A primeira censura que recebemos é um “cala-boca” dos nossos
pais quando perguntávamos alguma coisa, mas, não era culpa deles isso e sim, a
ideia de que a curiosidade era uma forma de má educação. Quando eu comecei a sair
da questão de sentir vergonha, eu comecei a dizer o que eu pensava e aprendi
com isso, que algumas pessoas se ofenderiam. Daí a pergunta: a liberdade é um
valor natural ou uma ideologia social? Aí chegamos até a censura como modo de
moderar aquilo que pensamos no modo de comunicação social.
O termo censura veio do latim “censūra”, seria uma
desaprovação e consequente remoção da circulação publica de informação sempre
visando uma “suposta” proteção dos interesses de um estado, uma organização ou
indivíduo. Mas, qual a proteção de uma pessoa que quer escrever alguma coisa? A
algum tempo – alguns anos, na verdade – eu escrevia notícias no Blasting News e
eles começaram a vetar artigos que usavam nomes chamativos para leitores e
alegavam, que de alguma forma, o Facebook os bloqueava. Depois que eles
retiraram meu artigo do ar – não deram a mínima explicação - que
depois postei no meu LinkedIn, comecei a reparar que meu blog pessoal, os
artigos do Prensa e o link desse artigo poderia ser compartilhado várias vezes,
no jornal não. Então, como TI (técnico de informática) ou o próprio jornal gera
links que se censuram – por não serem reconhecidos como confiáveis – ou o nome
que colocam geram essa censura (várias vezes, eles trocam os nomes que damos}.
Caímos na questão colocada: a liberdade é um bem natural ou
uma ideia social? E isso foi discutida muito dentro da filosofia como uma
questão de livre expressão. Porque se a liberdade é um bem natural – bem aqui é
um valor adquirido dentro da natureza da liberdade – então, a discussão do
Monark tem sentido e seria errado censurar suas redes sociais só por analisar a
live do argentino. Mas, se a liberdade é uma ideia da sociedade, então, o
Monark não tem saída a não ser submeter a sociedade e sua moral. Não há dentro
da filosofia um consenso, nem há um autor que defenda uma posição. Eu,
particularmente, estou com os iluministas, pois, só o conhecimento libertara a
humanidade da tirania das ideologias políticas, dos políticos populistas e do
ESTADO que nos oprimi em não ter essa liberdade.
Se para os gregos antigos liberdade era uma autonomia de ir
e vir. Inclusive, herdamos muito isso que nossa sociedade acha que pessoas com deficiência
física (cadeirante), não é feliz por andar. O estereotipo que se cria do corpo
perfeito (assim, harmonioso), tem a ver com a perfeição e, antes de tudo, tem a
ver com a felicidade. A ideia de felicidade junto com a liberdade – mesmo o porquê,
isso tem a ver em cortar “laços” com aquilo que te acomoda – tem um viés muito
mais melancólico do que uma felicidade plena. Nem sempre dizer o que pensa tem
a ver com harmonia – isso para quem estuda espiritualidades hindus, espiritas
etc., está bem claro – e sim, crises podem se referir a progresso e evolução. Seres
morreram para outros seres no futuro, vivessem dentro desse ambiente. Células da
pele se “suicidam” – quando ficamos muito no sol – para não tornarem cancerígenas.
Sistemas entram em estado caótico para renovarem. Vários exemplos para se fazer
uma análise.
Democracia sobrevive dentro da liberdade e se não há liberdade,
não há como ter debates e não há como discordar. Debates políticos tendem a ter
que ter liberdade, porque o debate político tem a ver em argumentos validos ou não,
para defender as ideias. Isso não tem a ver com esquerda ou direita, isso tem a
ver com poder se expressar aquilo que você tem a dizer. Se a live do argentino
está errada, argumente. Digam que as urnas são seguras – mesmo que sistemas
podem ser violáveis – e mostrem que não teve nenhuma fraude. Mas, uma democracia
não tem direito de expressão é bizarro.
Nosso país está dividido e essas eleições mostraram, mas,
nunca pensei que o bolsonarismo seria pior do que o lulopetismo arraigado de
fanatismo em igualdade. No Twitter – lugar onde eu dou algumas risadas –
encontramos muitas teorias que fariam os escritores de ficção (cientifica?)
passarem vergonha. O que me estranha, são pessoas famosas, que não são ignorantes,
ficarem entrando nessa pilha. Teorias como as escolas teriam começado a “doutrinação”,
pois, havia críticas ao capitalismo nos livros didáticos.
Pelo que eu saiba, ter uma visão crítica do capitalismo não quer
dizer que o livro seja a favor do socialismo. Pode ser, como eu, que as pessoas
não apoiem as ditaduras socialistas (pois, não existe socialismo sem haver uma
ditadura) e faças duras críticas da (suposta) liberdade do capitalismo que impõe,
antes de qualquer coisa, que os estudos são para suprir uma necessidade
industrial e não como forma de passar valores caros a nossa sociedade.
Sabemos que ideologias políticas são narrativas para
doutrinar e colocar a grande massa popular – na sua maioria, ignorante – e colocar
muitas coisas em xeque, ainda mais agora que a política caiu em descredito graças
a teorias malucas do Olavo de Carvalho. Aliás, sempre disse que o petismo era
comunista, sendo que o PT como partido político desde 1980, nunca teve uma
ideologia homogenia. Mesmo o porquê, do petismo derivou outros partidos como
PSTU, PSOL etc. A questão do Olavo sempre foi endossar as teorias da conspirações
norte-americanas para colaborar com o caos e ele vender livros. Muitas delas –
sem exceções – são da guerra fria e ele sabia, que o brasileiro não gosta de
pesquisa e não gosta de ler.
Nunca gostaram e quem trabalha com mídia escrita sabe. As pessoas
gostam de vídeos, pois, vídeos sempre são modos muito mais fáceis de obter informação.
Por que será que a TV fez grande sucesso e os livros não? Notícias que fogem do
assunto do momento – mesmo nele – não são lidos e nunca foram lidos, só as
manchetes sempre foram comentadas. Escrevi nessa semana uma trágica história de
uma senhora que era cadeirante e caiu do ônibus – lá no Rio de Janeiro – e teve
8 leitores. Nem mesmo a notícia do “patriota do caminhão” teve tanta adesão, então,
as pessoas não gostam de fazer uma leitura de verdade.
Escrevi no Prensa um artigo chamado “A demonização do link”
onde exponho que hoje as pessoas têm medo de abrir o link e não encontrar
aquilo que conforta suas crenças, sejam elas verdadeiras, sejam elas falsas. No
mais, se existia um lulismo (conceito do Rogerio Skylab) no passado como um
conceito de olhar o trabalhador como um ser existente (e não uma estatística),
o bolsonarismo nasce da extrema-direita que viu na imagem do Bolsonaro, um
representante. Pois, se existe uma extrema-esquerda que não gosta de ouvir o
oposto, se construiu uma extrema-direita do mesmo discurso. Os bolsonaristas são
os reacionários que fazem do passado algo que nunca existiu e é fácil de ver
nas redes sociais, onde as pessoas confundem visões subjetivas com fatos históricos
objetivos.
Uma coisa é você viver no regime militar e ter uma visão particular,
por exemplo, e fatos muito mais amplos daquilo que se configurou de ditadura. Se
não foi mais rigorosa como as outras não tira o fato dela ter censurado e
matado muitas pessoas só por não concordar com sua ideologia, isso no mais, são
crimes. Crimes são atos fora de uma lei especifica que destina dar ordem dentro
das formas que a sociedade se organiza e aquilo que, porventura, precisa
corrigir para obter harmonia. E que uma intervenção militar, acabaria com esse
direito civil e não poderíamos, nem mesmo, estar nas redes sociais.
Como escrevi no meu Twitter, é muito ruim você viver no meio
de um povo que quer ter razão e não procura saber ou estudar, fazem
infantilidades em nome de uma fantasia. E é claro, políticos ou religiosos, vão
sempre se aproveitar dessa ignorância para segurar essa parcela de seguidores. E
acrescento, a política ideológica sempre foi uma política de alcance da massa e
não um debate sério e que, realmente, tem a ver com o cenário de discussão de
um problema. sempre vão procurar um inimigo e vão assegurar assim, eleitores em
regimes democráticos e fanáticos em ditaduras. Nosso povo sempre foi tratado como
mão-de-obra, sempre teve uma imagem de “escravos” mesmo sem escravidão. Aqui,
sempre, a “ignorância” sempre foi uma benção.
Quando você abre redes sociais como o LinkedIn – rede empresarial que visa o engajamento profissional e financeiro – vimos uma hipervalorização da visão da autoajuda corporativa. Parece, sem sombra de dúvida, que há um momento de valorização da promessa de sucesso enquanto a maioria sofre das desigualdades dentro de uma sociedade desigual – e sempre gostou da valorização da religiosidade e do aparato metafisico da prosperidade – onde o LinkedIn, só é mais uma promessa de sucesso. O termo “sucesso” – como forma de carimbar afirmações – sempre foi nosso caminho para a felicidade e igual a liberdade, depende muito das questões econômicas e socioculturais de cada sociedade.
