quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Homem é tudo igual? – Dialogo sobre afetos e subjetividades entre o masculino verdadeiro



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Amauri Nolasco Sanches Junior

Quem não cresceu ouvindo a frase: “homem é tudo igual”, pela ideia do senso comum que o homem é o reprodutor. Podemos filosofar sobre essa frase, porque tem a ver com a nossa cultura machista, a subjetividade e o senso comum (não tem um conhecimento). Nossa cultura se torna machista com a invasão de povos “aryas” a, mais ou menos, uns 5 mil anos. As cidades-estados gregas antigas, assim como a Índia, viveram uma obscuridade de opressão desses povos – que viviam lá - que eram matriarcais. Povos mais antigos veneravam a “Mãe Terra” por observar o círculo da mulher – da menstruação e gravidez – e assim, achavam que a terra que dava a vida a tudo (que, mais ou menos, não estavam errados). Enquanto os povos antigos – antes dos arianos – acreditavam que as mulheres eram sagradas (que os celtas preservaram em uma certa maneira), por dar a vida e sangrar todo o mês. Os povos invasores, os arianos, acreditavam que os homens eram os dominadores. O mundo do feminino (não feminista), era um mundo pacifico – tanto que foram dominados muito facilmente – e o masculino é movido pela guerra e destruição. Na questão biológica existe a explicação do hormônio testosterona, que dará vitalidade ao homem e produzira os espermatozoides. Só que dará motivação da briga, do lado primata do “macho alfa”.

O líder humano antes da agricultura e das cidades-estados, eram do mais forte e o patriarca do clã. Talvez, porque muito pouco se fala, as religiões matriarcais são uma observação de fazer, quem dá a vida, como sagrado e não pode ser profanado. Mas, as coisas eram bastante rudes. Pesquisas mostram, e quem quiser tem um filme que retratada o comportamento da época segundo pesquisas (algumas estão sendo contestada), “A Guerra do Fogo”, onde as mulheres de aldeias mais primitivas, eram quase “estupradas” por homens jovens. Mas, como disse, algumas coisas estão sendo questionadas (como a ciência deve ser). No próprio filme, mostra que uma mulher de outro clã, com uma outra cultura, ensinou o mais rude a fazer sexo deitado olhando para ela.  Claro, que não sabemos se foi assim mesmo, mas, a percepção que o seu semelhante é um ser humano como você, deve ter dado uma outra perspectiva a humanidade. Mas, existiu o amor? Acredito que o amor românico, começa só no século 20, porque nos outros séculos, se arranjavam o casamento. O interessante, que o amor romântico e a família – estou escrevendo sem o viés ideológico – surgiram com o capitalismo liberal. Isso não tira as monstruosidades que existe no capitalismo, isso mostra que o liberalismo – com todos os defeitos que tem – deram ao ser humano uma escolha de casar por amor. Existe um outro problema – fetiche de filósofo – essa imagem da família de marca de margarina, é a imagem da família norte-americana pós-guerra.

Porém, me contestando, existiam traições que mostram que existiu amor ou paixão, mesmo nos casamentos arranjados e mostra que existia o amor. Eu mudaria, que não que não existia o amor, existia uma obrigação matrimonial dentro do contexto da época. Porém, a imagem da família que pode se juntar para criar os filhos e tal, é uma imagem elitizada, porque, os mais pobres – isso em todas as sociedades – escolheram com quem tem filhos. Claro, que existia etnias que não admitiam casamentos escolhidos como, por exemplo, os casamentos judeus. Muitos diziam, que o amor aparece com o tempo. Será? Daí, chegamos na questão da subjetividade. Digamos, que um conhecimento subjetivo é um conhecimento que depende de um ponto de vista pessoal, individual, que não tem nenhum fundamento no objeto, mas, é condicionado somente por sentimentos de afirmação arbitrarias do sujeito. Ao contrário da objetividade. O conhecimento objetivo tem o fundamento de observação imparcial, ou seja, é independente das preferencias individuais. O subjetivo tem relação com a relativização de uma discussão, o objetivo, tem certeza pelo conhecimento que tem pelo objeto discutido sem se prender na parcialidade desse objeto.

