quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Em defesa do espiritismo e o médium que não é espirita



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Amauri Nolasco Sanches Junior

Eu estava escrevendo uma matéria com o nome: “MINISTÉRIO PÚBLICO FARÁ FORÇA-TAREFA PARA OUVIR AS MULHERES NO CASO DO MÉDIUM JOÃO DE DEUS”, e lendo várias outras matérias, várias opiniões sobre os crimes que fez o médium João de Deus. Primeiro, vamos esclarecer algumas coisas que ficaram meias confusas, ate mesmo, quando receberam críticas. Começando a dizer que o médium não é espirita, mesmo que tenha sido apadrinhado por Chico Xavier, pois, consultas individuais não são reconhecidas pela Federação Espirita Brasileira (FEB). Claro, que a federação também determina coisas que não tem muito a ver com o espiritismo, como dizer que a doutrina é uma religião, que se estudarmos mais a fundo, vamos cair no erro de doutrina e religião. Voltaremos mais tarde. Antes devo esclarecer o ponto entre espiritismo e espiritualismo.

Existem pessoas espiritualistas e ordens religiosas espiritualistas, que nada tem a ver com o espiritismo. Aliás, o professor Hippolyte Léon Denizard Rivail, conhecido pelo seu pseudônimo, Allan Kardec, cunhou o termo espirita ou espiritismo, para exatamente, não haver nenhuma confusão sobre isso. Espiritualismo são várias crenças que se acredita em Deus e numa ordem espiritual. Como, a título de exemplo, o Umbanda é uma ordem católica-espiritualista (não reconhecida pela igreja católica), que, mesmo recebendo entidades, não é espirita. Então, há um erro em dizer que existe um espiritismo de “mesa branca” e outros, não. Se não houver uma distinção desse fato, não haverá como fazer uma análise mais precisa desse caso.

Voltaremos a doutrina e religião. Doutrina vem do latim “doctrina” que quer dizer, “ensino, formação, teórica, arte, ciência, doutrina, teoria, método”. Em português, doutrina quer dizer um conjunto de princípios que servem de base a um sistema que pode ser definido como, literário, filosófico, político ou religioso. Acontece, que no caso do espiritismo, doutrina pode ser definido como filosófico-cientifico (mesmo que seja rejeitada pela ciência acadêmica), mas, podemos também, definir como uma ordem disciplinar. Mais ou menos, como o budismo que é uma doutrina filosófica-espiritual. Agora, religião é um pouco complexo. No blog “Palavras e Origens: Considerações Etimológicas” o autor coloca assim:

“A etimologia popular atribui a origem da palavra "religião" a religare, do latim: a religião religaria o homem a Deus. Uma ideia bonita... mas sem fundamento. Etimologia falsa, embora cheia de boas intenções. No latim, religio designava "respeito", "reverência". A palavra deriva de relegere, em que re-, "de novo", está associado ao verbo legere, "ler", abrigando o sentido de "tomar com atenção". Uma pessoa vive a religião quando, uma e outra vez, cuida escrupulosamente de algo muito importante, algo que deve ser cultuado. Em sua origem latina, "religião" não é palavra religiosa, não remete ao transcendente, como quando falamos do ponto de vista do cristianismo, do judaísmo ou do islamismo. A religio romana referia-se à atitude de reverência que um cidadão romano tinha pelas instituições do Império. ” (Gabriel Perissé, postagem 2010)

Ou seja, para o Império Romano, o termo “religio” não se refere ao transcendente como disseram autores cristãos, mas, era uma referência ao império que dominava na época. Porém, mesmos professores acadêmicos possam desmentir ou dar a verdadeira origem, isso não quer dizer que os termos não possam mudar de significado. Mesmo o porquê, durante toda a Idade Média, o império romano ficou na chancela do Papa. E vamos ser verdadeiros, a nossa academia com estudos históricos precários, que não há nenhuma pesquisa literária e nem linguística, fica difícil acreditar que possam saber algo histórico da origem de termos. Ficar repetindo livros os professores, não é pesquisar é ser “papagaio”. Mas, vamos voltar para o termo religião.

Se religião tem origem de religar nós ao divino, isso não é o objetivo do espiritismo. Ao meu ver, o espiritismo não religa nós com o divino e sim, conscientiza de modo racional e de muito estudo, a nossa essência divina que está dentro de nós. Porque doutrina pode ser definido também como uma disciplina cientifica e filosófica, onde buscamos explicações racionais dentro de fenômenos paranormais e transcendentes a nossa realidade. Claro, que fenômenos espirituais vão ter base físico-químicas dentro da nossa realidade, o espiritismo não diz nada diferente (só os religiosos que ficam só orando e não pesquisam esses fenômenos).  Porque os espíritos ou entidades – que podemos, também, chamar de consciências – vivem em uma outra realidade (dimensão), por causa da faixa vibratória que a entidade tem. Existem teorias dentro da física, que nos dizem que existem outros universos e podem, muito bem, ter outras dimensões. Mas, cada consciência tem uma única personalidade (essência?), que não pode ser separada. Fenômenos mediúnicos podem ser hipnoses induzidas? Podem. Há uma gama de hipóteses físicas e químicas para cada um desses fenômenos.  O espiritismo não é uma fé cega.