As redes sociais se tornaram simulacros de ideologias que prometem resoluções para vários problemas muito complexos, para discursos simplistas populistas que só querem captar o grande público. Mais o chamado “Efeito LinkedIn” só é um sintoma dentro de uma problematização ideológica dentro de promessas vazias – promessas essas de sucesso e felicidade – que ainda, captam pessoas a idealizarem seus “sonhos” e suas vidas. Mas, com crescente uso das ferramentas virtuais, essas promessas são mais evidentes e que tem uma difusão muito maior. Mas, promessas não são concretizadas com frases de efeito e vídeos motivacionais, e sim, com a concretização do aprendizado – graças aos dados que se transformam em informações – com a teoria e a prática.
É notório tipos de postagens que ao invés de compartilharem o link da notícia compartilham ou a foto da manchete – com a desculpa de não abrir o link para não dar audiência para certos canais jornalísticos – ou vídeos com comentários cômicos ou que reforcem sua crença ideológica. Informações como estas tendem sempre a reforçarem a não leitura do artigo em questão, sempre reforçando uma conduta de procurar um modo rápido e fácil de mostrar que suas convicções ideológicas estão certas. O Efeito LinkedIn não se trata apenas de uma conduta motivacional corporativa, mas, que tudo se resolve através de empregos de faixada, o fetichismo do sucesso como algo efetivo e o motivo claro de ter uma vida útil. A efetivação daquilo que é considerado útil ou inútil.
Aquilo que é útil ou inútil pode ser classificado como aceito e não aceito. A efetivação do emprego sempre foi por empregos de cunho concreto (ou assim considerados), pois, se antigamente ser atriz era coisa de “prostituta” e ator era coisa de “vagabundo”, hoje a intelectualidade tem um viés da mesma proporção. Esse movimento contra a intelectualidade – onde os especialistas são hostilizados – apenas é um reflexo do pensamento que temos em colocar o modo intelectualizado como inútil, aquilo que deve ter serventia e não está acima das formas de trabalho braçais ou que tenham, ao ver da maioria, uma serventia concreta. O conhecimento não pode ser adquirido só por curiosidade, ele tem que ter uma serventia dentro da lógica cultural onde a serventia molda aquilo que devemos e aquilo que não devemos ter como vide. A vida – pelo menos a intelectual – tem que servir o propósito da utilidade.
Se no tempo dos grupos como do Yahoo ou os primórdios das redes sociais como os do Fórum Now ou Orkut, o link representava a confirmação daquilo que a pessoa está dizendo, hoje, com o avanço da hostilidade da intelectualidade, o link se torna um muro entre a confirmação ou não das suas crenças ideológicas. Assim, não muito, podemos dizer – sem medo de nenhum erro – que o link de sites ou blogs com textos de opinião ou notícias, tendem a ser bastante demorados e não representam nada melhor do que a verdade sobre um fato. Ali é a quebra de um preconceito ou a conceitualização da verdade – sendo a verdade como sinônimo de realidade – onde a notícia não tem uma verdade que se queira. A verdade é chamada de mentira porque não afaga o ego do leitor, que na maioria das vezes, só leem o título.
Por outro lado, com o crescimento da internet, sites com promessas de remuneração por escritas por visualização, iludem a grande massa que vão ganhar várias quantias sendo não verdade. Com a pós-verdade e com as notícias falsas (fake news), vários mecanismos têm sido criados para barrarem artigos que distorcem a verdade para agradar certos setores políticos ou vertentes ideológicas. A esquerda petista (vinculadas ao Partido dos Trabalhadores), começam com essa modalidade para difamarem adversários políticos e difamarem adversários ideológicos. Do mesmo modo, a direita reacionária bolsonarista (vinculada ao presidente Jair Bolsonaro), vem com a mesma arma e difama do mesmo modo os adversários políticos. Os sites que prometem aos escritores autônomos a ganharem dinheiro com textos, com esse mecanismo da pós-verdade, começam restringir termos e não aceitar nomes dos artigos chamativos. Se em um blog particular haveria 32 a 70 leitores, em um site de notícia haverá de 2 ou 3 leitores ao máximo 20 leitores.
O que podemos tirar disto? Uma desvalorização da notícia enquanto afago ideológico? Isso não pode fazer sentido. A meu ver, houve uma hipervalorização do estudo enquanto didática da serventia ideológica ou, indo mais além, uma pós-verdade que justifique aquilo que apoiamos. Se acredita que a filosofia em si – como trabalho intelectual – tende a ter uma serventia concreta, mas, a crítica filosofia em si, tende a não ser serva de nada. A crítica filosófica – como ponto de partida de uma análise muito mais profunda do problema – não pode ter nenhuma definição, nem religiosa e nem ideológica. E no mais, o pensamento filosófico desvincula o que as pessoas acreditam e colocam a realidade no lugar.
O link se esvazia como forma de não ser aquilo que não se encaixa com a preferência ideológica e religiosa. A pergunta que fica é: qual o critério de uma notícia viralizar e o porquê ela viraliza? Qual o interesse dessas notícias viralizarem? Aliás, essa propagação e esse comparação com epidemias virais – como que tivemos com o COVID-19 – não é a toa, porque como um vírus, a notícia se alastra como uma curiosidade. Mas, será que é mesmo?
Dentro da nossa história, poderíamos afirmar que a
democracia nunca foi tratada com seriedade. Sempre nossa cultura – porque nossa
escolarização sempre foi não levada a sério por sermos um país escravocrata –
lidou com a democracia como um regime de liberdade para os mesmos e nunca para
todos. A população não pode escolher porque não sabe, mas, a classe
aristocrática – assim pensam – pode cuidar desse povo que não sabe escolher.
Essa aristocracia (que hoje são chamados de elite) sempre infantilizou a grande
população, porque era e é de interesse do sistema brasileiro infantilizar a
grande maioria. Isso nada tem a ver com ideologias como comunismo – embora a
cultura latina sempre gostar das ideologias coletivistas – e sim, são rastros
de uma cultura anterior luso-hispânica (herdadas de Roma).
A trágica constatação é que, até mesmo nossa elite, é
ignorante. A questão é que em todo mundo – pelo menos, no mundo moderno – as
elites sempre financiaram e gostaram de alto cultura, porque com a alta cultura
as pessoas se tornariam mais “civilizadas”. Indo muito mais além do conceito
desse “civilizada”, podemos afirmar que logo após a Revolução francesa – que
muitos vão taxar de revolução burguesa – a burguesia que toma o poder tem como
meta escolarizar e moldar a grande maioria para uma evolução humano em torno do
conhecimento seguindo a meta iluminista. A elite emergente portuguesa sempre
foi religiosa, sempre se achou a “escolhida” por Deus para cuidar daqueles
seres humanos “pecadores” e achavam que o conhecimento era o “pecado” do
orgulho. Satanás – encarnado em Lúcifer, o querubim mais belo de Deus – com o
conhecimento, desafiou Deus e não confiou em seu designo. Herdamos essa elite.
Já no século dezenove, os franceses diziam que a nossa elite
era “rastaquera”. Ou seja, mostravam muita riqueza e pouca cultura. Realmente,
quem vive nas “entranhas” da sociedade brasileira sabe que a grande maioria – e
a elite está incluída – é avessa a cultura de qualidade, não gosta de ler e não
gosta de estudar. Podemos dizer que sempre a finalidade do estudo não é seguir
uma vocação, mas, ganhar dinheiro e quem sabe, sair daqui, porque é um país sem
cultura. Mas, essa “sem cultura” sempre é, de fato, um descuidado de uma
escolarização por colocar como útil e inútil.
Sempre o Brasil não gostou da teoria, a intelectualidade
sempre foi tratada como uma coisa inútil. Somos educados que ler um livro só se
tiver uma serventia, ou se por trás daquela leitura, as pessoas conquistem
várias coisas. Não a toa, sem medo de errar, as leituras de autoajuda fazem
tanto sucesso aqui por prometer algo. Indo muito mais além, as teologias da
prosperidade que foram popularizadas como uma promessa de “vitória” ou de
ganhar sempre bens materiais em nome ao culto de Deus. Mas, o estudo como forma
de ganho, faz do conhecimento mais um objeto mercadológico e colocando o estudo
como algo a ser feito por um outro fim. Não ao seu desenvolvimento e a sua
evolução. Porque, concordando com o filósofo Platão, não existe bem e mal e
sim, ignorância e o conhecimento.