O amor é subjetivo, porque usa do sentimento para com o objeto amado. Seja um animalzinho, seja um objeto que você se afeiçoa – como pode acontecer sim – pelos seus pais e, pelo ser amado. Os gregos chamam de Eros por causa do deus do amor e do sexo. Só que Eros é egoísta de querer o ser amado para si mesmo, como acontece na lenda da princesa Psique (alma/espirito) e o deus Eros (amor sexual) que exigia que a princesa usasse uma faixa nos olhos, quando se encontrasse com ele, para ela amar o deus, não pelo sua beleza, mas, amar do jeito que ele era. Ate, numa noite, ela tira a máscara ou a faixa, não lembro, e vê a beleza desse deus e ele acorda com a princesa lhe olhando e vai embora, deixando Psique desesperada a procura do ser amado. A lenda reflete a natureza egoísta do amor de não aceitar a vontade de cada alma, de cada um (subjetividade). Por que egoísta? Quis que a Psique (alma) fizesse o que ele queria e não entendeu, que antes de amar sua beleza, ela amou seu ser (a essência). A essência, neste caso, procedeu a existência. Psique viu a beleza de Eros e amou mais. A alma vê a beleza do amor e lhe ama mais, lhe ama tanto, que quer que ele entre nela (na alma).

Sponville diz que há amor que toma, é o impuro, assim, há amor que dá ou que contempla, é a pureza. A princesa Alma (Psique) amou a beleza do amor (Eros) sem só amar ela (a beleza), e sim, amar o deus como o todo. Você só ama completamente. Não há meio amor ou amor só no sexo, ou o amor só no beijo e no abraço, o amor tem que ser completo. Amor não toma para si – o amor próprio é um erro, e sim, se aceitar como é e pronto – amor dá ou contempla, o amor verdadeiro já é completo em sua natureza. Mas, também, não o ideal é o que deveria ser e não o que existe. E entramos no outro ponto, o senso comum que Platão, vai chamar de “doxa”. Para ser mais didático, o doxa seria o achismo, ou seja, aquilo que se repete sem nenhum estudo antes de repetir aquilo infinitamente. Como que o amor faz sofrer ou o amor é o que acontece dentro de bares, baladas e afins. Não. Isso é paixão. Quando você se sente atraído por causa do corpo e por causa de pontos específicos, você não está amando, você está apaixonado. Paixão tem a origem latina passio –onis que é derivado de passus, princípio do passado de patī que quer dizer, sofrer. A paixão é um sentimento que, podemos dizer, é uma emoção intensa convincente, um entusiasmo ou um desejo sobre qualquer coisa. Todas as músicas sertanejas – até mesmo da Adriana Calcanhoto – são sobre paixões e não o amor.

Daí, depois de analisar tudo isso – que é importante – se pode analisar a frase em si, porque tem a ver com a cultura machista, a subjetividade (que seria o amor, que é um sentimento) e o que a maioria pensa sobre os gêneros. A questão é mais ou menos, assim: todo homem (do gênero masculino) é igual? Não. Porque a igualdade já pressupõe que todo homem tem comportamentos iguais, e assim, não tem lógica essa frase. Claro, que quando uma mulher diz isso, ela quer dizer que todos os homens não podem ver mulher, que logo, se empolga. Isso dará uma análise, bastante, interessante, porque vai ao encontro direto com a fidelidade. Primeiro, temos que colocar uma questão: a traição é da natureza do homem ou é imposta pela cultura? Porque se é da natureza do homem, logicamente, que só o homem iria trair. Então, por que a mulher trai? Será que pelos mesmos motivos? Talvez. Afinal, as mulheres sentem desejo também. Só que vivemos numa sociedade onde o homem tem o direito de desejar, a mulher não tem o mesmo direito. O homem deve perder a virgindade novinho, a mulher deve se preservar virgem (hoje o tabu se inverteu, mulheres que querem preservar virgens são chacoteadas). A questão vai muito além. Mas, voltando aos homens, todos tem sua subjetividade.

