sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Entre a prudência e a imprudência – ‘nunca foi tão fácil ser ladrão nesse país’






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Amauri Nolasco Sanches Junior
(42 anos, formado em filosofia da educação na FGV e também, formado em publicidade pelo IPED e técnico de informática pela ETEC Parque Santo Antônio)

O filósofo André Comte-Sponville, no livro Pequeno Tratado das Grandes Virtudes, diz que a prudência é uma virtude menor dentro de um mundo contemporâneo cheio de tecnologia. Porém, na antiguidade grega – principalmente, Aristóteles e Epicuro – a prudência tem um significado bastante importante, porque tratara de um modo de viver bem melhor. No mundo moderno (contemporâneo), prudência se tornou uma virtude de se evitar alguma coisa. Mas, prudência, também, é uma virtude cardinal (dos cardeais da igreja), para não se afastar das suas obrigações. Acho eu, que o ex-presidente Lula, como bom católico que é (ou diz ser), deve saber disso. André Comte-Sponville, diz ainda, usando o “phronésis” grego, que a prudência tem um lado mais profundo.

Aristóteles dizia que a prudência (phronésis), era uma virtude intelectual. Para Aristóteles, tem a ver com o verdadeiro, com o conhecimento, com a razão. Seria a disposição que permite decidir corretamente sobre o que é bom ou mau para o homem e agir em consequência como o que convier.  O que poderíamos chamar de bom senso, mas que estaria a serviço de uma boa vontade. Ou da inteligência, mas que seria virtuosa. Para Santo Tomás de Aquino dizia que, das quatro virtudes cardeais, a prudência é a que deve reger as outras três virtudes que seriam: a temperança, a coragem e a justiça. Sem a prudência, os cardeais não saberiam o que deveriam fazer, nem como fazer. Seriam virtudes cegas ou virtudes intermediarias, como, por exemplo, o justo amar a justiça sem saber praticar ela, ou o corajoso amar a coragem sem saber fazer a sua coragem. Assim, como a prudência sem as outras três, seria vazia ou não seria mais que uma mera habilidade. Porém, segundo Sponville, a prudência decide e a coragem provê.

O significado dito por Epicuro seria a essência, a prudência, que escolhe, os desejos, que convém satisfazer e os meios para satisfazê-los. Ou seja, na visão de Epicuro, nos ocorre recusar numerosos prazeres, quando devem acarretar a um maior desprazer, ou buscar determinada dor, se ela permitir evitar dores piores ou obter certo prazer mais imediatos ou muito mais duradouro. Sempre vamos ao dentista para não sentir dor. Então, a prudência, é algo que você tem que ter antes de escolher um ato. Mas, escolher requer uma ciência (conhecimento), requer uma racionalidade daquilo que você quer fazer. Não podemos tocar o corpo do outro sem permissão, por causa da violação do direito de preservar sua individualidade, portanto, tem que ter uma prudência dentro de um desejo. No mesmo modo, tem que ter uma certa prudência de não roubar, de não fazer nada que vai negar ao outro uma dignidade e o direito de individualidade.

O Lula esqueceu da prudência. Fez um governo onde, segundo denúncias, aceitou propinas e aceitou todo o esquema de corrupção que se instalou na Petrobras. A corrupção é uma escolha de aceitar e não aceitar, é uma escolha que deveria ter uma certa, racionalidade de pensar o que vai vir no futuro e ter um ato de ter ética. A ética é construída dentro de certos valores que são passados dentro da sociedade, dentro de uma história de vida (uma egrégora?), que se manifesta na construção daquilo que você pensa e aquilo que você é. Muitas vezes, com as dificuldades e com o querer ser aceito dentro de um certo grupo, nós podemos esquecer quem somos, aquilo que acreditamos e até mesmo, os valores em que nós apoiamos. Muitas pessoas acham que nós libertários anarquistas, não podemos ou não temos valores para seguir, que é uma tremenda bobagem. Todo ser humano tem valores no qual segue, até mesmo, valores volúveis dentro daquilo que você é de fato, sua natureza. Só de não atacar o outro fisicamente ou moralmente, é um valor que você segue e para um anarquista de verdade, a honestidade de ser você mesmo sem radicalizar – porque é uma doutrina humanitária – é ser liberto de amarras ideológicas de uma liberdade guiada a não dignidade de si mesmo. A liberdade desmedida é uma carência e não uma libertação de si mesmo. A pessoa segura de si, não vai ficar bebendo ou fazendo sexo adoidado, para se sentir liberto do mundo. Assim, você continua prisioneiro da liberdade mediática hollywoodiana.

Do mesmo modo, podemos dizer de um corrupto. Um corrupto entra no esquema, geralmente, porque o outro entrou. Porque ele quer superar aquilo que ele viveu no passado e não foi trabalhado nele. Mas isso, não é nenhum álibi para serem corruptos, só é um sintoma da cultura no qual o indivíduo viveu. Não podemos justificar alguém como o Lula, por exemplo, pelo que é mostrada em sua biografia – que muitos alegam ser suspeita de ter vários fatos inverídicos – pelos atos que cometeu, porque muitos na mesma situação, não fez nada que possamos chamar, atos antiéticos. Todo corrupto, na sua essência, é um ser humano egoísta que pensa só no seu bem-estar. Mesmo assim, o corrupto graças a sua avareza, esquece da sua prudência e comete vários atos sem raciocinar o que pode acontecer no futuro. Um ladrão (alguns, pelo menos), tem uma certa prudência de não se deixar ser pego (hoje, com uma certa impunidade, eles não tomam esse cuidado), um corrupto, sempre acha que a lei não vai pegar ele. Muitas vezes é verdade. Mas, o ESTADO pode punir aqueles que não reprogramam o sistema – usando a expressão da Pitty – como ele quer, como se deve ser o “esquema”. Um sempre entrega o esquema todo.

Lula foi pego pelo vislumbre do poder – não que antes não era assim -  por achar que seria o “rei” de um país, de tamanhos continentais e de riquezas grandes. Achou que quem era oposição no passado, era seu amigo naquele momento. Lula sabia falar como sabe até hoje (com uma certa parresia), mas, diante de todo marketing, diante de todo o apoio popular e das instituições, esqueceu da prudência. Esqueceu que não há amizade na política e tem que agir conforme a ética e a moral, manda e eles são “majestades” bem exigentes. Mas, antes de tudo, Lula esqueceu de cumprir o que ele prometeu, que em toda vida discursiva, prometeu e colocou como sua pauta e pauta do PT (Partido dos Trabalhadores). Afinal, o PT é seu. Ele reina no PT. E por último, ele esqueceu que não é um “deus”, mas um misero ser humano. Humanos são, demasiadamente, apenas humanos.


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