Duas figuras que hoje – e teremos que escolher para
presidente no segundo turno – acenam nos cenários político, são frutos dessa
falta de conhecimento e mergulhou nosso povo na ignorância. Porque, para
entender nosso cenário político, temos que entender nosso processo histórico que
nos levou a esse momento. A exploração do Brasil (grandes potencias sempre
dominaram nosso país), sempre foi um entrave para o progresso, pois, colocava a
ordem em xeque. Fizeram nosso povo não gostar do seu país, fazendo com que
ideologias políticas relativizassem valores caros. Todos nossos hinos tem
liberdade e por causa da liberdade – como uma pedra preciosa não encontrada –
estamos lutando com fantasmas. De um lado um reacionarismo que vê um passado
que o Brasil nunca teve, por outro lado, revolucionários que enxergam um Brasil
que nunca será. Falta um equilíbrio que só pessoas céticas, politicamente, poderão
ter.
Pessoas como Roberto Jefferson são pessoas sem ideologias,
eles apoiam aquilo que lhe interessam e aquilo que trarão benefícios políticos.
Assim como outros e, não longe, a mídia com toda sua gama de poder de persuasão.
Se um político tem o dom da retorica, podemos dizer – na melhor das hipóteses –
que a mídia potencializa ao máximo essa retorica ou por um lado ou por outro. Isso
já estava sendo visto da – então chamada – Escola de Frankfurt e outro
pensadores. Se, assim podemos dizer, os mitos tinham a “missão” de educar as crianças
gregas a serem gregos dentro das suas tradições, a mídia tem a “missão” educadora
do mundo moderno liberal capitalista. Onde o útil e o inútil dependem de onde
se encontrem dentro da sociedade, onde o individuo tem que enriquecer o outro e
esquecer de si mesmo.
Por outro lado, a esquerda com sua pauta hereditária – sendo
pautas irrelevantes na nossa cultura – tendem a serem mais propicia a censura. O
socialismo em si – no modelo que foi implementado na Rússia no começo do século
passado – é uma ditadura que pressupõe que o ser humano não pode fazer suas próprias
escolhas e, não muito, ser solidário. Ideologias políticas e religiosas tendem só
a alimentar uma magoa que cada ser humano tem de ser aquilo que o outro é, mas,
que se esquece que cada indivíduo tem uma natureza. Karl Marx – como um bom
materialista – tende a entender o mundo a partir da perspectiva materialista e
esquece que na sociedade, o ser humano tende a outras coisas. Nem tudo é fisiológico,
tem a parte espiritual (no sentido filosófico mesmo) onde o ser humano também se
constrói.
Numa revolução seria permitido matar, mesmo que essa pessoa,
é da classe trabalhadora? Um soldado ou um policial, não é uma classe
trabalhadora como outra? Daí cairmos, novamente, na questão da ética e da moral.
Matar seria ético no caso de defesa, mas, no caso de defender uma opinião não seria
nada disso. Lembrando, caindo na biologia, que os sistemas que evoluíram aprenderam
as melhores circunstâncias para serem adaptados em certos ambientes. Ou seja, conhecer
faz organismos a serem melhor adaptados e sobreviverem e os que não aprendem,
inevitavelmente, são eliminados do ambiente.
Portanto, como dizem, deixa a natureza fazer seu serviço.
Depois que o Prensa terminou – talvez, por causa de falta de
patrocínio – comecei a observar como as pessoas só enxerga aquilo que acreditam.
Criticam tanto a imprensa tradicional – chegando a printar a manchete da notícia
– e, por outro lado, tendem sempre a lerem as notícias na imprensa tradicional.
E, as duas notícias que escrevi no Blasting News, me deram uma ideia o quanto a
imprensa tradicional perde porque a humanidade perdeu o gosto de ler, só vídeos
curtos e chavões que pegam. As maiores polemicas sempre são de vídeos e não de
coisas escritas. Muito poucos dão uma lida no Instagram, a maioria dará uma “curtida”
por causa de uma foto bonita, ou por causa de um meme que concorda – com frases,
muitas vezes, fora de contexto dentro de um texto muito maior. Isso se chama “fora
de um contexto”.
Escrevi isso no meu Instagram:
<<só porque eu tenho deficiência, não
quero receber resto. Muitos que discutia antigamente, me dizia que era melhor
isso do que nada e não é verdade. Por que temos que receber resto? Por que
temos que nos contentar com lixo ou uma curtida por "pena"?
Esse ano decidi não tomar partido nem de um lado e
nem de outro, mas, eu tomei minha decisão de ser de centro esquerda, porque
sendo de minorias e da classe pobre, não tem condições de ser de direita
conservador. Vai conservar o que? Quais instituições políticas devemos defender
nesse mar de corrupções?
Agora, tradição tem um outro viés e não pode ser
confundo com conservadorismo político.>>
Acho que todas as pessoas com deficiência deveriam estar a
margem das ideologias políticas. Sempre recebemos e vamos receber restos de uma
cultura que, inevitavelmente, já é um resto. Não temos cultura nenhuma e não queremos
ter, temos uma cultura de restos apodrecidos de outras culturas onde pessoas não
sabem nada. Por uma ânsia desenfreada de desconstrução de ferramentas linguísticas
que oprimiam – como a narrativa de superioridade grega ou romana, ou até mesmo,
a narrativa metafisica da igreja romana – se destruiu pilares, também,
humanistas. O cientificismo arrogante e o academismo que sempre só falou com
seus pares, determinou algumas fronteiras bem definidas dentro de uma linguagem
próprias. isso levou a ciência ser dominada pelo estatismo e pelo dinheiro e
desenvolvimento de armas e, não muito, aparelhos caros demais para a grande
maioria.
As indústrias de órteses de próteses enriquecem, hora por causa
do governo que compra aparelhos para a camada mais pobre, hora por causa de
desculpas esfarrapadas de custo da produção. Uma cadeira de rodas custar mais
que uma bicicleta é, desumano, mesmo que, muitos podem trabalhar e ganhar o
pouco que querem pagar. Nossas cidades, em sua maioria, não são adaptadas para
nos abrigar. Muitas firmas ou indústrias – todo escopo de instituições financeiras
e de produção – são instituições onde pessoas com deficiência não entram a não ser
pela lei de cotas, ou, na melhores hipótese, com uma deficiência menor. Aliás, empresários
adoram contratar pessoas com deficiência que tenham uma deficiência amena.
Esse fenômeno existe graças a cultura do medicalismo, onde o
médico – figura central dentro da deficiência – tendem a ser o oraculo do
futuro das pessoas com deficiência. sendo que um dos fatores da pessoa não conseguirem
nada, hora é porque a sociedade trata a deficiência como uma doença, hora como
uma “aberração” vinda a mando do demônio. As curas são sempre através de
cadeirantes em igreja, e se ele não anda, são coisas de “pessoas que não tem muita
fé”. Isso é uma derivação do fenômeno do doutor e do padre, que os filhos só seriam
estudados ou se virassem padres ou se virassem advogados ou médicos.
Mas, o que você vai querer? Ser uma pessoa ignorante ou uma
pessoa que abre links para o conhecimento?
Se entende como comunicação algo que emite a informação –
nesse caso, até mesmo a realidade pode informar sua existência – e algo que
recebe a informação. Isso, inevitavelmente, são dados a serem examinados e para
se ter uma informação tem que ter um meio. A questão publicitaria – sendo que
publicidade são todas as informações que são levadas ao público – tendem sempre
serem informações e notícias do mundo e de locais muito longínquos. O jornalismo
como meio da mensagem, tendem a informar sobre fatos políticos e cotidianos de
outros lugares e de lugares distantes, descobertas cientificas e conhecimentos históricos.
A questão é a banalização do jornalismo (assim como a publicidade, seu primo irmão)
tendeu a dar uma parcela dessa informação como meio pobre da questão.
O podcast – criado em terras norte-americanas – tendem um
formato mais radiofônico e ao mesmo tempo, a imagem televisiva como base hoje
de informação. mesmo, em alguns casos, só a fala do locutor expressa sua informação
como modo de levar ao público mero conhecimento daquilo que ele pensa, ou sobre
algum assunto – como os YouTube – ou tendo convidados famosos ou não, que colabora
com a “conversa”. Se no jornalismo televisivo ou radiofônico, esse tipo de coisa
era chamado de entrevista e tinha uma pauta – que poderia ter uma coisa mais ou
menos polemica – no podcast isso não acontece. Pois, as questões são desenvolvidas
através de conversas informais que podem ou não, terem dados daquilo que estão dizendo.
Se pressupõem, que se no mundo corporativo da mídia tradicional, as pautas
tinham a ver com interesses e relatos pessoais, o podcast – numa primeira análise
– pode não ter.
Com a internet, se criou uma espécie de anarquismo virtual –
claro, com a legislação de cada país dentro de uma legislação própria – o podcast
tem muito mais liberdade de explorar a informação em seu formato mais “limpo”. Não
através de outro agente, mas, o agente que originou a informação e saber a versão
da própria pessoa do fato noticiado pela mídia. O meio não tem mais um intermediário,
pois, a informação direta e sem cortes, vem mostrar a verdade do fato a humanização,
muitas vezes, do ídolo. Por outro lado, muitos especialistas dizem essa informação
não ser embasada por dados confiáveis, que, num modo jornalístico, é inaceitável.
