Amauri Nolasco Sanches
Junior
Quem não cresceu ouvindo a frase: “homem é tudo igual”, pela
ideia do senso comum que o homem é o reprodutor. Podemos filosofar sobre essa
frase, porque tem a ver com a nossa cultura machista, a subjetividade e o senso
comum (não tem um conhecimento). Nossa cultura se torna machista com a invasão
de povos “aryas” a, mais ou menos, uns 5 mil anos. As cidades-estados gregas
antigas, assim como a Índia, viveram uma obscuridade de opressão desses povos –
que viviam lá - que eram matriarcais. Povos mais antigos veneravam a “Mãe
Terra” por observar o círculo da mulher – da menstruação e gravidez – e assim,
achavam que a terra que dava a vida a tudo (que, mais ou menos, não estavam
errados). Enquanto os povos antigos – antes dos arianos – acreditavam que as
mulheres eram sagradas (que os celtas preservaram em uma certa maneira), por
dar a vida e sangrar todo o mês. Os povos invasores, os arianos, acreditavam
que os homens eram os dominadores. O mundo do feminino (não feminista), era um
mundo pacifico – tanto que foram dominados muito facilmente – e o masculino é
movido pela guerra e destruição. Na questão biológica existe a explicação do
hormônio testosterona, que dará vitalidade ao homem e produzira os
espermatozoides. Só que dará motivação da briga, do lado primata do “macho
alfa”.
O líder humano antes da agricultura e das cidades-estados,
eram do mais forte e o patriarca do clã. Talvez, porque muito pouco se fala, as
religiões matriarcais são uma observação de fazer, quem dá a vida, como sagrado
e não pode ser profanado. Mas, as coisas eram bastante rudes. Pesquisas
mostram, e quem quiser tem um filme que retratada o comportamento da época
segundo pesquisas (algumas estão sendo contestada), “A Guerra do Fogo”, onde as
mulheres de aldeias mais primitivas, eram quase “estupradas” por homens jovens.
Mas, como disse, algumas coisas estão sendo questionadas (como a ciência deve
ser). No próprio filme, mostra que uma mulher de outro clã, com uma outra
cultura, ensinou o mais rude a fazer sexo deitado olhando para ela. Claro, que não sabemos se foi assim mesmo,
mas, a percepção que o seu semelhante é um ser humano como você, deve ter dado
uma outra perspectiva a humanidade. Mas, existiu o amor? Acredito que o amor
românico, começa só no século 20, porque nos outros séculos, se arranjavam o
casamento. O interessante, que o amor romântico e a família – estou escrevendo
sem o viés ideológico – surgiram com o capitalismo liberal. Isso não tira as
monstruosidades que existe no capitalismo, isso mostra que o liberalismo – com
todos os defeitos que tem – deram ao ser humano uma escolha de casar por amor.
Existe um outro problema – fetiche de filósofo – essa imagem da família de
marca de margarina, é a imagem da família norte-americana pós-guerra.
Porém, me contestando, existiam traições que mostram que
existiu amor ou paixão, mesmo nos casamentos arranjados e mostra que existia o
amor. Eu mudaria, que não que não existia o amor, existia uma obrigação
matrimonial dentro do contexto da época. Porém, a imagem da família que pode se
juntar para criar os filhos e tal, é uma imagem elitizada, porque, os mais
pobres – isso em todas as sociedades – escolheram com quem tem filhos. Claro,
que existia etnias que não admitiam casamentos escolhidos como, por exemplo, os
casamentos judeus. Muitos diziam, que o amor aparece com o tempo. Será? Daí, chegamos
na questão da subjetividade. Digamos, que um conhecimento subjetivo é um
conhecimento que depende de um ponto de vista pessoal, individual, que não tem
nenhum fundamento no objeto, mas, é condicionado somente por sentimentos de
afirmação arbitrarias do sujeito. Ao contrário da objetividade. O conhecimento
objetivo tem o fundamento de observação imparcial, ou seja, é independente das
preferencias individuais. O subjetivo tem relação com a relativização de uma
discussão, o objetivo, tem certeza pelo conhecimento que tem pelo objeto
discutido sem se prender na parcialidade desse objeto.
