Amauri Nolasco Sanches
Junior
Estamos num pais machista e isso, gostando você ou não, é
fato. Digo isso porque eu tive uma educação (educare), muito diferente do que a
maioria dos homens brasileiros. Primeiro lugar, minha mãe dizia que filho dela
seria homem e não “macho”, porque “macho” era cachorro e teríamos que respeitar
as mulheres. Até mesmo, sempre disse que se eu e meu irmão engravidássemos uma
namorada nossa, não iria obrigar a casar, mas, que teríamos que sustentar o
filho gerado. Afinal, não era um boneco, dizia ela, mas, um ser humano. Eu e
meu irmão tivemos poucas namoradas e não engravidamos ninguém. Minha mãe
faleceu sabendo do caráter de cada filho dela em respeitar as mulheres, não
trazer nenhuma prostituta em casa, não ficar com puta por aí (meu pai sempre
odiou meretrizes por achar que ele não era lixo para transar com elas), porque
deveríamos se dar ao respeito. Exato. Pesquisas mostram que não somos como os
outros animais, mesmo o porquê, somos animais conscientes do outro e de toda a
realidade que nos cerca. Não somos o “macho” da espécie, porque não somos
animais instintivos e sim, animais conscientes e racionais, que temos
necessidade de inventar morais para regulamentar costumes que rodeiam a
sociedade.
A moral em si não é errada ou uma prisão como todo mundo
sempre diz, mas, o moralismo. A moral (como costume), traz o limite daquilo que
o ser humano pode fazer ou não, o que o ser humano tem como valor verdadeiro
daquilo que recebeu dentro de casa. A escolarização te dará matéria cultural
para trabalhar e como respeitar a diversidade como convívio – já que o sujeito
vai conviver com várias pessoas no período escolar – mas, a educação dará os
valores espirituais daquilo que você trará como ética e moral. A escola forma
cidadãos que convivem dentro da sociedade respeitando um ao outro, a família te
dará o alicerce para ser uma pessoa respeitável dentro da sociedade. Mas, e
quando temos uma família doente e que temos um chefe de família que não recebeu
valores verdadeiros, ou temos um membro da família que é doente? Nossa
sociedade não teve alicerces educacionais verdadeiros, porque temos uma cultura
que se baseou numa cultura católica que o conhecimento era pecado, que a
sexualidade era suja e pecaminosa, que falar disso trazia o demônio ou trazia
coisa ruim. Várias outras religiões absorveram esse tipo de pensamento.
Não se lê nada além do que a bíblia, não temos uma cultura
de questionar as coisas (somente algumas vertentes protestantes, espiritas
menos fanáticos e filósofos verdadeiros), e sempre se aceita aquilo que nos é
dito sem se perguntar se é verdade ou é certo. Acontece, que sempre teremos
“salvadores” ou “exemplos de superação”, no meio de sociedades que não tem uma
educação com valores verdadeiros e uma escolarização que mostre a verdadeira
ética e a verdadeira moral. O caso do médium João Teixeira (conhecido como João
de Deus), mostrou como é nossa cultura de fanatizar as coisas e ainda, achar
que as mulheres vítimas dos assédios sexuais e estupros, deveriam ficar quietas
para elas serem curadas. A cordialidade brasileira sempre – ou as vezes – tem
um fundo de interesse. Porém, como temos uma cultura extremamente machista e
que não se fala de sexo (por ser pecado), várias crianças e jovens, podem cair
nas lábias de idiotas que acham que são o galo e o resto, seu galinheiro. Mas,
existem muitas outras coisas além disso, porque quando vivemos em uma sociedade
extremamente, repressora e hipócrita, onde valores são ensinados e não são
seguidos, temos uma grande confusão mental aos nossos jovens. Já que, a
juventude, segue aquilo que lhe dará o exemplo de valores a cumprir dentro de
uma sociedade. Exato, você “revolucia” não nasceu no meio do mato, nasceu na
sociedade. Você “reaça” também nasceu numa sociedade e tem desejos e anseios
como todo mundo que se presa.
Mas, quero falar sobre pedofilia e sobre assédio. Pedofilia
vem de dois termos gregos que designavam atos pedófilos – bem diferentes do que
hoje, que explicarei mais adiante – uma era “paidos” que significava garotos ou
garotas, por não haver ainda o termo criança e o outro termo, “philia” que
queria dizer amor. No rigor etimológico o significado é “amor por criança”. Na
Grécia antiga (Hellas), esse “amor por crianças” não era por crianças pequenas,
mas, por jovens que tinham relacionamento com homens mais velhos. Não havia penetração.
Era apenas por toque. Como Roma era a grande herdeira da Grécia helênica, herdou
também esse habito e a igreja não seria diferente. Antigamente, as crianças
duravam pouco por causa das doenças e a que salvavam, eram coroinhas nas
igrejas ou eram adotadas por homens poderosos para serem seus vassalos. Poucos
ficavam com a família. É muito recente essa família que tem amor ao filho e é
estruturada como somos hoje, porque bem a uns 200 anos atrás, morria o filho e
nem e sentido direito. Mas, alguns escritos mostram, que a pedofilia na igreja não
é uma coisa recente. O próprio Freud, sempre dizia que ambientes muito
repreensivos e de pouco debate sobre a sexualidade – quando aparece a culpa por
sentir o desejo pelo outro - sempre haverá
perversão por querer aquele prazer. Na verdade, o cristianismo (que nada tem a
ver com Jesus), é uma doutrina muito repreensiva por ser uma doutrina dos ressentidos,
aqueles que não conseguiram ter o que o outro, o mais forte e o mais apto a
conquista, teve. Muitos aparecem com doenças psicossociais, desejos
pervertidos, valores invertidos, culpas atormentadores e o machismo. Afinal, o
cristianismo como doutrina criada a partir de um judeu de Tarso, tem que ter o
mesmo machismo que colocou Maria de Magdala (que latinamente, ficou Madalena),
como uma simples puta. Mas, estudos mostram que ela era herdeira do reino de Magdala
e nada tem a ver com a prostituta, que diz uma lenda não confirmada, foi Pedro
Simão que semeou isso.