Existe um problema, porque quem produz podcast ou vídeos, não são,
propriamente, jornalistas formados e não podem ser responsabilizados por não seguir
uma regra que não podem seguir.
Sabemos, muito bem, que a mídia tradicional, por causa dessa
forma mais livre, vem perdendo público e credibilidade. Pois, queiramos ou não,
quando você escreve qualquer artigo, esse artigo vem com algum interesse ou ideologia
(seja qual for). Os dados vêm contaminados de verdades subjetivas que colaboram
com suas crenças, daí, importante destacarmos algumas coisas sobre a verdade.
Quando o filósofo alemão Nietzsche coloca na frase <<não existe fatos
eternos e nem verdades absolutas>> ele quis dizer que não existem fatos
morais eternos e nem verdades morais absolutas, ou seja, existem as verdades apolíneas
(que podemos chamar de verdades objetivas) e verdades dionisíacas (que podemos
chamar de verdades subjetivas). Uma arvore é uma verdade objetiva, pois, sua existência
independente da nossa consciência capitar ou não, ela. Um unicórnio é uma
verdade subjetiva, porque diante de dois elementos (um cavalo e um chifre)
criamos um ser na nossa imaginação, que só existe em nossas mentes. Ou seja,
algo subjetivo e único.
Acontece que as verdades subjetivas só ficam nas crenças e
nas ideologias políticas (que são uma crença pessoal) e não existem
concretamente. O comunismo não é algo concreto, é uma teoria onde comunidades são
criadas para dar ao ser humano, uma igualdade. A rigor, a igualdade também é
uma crença, já que em um estado natural, a natureza não é igualitária e a
dificuldade faz dela um ser evolutivo. Dentro da teoria da evolução, não seria
o mais forte que venceria, mas, o mais adaptado a aquela evolução. Inclusive, a
questão da evolução tem a ver com a informação de novas formas de mudança do
tecido genético para melhorar a interação e se adaptar.
Não há razão nenhuma em condenar os podcasts por conta da não
verdade, por já se ter relativizado a verdade e destruído os valores em que
essas verdades são construídas. A construção desses valores era importante
dentro de uma verdade de séculos, e por causa de querer quebrar algumas moralidades que eram opressoras, esses valores foram quebrados. Reinterpretação
da realidade dependeu de uma forma ideologizada da realidade, onde o mundo
mudou e repensou diante de uma nova interpretação dessa mesma realidade. Formas
opressoras foram e são criadas para frear essas mudanças, mas, não importa o
quanto demore, as mudanças acontecem. As informações serão dadas de uma forma
ou de outra.
O podcast demonstra que o novo meio tem mais liberdade e no
futuro, talvez, se tenha esse formato.
"a hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude"
La Rochefoucauld (1613-1680)
Por Amauri Nolasco Sanches Júnior
Uma das frases que meu pai mais repete – sendo a favor de Bolsonaro – é “eu estou Bolsonaro, eu não sou Bolsonaro” e me confessou algo bastante inusitado, ele é de esquerda. Mas, aí vale uma reflexão bastante interessante aqui, onde a visão de esquerda do meu pai é muito diferente da esquerda dos cientistas políticos. Segundo ele, a esquerda sai a oposição do sistema vigente e não uma questão ideológica, aí, sem ter muito estudo, meu pai volta as origens da direita e esquerda. na assembleia francesa, ser de esquerda era contra dar total poder ao rei vigente, ou seja, o sistema. Dar e alimentar o ESTADO como uma solução e a única solução, seria dar poder ao sistema que sempre lutou pelos seus próprios interesses.
Ai, refletindo sobre a questão de direita e esquerda e a “esquerda” que meu pai acredita, li um artigo do filósofo brasileiro Luiz Felipe Pondé, onde ele fala uma coisa interessante dentro do cristianismo raiz. Ele diz: <<Deus e Cristo "parecem gostar" de mulheres vadias e homens maus, justamente porque não são fingidos e a sociedade aponta o dedo acusador para eles.>>. Talvez, eu deva aceitar esse Deus, pois, se Nietzsche gostava de um Deus que dança, eu gosto do Deus que contraria todo mundo. Esse sim é um pai. Certamente, Deus e Cristo, não gostava de gente hipócrita e por várias vezes, nos evangelhos, mostra que o próprio Jesus chama os sacerdotes de hipócritas várias vezes. E o mesmo povo que ele defendeu o condenou no lugar de um ladrão metido a revolucionário, que, não é mera coincidência.
A hipocrisia foi denunciada não só por Jesus, mas, por Sócrates que foi condenado por fazer a juventude questionar e refletir. Mostrar aos poderosos, que eram, na verdade, um bando de ignorantes que nem sabiam o que estavam dizendo. Todos que acusaram ele, ou foram acusados também do mesmo modo, ou morreram desconhecidos. Isso mostra que nem sempre a democracia – leia-se, a maioria – é justa em suas resoluções em praticar a isonomia. A isonomia da grande maioria tem a ver com suas próprias crenças, porque tem a ver com o “cobertorzinho” quentinho que a grande maioria gosta. Como Sócrates destrói as minhas crenças que me deixam seguro? Como Jesus diz que devemos amar nossos inimigos e as vadias e os ladrões, sendo eu justo de bondoso, devo matar a pedrada quem, não é?
Jesus e Sócrates foram cancelados porque a grande maioria gosta mesmo de pessoas hipócritas, pessoas que fazem o que Nelson Rodrigues dizia em uma das suas peças: “mintam por misericórdia”. A cultura latina tem uma certa dificuldade de lhe dar com mudanças, com ambientes que eu não me sinta acolhido através das minhas crenças tanto religiosas, como crenças ideológicas. Prova disso é a cobranças todo dia para eu tomar uma decisão, um lado ideológico sendo que eu não me identifico nem de um lado, nem do outro. Em 2015, quando o Haddad era prefeito, o gerente do serviço ATENDE+ - vans adaptadas porta a porta aqui de São Paulo – colocado por ele, perseguiu eu e minha noiva politicamente, por causa que éramos contra o término de uma modalidade do serviço. Sucatearam o serviço. Vans vazavam diesel.
Ou seja, qual partido deixa dois cadeirantes serem perseguidos politicamente? Bolsonaro não fica atras, quando quer terminar inclusão nas escolas, quando quer terminar com as cotas de emprego das empresas, quando não barateia as órteses e próteses tirando impostos. Há questões que não podem ignoradas, mas, não podem ser tratadas com tanta banalidade, onde um país desigual, não pode ficar a mercê de ideologias políticas que nada ajudam para uma política social mais justa e menos hipócrita.
Existem milhares de canais e produtores de conteúdo que
fazem um trabalho bastante interessante mostrando um outro lado da deficiência,
assim, tirando essa imagem de coitadismo envolta da deficiência. A imagem do
deficiente enquanto doença, foi por muitos séculos motivo de se pensar que síndromes
e algumas deficiências, seguram doenças contagiosas e muitos aqueles que tinham
essas deficiências, eram isolados da sociedade. O filósofo Michel Foucault disse
em muitos livros, que o estereotipo da questão do corpo foi sempre um tabu
porque mexe com a sexualidade e como podemos olhar diante de uma padronização. Seja
de um modo de criar imagens normativas dentro das bases do que o poder queria
normalizar alguns indivíduos – principalmente, aqueles que podiam ser os meios
de produção – e começar, excluir outros indivíduos que, em outros tempos,
poderiam atrasar o clã.
A modernidade criou um conceito de perfeito para normalizar
o conceito científico de melhorar o ser humano e de achar que só a tecnologia e
o conhecimento – graças a frase de Francis Bacon que o conhecimento é poder –podem
melhorar e dar ao ser humano o entendimento necessário da realidade. Porque,
segundo sua definição, os modos de se fazer meios tecnológicos para melhorar a
vida humana, tem a ver com a técnica. Uma cadeira de rodas, por exemplo, exige
um estudo anatômico e de design – além da composição de materiais de melhor leveza
para andar melhor com a cadeira – para melhor acomodar o corpo na cadeira e
como adaptar melhor cada deficiência. O grande problema é o custo, onde em
lugares que existem pessoas que ganham muito pouco, esse tipo de tecnologia não
chega.
Além do estereotipo da cadeira de rodas que, por hospitais
serem usuários desse tipo de instrumento, tendem a serem ligados por doenças e
assim, ligarem cadeirantes a pessoas com doenças. Minha deficiência tem um nome
que, na maioria das vezes, associam paralisia cerebral a uma paralisia do prognóstico
de se ter o cérebro paralisado ou o sistema neuromuscular sem movimento algum. Também,
graças a esse tipo de visão capacitista de séculos, há uma crença que pessoas
com paralisia cerebral tem em um tipo só, sendo que vai depender o quanto o cérebro
ficou lesionado ou que tipo de nascimento a criança foi exposta. Ou seja, o prognostico
tanto de cadeirante, quanto de paralisia cerebral, dependem muito das condições
e dos meios que a deficiência se foi adquirida.