O amor é subjetivo, porque usa do sentimento para com o
objeto amado. Seja um animalzinho, seja um objeto que você se afeiçoa – como
pode acontecer sim – pelos seus pais e, pelo ser amado. Os gregos chamam de
Eros por causa do deus do amor e do sexo. Só que Eros é egoísta de querer o ser
amado para si mesmo, como acontece na lenda da princesa Psique (alma/espirito)
e o deus Eros (amor sexual) que exigia que a princesa usasse uma faixa nos
olhos, quando se encontrasse com ele, para ela amar o deus, não pelo sua
beleza, mas, amar do jeito que ele era. Ate, numa noite, ela tira a máscara ou
a faixa, não lembro, e vê a beleza desse deus e ele acorda com a princesa lhe
olhando e vai embora, deixando Psique desesperada a procura do ser amado. A
lenda reflete a natureza egoísta do amor de não aceitar a vontade de cada alma,
de cada um (subjetividade). Por que egoísta? Quis que a Psique (alma) fizesse o
que ele queria e não entendeu, que antes de amar sua beleza, ela amou seu ser
(a essência). A essência, neste caso, procedeu a existência. Psique viu a
beleza de Eros e amou mais. A alma vê a beleza do amor e lhe ama mais, lhe ama
tanto, que quer que ele entre nela (na alma).
Sponville diz que há amor que toma, é o impuro, assim, há
amor que dá ou que contempla, é a pureza. A princesa Alma (Psique) amou a
beleza do amor (Eros) sem só amar ela (a beleza), e sim, amar o deus como o
todo. Você só ama completamente. Não há meio amor ou amor só no sexo, ou o amor
só no beijo e no abraço, o amor tem que ser completo. Amor não toma para si – o
amor próprio é um erro, e sim, se aceitar como é e pronto – amor dá ou
contempla, o amor verdadeiro já é completo em sua natureza. Mas, também, não o
ideal é o que deveria ser e não o que existe. E entramos no outro ponto, o
senso comum que Platão, vai chamar de “doxa”. Para ser mais didático, o doxa
seria o achismo, ou seja, aquilo que se repete sem nenhum estudo antes de
repetir aquilo infinitamente. Como que o amor faz sofrer ou o amor é o que
acontece dentro de bares, baladas e afins. Não. Isso é paixão. Quando você se
sente atraído por causa do corpo e por causa de pontos específicos, você não
está amando, você está apaixonado. Paixão tem a origem latina passio –onis que
é derivado de passus, princípio do passado de patī que quer dizer, sofrer. A
paixão é um sentimento que, podemos dizer, é uma emoção intensa convincente, um
entusiasmo ou um desejo sobre qualquer coisa. Todas as músicas sertanejas – até
mesmo da Adriana Calcanhoto – são sobre paixões e não o amor.
Daí, depois de analisar tudo isso – que é importante – se
pode analisar a frase em si, porque tem a ver com a cultura machista, a
subjetividade (que seria o amor, que é um sentimento) e o que a maioria pensa
sobre os gêneros. A questão é mais ou menos, assim: todo homem (do gênero
masculino) é igual? Não. Porque a igualdade já pressupõe que todo homem tem
comportamentos iguais, e assim, não tem lógica essa frase. Claro, que quando
uma mulher diz isso, ela quer dizer que todos os homens não podem ver mulher,
que logo, se empolga. Isso dará uma análise, bastante, interessante, porque vai
ao encontro direto com a fidelidade. Primeiro, temos que colocar uma questão: a
traição é da natureza do homem ou é imposta pela cultura? Porque se é da
natureza do homem, logicamente, que só o homem iria trair. Então, por que a
mulher trai? Será que pelos mesmos motivos? Talvez. Afinal, as mulheres sentem
desejo também. Só que vivemos numa sociedade onde o homem tem o direito de
desejar, a mulher não tem o mesmo direito. O homem deve perder a virgindade
novinho, a mulher deve se preservar virgem (hoje o tabu se inverteu, mulheres
que querem preservar virgens são chacoteadas). A questão vai muito além. Mas,
voltando aos homens, todos tem sua subjetividade.