Como disse, ambientes repreensivos levam ao abuso, levam ao
abusado um abusador. Existe um outro fator que ninguém diz, que homens podem
fazer o que quiserem, mas, as mulheres não podem fazer o que querem. Vimos isso
nos últimos tempos, onde o ator Alexandre Frota ter feito filme pornô é apenas
uma fase, mas um filme que a Xuxa Meneguel fez numa fase do começo da sua carreira,
virou que ela era pedófila (o ator era de maior. Ou, em pleno regime militar, eles
iriam deixar um menino fazer um filme daquele?). Isso mostra o machismo. Um outro
ponto, ou outros pontos, são a questão que as próprias mulheres ensinam isso aos
filhos, incentivados pelo seu marido, que o menino pode tudo e as meninas, não podem
nada. Principalmente, antigamente, quando os homens achavam que as mulheres
eram vagabundas e os homens eram os certos, os machos da espécie. Por que? Por
causa que Eva que seduziu Adão para comer o fruto do pecado. Só que adão comeu
porque quis e a história tem a ver com uma ciência muito além do que, só sexo. O
sexo em si tem todo uma simbologia – principalmente, nas filosofias orientais –
que vai muito além do coito em si. Mas, como toda simbologia
espiritual-elevada, foi deturpado dentro da igreja romana, como algo errado,
como algo ruim, como algo contra o Eterno. Se fosse, ele permitiria o sexo em
si? Ou a religião rivaliza com o sexo? As duas tem o mesmo poder, diz várias pesquisas.
Jesus dizia que aquele que tivesse fé veria a verdade, assim
como Buda Gautama, dizia que por meio do equilíbrio, iriamos ver a verdade. Nenhum
deles quis fundar uma religião, pelo simples fato, que eles não gostarem de religiões
e sim, de pessoas. Não precisamos ser religados a nada, precisamos sentir e
sentir é ligado a nada. Portanto, só podemos ter respeito com o outro pela
empatia daquilo que a outra pessoa passou. Como o caso da pastora e futura
ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves. Tenho a impressão, que
antigamente, tinha um sentimento muito forte, de dominação das mulheres da família.
Conheço casos desse tipo dentro da família, e também, pessoas que foram alvo de
pedofilia. Não é piada o que ela passou
e acho que deveríamos ter um certo respeito, porque eu sei muito bem o que é
ter um membro familiar ser vítima disso e ter outras pessoas, serem vítimas de assédio
sexual. É uma violência, porque é uma invasão ao corpo da mulher. Ponto.
Só que, se não é fácil para as mulheres sem nenhuma deficiência,
imagine as que tem deficiência. Conheço mulheres assediadas que levam a marca
desse assédio por toda a vida dela, como se aquilo, fosse já a violência sexual
acontecida. Conheço histórias de vizinhos que invadiram a casa e estupraram mulheres
com deficiência que não podiam se defender com ferros na vagina, outros relatos
de jornais que os estupros eram constantes com meninas com deficiência mental. Tudo
isso não é aquele sentimento de ser o macho da espécie? Tudo isso não é o
sentimento de achar que o galo estará sempre num grande galinheiro? Ainda, o
segmento tem seu lado machista em querer acessibilizar os puteiros. Afinal, o “macho
alfa de rodinha” não está satisfeito em encher o saco das moças nos eventos, não
está satisfeito em ficar azarando e sendo folgado com a mulher alheira, tem que
ter ainda boquinha na zona do meretrício, ué. O “macho alfa de rodinha” é o
machão que quer ser o fodão de novo, mas, puro sonho. O assédio também acontece
aí. Então, o que fazer se a mulher com deficiência quer sair sozinha ou até
mesmo com o namorado, sofre assédio na rua e até mesmo do transporte?
Como disse no meu Facebook, o problema aqui no Brasil é tudo
virar uma baita piada. Mas, quando o povo começa a fazer piada com pautas
serias, politicamente, essas pautas viram escárnios e não são devidamente
analisadas. Posso ter milhares de coisas contra a futura ministra, mas, no
momento do suicídio, quando ela viu a imagem de Jesus essa visão mística pode
ter sido a única maneira que a espiritualidade ter salvado ela do suicídio. Eu ouvi
vários relatos de jovens que sofreram abusos sexuais num grupo de jovens que
meu amigo participava e fui para conhecer, assim, vi o quanto essas religiões ficam
amarrotadas dessas pessoas que tiveram seu orgulho rasgado por ser mulher. Vi
quanto a mulher com deficiência é pressionada por ser mulher e a imagem da deficiência,
assexuada, sem direito de ter a sua vida. Vi um país que cobra dos políticos ética,
mas, o povo não tem nenhuma.
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