Amauri Nolasco Sanches
Junior – 42 anos, filósofo/escritor, TI e publicitário
“Nós amamos o amor e não sabemos amar. A moral nasce desse amor e dessa impotência. Existe aí uma imitação das afeições, como poderia dizer Spinoza, mas na qual cada um imita, sobretudo, as que lhe faltam…”
(SPONVILLE André Comte- Pequeno Tratado das Grandes Virtudes)
Sponville tirou a primeira frase de uma outra frase dita por
Santo Agostinho em suas Confissões (livro biográfico dele), quando diz: “eu
ainda não amava, e amava amar”. Realmente, amamos amar as pessoas e ao mesmo
tempo, não sabemos amar, não sabemos o que é o amor verdadeiro dentro do
espectro humano. O niilismo chegou porque acabaram com os ideais. Como acabaram
com eles? Realizando esses ideais. Acabaram com o socialismo, realizando ele na
União das Republicas Socialistas Soviéticas (esse “republica” pode ser encarado
como uma ironia maldita), pois, mostrou que o poder e a ganancia humana por
ele, era mais importante do que o ideal da igualdade. Quem realmente é igual um
do outro? Eu gosto de uvas passas, outras pessoas já não gostam. Não se
acreditar em nada (niilismo), é renegar a mudança e não acreditar mais nem
mesmo, no amor verdadeiro. Somos (ou nos tornamos), imediatistas. Queremos tudo
agora e que nunca se acabe. Um carro leva tempo para montar, assim como, para
comprar um (juntando dinheiro).
Ora, amar leva tempo para perceber, ou existem várias formas
de amar. Às vezes, mães amam seu filho deixando ele ser o que ele é, outras
mães, querem moldar seu filho como deve ser, com a sua religião ou com a sua
ideologia. Cada um sabe como é sua moral. Mas, as pessoas também têm a sua
ética (caráter), que tem sempre é igual da sua ética. Minha ética é baseada em
valores que eu mesmo construí – durante a vida? – em que me baseio minha
conduta moral. Se tenho uma moral anarquista de respeitar o outro por saber que
o outro tem o direito de ter uma opinião e exercer sua liberdade, devo seguir
essa conduta moral. Seria incoerente acreditar nos ideais anarquistas e ter uma
conduta imperialista, por exemplo. O problema sempre foi a padronização humana.
Devemos ser assim, devemos ser assados. Os cientistas têm muito disso, não deve
ter vida sem oxigênio, não existe vida sem água, não existe vida sem gravidade.
Mas quem disse que o universo – ou qual força criou tudo isso – pediu alguma
opinião para os seres humanos? e se houver seres que bebem amônia e respiram
metano? E se houver planetas que se aquecem com a eletricidade e podem
gravitacionar em torno de uma estrela anã? Existe padrão dentro do universo ou
é o padrão humano?
O ser humano sempre padronizou tudo – ainda, no caso da
modernidade, botam a culpa em Descartes – desde a antiguidade quando inventaram
a lógica. A lógica é uma maneira de padronizar a verdade pela matemática (como
se existisse uma verdade). Eu acho e sempre achei, que a lógica tem falhas de
mostrar algo que não pode ser encarado como a verdade, porque a verdade é um
objeto, vamos dizer assim por faltar o termo certo, metafisico que não existe
de fato. Um bule é uma ideia que virou objeto, mas, esse mesmo metal do bule,
poderia ser uma frigideira. Vamos dizer
– ampliando a visão única dentro do aspecto filosófico – que a verdade é
quântica, ou seja, depende sempre do observador que o observa. Um objeto ou um
sentimento, dentro da realidade, sempre pode ser outra coisa conforme a ideia
de quem fez o objeto, ou, quem está sentindo o sentimento naquele momento.
A solidão, mesmo no meio da multidão, é uma padronização do
amor e do que seria, companhia. Às vezes, podemos estar felizes de ficar um
pouco sozinhos dentro de um determinado momento, não tem nada de errado nisso. Acontece,
que a nossa sociedade padronizadora, sempre tem que ter certas certezas. Então,
você tem que ser um pai desse jeito, uma mãe daquele outro jeito, você tem que
ser um filho de outro jeito. Mas você é o que seus valores fazem de você mesmo.
Não existe um padrão. Não existe padrão
de sentimentos e atitudes. Portanto, temos que pensar que uma pessoa estar ou
pensar estar, sozinha, é uma questão que sempre achamos que dependemos dos
outros. Mas será que existe uma ligação entre a razão (logos), e o sentimento?