Se confunde desejo com o amor. O desejo sexual é a parte
biológica animal que temos que não há mal nenhum – o mal só existe na cabeça
dos religiosos fanáticos – mas, somos animais conscientes da realidade. Um
cachorro que sente uma cadela no cio, ele vai copular com a cadela. O ser
humano tem consciência do ser amado, ele sente afeto. Sua subjetividade diante
do outro que é amado, lhe faz ser fiel ao seu amor e nada em volta importa.
Como disse Sponville, a fidelidade é a memória. Poderemos ser fieis a uma marca
de sorvete, por lembrarmos do gosto que aquele sorvete tem. O gosto e o
gostoso, te remete a ser fiel aquilo que te agrada. O outro, quando te agrada,
você se fideliza a ele. O ente amado sempre é o ente que nos liberta da
solidão. Mas, a cultura da sexualidade mal resolvida (que chamamos de
machista), sempre vai impor que para sermos homens, temos que ter um harém.
Porém, alguém me perguntou se eu quero ter um harém? Afinal, o gosto tem a ver
com a qualidade e não a quantidade. A questão de ter memória para ser fiel, tem
a ver de sempre lembrarmos do ser amado que estará sempre ao seu lado, enquanto
aquela bunda alheia, é apenas uma outra bunda que não tem nenhum significado.
Desejo por desejo.
Podemos ficar encantados por outra pessoa? Talvez. Mas ainda
se confundem o desejo (paixão) com sentimento (amor). Antes disso, a memória
que é importante para a fidelidade. A fidelidade é lembrar que temos um
compromisso com o ser amado, não basta só amar, tem que haver uma lembrança de
quem nos ama e de quem amamos. Nem a paixão (desejo) é errado, porque amor sem
desejo fica um amor sem substância, sem a essência da caricia do ser amado. Mas,
só desejo fica só sexo, fica só um ato animal (primata?), somos animais
conscientes da nossa realidade, então, somos conscientes de nossos semelhantes
e nos afeiçoamos (com afetos) a quem demostra carinho por nós. Com isso não estou
dizendo que os outros primatas não têm afetos. Pode até ter de maneira
diferente. Estou demonstrando que nós temos o diferencial da percepção do outro
como um ser afetuoso, um ser que tem um vínculo com o demais. Sponville – ele de
novo – diz que dizem que o amor começa com a mãe. Isso concordo. A mãe que nos
ensina a amar, a respeitar o outro com seu amor infinito (agapé?). Claro, que
existem mães que maltratam e não tem nenhum afeto com seus bebes – que seriam exceções
– mas, que a maioria tem sim muito amor aos filhos. Quando o homem perde esse
afeto? Quando a própria mãe diz que homem não chora. Diz que seu filho é o bodinho
e que as outras mães, tem que esconder suas cabritas porque seu filho está a
solta. Ensina a ter ciúmes da irmã, mas, a irmã nunca pode ter ciúmes do irmão.
É bonitinha cuidar do corpo da mocinha (irmã), porém, quando são as mocinhas
alheias (as irmãs de alguém) pode. Acontece, que cada um deveria ser ensinado a
cuidar da própria vida e do seu próprio corpo.
Com essa cultura, que digamos, niilista (contra a vida e os
reais valores humanos), vai criar homens vorazes, homens que brincam de guerra
(minha mãe detestava brinquedos como arminhas e de guerra), criar verdadeiros
touros reprodutores. Afinal, se não tiver reprodução, quem vai pagar impostos e
trabalhar? O ESTADO detém o discurso, o poder diz para sermos vorazes não no
amor, mas, no sexo porque quer cada vez mais, que pessoas nasçam para acumular
em grandes cidades. Por outro lado, as próprias pessoas se alienam, se
vangloriam que teu filho pega as meninas por aí, mas, detestam quando o marido
faz isso. Ele tem o compromisso, seu filho não. A ignorância (mal) faz com que
as pessoas dão valor a aquilo que é pobre, aquilo que não está de acordo com
aqueles que detém o conhecimento (bem/bom). Homens do gênero masculino, podem
sim, ter sentimentos, chora, fica triste e se decepciona. Por que não? Por que não
podemos amar um outro ser humano além de querer o sexo? Todo homem não é igual,
mas, as culturas impõem (começando no berço) a exigir isso dele. Questão de educação.
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