O preconceito, em sua maioria, sempre irá trazer a questão de
ignorar o porquê daquela situação que se encontra o deficiente. Por outro lado,
existem discursos que querem ainda alimentar esse tipo de preconceito. Ou por
interesses de algumas instituições que ganham com esse tipo de mercado (a deficiência)
ou porque é muito difícil, a grande maioria, entender a linguagem cientifica. E
não é à toa, a linguagem mais cientifica – e porque não, filosófica também –
sempre foi restrita a uma casta de pessoas que eram responsáveis a comunidade e
nunca, a toda comunidade. Desde a descoberta do fogo, o saber sempre foi um
poder daqueles que detinham o poder de produzir – mesmo que esse produzir continha
um discurso metafisico – mesmo que, algumas pessoas inferiorizadas, que hoje
chamamos de marginalizadas, sabiam.
A dúvida ou a verdade, sempre continha um “mistério” por
conter meios de questionar o poder. O poder nunca gostou de ser questionado – mesmo
o porquê, quem detinha o poder detinha o conhecimento – e começaram a espalhar
um discurso que pudesse ser eficaz, e o único sentimento eficaz, tem a ver com o
medo. O demônio questiona a divindade por ter criado o ser humano e assim, o
questionamento é a falta de confiança de quem foi eleito para cuidar da
humanidade. O conhecimento não é para todos. De algum modo – pode ser uma percepção
em algum lugar de história humana – as pessoas que detinham o poder, não mais
compartilharam o conhecimento e o deteve como modo de burlar e saber, supostas
naturezas das coisas.
O grande problema é que mesmo aqueles que detêm o
conhecimento tende a também não saberem a “natureza das coisas”. Sendo a definição
a “realidade das coisas” como uma verdade universal – não muito diferente do
que definir a realidade – o perfeito e o imperfeito ficam uma incerteza, pois,
o padrão definido sempre vai ser meramente humano. A deficiência – como corpo
imperfeito – é definido como um nascimento incerto que forças metafisicas (condenando
o ser e sua família ao sofrimento) em que se tem em conformar. O corpo com deficiência
com a marca de defeituoso – por muitos séculos – trouxe a condenação daquele que
não pode produzir nada para a sociedade.
Em tempos digitais – que alguns teóricos chamam de a era da informação
– o corpo imperfeito é exposto e junto com ele, a questão do perfeito e imperfeito
é abalada. Os muitos canais que mostram a deficiência – não como um ser que sofre,
mas, um ser humano que tem e deve ter sua própria vida – mostram o corpo como ele
é e não o corpo idealizado. Mesmo com a idealização dos muitos filtros da rede Instagram
– e de meninas cada vez mais, buscando uma perfeição estética – a deficiência é
mostrada como integrante de todo corpo vivente e mostra que isso não limita o
que pensa e o que sente. O sentimento, não consiste em ter oi não um corpo
perfeito e sim, uma afirmação da linguagem preconceituosa que a séculos correu
o mundo por causa do corpo que não pode produzir para a máquina estatal.
As mídias sociais informam e humanizam a deficiência mostrando
que muitos de nós, tendem a ter opiniões e ideologias políticas. Sabemos o que
precisamos de politicas publicas e no mais, gostamos do que todo mundo gosta. Musicas
que muitos ouvem. Programas que muitos assistem. E tendem a ter, também, pessoas
que admiramos e seguimos. As novas tecnologias – somando as órteses e próteses –
sempre foram importantes para nós, mas, hoje em dia, começam a ajudar a mostrar
muito mais de nós. Socialmente, se diz que temos que ser incluídos, porem, tudo
aquilo que deve ser incluído esta excluído da sociedade e não nascemos fora da sociedade.
é uma coisa entre capaz e incapaz.
Os meios dentro da informação trazem uma outra realidade
para o deficiente enquanto corpo imperfeito (graças aos padrões da sociedade humana),
onde pessoas tem o direito a vida e serem humanizadas.
Tanto a direita bolsonarista como a esquerda lulopetista tem
o mesmo discurso e se autoalimentam como se um precisasse do outro. Lula se
consolidou como a única opção de derrotar Bolsonaro quem não gosta dele e isso é
fato, ninguém mais acredita que o PT (Partido dos Trabalhadores), seja ético e honesto.
Aliás, se provou que o poder pode sim seduzir até o mais idealista dos políticos,
porque você tem uma nação em seu poder. Como maquiavel bem apontou, o
importante nunca é o dinheiro e sim, o poder e o status. Dinheiro é uma preocupação
de pessoas emergentes que querem subir de status financeiro, nunca um político
se preocupa com isso. Cuba e Venezuela são bons exemplos de países que eram democráticos
e viraram ditaduras por causa de líderes emergentes, um era advogado e
convenceu os cubanos que o socialismo era a solução (nunca foi). E outro, era
um militar que tinha o discurso de combater a corrupção e convenceu os
venezuelanos que o seu regime era a solução, levou a Venezuela a uma pobreza extrema.
Os dois, como na tradição latino-americana, eram caudilhos que queriam o poder.
O discurso pode ser tomado como igual, combate da pobreza e
da corrupção, sendo eles, corruptos. Quem garante que tanto Fidel Castro como Hugo
Chaves não tiveram uma vida confortável, mesmo que seu povo não? O sistema é o
mesmo, o discurso muda conforme mudam os problemas, mas, o sistema sempre busca
a manutenção do poder. A finalidade (telos) do poder é sempre ele mesmo. E na América
Latina, o poder tem a ver com a submissão com os países desenvolvidos tem do território,
da produção de alimentos e mão de obra. Isso nada tem a ver com a esquerda e
seu discurso, mesmo o porquê, vários pensadores liberais disseram isso já,
pois, eles precisam de pessoas para trabalharem em suas fabricas e produzirem
alimentos. Quanto mais a humanidade cresce, mais necessidades ela tem e isso é
um fato. A solução é ou ter menos filhos ou fazer que, pelo menos, metade da humanidade
morra e isso é genocídio.
Hugo Chaves não era sindicalista, não era da esquerda e não era
socialista. Aliás, o chavismo nunca teve a pretensão de ser um governo socialista
e sim, uma ditadura caudilha. Fenômenos como esse – sem nenhuma exceção – acontecem
sempre em países latinos e latino-americanos por termos uma ligação direta dos greco-romanos.
Mesmo que a humanidade tenha passado pela idade média, muitas coisas ficaram
dentro da igreja romana e seus símbolos, que remontam a cultura romana. Somos
uma cultura que gosta de ficar no império e se sentir protegido, mesmo que em
nome de uma proteção, muitas coisas tenham sido tiradas. Uma delas é a
liberdade. E em nome de uma suposta “ordem”, muitas pessoas abrem mão dessa
liberdade. Como dizem por ai, o ser humano é o único animal a querer e gostar
de ser enjaulado.
Para os gregos antigos – que tinham a noção de realidade e
pertencimento da polis e sem nenhuma, era como se o indivíduo era nada – a noção
de liberdade era ima noção só de autonomia. Nós, modernos, temos a noção de
liberdade como uma emancipação de algo maior (como uma coerção estatal) e
conservar a individualidade. Não somos e não queremos ser o Estado, mas, existem
pessoas que são a favor porque ainda acham que o Estado vai ajudar elas. Será mesmo?
será que quem não segue esse tipo de narrativa sofre uma coerção maior? Por isso
mesmo, a filosofia desde os tempos de Sócrates, sempre foi discriminada e
colocada na marginalidade, pois, ninguém quer governar um povo que questiona. Não
mataram Sócrates?
O grande problema que com os dois candidatos – com,
praticamente, o mesmo discurso – estamos a ponto de perder certas liberdades
que em nome das supostas moralidades. Só que moralismo nunca foi moral. A moral
tem a ver com certos costumes dentro de uma sociedade, o moralismo tem a ver de
imposição de uma certa moral imposta. E muitas vezes, esse moralismo nem é uma
moral de verdade e a questão, na essência, tem a ver com a visão que se tem na
realidade.
Para se discuti e entender de política se tem que ter um
certo ceticismo, não se acredita “cegamente” em governantes ou políticos. O que
tanto a série GOT, quanto a de agora HOD (House of Dragon) é que, na política,
o que reina é muito mais o poder. Mesmo nas monarquias – como é mostrado nas
duas series – a questões políticas sempre são importantes e como não, o poder.
O próprio Maquiavel deixou bem claro isso: a política tem um viés muito mais de
poder do que de dinheiro. Com o poder se tem influência e o dinheiro é consequência
disso, pois, existem líderes que podem não ter nada além daquilo que podem usufruir,
mas, tem poder. Como nas series, o Brasil com sua origem medieval – escolástica/feudal
– insiste em focar no presidente como um monarca e não vê que o mais importante
é o legislativo. A cadeira presidencial não é um trono de ferro.