Sim. O ser humano se for só a razão é um ser frio, só o sentimento, vira
ingenuidade. Existe e deve existir uma espécie de equilíbrio entre a razão e a
emoção, quando vamos nos relacionar. Seja na amizade, seja num amor a dois,
seja em relacionamentos familiares, se não houver equilíbrio, não existe nada. O
foco fica cada vez mais em um lado.
As pessoas se sentem sozinhas porque padronizaram
relacionamentos. Padronizaram verdades que não são verdades, são apenas ilusões
conceituais, ilusões dentro de uma outra ilusão. Poderíamos dizer – viajando
bem na maionese – que a solidão é um sentimento de culpa de não ser você mesmo.
Tudo existe para o prazer e o sucesso, mas, nada para o espirito e para o amor,
porque as pessoas se afastam de ser elas mesmas por um pouco de atenção. Nossa
sociedade não larga o antigo, que não serve mais e sempre usam narrativas de vitimismo,
narrativas de séculos atrás e não tem mais nenhuma utilidade. Isso não quer
dizer que não podemos lutar contra os vários preconceitos da sociedade e das
injustiças sociais, mas, devemos mudar a narrativa de nos aceitarmos primeiro
antes de lutar para ser aceito. Por incrível que pareça, eu aceito minha
deficiência, vou conviver com ela o resto da minha vida. Que minha mãe não está
mais aqui (ou, segundo minha crença, mudou de estado do corpo para o espirito),
que não tenho mais a companhia da minha ex-noiva e nem por isso, estou sozinho
solitário. A questão é que, hoje em dia, as pessoas não aceitam um “não”, não
aceitam ser contrariadas. Só que a vida é assim, ou você aceita que nem tudo é
para sempre, ou vai sofrer muito.
Temos que aceitar a realidade como ela é e nos aceitar como
somos. Se o outro teve sucesso, que bom, ele é um cara que aceitou a realidade
e não deixou suas convicções para fingir aquilo que não é. Porque temos que ser
aquilo que não somos para agradar outras pessoas? Por que eu tenho que agradar
os outros e não conhecer a si mesmo? Jesus disse para conhecermos a verdade.
Sócrates disse para nos conhecemos. Buda disse para temos o conhecimento para
sair da ignorância, do mesmo modo, Platão dizia que só o conhecimento pode
trazer a felicidade. Mas, para os filósofos antigos, havia valores intrínsecos
que eram defendidos, tinha um certo “ethos” (caráter) dentro de sua filosofia.
Nietzsche denunciou isso que se estava matando valores que
iriam desembocar no niilismo ocidental – as pessoas iriam desacreditar dos
valores nobres para acreditar em nada mais – e o século vinte, mostraram que,
realmente, foi o que aconteceu. Mataram a metafisica como conceito e puseram a
ciência – não que a ciência fosse errada, mas, o uso dela como um substituto da
metafisica da igreja – como a solução e duas guerras mundiais com milhões de
mortos (contando com as duas bombas atômicas que usaram os japoneses de cobaia),
aconteceram com a ajuda da ciência. Porém, a ciência empírica não é a única
culpada, a morte de conceitos como o bom (como cavalheiro), o honesto, o nobre
por respeitar o outro como educação, acabaram desembocando em um abismo do
nada. Não é à toa, que Nietzsche vai dizer que o homem nobre sempre olha dentro
do abismo, ou cai no abismo dançando, porque ele olha para o niilismo mais não
o aceita como um valor porque ele transcende todos os valores e acredita no
limiar da vida por excelência. O ser humano solitário, briga contra a vida por
estar ressentido contra ele e seu destino, mas, temos que aceitar o “amor fati”
(amor ao seu destino), a realidade como ela se encontra e como ele é.
Será que Nietzsche voltou aos estoicos? Acho que talvez,
porque o filósofo nunca tem certeza. Mas tem características bastante solidas
de ser um pensamento estoico, porque os estoicos defendiam a aceitação da
realidade como ela é. Um budista também pensa assim e concordaria num texto estoico.
Os budistas, assim como os estoicos, entendem que você deve, na verdade,
devemos sempre focar no agora e assim, não esperamos um futuro que não existe. A
ansiedade é uma espera de um futuro que não chegou ainda e se imagina que será aquilo,
como se diz que sofremos antes da hora. Sempre se sofre antes da hora. Sempre esperamos
um futuro que não existe ainda. Nietzsche dizia que devemos nutrir vários valores
que são nobres, que nutrem a verdadeira alma humana, porém, a nobreza
nietzschiana é a nobreza do espirito e não dos bens materiais. Essa nobreza
existe, mas, esquecemos graças a moral imediatista que temos agora.
