quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Como ser pessoa com deficiência no Brasil





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Amauri Nolasco Sanches Junior

Quem tem o BPC (Benefício de Prestação Continuada) do governo tem que ir no CRAS (Centro Regional de Assistência Social) mais próximo da sua residência e ainda, tem que agendar. Muito bem. Nossas deficiências vão melhorar de um ano para o outro, nossas deficiências não vão mais existir daqui dois anos, para receber esse benefício. Claro, que existem pessoas que recebem depois que o parente com deficiência morre ou dão sumiço em alguma clínica de repouso. Mas, isso é obrigação do governo. Como, também, o governo ter o mínimo de decência, de fiscalizar a Lei de Cotas que não está sendo cumprida devidamente. Por que eu tenho que provar a minha deficiência? Por que eu tenho que mandar junto com meu currículo algo tão visível? Por que não veio junto com a carta, onde temos que ir para fazer o cadastro? O governo não quer ter trabalho nenhum.

Acontece, nós, pessoas com deficiência, nunca somos lembrados quando há discussões políticas. Isso porque, a deficiência sempre foi lembrada como uma disfunção corporal que a pessoa não pode ser um cidadão por ser limitada. Mas, será que essa pessoa é limitada em suas faculdades mentais? O que seria do mundo, por exemplo, se não fosse um Stephen Hawking? Não para ser um “exemplo de superação”, mas, para mostrar que nem sempre há uma ligação entre o corpo limitado e a consciência que pode sim, saber o que se pensa. Uma rampa é útil para carrinhos de bebe, gestantes e até para idosos, que por causa da limitação da idade, pode cair em um degrau mais auto. Temos uma cultura, lamentável, de construir sempre degraus. Cadê a arquitetura universal que o curso de engenharia já ensina nas universidades? Cadê o treinamento do funcionalismo público para falar com uma pessoa com deficiência, que por ventura, quer alguma informação? Nenhum treinamento é feito com qualidade. Existem motoristas das vans do ATENDE (Atendimento Especial de Vans adaptadas da cidade de São Paulo), de taxi adaptado, de um monte de serviço, que não tem nem treinamento e nem os veículos são adequados conforme a cadeira de rodas. Existem cadeiras de rodas – pelo novo formato do ATENDE – que não vão caber dentro de uma van dessas, porque a ABNT está desatualizada conforme a adaptação. Fora que serviços como UBER ou outros aplicativos, não obedecem às normas de acessibilidade e adaptação em seus veículos. Portanto, a discussão tem que sair fora da caixinha.

O que dizer dos ônibus? Os ônibus é um problema social que tem a ver com o capitalismo das empresas e o governo que contrata a porcaria do serviço. Acho eu, que quando você abre uma empresa, no mínimo, você tem que ter caráter e vergonha na cara. Se você não quer investir, amigão, você está no ramo errado. Quando você abre uma empresa, você não está numa ilha e nem é um favor que você está fazendo. Uma empresa vende um produto ou um serviço – isso é básico no marketing – e para vender esse produto e serviço, tem que existir um público. Acontece, quando se trata de transporte público, a questão fica cada vez mais complicado. Porque o trabalhador comum paga todo dia (tecnicamente, paga duas vezes) e outras minorias, tem todo o direito de não pagar. Será que não pagamos? Vamos ver. quando você paga uma bala na venda, você paga ou não imposto? Quando você vai no shopping e vai numa sorveteria, você paga ou não paga importo do sorvete? Não vamos tão longe: 39% de um simples livro, vai de imposto, como você pode conferir em qualquer notinha fiscal. Portanto, eu, você, e todos nossos parentes e amigos, pagam o transporte e a adaptações e ainda, pagamos as cadeiras de rodas e outros aparelhos, que o SUS fornece.

Cadeiras de rodas...é o problema mor de todo cadeirante. Sem elas a pessoas com deficiência física cadeirantes, podem andar? Não. Primeiro, que a qualidade de uma cadeira de rodas manual e motorizada brasileiras (fora outros aparelhos), é um lixo total, por causa do mesmo problema de qualquer empresa brasileira, não quer investir e só quer lucrar. Além disso, tem o enorme problema de serem caras e ter a manutenção cara. Uma cadeira motorizada Freedom, que o SUS fornece, só um pneu dela, custa 200 reais. Será que a primeira manutenção, não poderia ser paga pelo próprio SUS? Os pneus de câmera, desgastam demais. Porém, os postos de saúde (chamados de UBSs) não sabem desse direito. Existem muitas pessoas que relatam que seria injusto os postos forneceram esse tipo de equipamento para quem pediu, mas, os outros não terem o mesmo equipamento. Todos devem ter. E, por outro lado, quem não corre atrás nunca vai ter mesmo. Ficam na internet batendo papo e vendo bunda de mulher e de homem – conforme o gosto da pessoa – e os outros ficam dizendo que não pode, porque é injusto. Não se trata de sorte UBS Jardim Elba, é um direito, tá ok?

Se recebemos um salário mínimo (que muita gente acha que vai quebrar a previdência), se não temos uma acessibilidade vagabunda (uma ABNT porqueira), se temos que provar que somos pessoas com deficiência com laudos médicos, se pagamos impostos (junto com amigos e parentes) e temos um transporte vagabundo, como é ser pessoa com deficiência nesse país? Não é para amadores. Acho que seria mais interessante temos a oportunidade de trabalharmos e ganharmos melhor para até, ter um equipamento melhor. Acho interessante estudarmos e sempre querer ir atrás. Poder casar. Poder fazer o que todos fazem. Mas, vivemos num país que as pessoas (funcionários públicos, principalmente), quando vão te atender nem fala com você. Que quando vai perguntar, sempre pergunta para seu acompanhante. Resta saber, que essas atitudes capacitistas, vão parar. Será?




Um comentário:

  1. Outra coisa também é a LBI dizer que temos direito a descontos em vários acessórios para tornar nossas vidas mais dignas, eu coloco a Internet para estudar, inclusive meu filho Def.Visual e onde estou é um preço absurdo, entre outras coisas

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