Mas, há bastante semelhança com Westeros de George Martin, o
Trono de Ferro foi forjado a partir das espadas dos guerreiros que conquistaram
aquelas terras. A cadeira presidencial foi forjada no sacrifício de um povo
ignorante e que, não teve uma escola de verdade. Ou seja, se o Trono de Ferro
foi forjado com as espadas dos vencedores – com o fogo do dragão (as chamas da
sabedoria com a luta dos seus antepassados) – a cadeira presidencial, além de
ser um golpe de estado contra Dom Pedro II, ainda foi forjada por um povo
enganado em mentiras e essas mentiras, não tiveram lado nenhum. Ou melhor,
usaram a linguagem para inventarem inimigos que não existem e coisas que não tem
nexo. A pandemia vimos isso, só que o brasileiro não gosta do fascismo por ser
uma cultura individualista e, também, erraram a mão. Exageraram demais pensando
que seria uma unanimidade. Em tempos de crise, nações inteiras só sabem cuidar
de si mesmos pela sobrevivência dos seus e quando não tem cultura, isso fica
bem pior.
As semelhanças não ficam por ai, porque como nas series há um
ar hipócrita em defender uma moral que não temos. Como os reinados de antigamente,
casamentos entre parentes eram permitidos por causa do sangue real. Isso vai terminar
no século 20 com casamentos por vontades de algumas monarquias que ainda
existem, mas, que ainda conservam várias instituições. No caso da nossa “república”
(que se pensa ser uma monarquia), a moral vira moeda discursiva para alimentar certos
discursos dentro das formas mediáticas e isso tem a ver com nossa moral e os
meios de uso político. Tanto da mídia tradicional – do modo mais antigo – tanto
do modo virtual, o moralismo tem a ver com que a maioria acredita. O discurso
da comunicação de massa nunca é da mídia para o publico e sim, aquilo que o público
dará mais atenção. O moralismo dentro da política tem a ver com o moralismo do
povo.
Como diz o velho ditado: “cada povo tem o governo que merece”.
Ou seja, os políticos não são marcianos, tiveram a mesma educação, o que
acontece, nós podemos ser honestos e mesmo assim, não ser 100%. Existe ainda, a
cultura da vantagem, onde as pessoas tendem a querer levar vantagem em outras
pessoas por causa de dinheiro. No caso da política, isso sempre vai dar no
poder e na influência e isso tem muito a ver com o poder. políticos usam a sua influência
para se tornarem mais poderosos, o jogo político é “sujo”. Mesmo que podemos
acreditar que existem pessoas honestas – e há em alguns casos – outros vão usar
essa honestidade e amarrar esse sujeito no esquema e isso é notório.
Esse ceticismo tem a ver com nossa cultura – por ver muitas
coisas na minha vida – onde eu vi e concluir, que a cultura começa a moldar a política
e a mídia. Se a cultura é funkeira e simplifica o banal como importante – e a
esquerda defende como expressão cultural, que logico, vai beneficiar a classe política
– vamos ter cada vez mais, pessoas que não são éticos dentro de valores
virtuosos. Ter valores virtuosos não é ser moralista – como uma imposição de
uma moral que a maioria acredita – e sim, acreditar na justa posição do ser
humano de respeitar o outro. Não importa a condição do seu corpo ou a classe
que você pertence, mas, ter a consciência que o outro é um ser humano e você pode
discordar das suas ideias sem discriminar outras coisas. Só existe, até onde se
saiba, uma espécie humana e o que nos fez seres adaptáveis, foi a criação de educação
e respeito. Foram os meios tecnológicos
para aumentar esse respeito.
Uma postura virtuosa tem a ver com uma postura de
aprendizado, dizer que aquilo não irá trazer nada a ele. Isso, a meu ver, não tem
a ver de repreensão e sim, mostrar que a banalização desses valores ou a fanatização
deles, só vai trazer a desunião da sociedade. A sociedade como corpo político, não
existe quando há uma (visível) banalização do respeito mútuo. Será que depois
de 2013 as coisas não foram polarizadas para, exatamente, não haver essa união e
essa articulação social? será que não construíram narrativas para quebrarem
essa questão legitima de cobrança política?
“A democracia muitas vezes significa o poder nas mãos de uma maioria incompetente.”
George Bernard Shaw
Por Amauri Nolasco Sanches Júnior
Quando a democracia aparece em Atenas, uma das características que governou a cidade-estado (polis) era a escolha de seus representantes. Mas, apenas alguns poderiam exercer esse direito de escolha, pois, se deveria ser os homens livres. O que acontece que esse tipo de governo acabou em colapso por causa de discursos demagogos e retoricas que levaram Atenas a derrota e, não menos importante, a condenação do seu maior sábio Sócrates. A grande maioria perdeu a confiança na classe política por causa de condenações e resoluções que não beneficiava a grande maioria – inclusive, todos que condenaram Sócrates foram condenados por crimes contra a polis – e isso os gregos não admitiam.
Estou lendo Portões de Fogo de Steven Pressfield que, entre outras coisas, conta em forma romanceada a história da invasão persa e a luta dos 300 espartanos para segurar os persas e deixar a Grécia se preparar. Eles foram mortos depois de cinco a sete dias e matou milhares do exército persa, mesmo que, eles eram a grande maioria. Pressfield fez uma pesquisa muito grande para escrever, uma delas é que os gregos se identificavam com sua polis e os deuses dessas polis e se um grego fosse expulso, era como se não fosse ninguém. Os atenienses não fugiam a regra, mas, os atenienses tinham o ETHOS que era como o espírito deles. A democracia só era um meio de escolha dentro de seu “espírito”, o erro – por ignorância da época – os iluministas traduzirem democracia como “governo do povo. O que acontece é que esse “demo” não era povo e sim, bairros. Assim, democracia era um sistema de governo onde representantes dos bairros dos homens livres, decidiam o destino da polis.
A democracia mudou? Dizem os primeiros pensadores que defenderam a democracia que seria um governo do povo e como tal, o povo poderia decidir tudo que aconteceria em sua nação. Mas será que a “demo” poderia ser só um bairro, hoje em dia? Não. As polis (cidades-estados) eram separadas e os gregos não tinham um governo central, porque eram cidades autônomas. Depois de uns dois mil anos, o mundo mudou e as nações e a humanidade aumentou. Um país como o Brasil, com milhões de habitantes, não se poderia ter um governo de bairros e que cidadãos pudessem escolher tudo. Existem diferenças significativas entre se ter liberdade – que para os gregos antigos eram só autonomia – e decidir o destino onde você nasceu e vive. As escolhas são um destino entre a economia (como forma de trabalho e sustento) e a política (como o bem-estar).
No fundo sabemos que numa forma retorica, a grande elite sempre vai eleger quem eles quiserem. A democracia só funcionaria – em uma questão precisa – se houvesse uma escolarização de qualidade (não quantidade) e que ensinasse nossa cultura e tudo que foi em 500 anos de verdade. Coisa que não foram feitas e sou cético o bastante em achar que vão demorar ou nunca vai ser feito, porque nossa elite age como senhores feudais. Querem mão de obra reserva e um povo ignorante. A questão sempre foi a escravização e trabalho barato num capitalismo atrasado – anos 20 – de uma economia keynesiana onde o ESTADO sempre vai interferir nas formas de produção. Os empresários querem ganhar, mas, não querem investir e o capitalismo de verdade – como demanda de serviços e produção de produtos – requer uma economia liberal e sem interferência nenhuma. Ou seja, as empresas têm sempre de ter um caixa de giro para investimento. Num modo político, nossa tradição é liberal progressista por causa da nossa adesão ao positivismo de progresso dentro da ciência e liberal, por causa da nossa aproximação do iluminismo. Mas, temos uma cultura escolástica-feudal.
Uma cultura escolástica-feudal e uma economia e tradição política, liberal progressista, o que daria? Daria famílias que sempre querem estar na liderança ou no poder, assim, muitos Estados sempre têm famílias que mandam ali. Seja da forma política – principalmente – seja de forma da mídia local, mas, existem essas famílias que são senhores daquilo. Não podem ser contrariados. Hoje, as maiores lideranças tomaram conta dos partidos e estão poucos preocupados com política, isso tem a ver com nossa cultura ainda medieval. Mas, também tem a ver com a não modernização do Brasil e a escolaridade precária que sempre foi. Além disso, com certeza, sabemos que houve a sistematização da santidade do padre e a figura caracterizada de uma nação católica. Sabemos que o Padre Kelmon não existe, é um personagem construído dentro da política do espetáculo.
Nós poderíamos dizer que a cultura da política do espetáculo sempre teve público por causa do “cobertor quentinho” que as ideologias nos davam, não só aqui, mas, no mundo inteiro. Nos últimos tempos, as pessoas puderam ver que não existem ideologias políticas que sobrevivem na gana de obter muito mais poder, do políticas para melhorarem o mundo. Ai a crise política. As velhas práticas estão sendo questionadas, o senso de responsabilidade recaiu em outras pautas e isso tem que ser entregue. A política do espetáculo se dará sempre respondendo velhas questões que não tem a menor validade mais – como que existem pessoas que não pensam mais frente e só tem conceitos antigos – e que são “burladas” com essas atitudes. Pessoalmente, não perco tempo em debates.