Se confunde desejo com o amor. O desejo sexual é a parte biológica animal que temos que não há mal nenhum – o mal só existe na cabeça dos religiosos fanáticos – mas, somos animais conscientes da realidade. Um cachorro que sente uma cadela no cio, ele vai copular com a cadela. O ser humano tem consciência do ser amado, ele sente afeto. Sua subjetividade diante do outro que é amado, lhe faz ser fiel ao seu amor e nada em volta importa. Como disse Sponville, a fidelidade é a memória. Poderemos ser fieis a uma marca de sorvete, por lembrarmos do gosto que aquele sorvete tem. O gosto e o gostoso, te remete a ser fiel aquilo que te agrada. O outro, quando te agrada, você se fideliza a ele. O ente amado sempre é o ente que nos liberta da solidão. Mas, a cultura da sexualidade mal resolvida (que chamamos de machista), sempre vai impor que para sermos homens, temos que ter um harém. Porém, alguém me perguntou se eu quero ter um harém? Afinal, o gosto tem a ver com a qualidade e não a quantidade. A questão de ter memória para ser fiel, tem a ver de sempre lembrarmos do ser amado que estará sempre ao seu lado, enquanto aquela bunda alheia, é apenas uma outra bunda que não tem nenhum significado. Desejo por desejo.

Podemos ficar encantados por outra pessoa? Talvez. Mas ainda se confundem o desejo (paixão) com sentimento (amor). Antes disso, a memória que é importante para a fidelidade. A fidelidade é lembrar que temos um compromisso com o ser amado, não basta só amar, tem que haver uma lembrança de quem nos ama e de quem amamos. Nem a paixão (desejo) é errado, porque amor sem desejo fica um amor sem substância, sem a essência da caricia do ser amado. Mas, só desejo fica só sexo, fica só um ato animal (primata?), somos animais conscientes da nossa realidade, então, somos conscientes de nossos semelhantes e nos afeiçoamos (com afetos) a quem demostra carinho por nós. Com isso não estou dizendo que os outros primatas não têm afetos. Pode até ter de maneira diferente. Estou demonstrando que nós temos o diferencial da percepção do outro como um ser afetuoso, um ser que tem um vínculo com o demais. Sponville – ele de novo – diz que dizem que o amor começa com a mãe. Isso concordo. A mãe que nos ensina a amar, a respeitar o outro com seu amor infinito (agapé?). Claro, que existem mães que maltratam e não tem nenhum afeto com seus bebes – que seriam exceções – mas, que a maioria tem sim muito amor aos filhos. Quando o homem perde esse afeto? Quando a própria mãe diz que homem não chora. Diz que seu filho é o bodinho e que as outras mães, tem que esconder suas cabritas porque seu filho está a solta. Ensina a ter ciúmes da irmã, mas, a irmã nunca pode ter ciúmes do irmão. É bonitinha cuidar do corpo da mocinha (irmã), porém, quando são as mocinhas alheias (as irmãs de alguém) pode. Acontece, que cada um deveria ser ensinado a cuidar da própria vida e do seu próprio corpo.

Com essa cultura, que digamos, niilista (contra a vida e os reais valores humanos), vai criar homens vorazes, homens que brincam de guerra (minha mãe detestava brinquedos como arminhas e de guerra), criar verdadeiros touros reprodutores. Afinal, se não tiver reprodução, quem vai pagar impostos e trabalhar? O ESTADO detém o discurso, o poder diz para sermos vorazes não no amor, mas, no sexo porque quer cada vez mais, que pessoas nasçam para acumular em grandes cidades. Por outro lado, as próprias pessoas se alienam, se vangloriam que teu filho pega as meninas por aí, mas, detestam quando o marido faz isso. Ele tem o compromisso, seu filho não. A ignorância (mal) faz com que as pessoas dão valor a aquilo que é pobre, aquilo que não está de acordo com aqueles que detém o conhecimento (bem/bom). Homens do gênero masculino, podem sim, ter sentimentos, chora, fica triste e se decepciona. Por que não? Por que não podemos amar um outro ser humano além de querer o sexo? Todo homem não é igual, mas, as culturas impõem (começando no berço) a exigir isso dele. Questão de educação.

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