
Amauri Nolasco Sanches Junior
Quem me conhece, sabe que eu tenho um restrito relacionamento
com a AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente), por ser um ex-paciente
deles. Entre 1983 até 1990, eu fiquei na antiga unidade da Paulista na escola Rodrigues
Alves e de 1991 a 2000, na Oficina Abrigada de Trabalho na unidade da Mooca fazendo,
trabalhinhos. Então, eu sei muito bem, que a avaliação de se pagar (porque a
entidade se paga sim), é por renda familiar – que as vezes, não bate – e avaliação
por tratamento, é se eles conseguem enrolar as pessoas. Como fazem 18 anos que não
ponho os pés na entidade, eu não sei como está. Mas, o texto é sobre o programa
Teleton.
Primeiro erro é dizer que o Teleton vai ajudar as pessoas
com deficiência, porque o programa ajuda a AACD que é uma entidade particular. Não
importa se é uma associação, é uma entidade que é privada e tem uma diretoria
empresarial que transformaram a entidade de reabilitação, em uma empresa e
ponto. O resto é papo furado. Você paga – pouco, mas, paga – e o SUS paga quem não
pode (pelo menos, antigamente era assim). Existem pessoas com deficiência que conseguem
tratamento lá por critérios misteriosos, porque existem outras pessoas com a
mesma deficiência, muitas vezes, não são aceitas. Assim, nem todas as pessoas
com deficiência, são aceitas e fazem tratamento na AACD e nesse interim, o Teleton
não ajudam todas as pessoas, mas, só a entidade em si. Eles estão certos? Sim. Se
pensarmos num modo bastante liberal, como uma entidade privada, eles têm o
direito de ter critérios e trabalhar com esses critérios. Só que existe um
grande problema, a AACD também recebe dinheiro público de quem paga imposto. Recebem
doações. Portanto, a AACD não é tão particular assim, porque a sociedade paga
pelo imposto, ainda, dá uma graninha no Teleton para ter o bonequinho.
As outras unidades – pelo que eu sei, o terreno da central
(Vila Mariana) é ainda da prefeitura – foram construídas com dinheiro de doações,
dinheiro social. Tendo em vista que esse dinheiro social é pouco, precisam de
mais, de mais, porque não tem o que sustentar a entidade e os encargos dos funcionários.
Por isso mesmo, é uma associação. Empresários dão uma mensalidade todo mês –
como todo associado – para sustentar tudo isso que você vê no Teleton. Na pratica,
bem radicalmente mesmo, não é tão privada assim. Assim ó...tudo que é privada tem
que ser sustentada por eles mesmo, quando é algo sustentadas pela sociedade,
acho eu, é público.
Segundo erro é mostrar pessoas com deficiência para arrecadar
mais doação como um apelo sentimental, induzindo as pessoas, a acharem que estão
ajudando as pessoas com deficiência. Pode ajudar algumas, mas, não todas. Todas
as pessoas com deficiência ou a grande maioria, é atendida pelo SUS ou quem
pode pagar um convenio pelas restrições da própria entidade. Ora, a entidade e
o caso que eu trago aqui, é um caso clássico de restrições de classes (mesmo eu
não sendo marxista), porque envolve quem pode ou não, pagar um tratamento
decente. Mesmo que você não concorde com isso, tem que enxergar que no Brasil,
existem milhares de famílias que não pode cuidar de seus deficientes. Segundo pesquisa
de um tempo atrás, uma pessoa com deficiência em média gasta R$ 5 mil reais por
mês em remédios, cadeiras de rodas ou outros aparelhos, fora a comida e o vestuário.
Quem pode pagar nesse país esse dinheiro todo?
Isso transcende e muito a discussão política de ser esquerda
e direita, tem a ver com dignidade humana. A dignidade humana vai muito além de
esquerda e direita, de entidades caça niqueis ou algo parecido, dignidade humana
é ter um tratamento decente, é poder ter acessibilidade, é poder ser educado e
trabalhar. E vamos combinar, todos tem um pouco de hipocrisia, porque reclama
que está atrasado no ônibus quando um cadeirante vai subir, para na vaga das
pessoas com deficiência no estacionamento, fica olhando feio quando casais com deficiência
ficam se beijando e tudo mais. Depois doa no Teleton. Será que é encargo de consciência?
Não sei. Mas a maioria, sim.
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