“Sábio é aquele que
conhece os limites da própria ignorância”.
(Sócrates)
O melhor filósofo que eu li, contemporâneo, que escreveu
sobre Sócrates até agora foi Denis Huisman. Huisman faz um exercício mental –
porque não sabemos nada de Sócrates e ele nada escreveu – onde coloca o filósofo
grego como, realmente, um debatedor. Posso estar errado, mas, lendo as obras de
Platão – fazendo o mesmo exercício mental de Huisman – e consigo ver alguma veracidade
que estão em comum com outros autores que comentam o que Sócrates fazia. A forma
irônica e como usa sua humildade como uma armadilha para amarrar seu adversário
do diálogo. Muitos dizem que Sócrates é um personagem de Platão, mas, a meu
ver, comediantes como Aristófanes (até hoje) não fazem anedotas com personagens.
Você não escuta piadas sobre Bentinho, sobre a Narizinho e sim, de pessoas
personificadas numa fama. Como dizem, Sócrates era uma figura bastante
conhecida e que mexia com pessoas bastante importantes.
A questão pode ser colocada na seguinte forma: por que Sócrates
escolheu essa vida de filósofo e não foi levado por outra coisa? Muitos
especialistas – seguindo a tradição de Heródoto (historiador antigo) – dizem
que, Sócrates foi levado a ir para o lado da filosofia por causa da pitonisa
que disse que o mais sábio de Atenas era ele (na verdade, ela só respondeu o
que o amigo de Sócrates tinha confirmado). Mas, confirmou ao mesmo depois e
assim, ao longo da sua trajetória filosófica, ele dizia que filosofava por
causa do “deus” e essa era sua missão. Missão essa de mostrar o quanto ela (a
pitonisa) estava errada ao seu respeito. Sócrates foi soldado e como soldado
salvou vários colegas e, talvez, tenha levado o treinamento militar para a
filosofia de não fugir de um combate. Huisman diz no livro – chamado Sócrates –
que a humildade dele, na verdade, seria uma questão de desarmar o adversário (se
fomos, realmente, dizer que era ele mesmo nos diálogos).
O método (methodós=caminho) que Sócrates usava – segundo a tradição
– é a maiêutica. A maiêutica, grosso modo, era o que ele dizia que é uma técnica
(tekne) de parto de ideias (como era sua mãe parteira) onde há perguntas a
serem feitas e respostas a serem dadas. A partir dessas respostas, Sócrates poderia
“escalar” perguntas muito mais elaboradas até chegar na cerne da questão,
mostrando, por assim dizer, uma noção que o interlocutor não sabia aquilo que
ele dizia que sabia. Isso se dará entre a mera opinião (doxa) e o conhecimento
(episteme). E então – segundo a apologia a Sócrates de Platão – Sócrates teria
dito, primeiro, que uma vida não examinada não vale ser vivida. Segundo que ele
saberia que a questão que ele trazia era que sabia da sua ignorância. Dai, pontualmente,
diríamos que o conhecer a si mesmo era, na verdade, um convite para saber o seu
limite (de tudo) e uma vida não examinada, não vale ser vivida.
Em dois milênios e mais alguns séculos, Sócrates passou para
a posterioridade como um convite a filosofar e as inúmeras escolas que vieram
depois dele, começaram a filosofia como se começou dali por diante. Huisman traz
algo além (que chamamos de transcender), porque Sócrates acadêmico é muito sistemático
e que, ainda, vive na sombra do seu discípulo, apaixonado, Platão. Sem dúvida, Platão
amou Sócrates ao ponto de fazer todos seus diálogos, algo como um memorial. Mas,
qual o intuito disso tudo? Por que Sócrates se deixou morrer por causa de uma condenação
capital? Talvez, indo mais além, a imagem do filósofo que se suicida para um
bem maior, seja aquilo que se chamou depois de ideal. O ideal socrático era a
liberdade e não só do que eu gosto de fazer etc., mas, aquilo que as pessoas
querem falar ou expressar e assim ser refutada por aquilo que ela é de verdade.
Sócrates, em nenhum momento, não disse que o outro não poderia
dizer o que pensa, e sim, que as pessoas deveriam buscar o conhecimento para refletir
por conta própria. Enquanto o oponente estava falando de amantes, Sócrates perguntava
o que era o amor. Enquanto o oponente dizia dos atos heroicos de um herói, Sócrates
perguntava o que era a virtude. Eram perguntas assertivas que desmontava a
imagem que aquela pessoa tinha do que achava que sabia, e o que seria na
realidade. Na verdade, Sócrates coloca que há sim, uma questão de saber
enquanto conhecimento verdadeiro (episteme) e o que são meras opiniões (doxa)
daquilo a partir só senso comum e aquilo que não existe. A Terra ser plana, já houve
uma refutação e não existe nem discussão, mas, existem pessoas que acreditam. Sócrates
perguntaria o que era forma, no sentido, para que isso.
Hoje a pergunta seria: qual o limite da liberdade? Teríamos
de ter um limite da liberdade de expressão? A um ano, quando eu escrevia no Blasting
News, escrevi uma reportagem sobre o Monark (Bruno Aiub) onde digo que naquele
momento, o rapaz estava ganhando destaque graças ao seu questionamento. Na época
– foi novembro de 2021 – Monark ainda era socio e apresentador do Flow e com o Igor.
Em fevereiro desse ano – de uma forma estupida – defendeu a legalização de
partidos nazistas, que no Brasil, é ilegal. É bom lembrar que o nazismo matou
judeus, pessoas como eu (com deficiência) e outras tantas consideradas,
esteticamente, fracas, e que eles chamavam de inferiores (eugenia). Claro,
ainda hoje acontece, como a legalização de aborto em caso de crianças com Síndrome
de Down no Reino Unido e em alguns ESTADOS norte-americanos – porque americanos
somos todos – a família operar mulheres com deficiência o útero sem satisfação nenhuma.
Se isso não é eugenia, o que seria então?
Hoje, Monark tem seu programa em uma outra plataforma (o YouTube
o expulsou) e existem vários debates. Para continuar, existem vários parênteses
que devemos abrir e analisar. Primeiro, não temos – mesmo – uma cultura de entrevista
de confronto, humor “negro” (obscuro), e de conversas com várias pessoas e
pessoas que você discorda. Quem dava as cartas, vamos dizer assim, era a mídia tradicional,
que poderia colocar um presidente e tirar o mesmo presidente. Eram oligarcas da
mídia. Tiveram que se adaptar – quase na marra – mas, não gostam da internet. Aliás,
vários estudos dizem, que a internet deu vozes e os políticos não gostaram
disso. Há uma responsabilidade no que você diz, porem, a meu ver, não podemos
nos responsabilizar naquilo que elas entendem. Sócrates foi condenado por fazer
a maioria pensar, não acreditar, de pronto, e tudo que as pessoas diziam. Será que
esse era a acusação que pesava sobre ele? Será que Anito, Meleto e Licon, foram
levados a isso ou o próprio ESTADO os levou como testa de ferro?
Quando estava vendo o debate entre Monark, Arthur Petry, Ricardo
Ventura e Alexandre (o Negão), vi ali um debate socrático (como o Petry é
comediante, ele foi com o boné do Bolsonaro e a camisa do Lula). E pensei: “será
que a ideia do Monark é a mesma de Sócrates?”. Pois, a cerne de todo o problema
é a liberdade, porque a questão é poder ser ate mesmo um idiota e se ele estiver
cometendo um crime, ser processado nos transmites legais. O Brasil não vai
virar uma Venezuela assim como, não existe força argumentativa para fortalecer
um nazismo/fascismo aqui. A questão sempre foi a birra da grande mídia (e a
elite que sempre mandou) com as mídias sociais, como meio de informação desde
2013. Eles não conseguem mais sustentar uma narrativa e quando sustenta, não dura
muito por causa de informações vindas da internet. Isso irrita eles.
A meu ver, o pensamento libertário é um pensamento natural. Quem
gosta de ficar preso? Quem gosta de falar o que as pessoas querem ouvir? Eu não
me importo, por exemplo, de ser chamado de aleijado, porque eu sei que não sou.
Mudar o termo deficiente para pessoa com deficiência não fez as empresas contratarem,
não fez as escolas pararem de discriminarem e não fez mudar a visão de “coitadismo”
que nossa sociedade nos trata. É ser bastante ingênuo que na questão da
linguagem, algum preconceito sumiria. Por mais que tentem colocar o pensamento racional
e sem o politicamente correto no lado fascista – aliás, obrigar a ter uma
linguagem própria também faz parte da estética nazifascista – a questão semântica
não pode ser uma solução, porque obrigar as pessoas a terem um comportamento também
é uma ditadura.