Na filosofia hindu existe o Dharma (Lei Natural ou
Realidade), Artha (desenvolvimento econômico ou prosperidade material) e o
Kharma (Ação). Dharma ou darma, é uma missão de vida ou papel que você tem no
mundo no seu papel sócio existencial. O darma é uma realização dentro da
sociedade e anda bastante ligado com o karma. No budismo, o darma é uma lei
natural das coisas, ou seja, para o budismo, o darma é a realidade que existe e
você não controla. O karma não é um pecado – como é ensinado no ocidente – mas,
uma ação para chegar ao darma de aceitação da realidade (o verdadeiro
conhecimento). Já o artha é um termo em sânscrito que tem o significado de
causa, motivo, desenvolvimento econômico ou propriedade material. Na filosofia
hindu (dentro do hinduísmo), é uma das tri-varga (ou as três metas), que são metas
mundanas (do mundo material), junto com o karma e o darma. O artha é
considerado um ato virtuoso se for seguido com o dharma ou o código moral, ético
e religioso. O na-artha é o artha contrário ao tri-varga (três metas) que não vau
satisfazer o propósito da existência mundana, como as atividades criminosas, os
vários vícios e outras transgressões morais e religiosas. Na sua essência, o
artha tem o significado da conquista da matéria.
Ora, o artha, não é a conquista da matéria apenas no sentido
material da conquista de bens, mas sim, no sentido de usar essa matéria (o bem
que você conquistou) como uma espécie de instrumento da evolução espiritual. Ou
seja, se utiliza as posses sem ser esses bens, assim, desta forma, vamos
valorizar o trabalho e compreender os ganhos que inerentes a vida. Para essa
filosofia (junto com o budismo com algumas variações), existe o darma que é a
realidade que existe, o karma que são as ações que tomamos durante a vida nessa
realidade e o artha que é a conquista dos bens materiais sem se apegar a eles. A
realidade que existe por ela mesma, as nossas ações e o resultado de nosso
verdadeiro trabalho (evolução do nosso espirito). Ou seja, essa ideia de não ter
bens materiais não é muito importante quando você não se torna esse bem, esse
status. Porque, no final das contas, o bem material se dissolve no tempo e no espaço.
Mas, entender as leis que regem a realidade e compreender que nem tudo você pode
mudar e o mais importante – tanto para o hinduísmo quanto para o budismo – as ações
que fazemos durante a vida, trará o que você fez. Se bato em alguém, o alguém pode
bater em mim ou posso perder a sua amizade ou o seu amor e a culpa é minha, é
uma reação da minha ação. Nada tem como castigo, pecado ou coisa desse tipo. As
filosofias orientais, visam muito a evolução do ser e não condutas morais que só
visam algo externo. O espirito é interno.
O cristianismo tem um pouco desse ensinamento – que lógico,
o império romano distorceu para alimentar o seu poder – quando Jesus disse dos lírios
do campo (o apego ao material), que quem embainhar a espada e usar a espada,
pela espada vão morrer (ação e reação) e o caminho da tentação é largo,
estreito é o caminho reto (a realidade que vivemos). A solidão hoje, é a perca
desses valores que se perderam no meio de tantas condutas morais, tantas coisas
que se esquecemos do nosso ser. nos apegamos muito na filosofia existencialista
que não existe uma essência que nos define, mas, uma existência que nos torna
um ser existente. A existência sem nenhuma essência seria uma existência vazia,
uma existência quase automática. Talvez, Sartre queria refutar a ideia que já temos
algo definido dentro de nós que se vai construindo ao longo da vida com os
valores. Mas, uma das coisas que ele não analisou (porque pensou em uma essência,
talvez, teológica), existem valores que são iguais pilastras de um prédio, se
forem derrubadas, o prédio cairá por inteiro. La aonde existia o prédio, se
tornou um lugar vazio. A sociedade da solidão e de uma vida liquida, são apenas
existência vazias de um mundo escravo de conceitos errôneos. Sexo sem amor. Trabalho
sem o entendimento. Estudo para ganhar status. A política pelo poder. E muito
mais.
O vazio existencial é um vazio clássico de valores reais (analíticos)
e não artificiais (sintéticos). Portanto, nossa sociedade liquida e niilista é
uma sociedade vazia que precisa de algo com que acreditar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário