Amauri Nolasco Sanches
Junior
(42 anos, formado em
filosofia da educação na FGV e também, formado em publicidade pelo IPED e
técnico de informática pela ETEC Parque Santo Antônio)
Num quatro do programa Fantástico – na qual, eu não sei o
nome – se encontraram a ex-atleta, Laís Souza e o paratleta, Fernando
Fernandes, para bater um papo. Laís Souza é uma pessoa difícil de entender se ela
quer dizer isso ou aquilo, de certos assuntos que no fundo, ela ainda não
aceita (mesmo que Laís jura aceitar). Fernando Fernandes foi ex-participante do
BBB, foi modelo, foi garoto propaganda e hoje, é um paratleta de nome que
representa o Brasil nos jogos paralímpicos. Ele sabe o quer e sabe o que diz,
ouve a maioria das pessoas com deficiência e sei muito bem, que antes de dizer
a frase única e importante do papo, é a frase que milhões de brasileiros
deveriam mesmo ouvir: nós não somos exemplo de superação. Pois é. Não somos
exemplo de nada, queremos apenas ter uma vida normal como todo mundo tem.
Primeiro, vou analisar o vídeo que é importante analisar. O que
eu vi foi o Fernando Fernandes ser mais seguro daquilo que ele pensa e quer
falar e falou tudo aquilo que ele pensa hoje, porque mudou seu discurso,
talvez, por conviver mais com as pessoas com deficiência, falou o que queríamos
dizer. Que as pessoas com deficiência são discriminadas e não querem ser
exemplos de superação. Essa fala escoou por milhares de lares e não repercutiu
por exatamente, ele dizer isso, as pessoas não gostam que as pessoas com deficiência
sejam seguras. E ele disse uma semana depois do Teleton. O Teleton é o avesso
do que ele disse, por alimentar essa imagem de superação, essa imagem que as
pessoas com deficiência precisam superar suas deficiências. Só nos resta
perguntar: por que temos que superar nossa deficiência? Por que temos que ser
um trampolim motivacional para a sociedade? Essa é a questão, não temos porra
nenhuma! Precisamos nos adaptar a ele e conviver na melhor maneira possível e
isso, que devemos fazer. Ponto.
Laís Souza gosta de ser exemplo de superação. Só concordou
com o Fernando, por estar num canal de tevê. Sempre perdida, ela não sabe se
vai ou se fica, se ama ou se odeia, isso não é se descobrir é ir onde agrada
mais. Laís não mudou, aprendeu a ser política com a mídia e com as pessoas para
parecer “bonitinha”. Não que eu ache que o Fernando Fernandes não queira a
mesma coisa, mas, ele já decidiu que caminho deve seguir e o porquê desse
caminho. Laís Souza não decidiu. Ainda está perdida dentro daquele sonho de
poder andar de novo, de levantar da cadeira e consertar o seu corpo. Só que já era.
Ficara assim pelo resto da vida e não vai ter jeito. É o que os estoicos diziam
em não querer modificar aquilo que não está no nosso poder, aceitar as imperfeições
e o que a realidade nos traz. Ela ainda não aceita e não sabe o que quer da
vida.
Esse conceito de “exemplo de superação” tem a ver com o
capacitismo. O capacitismo – que vem do termo “capaz” – é o nome que se deu
para o preconceito contra as pessoas com deficiência. Existem várias interpretações
e definições para o preconceito, porque o termo é bastante abrangente e
interessante. Segundo o filósofo e jurista italianos Norberto Bobbio, que suas afirmações
éticas e políticas são aceitas por diferentes posições e grupos, sejam de
direita e de esquerda, analisa o termo como uma opinião errônea ou um conjunto
delas. Essas opiniões erras são aceitas passivamente, sem passar pelo crivo do raciocínio
ou da razão. Seria, mais ou menos, como um achismo mais conceitual. São estereótipos
que se agregam em uma moral ou uma ética, dentro de uma cultura, que tem certas
crenças ou práticas de eliminação. Existem tribos indígenas que ainda enterras
suas crianças com deficiência ou na Índia, as pessoas enterram as pessoas com deficiência
por causa de crenças. Cidades-estados gregas na antiguidade, matavam as pessoas
com alguma deficiência ao nascer, a mais famosa foi Esparta. Na idade média,
muitas foram queimadas ou abandonadas por não poder andar ou ter o corpo
retorcido – que muitos achavam ser um demônio. E faz muito pouco tempo que
conquistamos espaços no mundo, pois, até os anos 80, as pessoas com deficiência
não podiam frequentar restaurantes nos Estados Unidos.
Aqui no Brasil, como é um pais que despreza completamente a escolarização,
o preconceito é mais frequente. O preconceito sempre é uma mera opinião dentro
dos valores éticos (caráter), que se recebe dentro da sua casa, ou seja, pela educação.
A educação é o pilar para uma pessoa ser ética ou antiética. Porque o bem e o
mal não existem, mas, o conhecimento e a ignorância. Com o conhecimento, você sabe
que as deficiências não são contagiosas, que elas não são limitadoras, que
aquela pessoa numa cadeira de rodas, é apenas uma pessoa. Isso elimina o
conceito limitador do “exemplo de superação”, do conceito limitado que somos
incapazes de estudar, que somos incapazes de sair, de trabalhar, de namorar e
casar (isso também tem a ver com fazer amor). Qualquer preconceito – seja qual
for – limitam a pessoa a ficar numa bolha de conceito que não existe, existe a
partir de um conceito aprendido erradamente.
Quando um adolescente escreve um bilhete – no caso da menina
com Síndrome de Down – “negros na senzala, gay no armário, retardado é na apae”,
podemos dizer que foi aprendido dentro da sua casa. Porque as pessoas são muito
nostálgicas e querem sempre achar que o seu mundinho está certo e tudo que visa
mudança é comunismo, pois, o comunismo soviético nos mostrou um czarismo com
uma bandeira vermelha. Mudanças são a evolução do mundo e de você mesmo. O
mundo, queiram ou não, se moderniza com a tecnologia e com as pessoas
convivendo cada vez mais e isso é fato. Aceita que dói menos. A nossa nação passa
por uma crise e crises visam mudanças e uma delas é ter que conviver com o
diferente. Outros países tiveram que se adaptar a isso, por que o Brasil não pode?
Por que o nosso povo gosta da sua zona de conforto?
Não querer ser “exemplo de superação” não é renegar o
reconhecimento, mas, ter o reconhecimento igual as outras pessoas têm no mesmo
trabalho, no mesmo esporte e por aí vai. Eu, por exemplo, sou um mal exemplo de
qualquer coisa e antes que me esqueça, meus ídolos morreram sim de overdose por
fazerem o que quiseram. Então, acho que quando temos a vontade de não fazer
igual e uma boa educação, ídolos morrerem de overdose ou não, não fazem diferença.
No mesmo modo, posso dizer que não quero ser exemplo de nada. Fernando Fernandes
acertou dessa vez, isso que importa.
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