O que acontece é que, quando nossa fé beira a cegueira (poderemos chamar de fanatismo), não se pode raciocinar. O próprio Kardec diz, que o espiritismo é uma resposta ao anseio o que existe após a morte, anseios que podem ser comprovados por fenômenos mediúnicos e os chamados, fenômenos paranormais. Além disso, que como toda doutrina cientifica que se prese, pode ser refutada sem maiores problemas. Mas, o que é a fé? O termo “fé” é derivado do termo em latim “fidelitas” que tem o significado, “adesão”. Por sua vez, este teve origem do outro termo em latim, “fidelis” que tem o significado, “fiel”, que se originou o outro termo “fides”, esse por sua vez, tem o significado de “fé”, no mesmo sentido de crença ou confiança. O termo “fiel” vem da mesma etimologia. Porém, uma pesquisa no Google na página do Wikipédia (a veracidade é contestada, mas, acho que cada um que se sente enganado, poderia corrigir o que está errado), fé é a adesão de forma incondicional a uma hipótese que a pessoa passa a consideram como sendo uma verdade sem qualquer tipo de prova, critério ou verificação. Tem absoluta confiança que deposita extrema naquela ideia ou crença.

O espiritismo não é só fé e não é só uma crença. Como é um conhecimento que conduz a filosofia e a ciência, é uma doutrina positivista que visa analisar os pormenores racionalmente. É fácil? Não. Certamente, não é uma análise fácil e nem é reconhecido. No modo geral, não se pode chamar um espirita de kardecista, mesmo o porquê, Kardec não fundou nada. Mas, deu as diretrizes para um estudo mais sério e pouco na fé cega do objetivo dinâmico de análise e refutação. O real espirita, o é reconhecendo ainda sua ignorância e o quanto tem que crescer em conhecimento. A doutrina espírita se assemelha muito no budismo e de filosofias como a socrática-platônica, quando diz que não existe o bem e nem o mal e sim, o conhecimento e a ignorância. Se pensarmos bem a fundo a simbologia do paraíso e do inferno, poderemos, também, colocar como o conhecimento como um meio de se chegar ao paraíso (consciência tranquila/nosso lado racional) e a ignorância, nos levara ao inferno (consciência pesada/nosso lado animalesco). E com o conhecimento podemos sempre saber que não temos que idolatrar ninguém (o ser humano é falho), um espirita que leu e estudou os vários relatos de outras entidades, que a mediunidade, na maioria das vezes, pode ser uma expiação.

Então, vamos aos fatos que me levaram a escrever esse texto. O caso de assédio sexual contra o médium João de Deus está nas mãos do Ministério Público que tem quase, 400 denúncias contra o homem. Acho errado alguns canais espiritas ficarem afirmando que eles não estão acusando, que se deve deixar a justiça determinar isso. Depois de tudo isso de mulheres falando do que o cara fez, ele sendo o maior fornecedor de renda da cidade, quem eles vão dar o veredicto? Se eles mesmo dizem que o ser humano é falho, a justiça é humana ou não? Estranho isso. E também, que entidades ignorantes, podem ter apossado o corpo do médium. Se foi ou não, não podemos saber. Mas, quem estuda a doutrina sabe, se for, é por sintonia. Os espíritos só nos enxergam se estamos na mesma sintonia do que a deles, porque tudo é por vibração da matéria (a física explica isso). Por outro lado, não existem curas pondo a mão no doente, porque, dizem quem faz passe e médiuns, que estamos falando de energias elétrico magnéticas.

André Comte-Sponville diz que a boa-fé é uma sinceridade transitiva e reflexiva. Mas, por outro lado, não é a sinceridade com o outro só, mas, uma sinceridade onde não se mente para si também. Mesmo que o médium tenha dito que não gosta de ser chamado de santo ou uma pessoa especial, usa a idolatria que as pessoas sentem, para aumentar ainda mais, o poder de hipnotizar. Então, ele está usando de má-fé para enganar as pessoas e, por mais que você não queira, eu ainda acho, que uma pessoa com essa posição tem sim uma certa vaidade. No próprio evangelho diz que tudo é vaidade, porque, na verdade, tudo faz parte do mundo dos homens e estamos muito longe de entender a natureza divina. Até, se fomos ver mais a fundo, o que o filósofo grego Sócrates disse, tem a ver em buscar essa essência divina e porque não, ter uma boa-fé dentro da tua realidade. Quando Jesus curava os enfermos, ele dizia que a tua fé te curava, ou seja, acreditar na própria cura te faz curar por si mesmo. Mas, num mundo onde a vaidade, o materialismo, você mentir para si mesmo que é o que não é, é tão comum, como convencer o ser humano que a cura está em si mesmo? Como convencer que o divino não está fora, mas, em cada um de nós?

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