para a discussão, não é uma discussão
madura e não agrega nada e aí que queria trazer a análise muito mais profunda
do que chamar o outro de fascista ou de comunista.
Ser expulso de um grupo de Filosofia e História ao fazer uma
análise seria sem nenhum viés ideológico, mostra como somos um povo que levamos
muito para o lado pessoal. Primeiro, não acho nada em relação ao escritor Olavo
de Carvalho, só acho que tirando as teorias da conspiração que ele adora ficar
pondo em voga – a maioria vem dos Estados Unidos e são boatos de concorrentes
que querem ferrar tal estabelecimento ou são coisas jogadas ao vento para
destruir uma ideologia – ele até seria u pensador melhor do que o Paulo Ghiraldelli
Jr e isso é fato, pois, pelo menos, o Olavo tem um nicho a explorar. Junto com os
chamados filósofos pops – Karnal, Pondé, Clovis de Barros e Cortella – o Olavo escreve
a linguagem que se entende como fácil de se entender, não há referências intermináveis
como os livros acadêmicos que falam com os acadêmicos. Os filósofos franceses
Luc Ferry e André Comte-Sponville tiveram que aprender também.
O fato dele apoiar ou não o governo Bolsonaro é uma outra análise
que deveríamos fazer, mas sem adjetivos desnecessários – que acabam banalizando
tanto o termo fascismo como o termo comunismo – e com maturidade. O caso é:
existe filosofia sem liberdade? Pois, mesmo na suposta democracia ateniense se
teve a morte de Sócrates, assim como outros que não puderam expressar seus
pensamentos. Será que existe liberdade? Não sei.