Perguntaram: “Amauri, por que a maioria das pessoas comdeficiência não vão votar na candidata que tem uma vice cadeirante?”. Primeiro,
a deficiência não é uma construção, ou seja, não somos a deficiência e sim,
somos o que construímos nosso caráter dentro dos valores que somos criados. Antes
da deficiência (uma limitação) somos pessoas, escolhas religiosas e ideológicas
e, antes de tudo, pessoa. Como todo mundo, somos construções de morais e éticas
sociais. Porque, pensamentos políticos – chegando ao termo grego “politikon” que
quer dizer “cidadão” – são pensamentos sociais, e como nascemos dentro da
sociedade, temos que nos engajar politicamente.
Aí chegamos no cerne do problema: a consciência política. Desde
o iluminismo no século 17 e 18, ter consciência era se esclarecer sobre um
assunto. Ou seja, ter consciência é saber e refletir sobre esse assunto, é,
pelo menos, ter uma base sobre as questões que nos envolve e envolve a política.
Política vai muito além de políticos, política tem a ver com o pão que
compramos, a balada que todo jovem gosta de ir (alguns PCDs também gostam) ou as
órteses e próteses que usamos (por causa do seu preço). O tratamento que
devemos ter (reabilitação) e, por que não, a educação e o trabalho.
Pessoas com deficiência são pessoas das classes operarias,
pois, sendo liberais, socialistas ou progressistas – democratas sociais – somos
uma classe e devemos nos posicionar assim. Acontece que, existem diferenças significativas
entre escolher lados, porque, afinal das contas, nenhum sistema atendera
interesses dos trabalhadores. Operários de direita não deveriam existir. Porque
o sistema nos deixara sempre a margem – e por isso somos marginalizados –
dentro de um espectro social. A questão tem que transcender a questão ideológica,
e sim, colocar o indivíduo enquanto ser humano dentro das questões sociais e políticas.
O problema não é votar na Simone Tebet (MDB) por causa da
sua vice Mara Gabrilli (PSDB) – que tem uma deficiência (tetraplégica) – mas, o
porquê temos que votar nela. A questão passa pelo crive ideológico em asseverar
a discussão da inclusão sempre colocando a pessoa no primeiro lugar, mesmo o
porquê, a deficiência não nos definem. Pessoa tem a ver com personalidade,
aliás, as duas palavras têm a mesma origem etimológica latina do “persona”. A “persona”
eram máscaras usadas durante dramatização dos teatros e assim, a construção de
um personagem (antigamente, mulheres não podiam encenar).
Ter uma personalidade é ter uma seletividade daquilo que você
é e aquilo a sociedade exige. Eu não quero, por exemplo, acreditar na mesma religião
que o outro, mas, tenho que respeitar a decisão de crença do outro. Não é por
causa da minha deficiência que, por questões de vontade e credibilidade, ser
obrigado a acreditar naquilo. Ter uma crença é algo pessoal (que volta na questão
da personalidade). Além disso, ter uma personalidade é ser seletivo naquilo que
as pessoas gostam (cultura de massa). Eu não gosto e não vou ver por que a
maioria vê.
A pergunta deveria ser: por que as órteses e próteses são caras?
Por que as pessoas com deficiência não têm educação e não tem emprego? Por que a
lei de quotas não foi para universidades? Para pensarmos politicamente, como
segmento legitimo, temos que pensar em prioridades. O que é melhor para TODAS
as pessoas com deficiência? ainda mais: o que seria melhor para TODOS os cidadãos
brasileiros?
“Era uma utopia. Quando estávamos lá, não havia mundo externo” (Foto: Netflix)
Por Amauri Nolasco Sanches Júnior
Lendo uma biografia da Lourdes Guarda – grande iniciadora da
luta das pessoas com deficiência – e assistindo o documentário Crip Camp,
sempre fiquei em dúvida o porquê o segmento das pessoas com deficiência nunca
foi unido. Lá, nos Estados Unidos, com uma cultura mais protestante e liberal, não
existem movimentos leigos que possam lutar por inclusão e sim, ONGs que exigem
um cadastro diferenciado. Ou, como aconteceu com a FCD (Fraternidade Cristã de
Doentes e Deficientes), federações que podem ser como se fossem, ONGs e que
poderiam ser cadastradas pelo governo. Isso se agravou com os ataques do 11 de
setembro. Já no Brasil e na América Latina, os movimentos podem ser organizados
e podem lutar livremente, mas, só como ONG ou Federação, eles recebem recursos
para continuarem seus trabalhos. Afinal, nunca movimentos livres tiveram acesso
nos Estados Unidos.
Mas, como é mostrado no documentário – a Netflix disponibilizou
no YouTube – as pessoas com deficiência de lá, tendem a não se importar em
trabalhar ou de ir em camps (acampamentos) para terem a chance de mostrar sua
capacidade de independência. A questão sempre foi a liberdade de si mesmo
diante a deficiência e não mostrar que poderíamos superar ela, poderíamos mostrar
para a humanidade que somos capazes mesmo com pernas ou braços paralisados, ou
sem audição e sem visão, ou até mesmo, sem movimento. O conceito de deficiência
sempre foi colocado como uma doença, por causa da nossa limitação de andar ou
se locomover, assim, as pessoas sempre nos colocaram como sofredoras. Sofrer por
não se locomover são coisas diferentes. Por exemplo – para mostrar como essa
imagem é tão forte entre a humanidade – que um líder sanguinário e cruel como Hitler,
chorou ao assinar o termo de matança de pessoas com deficiência nos hospitais alemães.
Biólogos renomados como Richard Dawkins, em 2015, tenham dito que uma mãe ter
uma criança com síndrome de Down era desumano. Mas, afinal, o que não se pode
assegurar que somos humanos?
Eu entendo esse conceito, pois, sempre nossa cultura
internou as pessoas com deficiência em hospitais e – por causa da nossa cultura
católica religiosa – ter essa imagem da deficiência como doença. O conceito
mesmo da deficiência consiste em não eficiência de certas tarefas – que podem
ser adaptadas com a reabilitação – e que isso, não é empecilho para uma vida
plena e sociável. No Brasil, por causa da nossa cultura positivista – tudo deve
ser feito com especialistas – o médico ou fisioterapeuta, deve ser uma espécie de
guru para tudo. Mas, não é bem assim. No próprio documentário, você não vê um acompanhamento
contínuo das pessoas com deficiência como aqui. No Brasil – um país do drama – há
um exagero. Sempre pessoas não tem a liberdade assegurada, porque se tem a
ideia da lentidão de acompanhar certas tarefas e certas coisas.
No próprio livro, muitas pessoas viam aquela mulher na maca –
porque Dona Lourdes andava só na maca e nos anos que ia na FCD, pude comprovar –
muitas pessoas diziam que era melhor a filha morrer do que ficar daquele jeito
ou que, ela estava doente. Por causa da precariedade que sempre foi o Brasil –
sendo um país muito mal administrado – a ciência dentro da medicina e o
tratamento de certas doenças e deficiências, que na sua maioria, são muito
vagabundas. Mas, o porquê esses “vagabundas”? Porque a política precisa de problema,
porque ela vive do problema. Por que se inventou em dar, pelo SUS, cadeiras de
rodas ou outros aparelhos? Na lógica do mercado, o governo jogaria mais
cadeiras de rodas na sociedade, por exemplo, e normalmente, essas cadeiras de rodas
iriam abaixar de preço. O mais gozado é que, as cadeiras de rodas nunca são baratas
no mundo e governos subsidia muitas delas para baratear esse tipo de produto –
de primeira necessidade – e o que acontece, que elas ainda são muito caras. Países
pobres – como africanos e a China, por exemplo – esse tipo de item são descartados.
Na essência, a ideia (idea) da inclusão não é deliberar um
corpo considerado anormal dentro da sociedade, mesmo o porquê, sempre nascemos
dentro dessa mesma sociedade. A questão é a acessibilidade porque tem a ver com
a liberdade, porém, liberdade também tem a ver com deveres. Essa questão de inclusão
tem dois lados: um de fazer o que quiser (sem violentar o direito do outro) e
ter os mesmos deveres que a sociedade impõem para o convívio. Mesmo que você não
goste, se você quiser uma inclusão social, você vai ter que aceitar certas
coisas que não aceitamos. Nem todo mundo vai aceitar isso sossegado. E por
outro lado, se tem que levar a discussão num outro patamar: será que eu devo
aceitar a deficiência?
A pergunta de ouro seria: eu sou a deficiência ou eu sou eu
mesmo? Pois, a deficiência é uma condição, por outro lado, ela não te define. A
definição – como todo ser humano – é que somos pessoas e antes de sermos
deficientes, somos pessoas com algumas limitações. Só que essas mesmas limitações
não devem atrapalhar a nossa vida, nossos sentimentos ou quem nos define dentro
das crenças e nos valores que acreditamos. Afinal, quem somos? Deficientes ou
pessoas que estão no mundo para serem felizes e realizarem o que querem?